faterra escreveu:Bom dia, Leandro
Tomo como exemplo, nossa parceria com os sul-africanos. O Brasil já tinha pessoal capacitado e tentando desenvolver um míssil. Foi o país fazer parceria com eles e olhe o ganho na nossa capacidade de desenvolvimento. Outros mísseis já estão sendo desenvolvidos, alguns já foram até vendidos para outros países (considero significativa sim as vendas feitas ao Paquistão não tanto pela quantidade, mas, sim pelo reconhecimento de nossa capacidade). Isto é inegável e uma irrefutável prova de nossa capacidade.
Sempre defendi aqui a pesquisa e o desenvolvimento pelo país de suas próprias soluções. Nem que para isto tenham que "reinventar a roda" - como muitos gostam de enfatizar. Sempre defendi o investimento em P&D tanto por parte do governo, quanto por parte da iniciativa privada. Mas, infelizmente, sempre foi difícil, com um lado sempre basculando para o outro a responsabilidade para isto. Sempre com a desculpa de problemas financeiros para que isto não acontecesse.
Nas décadas de 70 e 80, muito foi feito neste campo, por empresas privadas e públicas, mas, quando os resultados começaram a aparecer, começaram os obstáculos para não se continuar pelo caminho aberto. Hoje estaríamos ocupando uma posição invejável nesta área. Sempre colocaram o problema financeiro na frente. O engraçado que este problema nunca existiu para satisfazer as necessidades de promessas de campanha tão díspares quanto, muitas vezes, desnecessárias, sem falar nas "outras necessidades" sempre presentes.
Ficamos parados no tempo por uns 20 anos.
Hoje temos mais uma oportunidade para nos colocarmos em igualdade aos demais países desenvolvidos. Será que vamos perdê-la, desta vez com a desculpa de que "não temos pessoal capacitado"?
Quem quer, faz a hora.
Olá Faterra,
Como eu disse no meu post, existem alguns exemplos conhecidos de empresas e grupos de engenharia no Brasil que estão de fato capacitados a receber tecnologia estrangeira, por já estarem trabalhando com ela antes mesmo de qualquer acordo ter sido feito com um parceiro tecnlógico. A Embraer é com certeza o mais famoso, mas temos também a Mectron, a Avibrás, o grupo da marinha envolvido com o desenvolvimento do MAN-1, o grupo do CTA que está trabalhando com turbinas, etc... .
Mas infelizmente está não é uma realidade disseminada em nossas empresas, e nem o governo parece ser capaz de compreender que não basta lançar um programa qualquer, alocar verba (mesmo que ilimitada), contratar um parceiro internacional e mandar estudantes fazer cursos fora para que a realidade mude.
Muito mais importante é adotar uma política que gere de alguma forma demanda constante por novos desenvolvimnetos e novos produtos na área que se deseja realmente desenvolver, garantindo a continuidade dos trabalhos de engenharia ao longo do tempo. Para isto é imprescindível que se garantam as comendas internas (das FA's, de outros ministérios e até de empresas privadas nacionais através de subsídios, dependendo da tecnologia de que se tratar em cada caso), ou obtenha encomendas externas através da facilitação de financiamento, do fornecimento de apoio militar, etc... (como a França está fazendo conosco agora, para preservar sua capacitação em aviões de combate).
Ajudar ou mesmo bancar totalmente o desenvolvimento de programas como o MSS-1.2, MAN-1, Piranha, A-Darter, MAA-1, Corvetas Inhaúma, AMX, submarinos classe Tupi etc... e depois de entregue o primeiro lote inicial esquecer do assunto pelos próximos 10 ou 20 anos não ajudará em nada, apenas criará uma história repleta de Engesas, Bernardinis e D.F. Vasconcelos da vida, que são ótimas lembranças de iniciativas que na época deram muito certo na área de tecnologia militar e correlatas, mas que hoje são só isso, lembranças. E não conheço nenhum programa hoje no Brasil em que esta continuidade esteja garantida, muito pelo contrário. Quantos MAA-1 a FAB já comprou por exemplo? E mais importante, para quando está prevista a entrada em serviço do modelo mais aperfeiçoado (que se um dia irá existir teria que estar sendo desenvolvido agora)?
Além disso, existem também programas que evidentemente estão indo para o lado errado, seja por falta de gerência ou por falta de apoio, e cujo prognóstico é no mínimo sombrio. O programa espacial é o caso mais típico, mas também não me sinto nem um pouco seguro com relação ao Urutu-III, ao F-X, ao F-X naval, ao pro-sub, etc... . Em todos eles vejo uma empolgação muito grande com relação ao objetivo inicial do programa, mas absoluta falta de informações sobre o que acontecerá depois, que é o que realmente importa do ponto de vista da capacitação e da absorção de tecnologia. E em todos estes casos estamos dispostos a pagar mais caro do que se limitássemos a compra apenas ao que realmente poderemos aproveitar de útil.
Mas todos estes programas estão apenas no início, vamos ver se ao longo do tempo o panorama fica mais claro e eu até descubro que estou errado. Torço muito para isso. Mas já assisto a este mesmo filme há 30 anos ou mais, e fico meio triste ao perceber que terei que esperar mais 20 anos para ver se agora realmente vão mudar o final.
Um abração,
Leandro G Card