Coreia do Norte alerta ONU sobre "consequências" de novas sanções
Além de solicitar uma nova investigação sobre o naufrágio da corveta Cheonan, a Coreia do Norte ameaçou hoje a ONU (Organização das Nações Unidas), afirmando que sanções do Conselho de Segurança sobre o país teriam "graves consequências" sobre a península coreana.
Em carta enviada ao órgão da ONU, o regime de Pyongyang reitera que não é culpado pelo afundamento do navio militar que deixou 46 marinheiros sul-coreanos mortos no fim de março e diz que as investigações realizadas por potências ocidentais foram forjadas.
"Com o tempo está ficando mais claro, por meio de análises militares e científicas, que as 'descobertas da investigação' por parte dos EUA e (da Coreia) do Sul, que desde seu anúncio eram objeto de dúvidas e críticas, nada mais são do que uma conspiração destinada a alcançar os objetivos políticos e militares dos EUA", disse a carta, reproduzida pela agência oficial de notícias KCNA.
"Se o Conselho de Segurança levar adiante as discussões sobre as 'descobertas da investigação' (...), ninguém será capaz de garantir que não haverá graves consequências para a paz e a estabilidade na península coreana."
Ainda ontem a Rússia indicou que uma equipe de especialistas russos não teria achado indícios fortes o suficiente para declarar a culpa do regime de Pyongyang pelo acidente.
A carta enviada pelo representante de Pyongyang na ONU, Sin Son Ho, ao presidente do Conselho de Segurança, Claude Heller, afirma que o órgão não deve abrir um debate sobre uma investigação "forjada unilateralmente". Isto seria uma violação contra a soberania da nação, complementa o documento.
Sin Son Ho afirma que ao invés de debater sanções contra Pyongyang, o Conselho de Segurança deveria tomar medidas que convençam os Estados Unidos e a Coreia do Sul para aceitar que inspetores da Coreia do Norte verifiquem os resultados da investigação.
O Conselho de Segurança tem diversas opções para lidar com a crise e o pedido de sanções emitido por Seul. Entre elas estariam uma resolução com ou sem novas sanções contra Pyongyang, um comunicado do presidente do órgão pedindo por ações específicas ou ainda um comunicado de imprensa.
O órgão da ONU já impôs sanções à Coreia do Norte antes, após seus dois testes nucleares em 2006 e 2009, incluindo um embargo da ONU contra tecnologia relacionada testes de mísseis e armas nucleares, exportação e importação de armas de fogo, exceto de pequeno porte, e itens de luxo.
A Coreia do Norte já declarou anteriormente que qualquer sanção contra o país pode resultar em guerra contra Seul.
Investigações
Seul acusa o vizinho do norte pelo naufrágio que deu início a uma nova crise na península coreana. Os dois países vêm trocando ameaças de ataques nas últimas semanas, e a Coreia do Sul enviou pedido formal de punições a Pyongyang na ONU . A escalada de tensões envolve potências como a China, Rússia e os EUA.
Neste organismo têm poder de veto Rússia e China, aliados da Coreia do Norte. Nenhum destes dois países se posicionou até o momento, embora os dois tenham considerado prematuro concluir que o regime norte-coreano está por trás do fato.
A investigação que apontou a responsabilidade de Pyongyang no acidente foi realizada por cinco países ocidentais (Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Suécia).
Ainda na terça-feira a Rússia indicou que uma equipe de especialistas enviados à região para fazer uma nova análise teria concluído que os indícios da culpa da Coreia do Norte não são tão claros quanto os países ocidentais apontaram inicialmente.
O chefe das Forças Armadas da Rússia, o general Nikolái Makárov, disse que é "cedo" para tirar conclusões que culpam a Coreia do Norte pelo naufrágio da corveta sul-coreana Cheonan, que deixou 46 mortos no fim de março e deu início a uma crise na península coreana.
A China também já havia manifestado dúvidas quanto aos resultados da investigação internacional, apesar de "respeitar" o relatório e as respostas de cada país ao incidente.
Fontes do governo disseram à agência russa Interfax que "após estudar os materiais apresentados [por Seul] e os danos ao casco da corveta, especialistas russos consideraram de pouco peso a série de argumentos da comissão internacional sobre a implicação da Coreia do Norte no afundamento da corveta".
O chefe das Forças Armadas russas disse ainda que a chancelaria russa deve tornar público este relatório após sua entrega ao Kremlin.
Ainda no fim de maio o presidente russo, Dmitri Medvedev, enviou à Coreia do Sul uma equipe de especialistas para analisar os resultados da investigação internacional sobre o naufrágio da corveta.
"O presidente russo, respondendo a uma proposta da República da Coreia, tomou a decisão de enviar a esse país um grupo de especialistas russos altamente qualificados para analisar em detalhe os resultados da investigação e as provas coletadas", informou o Kremlin.
"Medvedev considera muito importante estabelecer a razão exata da perda da fragata, e revelar com precisão quem tem pessoalmente a responsabilidade pelo ocorrido", completou.
O afundamento da corveta de 1.200 toneladas, perto da fronteira marítima com a Coreia do Norte, provocou a morte de 46 dos 104 marinheiros sul-coreanos. Foi o incidente mais grave ocorrido na disputada fronteira marítima do mar Amarelo entre as duas Coreias desde o fim da guerra entre as duas nações, em 1953.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/7479 ... coes.shtml