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Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Qua Jan 26, 2011 10:35 am
por Túlio
Crise sistémica global

2011: o ano impiedoso

– o cruzamento dos três caminhos para o caos mundial


por GEAB
Este número 51 do GEAB assinala o quinto aniversário da publicação do Global Europe Anticipation Bulletin. Ora, em Janeiro de 2006, por ocasião do GEAB Nº 1 , a equipa de LEAP/E2020 indicava nessa altura que se iniciava um período de quatro a sete anos que seria caracterizado pela "Queda do Muro do Dólar", fenómeno análogo ao da queda do Muro de Berlim que, nos anos subsequentes, levou ao desmantelamento do bloco comunista e a seguir da URSS. Hoje, neste GEAB Nº 51 que apresenta as nossas trinta e duas previsões para o ano de 2011, calculamos que o próximo ano será um ano charneira neste processo que se estende pois de 2010 a 2013. De qualquer modo, será um ano impiedoso, porque vai marcar a entrada na fase terminal do mundo anterior à crise. [1]

A partir de Setembro de 2008, altura em que a evidência da natureza global e sistémica da crise se impôs a toda a gente, os Estados Unidos e, por detrás deles, os países ocidentais contentaram-se com medidas paliativas que apenas serviram para mascarar os efeitos de sapa da crise nos alicerces do sistema internacional contemporâneo. 2011 vai, de acordo com a nossa equipa, assinalar o momento crucial em que, por um lado, essas medidas paliativas vão ver desaparecer o seu efeito anestesiante enquanto que, pelo contrário, vão surgir em primeiro plano com toda a brutalidade as consequências da deslocação sistémica destes últimos anos. [2]

Em resumo, 2011 vai ser marcado por uma série de choques violentos que vão fazer explodir as falsas protecções instituídas desde 2008 [3] e que vão deitar abaixo, um após outro, os "pilares" sobre os quais assenta desde há decénios o "Muro do Dólar". Só os países, as colectividades, as organizações e os indivíduos que, de há três anos a esta parte, trataram realmente de tirar lições da crise em curso para se afastar o mais depressa possível dos modelos, valores e comportamentos anteriores à crise, atravessarão incólumes este ano; os outros vão enfileirar no cortejo de dificuldades monetárias, financeiras, económicas, sociais e políticas que o ano de 2011 nos reserva.

Portanto, como consideramos que 2011 será globalmente o ano mais caótico desde 2006, data do início dos nossos trabalhos sobre a crise, a nossa equipa concentrou-se neste GEAB Nº 51 sobre as 32 previsões para o ano de 2011, que incluem igualmente uma série de recomendações para fazer face aos choques futuros. É pois uma carta de previsão dos choques financeiros, monetários, políticos, económicos e sociais dos próximos doze meses que este número do GEAB oferece.

A nossa equipa considera que 2011 será o ano mais difícil desde 2006, data do início do nosso trabalho de previsão da crise sistémica, porque esta se encontra na encruzilhada dos três caminhos do caos mundial. Na ausência de um tratamento de fundo para as causas da crise, desde 2008 que o mundo apenas tem recuado para saltar melhor.

Um sistema internacional exangue

O primeiro caminho que a crise pode tomar para gerar um caos mundial, é muito simplesmente um choque violento e imprevisível. O estado de decrepitude do sistema internacional está neste momento tão avançado que a sua coesão está à mercê de qualquer catástrofe de monta [4] . Basta ver a incapacidade da comunidade internacional para ajudar eficazmente o Haiti ao fim de um ano [5] , dos Estados Unidos para reconstruir Nova Orleães desde há seis anos, da ONU para resolver os problemas de Darfour e da Costa do Marfim desde há uma década, dos Estados Unidos para fazer avançar a paz no Próximo Oriente, da NATO para vencer os talibãs no Afeganistão, do Conselho de Segurança para dominar as questões coreana e iraniana, do ocidente para estabilizar o Líbano, do G20 par pôr fim à crise mundial, quer financeira, alimentar, económica, social, monetária… para constatarmos que no conjunto tanto da paleta das catástrofes climáticas e humanitárias, como na das crises económicas e sociais, o sistema internacional se encontra actualmente impotente.

Com efeito, pelo menos a partir dos meados dos anos 2000, o conjunto dos grandes actores mundiais, em cuja primeira fila se encontram, claro, os Estados Unidos e o seu cortejo de países ocidentais, só age através da comunicação e da gesticulação. Na realidade, nada mais funciona: a esfera da crise gira e todos sustêm a respiração para que ela não caia na sua casa. Mas, progressivamente, a multiplicação dos riscos e dos temas de crise transformaram a roleta do casino numa roleta russa. Para o LEAP/E2020, o mundo inteiro começa a jogar a roleta russa [6] , ou melhor, a sua versão de 2011, "a roleta americana", com cinco balas no tambor.

A subida em espiral dos preços das matérias-primas (alimentares, energéticas [7] …) vai fazer-nos lembrar 2008 [8] . Foi com efeito no semestre anterior ao colapso do Lehman Brothers e da Wall Street que se situou o episódio precedente de pronunciadas subidas dos preços das matérias-primas. E as actuais causas são da mesma natureza que as dessa altura: uma fuga para fora dos activos financeiros e monetários a favor das colocações "concretas". Nessa altura os grandes operadores fugiram dos créditos hipotecários e de tudo o que deles dependia assim como do dólar americano; hoje fogem do conjunto dos valores financeiros e dos títulos do Tesouro [9] e de outras dívidas públicas. É pois de esperar, entre a primavera de 2011 e o Outono de 2011, uma explosão da bolha quádrupla dos títulos do Tesouro, das dívidas públicas [10] , dos balancetes bancários [11] e do imobiliário (americano, chinês, britânico, espanhol,… e do comercial [12] ; tudo isto a desenrolar-se com o pano de fundo duma guerra monetária exacerbada [13] .

A inflação induzida pelos Quantitative Easing americano, britânico e japonês e as medidas de estímulo dos mesmos, dos europeus e dos chineses, vai ser um dos factores desestabilizadores de 2011 [14] . Voltaremos a isto com maior pormenor neste GEAB Nº 51. Mas o que já é evidente no que se refere ao que se passa na Tunísia [15] , é que este contexto mundial, nomeadamente a subida dos preços dos géneros alimentícios e da energia, desemboca daqui para a frente em choques sociais e políticos radicais [16] . A outra realidade que o caso tunisino revela, é a impotência dos "padrinhos" franceses, italianos ou americanos para impedir o colapso de um "regime amigo" [17] .

Impotência dos principais actores geopolíticos mundiais

E esta impotência dos principais actores geopolíticos mundiais é o outro caminho que a crise pode utilizar para gerar um caos mundial em 2011. Com efeito, podemos classificar as principais potências do G20 em dois grupos cujo único ponto em comum é que não conseguem influenciar os acontecimentos de modo decisivo.

De um lado temos o Ocidente moribundo com os Estados Unidos, por um lado, onde o ano de 2011 vai demonstrar que a liderança não passa duma ficção (ver neste GEAB Nº 51) e que tentam cristalizar todo o sistema internacional na sua configuração do início dos anos 2000 [18] ; e depois temos a Eurolândia, "soberana" em gestação que está actualmente concentrada sobretudo na adaptação ao seu novo ambiente [19] e ao seu novo estatuto de entidade geopolítica emergente [20] e que portanto não tem nem a energia nem a visão necessárias para ter peso nos acontecimentos mundiais [21] .

E do outro lado, encontramos os BRIC (em especial a China e a Rússia) que se mostram incapazes neste momento de assumir o controlo de todo ou parte do sistema internacional e cuja única acção se limita pois a minar discretamente o que resta dos alicerces da ordem anterior à crise [22] .

No final das contas, é pois a impotência que se generaliza [23] ao nível da comunidade internacional, reforçando não só o risco de choques importantes, mas igualmente a importância das consequências desses choques. O mundo de 2008 foi apanhado de surpresa pelo choque violento da crise, mas paradoxalmente o sistema internacional estava mais bem equipado para reagir porque estava organizado em volta de um líder incontestado [24] . Em 2011, isso já não acontece: não só já não há um líder incontestado, mas o sistema está exangue como se viu anteriormente. E a situação ainda se agravou mais pelo facto de as sociedades de um grande número de países do planeta estarem à beira da rotura sócio-económica.


Sociedades à beira da rotura sócio-económica

É em especial o caso nos Estados Unidos e na Europa onde três anos de crise começam a ter um forte peso na balança sócio-económica, e portanto política. Os lares americanos actualmente insolventes em dezenas de milhões oscilam entre a pobreza sofrida [25] e a raiva anti-sistema. Os cidadãos europeus, encurralados entre o desemprego e o desmantelamento do Estado-providência [26] , começam a recusar-se a pagar as facturas das crises financeiras e orçamentais e tratam de procurar os culpados (a banca, o euro, os partidos políticos dos governos…).

Mas, também no seio das potências emergentes, a transição violenta que a crise constitui conduz as sociedades para situações de rotura: na China, a necessidade de controlar as bolhas financeiras em desenvolvimento choca com o desejo de enriquecimento de sectores inteiros da sociedade e com a necessidade de emprego para dezenas de milhões de trabalhadores precários; na Rússia, a fraqueza do tecido social tem dificuldade em aceitar o enriquecimento das elites, tal como na Argélia agitada por motins. Na Turquia, no Brasil, na Índia, por toda a parte, a transição rápida que esses países experimentam desencadeia motins, protestos, atentados. Por razões perfeitamente antinómicas, para umas o desenvolvimento, para outras o empobrecimento, um pouco por toda a parte no planeta, as nossas diferentes sociedades entram em 2011 num contexto de fortes tensões, de roturas sócio-económicas que as transformam em barris de pólvora políticos.

É a sua posição na encruzilhada destes três caminhos que torna pois 2011 um ano impiedoso. E impiedoso será para os Estados (e para as colectividades locais) que optaram por não aprender as difíceis lições dos três anos de crise que precederam e/ou que se contentaram com mudanças cosméticas que não modificaram em nada os seus desequilíbrios fundamentais. Sê-lo-á também para as empresas (e para os Estados [27] que acreditaram que a melhoria de 2010 era sinal dum regresso "à normalidade" da economia mundial. E finalmente sê-lo-á para os investidores que não compreenderam que os valores de ontem (títulos, moedas…) não podiam ser os de amanhã (pelo menos por mais anos). A História geralmente é uma "boa rapariga". Frequentemente dá um tiro de aviso antes de varrer o passado. Desta vez deu o tiro de aviso em 2008. Prevemos que em 2011 dará a varridela final. Só os actores que tentaram, mesmo com dificuldades, mesmo parcialmente, adaptar-se às novas condições geradas pela crise se poderão aguentar; quanto aos outros, o caos espera-os no fim do caminho.

Notas:

[1] Ou do mundo tal como o conhecemos desde 1945, para retomar a nossa descrição de 2006.

[2] A recente decisão do ministério do Trabalho americano de alargar a cinco anos a medição do desemprego de longa duração nas estatísticas de emprego americanas, em vez de um máximo de dois anos como até agora, é um bom indicador da entrada numa nova etapa da crise, uma etapa que vê desaparecer os "hábitos" do mundo anterior. De resto, o governo americano cita "a subida sem precedentes" do desemprego de longa duração para justificar esta decisão. Fonte: The Hill , 28/12/2010.

[3] Estas medidas (monetárias, financeiras, económicas, orçamentais, estratégicas) estão a partir de agora estreitamente ligadas. É por isso que serão atingidas numa série de choques sucessivos

[4] Fonte: The Independent , 13/01/2011

[5] Ainda é pior, visto que foi a ajuda internacional que levou para a ilha a cólera que já fez milhares de mortos.

[6] De resto, Timothy Geithner, o ministro americano das Finanças, pouco conhecido pela sua imaginação transbordante, acaba de indicar que "o governo americano podia ter que fazer de novo coisas excepcionais", referindo-se ao plano de salvamento dos bancos de 1008. Fonte: MarketWatch , 13/01/2011

[7] De resto, a Índia e o Irão estão em vias de preparar um sistema de câmbio "ou contra petróleo" para tentar evitar roturas de abastecimento. Fonte: Times of India , 08/01/2011.

[8] O índice FAO dos preços alimentícios acaba de ultrapassar, em Janeiro de 2011 (com 215) o seu anterior recorde de Maio de 2008 (com 214).

[9] Os bancos da Wall Street estão actualmente a desembaraçar-se a grande velocidade (sem equivalente desde 2004) dos seus Títulos do Tesouro americanos. A explicação oficial é "a notável melhoria da economia dos EUA que já não justifica refugiarem-se nos Títulos do Tesouro". Bem entendido, têm toda a liberdade de acreditar nisso, como acontece com o jornalista da Bloomberg de 10/01/2011.

[10] Assim, a Eurolândia avança já a grandes passadas pelo caminho descrito no GEAB Nº 51 de um corte no caso do refinanciamento das dívidas de um Estado membro; enquanto que daqui para a frente as dívidas japonesa e americana se apressam a entrar na borrasca. Fontes: Bloomberg , 07/01/2011; Telegraph , 05/01/2011.

[11] Calculamos que, de modo geral, os balanços dos grandes bancos mundiais contêm pelo menos 50% de activos fantasmas em que o ano que entra vai impor um corte de 20% a 40% provocado pelo regresso da recessão mundial com a austeridade, pela subida dos incumprimentos dos empréstimos da habitação, das empresas, das colectividades, dos Estados, das guerras monetárias e do regresso da queda do imobiliário. Os "stress-tests" americano, europeu, chinês, japonês ou outros bem podem continuar a tentar tranquilizar os mercados com cenários "cor-de-rosa", só que este ano o que está no programa dos bancos é um "filme de terror". Fonte: Forbes , 12/01/2011.

[12] Cada um destes mercados imobiliários vai continuar a baixar fortemente em 2011 para os que já iniciaram a sua queda nos últimos anos ou, no caso chinês, vai iniciar o seu esvaziamento brutal num fundo de abrandamento económico e de rigor monetário.

[13] A economia japonesa é de resto uma das primeiras vítimas desta guerra das divisas, com 76% dos chefes de empresas das 110 maiores sociedades nipónicas sondadas pelo Kyodo News a declararem-se pessimistas quanto ao crescimento japonês em 2011 na sequência da subida do iene. Fonte: JapanTimes , 04/01/2011.

[14] Eis alguns exemplos edificantes reunidos pelo excelente John Rubino. Fonte: DollarCollapse , 08/01/2011

[15] Lembramos que, no GEAB Nº 48 , de 15/10/2010, classificámos a Tunísia entre os "países de alto risco" para 2011.

[16] De resto, não há qualquer dúvida de que o exemplo tunisino gera uma onda de reavaliação entre as agências de classificações e os "especialistas em geopolíticas" que, como de costume, não previram o futuro. O caso tunisino ilustra igualmente o facto de que, a partir de agora, são os países satélites do Ocidente em geral, e dos Estados Unidos em particular, que estão na via dos choques de 2011 e dos próximos anos. E confirma o que temos vindo a repetir regularmente, uma crise acelera todos os processos históricos. O regime Ben Ali, velho de vinte e três anos, desmoronou-se em poucas semanas. Quando está presente a obsolescência política, tudo vacila rapidamente. Ora é o conjunto dos regimes árabes pró-ocidentais que já está obsoleto, à luz dos acontecimentos na Tunísia.

[17] Sem dúvida que esta paralisia dos "padrinhos ocidentais" vai ser cuidadosamente analisada em Rabat, no Cairo, em Djeddah e em Aman, por exemplo.

[18] Configuração que lhes era a mais favorável visto que sem contrapeso quanto à sua influência.

[19] Aqui voltaremos com maior pormenor neste número do GEAB, mas do ponto de vista da China, não há engano possível. Fonte: Xinhua , 02/01/2011

[20] Pouco a pouco os europeus descobrem que estão dependentes de outros centros de poder para além de Washington: Pequim, Moscovo, Brasília, Nova Delhi,… entram muito lentamente na paisagem dos parceiros essenciais. Fonte: La Tribune, , 05/01/2011; Libération , 24/12/2010; El Pais , 05/01/2011

[21] Toda a energia do Japão está concentrada na sua tentativa desesperada de resistir à atracção chinesa. Quanto aos outros países ocidentais, não estão em condições de influenciar significativamente as tendências mundiais.

[22] O lugar do dólar americano no sistema mundial faz parte desses últimos alicerces que os BRIC corroem activamente dia após dia.

[23] Em matéria de défice, o caso americano é exemplar. Para além do discurso, tudo continua como antes da crise com um défice em aumento exponencial. No entanto, até o próprio FMI toca a sineta de alarme. Fonte: Reuters , 08/01/2011

[24] De resto, o próprio Market Watch de 12/01/2011, fazendo-se eco do Fórum de Davos, inquieta-se com a ausência de coordenação internacional, que só por si é um enorme risco para a economia mundial.

[25] Milhões de americanos recorrem aos bancos alimentares pela primeira vez na sua vida, enquanto que na Califórnia, como em muitos outros estados, o sistema educativo se desagrega rapidamente. No Illinois, os estudos sobre o défice do Estado comparam-no agora ao Titanic. 2010 bate o recorde das penhoras imobiliárias. Fontes: Alternet , 27/12/2010; CNN , 08/01/2011; IGPA-Illinois , 01/2011; LADailyNews , 13/01/2011

[26] A Irlanda, que enfrenta uma reconstrução pura e simples da sua economia, é um bom exemplo de situações futuras. Mas, a própria Alemanha, embora com resultados económicos notáveis actualmente, não escapa a esta evolução, como demonstra a crise do financiamento das actividades culturais. Enquanto que no Reino Unido, milhões de pensionistas vêem as suas receitas amputadas pelo terceiro ano consecutivo. Fontes: Irish Times , 31/12/2010; Deutsche Welle , 03/01/2011; Telegraph, 13/01/2011

[27] Sobre este assunto, os dirigentes americanos confirmam que esbarram direitinhos contra o muro das dívidas públicas, por não se terem previsto as dificuldades. Com efeito, a recente declaração de Ben Bernanke, o patrão do FED, em que afirma que o Fed não ajudará os Estados (30% de redução nas receitas fiscais em 2009, segundo o Washington Post de 05/01/2011) nem as cidades que sucumbem sob o peso das dívidas, assim como a decisão do Congresso de suspender a emissão das "Build American Bonds" que evitaram que os Estados fossem à falência nos últimos dois anos, ilustram a cegueira de Washington que só tem equivalente com a que deu provas em 2007/2008 perante a subida das consequências da crise dos "subprimes". Fontes: Bloomberg , 07/01/2011; WashingtonBlog 13/01/2011
15/Janeiro/2011

O original encontra-se em www.leap2020.eu/ . Tradução de Margarida Ferreira.

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Qua Jan 26, 2011 1:33 pm
por manuel.liste
http://www.cotizalia.com/perlas-kike-va ... -4773.html
Reino Unido: mirando a España y problemas en casa

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Seg Jan 31, 2011 10:18 pm
por soultrain
Breve resenha da situação económica de 4 países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique


Através de uma análise realizada pela “Espírito Santo Research” eis uma análise do estado da economia de alguns países, onde destacamos a situação económica em alguns países da Lusofonia:

Angola:
Com uma população que ronda já os 18 milhões e um PIB per capita de 4792 euros, Angola é hoje uma das maiores potencias económicas da Lusofonia. A economia deste país está, contudo, perigosamente dependente dos hidrocarbonetos, que alimentam toda a economia. Há, decerto, um grande dinamismo na construção civil que se propagou aos serviços e até ao setor agrícola, mas tudo depende do petróleo e esta dependência acentuou-se até no último ano. Recentemente, o FMI emprestou a Luanda 1.4 mil milhões de dólares, o que veio equilibrar
a balança corrente angolana.

Brasil:
Os quase 194 milhões de habitantes do Brasil fazem deste país o grande país da Lusofonia. Apesar dos muito notáveis avanços, o PIB per capita continua com um valor que ainda deixa a desejar de 7500 euros. O desemprego no Brasil recuou mesmo durante a atual recessão global e encontra-se agora bem perto do limite apontado como “sistémico” de 5% com os 6.7% de agosto de 2010.

A economia brasileira floresce com uma forte procura interna e apesar de uma inflação que começa a preocupar os economistas menos otimistas. A atual guerra cambial em que a China e os EUA recentemente se envolveram está a perturbar as exportações brasileiras e se esta se agravar (por exemplo, com a entrada do Euro nestas lides) o crescimento do Brasil poderá ficar comprometido.

Cabo Verde:
Este país lusófono está muito dependente das importações de energia e alimentos, dois setores onde existe um grande défice entre o consumo e a produção. Esta situação decorre não somente do facto de o país ter solos muito pobres e escassas capacidades de produção de energia, mas também de ser a Economia mais tercializada de todo o espaço económico lusófono com mais de 70% do PIB pertencem ao setor do Turismo (Portugal, outro país lusófono severamente tercializado retira do Turismo apenas 13% do PIB). As remessas dos emigrantes (a maioria dos caboverdianos vivem fora do seu país) compensam contudo este défice comercial que um débil setor industrial (têxteis, calçado e pescas) não consegue ter um peso significativo. Apesar destas limitações, a estabilidade governativa, a boa governança e o crescimento do investimento direto estrangeiro, tornam Cabo Verde no país africano lusófono com melhores perspetivas de desenvolvimento económico e social a curto prazo.

Moçambique:
Em tempo de recessão, Moçambique apresenta valores elevados do crescimento económico, que se manterão a médio prazo, principalmente devido aos mega-projectos em torno do aproveitamento dos recursos minerais. A diversificação sectorial da economia, relevante para o perfil exportador do país, relativamente concentrado, incentivará o dinamismo da economia moçambicana, gerando um crescente número de oportunidades.

Fonte:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=454525

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Qua Fev 02, 2011 9:38 pm
por PRick
Túlio escreveu:Crise sistémica global

2011: o ano impiedoso

– o cruzamento dos três caminhos para o caos mundial




O original encontra-se em http://www.leap2020.eu/ . Tradução de Margarida Ferreira.

Engraçado como esses estudos de fim de mundo, começam a ser desmentidos logo nos primeiros números de 2011.

Por sinal, essa virada já foi sentida em nossa Balança Comercial, que ficou no azul em Janeiro, coisa que não ocorria desde 2008.

[]´s

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Dom Fev 06, 2011 10:34 am
por P44
Terça-feira, 21 de Dezembro de 2010
"Ein Volk, ein Reich, ein Führer!"
Estava a ler o Jornal de Negócios quando deparei-me com a seguinte noticia, a PIMCO (a maior gestora mundial de obrigações) acha que Espanha, Itália e Bélgica vão precisar de ajuda externa e que Grécia, Irlanda e Portugal deveriam sair do Euro.

Isto lido fora de contexto até pode ser algo racional e dentro de outros textos que se tem publicado nos media nacionais e internacionais. No entanto, ao ler outras noticias deparo-me com outra noticia que para mim está completamente relacionada com as duas primeiras.


França e Alemanha querem a união fiscal. Vai ser o debate de 2011

por Ana Sá Lopes, Publicado em 18 de Dezembro de 2010

Merkel referiu expressamente o Estado social como a matéria que deveria ser concertada entre os parceiros europeusAlemanha e França não deixaram ninguém discutir os famosos eurobonds (emissão de títulos de dívida pública europeia), mas no fim do Conselho Europeu anunciaram que vão propor no próximo ano a harmonização dos impostos, das políticas laborais e inclusivamente das políticas sociais dos países da zona euro. Merkel e Sarkozy sustentam que a crise evidenciou a necessidade de completar a união monetária com uma união económica. "A senhora Merkel e eu próprio faremos propostas para harmonizar a política económica" da zona euro, disse ontem Sarkozy em Bruxelas, anunciando o que será um passo gigantesco no sentido do federalismo, uma palavra tão odiada nas políticas domésticas que em Bruxelas os actores políticos lhe chamam a "F word". Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia, também sempre defendeu que não valia a pena pronunciá-la."O debate demonstrou ontem que precisamos de uma maior aproximação nas nossas políticas económicas e teremos de falar sobre isso nos próximos meses, especialmente na eurozona", disse Angela Merkel. "É importante não só ter orçamentos sólidos e finanças estáveis, mas também é importante ter uma política económica comum", afirmou a chanceler alemã, reconhecendo, no entanto, que será "um longo processo" e que terá de ser feito "passo a passo".

As propostas franco-alemãs, que serão apresentadas "nas primeiras semanas de 2011", incluem projectos de convergência nas políticas fiscais e sociais. Sarkozy diz que o objectivo é esbater as diferenças na competitividade entre os países do euro, considerando que as "políticas sociais e fiscais fazem parte dessas diferenças de competitividade".

Na conferência de imprensa do fim da cimeira, Merkel confirmou que a discussão sobre a coordenação das políticas económicas na zona euro é mesmo para avançar em 2011, aludindo às "diferentes velocidades" dentro da Europa e referindo expressamente a estabilidade orçamental e o Estado social como exemplo de políticas a harmonizar.Mário David, eurodeputado do PSD, congratula-se com o avanço. Em declarações ao i, Mário David - que, ao contrário de Angela Merkel e Sarkozy, é um defensor dos eurobonds, mas compreende os que são contra - acha que "é fundamental que as regras para a competitividade sejam iguais". David defende não só a harmonização fiscal, como económica, incluindo as prestações sociais, apontando uma questão que tanto irrita os alemães - o facto de a idade da reforma na Alemanha ser 67 anos, enquanto na Grécia os trabalhadores podem reformar-se aos 55.Recentemente, Mário David fez uma pergunta às instituições comunitárias, pedindo-lhes que "confirmem que não existe racionalidade no contágio da situação irlandesa à portuguesa" e inquirindo sobre que "medidas adicionais pode a União Europeia tomar para acalmar os mercados e parar com o ataque que está a ser efectuado essencialmente às economias periféricas, mas que se reflectem em toda a União Europeia". Na altura, Mário David defendeu que "a União emitisse títulos de dívida pública que permitam aos países em dificuldades financiar-se a taxas bem mais baixas do que aquelas que estão a ser cobradas pelos mercados, permitindo aos cidadãos individualmente poderem aceder a esse mercado primário".A promessa de Angela Merkel de que "tudo fará para salvar o euro" e de que "a União não deixará nenhum país entrar em falência" foi bem recebida entre os portugueses, depois da recusa franco- -alemã em aceitar os títulos de dívida pública "salvadores".A aprovação das regras para o novo fundo de mecanismo de auxílio aos países em crise foi um passo saudado por vários chefes de Estado e de governo e também por José Sócrates, satisfeito com o "sinal inequívoco" em defesa do euro manifestado pelas instituições europeias, da Comissão ao Banco Central Europeu.Para Sócrates, houve "um sinal inequívoco da determinação de todas as instituições" para salvar o euro e "a firme determinação" de "fazer o que for necessário para defender a moeda única". E Sócrates saiu de Bruxelas com um elogio de Jean-Claude Juncker, o presidente do Eurogrupo, ao pacote apresentado na quinta-feira. Estas medidas são coerentes e consequentes [...] Estou muito tranquilizado pela exposição do primeiro-ministro Sócrates", disse o dirigente luxemburguês defensor dos eurobonds, que aproveitou a cimeira para fazer as pazes com Angela Merkel, que tinha atacado na semana passada. Pelo menos saíram da reunião do PPE de braço dado.



No passado ouve pessoas que tentaram unir a Europa através das armas, e sempre fracassaram porque os povos europeus são povos que amam a liberdade. Hoje em dia faz-se projectos semelhantes mas desta vez através da especulação económica e das pressões politicas.

Numa europa onde a há uma união fiscal, onde há um banco central, onde há um Parlamento, onde há vários tribunais centrais, onde há uma bandeira e um hino; o que falta para ser na realidade uma Federação?

NADA!

Quem votou numa Federação Europeia? Ninguém, mas que ela vai haver e muitas pessoas até vão apoiar. Porquê? Porque estão a ver o seu poder de compra retalhado, os seus direitos anulados e são bombardeados todos os dias com mais e mais informação "trabalhada" de forma a que as pessoas acreditem que é a única solução.

Portugal como país soberano, está a acabar, essa é que é a realidade. O poder politico pode estar concentrado em Bruxelas mas quem manda na verdade é a Alemanha com uma França muito atrás a apoiar de forma a estar na crista da onda.

É o fim da europa das nações e o começo da Super Europa, aniquiladora das nacionalidades.
Publicada por Pensamento corrosivo em 10:07 0 comentários
http://politicamentecorrosivo.blogspot.com/

e noticia de ontem:
Berlin über alles. A nova Europa será mais alemã
por Nuno Aguiar, Publicado em 05 de Fevereiro de 2011 | Actualizado há 13 horas
Juros da dívida portuguesa voltaram a ultrapassar os 7%, depois de a Cimeira Europeia ter terminado sem decisões sobre o Fundo

A Cimeira Europeia iniciada ontem em Bruxelas lançou os primeiros alicerces de uma nova Europa, agora mais alinhada a este do Reno. Por um lado, será uma zona euro mais preparada para sair da crise da dívida, por outro, será muito mais severa a lidar com os défices e o endividamento dos estados. Por outras palavras, será uma Europa mais alemã.

Nicolas Sarkozy e Angela Merkel apresentaram o "pacto de competitividade": um conjunto de medidas (ver coluna ao lado) criado com o objectivo de harmonizar as políticas fiscais e sociais na zona euro. Ao contrário do que vinha sendo normal, Merkel não se apresentou como uma espectadora passiva, mas sim como uma das líderes do processo.

Porquê? Porque estas medidas seguem a cartilha germânica e parecem ser suficientes para permitir que Merkel aceite alterar a estratégia de ajuda aos países periféricos. O pacto de competitividade inclui a indexação da idade da reforma à esperança média de vida (como já acontece em Portugal), o afastamento do paradigma em que a inflação serve como referência para os aumentos salariais, bem como a criação de uma base comum para os impostos sobre as empresas. Na prática, a economia mais exportadora do espaço europeu pretende exportar também o seu modelo de desenvolvimento económico e competitividade. "O que queremos é assegurar a prosperidade e o bem-estar das populações dos nossos países", explicou a chanceler alemã. "Mas temos de aumentar a nossa competitividade e a referência deve ser o estado-membro que exiba as melhores práticas."

Este tipo de sugestões nunca seria possível há dois anos. No entanto, com um ano de crise da dívida nos ombros, os restantes estados-membros estão dispostos a trocar parte da sua soberania pela estabilidade providenciada pelo poder económico germânico. O pacote serve como contrapartida em relação ao reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), um preço que Berlim não abdica de fazer pagar.

Apesar de este conjunto de medidas - a que se acrescentam mecanismos legais de controlo do défice - afectar principalmente as economias periféricas, o governo português já admitiu concordar com elas. "Necessitamos de maior integração europeia em matéria económica", afirmou José Sócrates, ao "The Wall Street Journal" de sexta-feira.

Mercados não gostaram A falta de medidas concretas sobre o reforço do fundo europeu levou a um aumento da pressão dos mercados financeiros sobre a dívida soberana nacional, com as taxas de juro das obrigações a dez anos a ultrapassarem novamente os 7%. As linhas gerais do pacote de competitividade já eram conhecidas e não contribuem para a resolução da crise actual. As decisões sobre o fundo ficaram adiadas para uma cimeira extraordinária marcada para 24 e 25 de Março. A pressão continua.
http://www.ionline.pt/conteudo/102819-b ... mais-alema

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:roll: :roll: :roll:

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Dom Fev 06, 2011 10:40 am
por P44
Crédito
Do ‘sub prime’ ao ridículo

Giliian Tett
06/02/11 11:30


As narrativas para explicar a crise do crédito imobiliário estão em constante mudança e criam contradições nos discursos políticos.

Quem é o verdadeiro culpado pela confusão no sector imobiliário norte-americano? Eis um tema que suscitou longo e aceso debate nos EUA, já para não dizer em todo o mundo, nos últimos três anos. Com o agravamento do mal-estar económico - cerca de cinco milhões de casas foram ou estão a ser alvo de execuções hipotecárias - não faltaram culpados a quem apontar o dedo, de políticos, reguladores e banqueiros a corretores, economistas e agências de notação de crédito. Se o leitor quiser enfurecer-se em 2011, uma das coisas que pode fazer é ler o excelente "All the Devils are Here", da autoria de dois jornalistas económicos americanos, Bethany McLean e Joe Nocera. Como o título (pouco subtil) sugere, "pecadores" há muitos. Exemplos não faltam, do presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, ao CEO da Countrywide, Angelo Mozilo, entretanto caído em desgraça, passando por muitos outros.

Além da "caça ao culpado", podemos dedicar-nos a outras actividades igualmente estimulantes, como a investigação que um grupo de arqueólogos está actualmente a levar a cabo no chamado ‘Rust Belt' americano, isto é, a região do país onde predominam as indústrias pesadas, nomeadamente a siderurgia e a construção automóvel, hoje em franco declínio. Surpreende que haja arqueólogos interessados na região. Durante grande parte do século XX, a maioria destes especialistas rumava a paragens mais exóticas e climas mais amenos. Falo por mim, que cheguei a fazer trabalho de campo nas montanhas de Hindu Kush, no Afeganistão. Nos dias de hoje, porém, há cada vez mais antropólogos interessados em estudar os rituais do mundo ocidental, inclusive em lugares tão prosaicos como o Michigan, EUA.

Anne Jefferson, da Universidade do Michigan, foi pioneira no projecto de investigação ainda em curso, que visa estudar a evolução das execuções hipotecárias na região. As suas conclusões são fascinantes. Chegou ao terreno há três anos, em plena crise imobiliária, e uma das coisas que mais a impressionou foi a popularidade das histórias de suicídios. Passo a explicar. Quando falava com pessoas envolvidas no mercado imobiliário, a primeira coisa que vinha à conversa era o suicídio deste ou daquele proprietário antes de ser "despejado", aparentemente, diziam, num acto de vingança ou de desespero.

Até aqui tudo mal. Uma verdadeira - e inevitável - tragédia. Que mais se pode dizer de um país onde o número de execuções hipotecárias não pára de aumentar e a taxa de desemprego atingiu recentemente os 9,8%, valor superior ao da Alemanha ou do Reino Unido. No Michigan, cerca de 90% dos incumprimentos devem-se à perda de emprego, porém, quando Jefferson começou a estudar as histórias de suicídios apercebeu-se de um pormenor estranho: as situações trágicas eram, de facto, numerosas, mas poucas estavam directamente ligadas à perda de casa. Com efeito, o número de suicídios era muito inferior ao que o "mito urbano" fazia crer à primeira vista. Seria apenas uma moda mediática ou uma espécie de jogo político? É possível, mas para Jefferson há outro aspecto mais interessante no meio de tudo isto. Nos últimos 100 anos, a cultura norte-americana desenvolveu uma narrativa nacional comum e coesa para explicar e justificar o sucesso, isto é, o mito do "sonho americano". Segundo Jefferson, "a narrativa do sonho americano explica, essencialmente, a ascensão do indivíduo. Raras são as narrativas culturais que nos ajudam a perceber e a gerir a situação contrária - o declínio". Assim sendo, a imensa vaga de execuções hipotecárias coloca-nos um "desafio narrativo": não há um sentimento, uma narrativa nacional, que permita explicar esta situação e sim vários grupos que lutam por controlar a história.

Durante a queda dos preços imobiliários, e depois de recolher dados junto dos residentes, Jefferson chegou à conclusão que muitos dos seus informadores responsabilizavam os proprietários pela situação em que se encontravam por terem contraído empréstimos atrás de empréstimos sabendo que era mau negócio. A reacção dos media locais e dos fóruns online foi idêntica. As alterações introduzidas nos planos de pensões não foram bem recebidas por terem subjacente o risco moral (‘moral hazard') e, em certa medida, por serem tidas como "não americanas", ou seja, por contrariarem o espírito capitalista.

No entanto, e à medida que o número de execuções hipotecárias aumentava, surgiu uma nova narrativa: as pessoas que contraíram créditos passaram a ser consideradas vítimas da ganância dos bancos e de um sistema de execução hipotecária profundamente caprichoso, irracional e desumano. Foi a partir daí que começaram a circular as histórias de suicídios.

Entretanto, Jefferson identificou uma terceira narrativa. No discurso popular, o incumprimento no crédito à habitação é visto como uma via de "libertação" da sociedade doente e consumista em que hoje vivemos. "Há quem retrate a perda de casa como algo virtuoso por oposição à cegueira do consumo, que nos faz esquecer facilmente aquilo que é ‘verdadeiramente importante', explica, acrescentando que a linguagem usada nas três narrativas para retratar as execuções hipotecárias é cada vez mais emotiva e próxima do discurso religioso.

Como é óbvio, estas narrativas podem mudar novamente. O que importa realçar é que os americanos continuam sem saber explicar o fenómeno do declínio. Não obstante os argumentos evocados por McLean e Nocera no seu livro, a verdade é que os americanos ainda não têm um "rol de maus da fita" devidamente identificados e publicamente sacrificados para porem um ponto final nesta saga. Assim sendo, é natural que o sentimento de revolta continue a aumentar. Os políticos acusam os banqueiros e estes queixam-se da "desresponsabilização dos consumidores e da classe política" baralhando ainda mais os consumidores. Não admira que o sentimento político seja tão volátil e contraditório. As mudanças nas narrativas nacionais normalmente coincidem com outras mudanças potencialmente importantes, e isto tanto se aplica ao Michigan como ao resto do mundo.

Exclusivo Financial Times /Tradução de Ana Pina

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Dom Fev 06, 2011 12:27 pm
por eur2
e tem gente que ainda tem saúdades deste cidadão




Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Dom Fev 06, 2011 1:03 pm
por Centurião
soultrain escreveu:Breve resenha da situação económica de 4 países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique


Através de uma análise realizada pela “Espírito Santo Research” eis uma análise do estado da economia de alguns países, onde destacamos a situação económica em alguns países da Lusofonia:

Angola:
Com uma população que ronda já os 18 milhões e um PIB per capita de 4792 euros, Angola é hoje uma das maiores potencias económicas da Lusofonia. A economia deste país está, contudo, perigosamente dependente dos hidrocarbonetos, que alimentam toda a economia. Há, decerto, um grande dinamismo na construção civil que se propagou aos serviços e até ao setor agrícola, mas tudo depende do petróleo e esta dependência acentuou-se até no último ano. Recentemente, o FMI emprestou a Luanda 1.4 mil milhões de dólares, o que veio equilibrar
a balança corrente angolana.

Brasil:
Os quase 194 milhões de habitantes do Brasil fazem deste país o grande país da Lusofonia. Apesar dos muito notáveis avanços, o PIB per capita continua com um valor que ainda deixa a desejar de 7500 euros. O desemprego no Brasil recuou mesmo durante a atual recessão global e encontra-se agora bem perto do limite apontado como “sistémico” de 5% com os 6.7% de agosto de 2010.

A economia brasileira floresce com uma forte procura interna e apesar de uma inflação que começa a preocupar os economistas menos otimistas. A atual guerra cambial em que a China e os EUA recentemente se envolveram está a perturbar as exportações brasileiras e se esta se agravar (por exemplo, com a entrada do Euro nestas lides) o crescimento do Brasil poderá ficar comprometido.

Cabo Verde:
Este país lusófono está muito dependente das importações de energia e alimentos, dois setores onde existe um grande défice entre o consumo e a produção. Esta situação decorre não somente do facto de o país ter solos muito pobres e escassas capacidades de produção de energia, mas também de ser a Economia mais tercializada de todo o espaço económico lusófono com mais de 70% do PIB pertencem ao setor do Turismo (Portugal, outro país lusófono severamente tercializado retira do Turismo apenas 13% do PIB). As remessas dos emigrantes (a maioria dos caboverdianos vivem fora do seu país) compensam contudo este défice comercial que um débil setor industrial (têxteis, calçado e pescas) não consegue ter um peso significativo. Apesar destas limitações, a estabilidade governativa, a boa governança e o crescimento do investimento direto estrangeiro, tornam Cabo Verde no país africano lusófono com melhores perspetivas de desenvolvimento económico e social a curto prazo.

Moçambique:
Em tempo de recessão, Moçambique apresenta valores elevados do crescimento económico, que se manterão a médio prazo, principalmente devido aos mega-projectos em torno do aproveitamento dos recursos minerais. A diversificação sectorial da economia, relevante para o perfil exportador do país, relativamente concentrado, incentivará o dinamismo da economia moçambicana, gerando um crescente número de oportunidades.

Fonte:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=454525
Espero que o grupo de investimento desse banco seja melhor do que os seus analistas. O PIB per capita de Angola é de $ 4.812. O do Brasil é $ 10.471 . A população brasileira é de quase 191 milhões, e não de 194. Além disso, não existe nem comparação entre uma economia diversificada e outra que não produz nada.

Eu não colocaria um centavo nesse banco. Não é à toa que Portugal está indo mal.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_co ... per_capita

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Dom Fev 06, 2011 3:01 pm
por tflash
Os valores que o banco deu foram em Euros e não dólares. Se fizermos as contas, vai dar um valor semelhante e eu confio mais neste banco do que a wikipédia!

Por acaso o BES é dos bancos portugueses com mais expressão no Brasil, eu não o descartava tão depressa. A crise em Portugal não tem nada a ver com os bancos, tem a ver com o governo ter dificuldades em financiar a sua dívida.

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Seg Fev 07, 2011 2:50 pm
por PRick
Parece mesmo que o ano de 2011 será melhor que 2010 na economia mundial.

O dados de nossas exportações continuam surpreendendo, depois do aumento de mais de 20% em janeiro, a primeira semana de fevereiro aponta um aumento de 30%!

Esse números vem assim já de dezenbro de 2010.

Se continuar assim, vamos ser soterrados por Dólares, vamos empretá-los baratinhos para os necessitados. :mrgreen: :mrgreen:

[]´s

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Seg Fev 07, 2011 8:42 pm
por Centurião
tflash escreveu:Os valores que o banco deu foram em Euros e não dólares. Se fizermos as contas, vai dar um valor semelhante e eu confio mais neste banco do que a wikipédia!

Por acaso o BES é dos bancos portugueses com mais expressão no Brasil, eu não o descartava tão depressa. A crise em Portugal não tem nada a ver com os bancos, tem a ver com o governo ter dificuldades em financiar a sua dívida.

Se você seguir o link vai ver que os dados são do FMI.

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Seg Fev 07, 2011 9:19 pm
por tflash
Veja bem os valores citados pelo banco e faça a conversão de dólares para euros a ver se não dão valores muito semelhantes. Os bancos a nível mundial (não são só os portugueses) trabalham com informação mais actualizada,não se restringem a uma fonte e são actualizados frequentemente.

De qualquer forma é um texto muito generalista passado a um jornal.

Agora o banco que desqualificou investe no Brasil há muitos anos. Não era motivo para um comentário desses na minha opinião, já que mesmo a nível europeu, é um banco com uma dimensão e desempenho razoável.

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Seg Fev 07, 2011 10:08 pm
por Centurião
tflash escreveu:Veja bem os valores citados pelo banco e faça a conversão de dólares para euros a ver se não dão valores muito semelhantes. Os bancos a nível mundial (não são só os portugueses) trabalham com informação mais actualizada,não se restringem a uma fonte e são actualizados frequentemente.

De qualquer forma é um texto muito generalista passado a um jornal.

Agora o banco que desqualificou investe no Brasil há muitos anos. Não era motivo para um comentário desses na minha opinião, já que mesmo a nível europeu, é um banco com uma dimensão e desempenho razoável.
Veja a proporção entre o PIB per capita dos dois países pelos dados do FMI para o ano de 2010. Não é o mesmo que o indicado pelo BES.

Eu realmente fui um pouco duro no texto. Eu deveria ter somente alertado para a discrepância na proporção do PIB per capita.

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Ter Fev 08, 2011 10:35 am
por P44
novas do Reich....

Alemanha quer a Europa à sua imagem. Governos dizem "nim"

Publicado em 08 de Fevereiro de 2011 | Actualizado há 41 minutos
Líderes europeus não aceitam "pacto de competitividade". Alterações ao fundo europeu ficam em stand-by

O primeiro round do combate Alemanha vs. Europa terminou sem vencedor claro. O "pacto de competitividade" - desenhado por Berlim como moeda de troca para reforçar o Fundo Europeu - não foi bem recebido pelos restantes países europeus, nomeadamente os desejos germânicos de pôr fim à indexação dos salários à inflação, de aumentar a idade de reforma e criar limites legais ao endividamento. Resultado: não houve consenso em torno destas medidas e a flexibilização do Fundo foi afastada do documento final da Cimeira Europeia.

A troca era clara: Angela Merkel só aceitaria aumentar ou flexibilizar o Fundo Europeu de Flexibilidade Financeira (FEEF) se os restantes países da zona euro adoptassem um modelo económico mais germânico. No entanto, mesmo sob a ameaça de o Fundo não ser alterado, os restantes líderes europeus não aceitaram, por enquanto, a ingerência alemã na sua política interna. "Rejeito categoricamente a ideia de a União Europeia (UE) decidir intervir nas constituições nacionais. Ser uma condição para poder beneficiar do plano de salvação alemão não é minimamente atractivo", afirmou o vice-primeiro-ministro grego Theodoros Pangalos.

Publicamente, todos os países concordaram com o princípio de maior coordenação económica e fiscal, mas a atitude positiva terminava mal se começava a falar de propostas concretas. Vários países mostraram-se indisponíveis para fazer este tipo de alterações. Os líderes europeus argumentaram que este pacote de medidas em nada está relacionado com as raízes da crise, mostrando-se também insatisfeitos por não terem sido consultados. "O debate irritado de sexta-feira expôs novamente alguns dos temas fracturantes que continuam a atormentar a moeda única", disse Michael Derks, da FxPro.

Os estados-membros têm agora até à cimeira extraordinária de Março para chegarem a algum tipo de acordo, sob pena de os mercados financeiros voltarem a pressionar fortemente os países da zona euro. "As negociações serão duras, isso era claro", lembrou Angela Merkel. "Mas queremos um acordo e ainda há algum tempo."



o sacrifício alemão Aparentemente, a Europa até pode acabar por se tornar mais alemã, mas isso não irá acontecer sem alguma luta. Até porque a ideia de que a Alemanha surge como a salvadora dos povos incumpridores não é partilhada por todos. Desde as primeiras iniciativas conjuntas para resolver a crise da dívida, Berlim tem arrastado os pés na procura de uma solução. Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, chegou mesmo a apelidar de "não europeu" o comportamento de Angela Merkel.

Na realidade, apesar de por vezes parecer a menos interessada em salvar a zona euro, poucos têm beneficiado tanto como a Alemanha. A criação de um mercado comum, com poucas restrições e a mesma moeda serviu de auto-estrada para as exportações alemãs (o grande motor do crescimento da economia).

"Os alemães têm sido muito espertos nos últimos 20 anos ao fingirem que a união monetária era um grande problema para eles", refere à Reuters David Marsh, autor do livro "O Euro: A Política da Nova Moeda Global". "Se ainda tivessem o marco, seria forte de mais. Estar na zona euro revelou-se uma grande vantagem para a economia alemã."

Ainda assim, Berlim tem-se mostrado reticente em comprometer-se. Primeiro foi o resgate grego, arrancado a ferros e apenas depois de muitas cedências e da construção por Atenas de um plano de austeridade brutal. Depois disso, dois vetos: ao aumento da capacidade de empréstimo do FEEF e à emissão de eurobonds. Agora, as alterações ao fundo europeu estão dependentes da aplicação de um modelo económico alemão.

No entanto, alguns economistas têm apontado que este modelo - também aplicado por Áustria, Holanda e Dinamarca - não pode ser replicado. "Nos últimos anos, a Alemanha utilizou uma política de compressão do mercado interno e criação de excedentes orçamentais", explica ao i o economista João Rodrigues. "Os excedentes dos países do Norte têm como contrapartida défices na periferia. Se todos utilizarem este modelo, o resultado será uma compressão geral do mercado europeu."

É preciso não esquecer que a 20 de Fevereiro terá lugar a primeira de sete eleições regionais na Alemanha, que irão definir parte da câmara alta do parlamento germânico. Daí que alguma da retórica vinda de Berlim tenha sido especialmente barulhenta para chegar aos ouvidos dos eleitores.
http://www.ionline.pt/conteudo/103278-a ... -dizem-nim


Quem quer estes amigos europeus?

08/02/11 00:04 | Bruno Proença



Para Portugal, os resultados do último Conselho Europeu não podiam ser mais desastrosos e arrisco que esta avaliação é válida para outros Estados europeus, nomeadamente os periféricos e em dificuldades.

Tudo por culpa da teimosia e egoísmo da chanceler Merkel. É verdade que a Alemanha paga a conta e, por isso, tem direito a marcar o ritmo e a escolher a música que toca. Mas tem de ter cuidado. Qualquer dia fica sozinha como as crianças mimadas, com quem ninguém quer brincar.

A proposta germânica é inaceitável e, pior, não resolve nada. É, desde logo, um atentado à soberania económica dos países. Depois do Banco Central Europeu determinar a política monetária e cambial, Bruxelas passa a fixar as regras dos aumentos salariais, a fixar a idade da reforma, a harmonizar os impostos sobre as empresas e a impor limites constitucionais ao défice e à dívida pública. Ou seja, a União Europeia está a cometer um erro: quer tratar com as mesmas regras realidades diferentes. As políticas económicas devem ser diferenciadas porque os países têm níveis de desenvolvimento diferente. É óbvio que as políticas para Portugal têm de ser distintas das alemãs ou francesas.

O reforço do governo económico europeu é um passo na integração europeia que faz sentido e que já devia ter sido dado há muitos anos. Provavelmente, muitos dos problemas actuais tinham sido fintados. A Comissão Europeia deve ter mais poderes para acompanhar e impor as políticas económicas correctas aos Estados-membro. Mas isto é bem diferente de medidas transversais e cegas. Estas são um erro que deixam na mesma o principal problema da economia europeia - os desequilíbrios estruturais entre o centro e a periferia.

Além disto, a Alemanha quer obrigar os outros a seguir a sua visão económica sem dar nada em troca. Merkel continua a recusar o reforço e a flexibilização do fundo europeu de ajuda aos países em dificuldades. Onde está a famosa solidariedade que sempre marcou a integração europeia? Perdeu-se entre os novos tiques imperialistas alemães.

Portugal chegou à actual aflição por culpa própria. Cometeu erros atrás de erros na política económica definida por diferentes governos. E para conseguir ultrapassar esta crise vai ter de abdicar de mais uma parte da sua soberania económica. Só é verdadeiramente livre quem não tem dívidas. E os portugueses andam há demasiado tempo a gastar o que têm e o que não têm, portanto agora são os credores que mandam e vamos ter de vender os activos que ainda sobram.

O Governo devia nesta altura protestar contra as vontades de Merkel mas não o pode fazer. A emissão de dívida pública de ontem mostra como Portugal está a pagar uma taxa de juro insustentável para manter acesso ao mercado de dívida pública. Nesta altura, mais do que barafustar, o Executivo deve estar concentrado em baixar o défice e as necessidades de financiamento do Estado. Mas fica aqui mais uma lição importante. Como os ingleses, devemos ter uma relação cínica com a União Europeia. O tempo do bom aluno já passou, agora é sacar o máximo e procurar alternativas estratégicas fora da Europa. Este clube do euro não é muito bem frequentado.
____

Bruno Proença, Director Executivo
http://economico.sapo.pt/noticias/quem- ... 10598.html

Re: Crise Econômica Mundial

Enviado: Ter Fev 08, 2011 12:39 pm
por cabeça de martelo
P44 escreveu:
Terça-feira, 21 de Dezembro de 2010
"Ein Volk, ein Reich, ein Führer!"
Estava a ler o Jornal de Negócios quando deparei-me com a seguinte noticia, a PIMCO (a maior gestora mundial de obrigações) acha que Espanha, Itália e Bélgica vão precisar de ajuda externa e que Grécia, Irlanda e Portugal deveriam sair do Euro.
http://politicamentecorrosivo.blogspot.com/

e noticia de ontem:
Berlin über alles. A nova Europa será mais alemã
por Nuno Aguiar, Publicado em 05 de Fevereiro de 2011 | Actualizado há 13 horas
Juros da dívida portuguesa voltaram a ultrapassar os 7%, depois de a Cimeira Europeia ter terminado sem decisões sobre o Fundo

Estás a assustar-me, agora vais a blogs de "faxistas"?! :shock: :twisted: :lol: