Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Qui Mai 27, 2010 10:18 am
Pacto Brasil-Irã segue roteiro de Obama
Folha obteve íntegra de carta do americano a Lula; acordo segue todas as solicitações de texto de
20 de abril
Presidente dos EUA estimulou brasileiro a convencer Teerã a enviar seu estoque de urânio à
Turquia
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O acordo nuclear entre o Brasil, a Turquia e o Irã segue, ponto a ponto, todas as solicitações que
o presidente Barack Obama havia exposto em carta a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, datada de 20
de abril, apenas três semanas antes, portanto, da viagem de Lula ao Irã, da qual resultou o acordo.
A Folha obteve, com exclusividade, cópia integral da carta, na qual Obama escreve que o
objetivo era oferecer "explicação detalhada" de sua perspectiva "e sugerir um caminho a seguir". Brasil e
Turquia seguiram o caminho, conforme se comprova pela comparação entre os itens expostos por
Obama e os que constam do acordo.
É natural, por isso, que haja perplexidade na diplomacia brasileira com a reação negativa de
Washington ao acordo, antes e depois de o Irã ter formalizado o entendimento por meio de carta à AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica).
Primeira coincidência: Obama refere-se elogiosamente à proposta que a AIEA apresentara ao
Irã, em outubro passado. "A proposta da AIEA foi modelada para ser justa e equilibrada, e para que
ambos os lados ganhem confiança", escreve Obama.
O acordo Brasil-Turquia-Irã segue o molde proposto pela AIEA. Prevê, tal como especificava
Obama na carta, que o Irã transfira 1.200 quilos de LEU (iniciais em inglês para urânio levemente
enriquecido) para outro país.
"Quero enfatizar que este elemento é de fundamental importância para os EUA." A carta de
Obama pede, ainda, um "papel central para a Rússia", o que também consta do acordo, na medida em
que Moscou será responsável pelo enriquecimento do urânio a ser enviado ao Irã, em troca de seu LEU.
O presidente dos EUA queixa-se de que o Irã havia rejeitado a proposta da agência tanto em
janeiro como em fevereiro deste ano e insistia em reter o LEU no próprio território iraniano. O acordo com
Brasil e Turquia prevê o envio do LEU à Turquia, em vez de retê-lo no Irã.
PORTA ABERTA
Mais: o Irã deixou de exigir a simultaneidade entre a entrega de seu urânio levemente
enriquecido e o recebimento do urânio enriquecido a 20%, suficiente para reatores de pesquisa, mas
insuficiente para fabricar a bomba.
A carta de Obama, aliás, era específica e forte na menção à Turquia: "Gostaria de estimular o
Brasil a deixar claro ao Irã a oportunidade representada por esta oferta [da AIEA] de depositar seu urânio
na Turquia, enquanto o combustível nuclear está sendo produzido".
É rigorosamente o que consta do acordo de Teerã. Por fim, Obama cobra que, "para começar um
processo diplomático construtivo, o Irã tem que transmitir à AIEA um compromisso construtivo de
engajamento por meio de canais oficiais". Foi o que Irã fez na segunda-feira, ao encaminhar à AIEA a
carta em que se compromete a cumprir o acordo firmado com Brasil e Turquia.
O compromisso com a AIEA, a entidade que pode dar validade jurídica ao acordo, constava
também do documento Brasil/Irã/ Turquia. A carta afirma ainda que os EUA, "enquanto isso" [enquanto
durarem as gestões turco-brasileiras], continuariam a buscar sanções ao Irã, mas deixa claro que o
presidente americano "manterá a porta aberta para o engajamento com o Irã".
A primeira afirmação correspondeu aos fatos: no dia seguinte ao anúncio do acordo em Teerã,
Washington divulgava na ONU pacote de sanções com apoio dos cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança (Rússia, China, França e Reino Unido, além dos EUA). Mas a porta não foi
mantida aberta, pelo menos não até agora.
Folha obteve íntegra de carta do americano a Lula; acordo segue todas as solicitações de texto de
20 de abril
Presidente dos EUA estimulou brasileiro a convencer Teerã a enviar seu estoque de urânio à
Turquia
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O acordo nuclear entre o Brasil, a Turquia e o Irã segue, ponto a ponto, todas as solicitações que
o presidente Barack Obama havia exposto em carta a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, datada de 20
de abril, apenas três semanas antes, portanto, da viagem de Lula ao Irã, da qual resultou o acordo.
A Folha obteve, com exclusividade, cópia integral da carta, na qual Obama escreve que o
objetivo era oferecer "explicação detalhada" de sua perspectiva "e sugerir um caminho a seguir". Brasil e
Turquia seguiram o caminho, conforme se comprova pela comparação entre os itens expostos por
Obama e os que constam do acordo.
É natural, por isso, que haja perplexidade na diplomacia brasileira com a reação negativa de
Washington ao acordo, antes e depois de o Irã ter formalizado o entendimento por meio de carta à AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica).
Primeira coincidência: Obama refere-se elogiosamente à proposta que a AIEA apresentara ao
Irã, em outubro passado. "A proposta da AIEA foi modelada para ser justa e equilibrada, e para que
ambos os lados ganhem confiança", escreve Obama.
O acordo Brasil-Turquia-Irã segue o molde proposto pela AIEA. Prevê, tal como especificava
Obama na carta, que o Irã transfira 1.200 quilos de LEU (iniciais em inglês para urânio levemente
enriquecido) para outro país.
"Quero enfatizar que este elemento é de fundamental importância para os EUA." A carta de
Obama pede, ainda, um "papel central para a Rússia", o que também consta do acordo, na medida em
que Moscou será responsável pelo enriquecimento do urânio a ser enviado ao Irã, em troca de seu LEU.
O presidente dos EUA queixa-se de que o Irã havia rejeitado a proposta da agência tanto em
janeiro como em fevereiro deste ano e insistia em reter o LEU no próprio território iraniano. O acordo com
Brasil e Turquia prevê o envio do LEU à Turquia, em vez de retê-lo no Irã.
PORTA ABERTA
Mais: o Irã deixou de exigir a simultaneidade entre a entrega de seu urânio levemente
enriquecido e o recebimento do urânio enriquecido a 20%, suficiente para reatores de pesquisa, mas
insuficiente para fabricar a bomba.
A carta de Obama, aliás, era específica e forte na menção à Turquia: "Gostaria de estimular o
Brasil a deixar claro ao Irã a oportunidade representada por esta oferta [da AIEA] de depositar seu urânio
na Turquia, enquanto o combustível nuclear está sendo produzido".
É rigorosamente o que consta do acordo de Teerã. Por fim, Obama cobra que, "para começar um
processo diplomático construtivo, o Irã tem que transmitir à AIEA um compromisso construtivo de
engajamento por meio de canais oficiais". Foi o que Irã fez na segunda-feira, ao encaminhar à AIEA a
carta em que se compromete a cumprir o acordo firmado com Brasil e Turquia.
O compromisso com a AIEA, a entidade que pode dar validade jurídica ao acordo, constava
também do documento Brasil/Irã/ Turquia. A carta afirma ainda que os EUA, "enquanto isso" [enquanto
durarem as gestões turco-brasileiras], continuariam a buscar sanções ao Irã, mas deixa claro que o
presidente americano "manterá a porta aberta para o engajamento com o Irã".
A primeira afirmação correspondeu aos fatos: no dia seguinte ao anúncio do acordo em Teerã,
Washington divulgava na ONU pacote de sanções com apoio dos cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança (Rússia, China, França e Reino Unido, além dos EUA). Mas a porta não foi
mantida aberta, pelo menos não até agora.