jp escreveu:Alguém assistiu o "Globo painel" ontem? (Globo News - tv paga).
Um dos debatedores, entre eles o professor da ESG, Augusto Heck, levantou uma bola interessante sobre os potenciais adversários do Brasil em sua expansão econômica e política (que descambaria para um apresentação de força dissuasória por parte do Brasil).
Em linhas gerais concluem pela óbvia impossibilidade de enfrentarmos uma potência hegemômica como os EUA. Porém, fluem à premissa que também é desprezível o perigo dos vizinhos impertinentes, a saber: Chavez e Evo. Daí, tecem comentários sobre a compra dos caças, em que a desculpa do governo para adqüiri-los é a proteção do pré-sal ante à cobiça de pot~encias estragngeiras e/ou de vizinhos alterados.
A conclusão: Nem com Flankers Chavez mete medo ao Brasil ou periga o pré-sal (o "louco" pode sim por em perigo coisas importantes do Brasil - minha opinião), Morales... não se conta. Os EU são imbatíveis de qualquer jeito. Logo, sobra a Europa que não tem nada e que buscará sua sobrevivência econômica. Mas estamos comprando caças da única potência européia que é nossa "vizinha".
Não concordei com o raciocínio, apesar de achá-lo com simetria lógica e até interessante. Apenas concordei que acharam o ôvo de Colombo da desculpa do governo.
JP, tem um ponto que me parece não ter sido (bem) explorado ainda: o problema do Brasil comprar caças com produção local e livre para exportação. Isto parece interessante sob a ótica dos empolgados entusiastas, mas é muito sério quando colocado sob a ótica de certas potências.
Existem duas possibilidades para se permitir que o Brasil tenha acesso a produção de equipamentos no estado da arte: um acordo com um país que dê acesso a tecnologias com permissão para exportação apenas controlado pelo Brasil e um acordo com um país que dê acesso a tecnologias com permissão controlada/vigiada para possíveis exportações. Uma coisa é poder fabricar, outra coisa é poder exportar para quem quiser.
Pois bem, um exemplo colhido aleatoriamente é a análise do caso do Argentina. Este país está com suas forças armadas praticamente falidas, vejo que por questões geopolíticas, o Brasil seria o país mais interessado em resgatar as sucateadas forças armadas argentinas. Inicialmente com equipamentos mais "simples" (digamos, Super Tucanos e meios não necessariamente aéreos), o que daria um fôlego extra aos argentinos. Supondo que tudo isso aconteça e com interesse (claro) argentino, o próximo passo, "via gratidão", viria com o repasse (venda) de equipamentos de maior valor tecnológico. É aí que mora o perigo!
Suponha que o Brasil opte por um caça com independência total para exportação, ao menos para a AL. Suponha que este caça provoque algum temor até mesmo aos mais bem equipados países. Suponha que além deste sistema de armas o Brasil tenha domínio e capacidade de produção seriada de armamentos sofisticados (BVR, WVR, mísseis anti-radiação, mísseis ar-superfície, bombas inteligentes, etc.). Suponha que, por algum interesse que não cabe especular no momento, o Brasil resolva exportar o kit completo para a Argentina. Pergunto: qual seria a reação dos ingleses??? Qual seria a reação dos chilenos e sua prateleirada americana???
Pois bem, o Rafale é o único que permite ao Brasil ter tal autonomia, até mesmo para exportá-lo sem restrição alguma (pela França) para a Argentina. Qualquer outra das duas opções restantes seriam fortemente vigiadas, ou seja, podem fabricar para uso pessoal, exportação só mediante autorização prévia. Havia o caça russo, mas este, menos ainda, não pode.
É justamente por isso que tanto se bate no caça francês. Não por ser francês, mas pelo fato de permitir que o Brasil o exporte para países que poderiam gerar enormes transtornos (em tese e não mais do que hipotéticos) para os que continuam no topo da pirâmide. Esta independência brasileira gera muito mal-estar nas mais elevadas esferas do mundo, se é incontrolável, pelo menos que seja vigiada (com bastante restrição).
Estou convencido que nenhum país se opõe ao fato do Brasil querer/precisar se armar, algo até interessante sob a ótica comercial, mas os desdobramentos podem provocar tempestades incontroláveis, ao menos nas mentes mais preocupadas com seus terrenos/territórios. Em suma, ninguém imagina o Brasil indo a guerra por ir, mas imaginam que as conquistas brasileiras poderão colocar compradores em situações belicosas e beligerantes.
Assim sendo, para evitar o pior, corta-se as asas dos mais assanhados. Mas como gato escaldado, o Brasil tem exigido, vias ações concretas e inquestionáveis, seu direito no espaço internacional, assim vejo.
Forte abraço,
Orestes
Novidade vai ser quando a FAB afirmar que o Rafale é disparadamente melhor que os demais e assim justificar custos de aquisição , operacionais e de manutenção diretamente proporcionais a esses predicados técnicos.
