LeandroGCard escreveu:Marino escreveu:
A tranferência de tecnologia alemã ao Brasil
Tudo o que a Marinha diz que será novo com os franceses, na verdade é uma repetição do que já ocorreu no passado com os alemães leia, e principalmente transcreva no Blog, as notas da MB.
Quando o Ministro da Defesa diz que não houve transferência de tecnologia ao Brasil para a construção de submarinos ele contradiz tudo o que a Marinha disse até hoje sobre o assunto Vamos ver.
Sobre a construção dos submarinos Tupi segue um texto da Marinha:
“Durante o período de construção do submarino Tupi no estaleiro HDW, um grupo de Engenheiros, Técnicos e Operários, perfazendo um total de 70 funcionários, foi enviado àquele estaleiro para a realização de estágios ESTÁGIOS, não curso de PROJETO DE SUBMARINO, como vai acontecer agora com os franceses, de acordo com as suas especializações técnicas. A duração média destes estágios foi de aproximadamente 5 meses lindo, não preciso escrever mais nada. Um ESTÁGIO de 5 meses qualificou os engenheiros a projetar submarinos.. Nesta oportunidade foi possível acompanhar as principais etapas da construção e adquirir os conhecimentos técnicos necessários à realização e construção no Brasil correto, a montagem no Brasil. Todas as informações obtidas no decorrer dos períodos de treinamento dos estagiários foram registrados em inúmeros relatórios, para que pudessem posteriormente, já no Brasil, servirem de fonte de consulta e banco de dados para a preparação das equipes de construção” correto, os chamados "cadernos da alemanha", onde eram tiradas as dúvidas da MONTAGEM no Brasil.
Sobre a transferência da tecnologia do casco resistente:
“A tecnologia de construção do casco resistente, absorvida pela Marinha no estaleiro HDW, foi então implantada na NUCLEP o aço HY-80. Isto só pode ser viabilizado através da participação conjunta do pessoal técnico daquela empresa com o pessoal técnico da Marinha que havia sido treinado na Alemanha.”
Sobre a transferência de tecnologia ao pessoal brasileiro para o projeto do submarino brasileiro (SNAC-I), que seria o precursor do submarino nuclear:
O então Ministério da Marinha contratou a HDW / IKL para fornecer um programa de treinamento treinamento não significa preparo acadêmico para realizar PROJETO DE SUBMARINOS para a elaboração de um projeto próprio de submarino no Brasil. Para esta finalidade, cerca de 30 engenheiros foram destacados para participar do treinamento durante os anos 1985 e 1986, seguido de uma fase de concepção de projeto entre os anos 1986 e 1990 deveria fazer uma consulta à USP, onde são formados os engenheiros navais brasileiros, para saber a validade deste TREINAMENTO.
Houve treinamento de projeto de submarino no Rio de Janeiro, na forma de palestras, de 1º de abril a 7 de maio de 1985 Lindo, PROJETO DE SUBMARINOS POR MEIO DE PALESTRAS, COM DURAÇÃO DE UM MÊS. Foram abordados os assuntos hidrodinâmica, resistência de materiais, termodinâmica, arquitetura naval de submarinos, física e química relacionada a submarinos.
Também foi feito o treinamento de projeto de submarinos na IKL em Lübeck, Alemanha, na forma de palestras, de 20 de maio a 19 de julho de 1985 mais palestras, agora com duração de dois meses.. Foram abordados os assuntos de projeto de casco de submarinos, propulsão, “lay-out” e eletricidade de submarinos.
Entre 5 de agosto a 6 de dezembro de 1985, foram abordados temas sobre mecânica, elétrica, automação e eletrônica, comunicações e sensores/sistemas de combate de submarinos.
Entre janeiro de 1986 e junho de 1990 (54 meses), o treinamento o Blog precisa entender que a formação de um engenheiro não se dá a partir de palestras, mas de uma formação acadêmica formal, científica, com fase final de projeto e teseconsistiu da Fase de Projeto de Concepção de um projeto próprio, baseado nos requisitos da Marinha do Brasil para um submarino convencional de grande porte, compreendendo as seguintes partes:
1.Estudo de Viabilidade (janeiro de 1986 a março de 1986)
2.Projeto de Concepção (abril de 1986 a dezembro de 1986)
3.Fase Preliminar do Projeto (janeiro de 1987 a maio de 1987)
4.Fase de Projeto de Contrato (julho de 1988 a junho de 1990).
Em 1º de outubro de 1990, todas as atividades foram interrompidas por parte da Marinha do Brasil.
Então, quando o Ministro da Defesa diz que não houve transferência de tecnologia alemã para projetos de submarinos, ele deve estar no mínimo mal informado.
Para ser transparente, deixar os leitores não especializados terem suas conclusões, deveria transcrever IN TOTUN os textos da MB. Não fazer isso é parcialidade.
Vai em vermelho,
Quanto aos demais ítens não posso dizer nada, mas com relação especificamente ao programa de transferência de tecnologia tenho uma opinião diversa da sua, amigo Marino.
Um curso de engenharia (mecânica, naval, etc...) dura de 5 a 6 anos, mas boa parte deste tempo é dedicado ao ensino das matérias básicas (cálculo, física, etc...) e gerais (resistência dos materiais, mecânica dos fluidos, cálculo de estruturas, etc...). Pelo menos 3 anos do curso são tomados por estas disciplinas básicas, seja na Alemanha, na França ou no Brasil. Em princípio, considerando-se boas escolas e bons alunos tanto lá quanto aqui, não existe diferença na formação de engenheiros em nenhum destes três países, então não precisaríamos mandar ninguém para fora do Brasil para efetuar esta parte do curso.
Concordo, aqui vai um comentário, boa parte da construção de qualquer máquina complexa, pode ser feita melhor por empirismo lógico, e a formação acadêmica formal, apenas serve como parâmetro, e está longe de ser alguma coisa determinante na prática.
As atividades listadas pelo Galante como tendo sido efetuadas pelos engenheiros na Alemanha somam um tempo de mais dois ou três anos, o que em princípio deveria sim ser suficiente para formar o pessoal de engenharia. O fato de algumas delas terem sido aplicadas como palestas poderia ser um problema, pois os cursos de engenharia geralmente são mais passo-à-passo e com constantes avaliações dos alunos. Mas na verdade não imagino que a MB teria enviado alunos de graduação para estes treinamentos e sim engenheiros formados, inclusive com pós-graduação no curso de estruturas de submarinos da USP (que eu pessoalmente completei). Os trabalhos de formatura e eventualmente até as defesas de tese já deveriam ter sido feitas antes do pessoal sair do país. Se o pessoal enviado tinha esta formação, a forma dos treinamentos foi perfeitamente adequada, é assim mesmo que se formam engenheiros especialistas em áreas específicas. Se o pessoal não tinha este background, então o erro foi da MB em tê-los enviado, e não dos alemães.
Aqui a coisa complica, existe uma enorme diferença entre saber fazer e ter a teoria para fazer, um engenheiro de prancheta e quadro negro, e um cara que comanda operários num estaleiro com plantas do lado e todo o complexo produtivo. Ensinar como fazer, só pode ser feito por que faz, tem experiência em fazer, e tem os instrumentos para fazer, quer dizer instalações e industria de apoio. Assim, de nada adianta termos engenheiros com 500 PHD´s na área, se sua experiência prática com projetos e construção de submarinos for nenhuma. Muito mais que "apenas" engenheiros temos que fazer toda a complexa infra-estrutura para termos a capacidade de projetar e construir submarinos, a NUCLEP é uma das partes, porém, um estaleiro dedicado, militar ou com os últimos avanços na área é fundamental. Além disso, existe a necessidade de toda a mão de obra de apoio. Me parece claro que os Acordos com os Alemães não alcançam essas necessidades, foram feitos em função da construção de um projeto de SSK, montado sob licença. Nada mais, mesmo porque, nem eles poderiam ir mais além, nem nós sabíamos o que precisaríamos.
Em paralelo à equipe e engenheiros de projeto deve ter sido preparada uma outra, constituída agora de técnicos e supervisores (estes geralmente também engenheiros) de construção, e estes sim fariam apenas estágios para aprender como “montar o lego” dos submarinos projetados pelos engenheiros de projeto, mas aí não se esperava mesmo que tivessem grande domínio sobre os porquês dos procedimentos que estariam executando, apenas que os efetuassem de forma adequada. Acho que os tais “cadernos da Alemanha” eram notas deste grupo.
Aqui a coisa pega, esse tipo de inteiração não pode ser feita de modo estanque, faltava no contrato dos alemães a globalidade dos acordos atuais, não é possível você amarrar tudo no contrato inicial, assim, tem que existir um acordo mais global(e ainda temos o Tratado, algo que seria fundamental para uma transferência de tecnologia em área sensíveis) e a interação das equipes, quer dizer o acordo atual vai envolver milhares de pessoas, não só nossos na França, mas muitos Franceses aqui. Além disso, isso não ficou claro no processo com os alemães, em nenhuma notícia da época, não se falava em transferência de tecnologia que não fosse associadas ao projeto IKL 209. Isso não era tarefa dos Alemães, assim o NJ disse a verdade, agora, não toda a verdade, eu diria.
Outro ponto muito importante é que treinamentos, por mais longos e detalhados que sejam, não formam engenheiros realmente capazes de efetuar projetos em nenhum lugar do universo conhecido. Apenas a prática faz isso. O que o treinamento faz é dar aos engenheiros a base de conhecimentos necessária para entender os detalhes da aplicação prática e posteriormente acompanhar as decisões baseadas nela e nos requisitos dos novos projetos. Mas para tomar estas estas decisões é necessário ter experiência prévia no assunto em questão. Quando se transfere tecnologia (meu trabalho do dia-à-dia) isto é feito em uma etapa posterior ao treinamento, chamada normalmente de "projeto piloto", que consiste na execução de um projeto pelos novos engenheiros e técnicos especialistas recém-treinados, sob a supervisão de uma equipe que já tenha experiência na área. Pela descrição do programa com os alemães isto foi feito entre 1986 e 1990, com o projeto próprio de um submarino convencional de grande porte. A última etapa e única faltante seria a construção deste submarino e seus testes a seco e principalmente no mar, para confirmar o acerto e descobrir os erros das decisões de projeto tomadas. Se isto nunca foi feito novamente a culpa não seria dos alemães.
Pois é, eu diria que o projeto IKL não tinha essa globalidade, esse era o fato, o NJ não falou que a culpa era dos Alemães. Apenas assinalou o fato que não construímos todas as partes, em particular a mais complexa, a seção da proa, o que convenhamos, isso indica que o contrato com eles não tinha a extensão do atual. E como você bem falou, os alemães não tem a capacidade prática na construção de cascos de submarinos nucleares, assim, nem poderiam propor o que não dominam.
Portanto, supondo que tudo o que foi mencionado de fato aconteceu, em termos de transferência de tecnologia a descrição do Poder Naval está perfeitamente correta, com os prazos e atividades que se esperariam ver em um trabalho bem feito neste sentido. Agora, não participei pessoalmente de nenhum destes treinamentos nem do projeto piloto, então não posso dizer se nas salas de aula/palestras e nos trabalhos do projeto piloto tudo correu a contento ou se os instrutores fizeram apenas teatro. Mas neste último caso caberia novamente à MB cobrar pela entrega do que havia sido contratado. Também não sei se estes treinamentos incluiriam todos os detalhes do projeto e construção de sub's, ou se alguns itens foram deixados de fora (sensores, tubos de torpedo, etc...). Mas caberia à MB cobrar pelo que foi contratado, e desenvolver o resto por conta própria ou efetuar outro contrato específico para estes itens.
Como o NJ deixou claro, a chamada transferência de tecnologia ou treinamento, não envolveu as partes mais críticas do projeto IKL 209, pode ser que na teoria tenha sido abordado, porém, não estamos falando em conhecimento teórico, queremos o conhecimento prático, que é um grau abaixou ou acima, porém é distinto do outro. Se isso não foi feito, as palestras teriam muito pouca serventia para os objetivos da MB.
O que se pode considerar hoje é que tudo o que foi dito acima aconteceu quase 20 anos atrás, e como de lá para cá nenhum projeto novo foi desenvolvido no Brasil nesta área o conhecimento naturalmente se perdeu, o que era de se esperar, e agora temos que comprar tudo de novo. É inclusive possível que mesmo a formação básica na área de sub’s não exista mais no Brasil (não sei se o curso na USP ainda funciona), ou esteja obsoleta (na época que fiz o curso por exemplo o pessoal da USP não trabalhava com simulações por elementos finitos no cálculo das estruturas, e hoje isto é praticamente obrigatório). Então é até provável que o pessoal que está sendo treinado hoje tenha mesmo que começar do zero, indo para a França para estudar desde o cálculo e a física mais básicos, e que os alemães tenham se recusado a aceitar estes alunos.
O Brasil de 20 anos atrás não é o atual, o bom do plano atual é que tem viabilidade e desenvolvimento no longo prazo, e recursos financeiros já contratados e estáveis. Algo bem diverso do passado, e vamos ganhar instalações para tal.
Mas daí não se pode deduzir automaticamente que os alemães agiram de má-fé quando do primeiro programa de submarinos da MB, pelo que foi descrito (e supondo que seja verdade), se não obtivemos ou perdemos depois o domínio da tecnologia que tentamos adquirir naquela época, tudo leva a crer que a culpa foi nossa por não termos dado continuidade ao programa (o Tikuna não conta, pois não era um projeto novo) e não deles. Acho que a MB e o MD devem tomar muito cuidado com argumentos neste sentido.
O NJ em hora nenhuma disse que os Alemães agiram de má-fé, apenas falou que o contrato passado não nos daria as capacidades do atual, e que os Alemães não fizeram uma oferta semelhante, nem para os SSK´s, e que não podem fazer uma oferta de algo que não dominam, o SNA. Esse foi o discurso do NJ, falou também da dificuldade que passamos nas mãos dos alemães na cessão de tecnologias, porém, nesse caso, é um argumento fraco, dado que as dificuldades ocorreram com os franceses em alguns casos, é muito comum ocorrer dificuldades entre contratantes com execuções tão complexas.
[]´s
Um grande abraço,
Leandro G. Card