pt escreveu:Esse desejo de anexar Portugal à Espanha de alguma forma ainda se faz presente no pensamento das elites Espanholas Soultrain??
Pessoalmente não acredito que existam intentos anexionistas por parte das elites espanholas. O problema é a tradicional forma espanhola de encarar os problemas.
Os espanhóis normalmente não resolvem problemas históricos, ignoram-nos.
O problema não são as pulsões anexionistas, que sim, têm existido ao longo dos anos. O problema é outro, a que eu me tenho referido variadíssimas vezes.
Há um problema com as elites espanholas, nomeadamente as de origem castelhana, que está relacionado com as interpretações da História com origem nessa mesma aristocracia/elites de origem castelhana.
Eles partem de um principio que é baseado numa gigantesca fraude histórica !
Essa fraude, afirma que alguma vez no passado existiu algum tipo de unidade peninsular, entre os vário povos da peninsula ibérica. E que essa unidade deve ser feita sob a égide da Nação Castelhana.
Essa ideia foi especialmente reforçada depois do aparecimento do Império Alemão no século XIX. A unificação alemã foi feita em torno da Prússia, uma nação germânica. OI conceito que ainda temos da Alemanha, de nação onde as pessoas têm comportamentos rigidos, formais e quase militares, vem da tradição prussiana. Durante muitos anos vimos a Alemanha como se fosse a Prússia.
A mesma coisa acontece com a Espanha, vemos a Espanha como se fosse a Nação Castelhana. De tal forma que até chamamos espanhol à lingua castelhana.
O problema, é que nunca existiu a unidade ibérica ou Hispânica que a historiografia espanhola inventou.
O império espanhol foi um império que derivou da monarquia austríaca dos Habsburgo e que foi criado pelo acaso dos casamentos e não por qualquer sentido de unificação nacional.
Eles tentaram ir mais longe, procurando as origens da unidade ibérica na unificação conseguida pelo Visigodos durante um século e meio. Mas os visigodos eram um povo germânico de imigrantes militarizados, não eram um povo autóctone. Embora politicamente no século V e no século VI tenha havido reis visigodos que reinaram em toda a peninsula, os diferentes povos sempre se mantiveram separados.
Foi aliás essa separação que levou à queda do reino Visigodo.
É por tudo isto que a Historia que os espanhois contam nas escolas é uma fraude, mas é nessa fraude que eles baseiam os seus direitos históricos.
O problema hoje, não é que eles queiram ocupar, invadir ou anexar Portugal, isso não faz o mais pequeno sentido. O problema é que para o espanhóis, eles vêm a realidade actual, como resultado das circunstâncias históricas do século XVI ou XVII e não do facto de na realidade nunca ter havido razões para sustentar a possibilidade de uma unificação ibérica.
Ou seja: Mesmo que os portugueses não tivessem esmagado os castelhanos em Aljubarrota em 1385 ou na batalha de Montes Claros em 1665 (e nas restantes batalhas do século XVII), a realidade peninsular acabaria por ditar que povos separados viverão separados, porque são diferentes.
Os espanhóis não aceitam que Portugal é independente, não por causa de umas quantas batalhas, mas por razões profundas que se explicam com as diferenças existentes na península ibérica desde que existem documentos escritos.
O problema é apenas de interpretação. Não existe nenhum perigo de invasão espanhola.
A invasão espanhola, é apenas aventada de forma ridicula, por aqueles que não tendo argumentos, tentam desclassificar uma discussão séria.
Nota final:
A Espanha não pode aceitar as posições portuguesas, porque no dia em que as aceitar, estará a dizer que os vários países que a constituem são unidades com o direito à independência politica.
Ou seja, no dia em que os espanhóis aceitarem que Portugal existe não por causa de uns quantos acasos da sorte, mas por razões históricas, étnicas, sociológicas muito profundas, o Estado Espanhol estará a perder a sua justificação para existir.
E esse é na realidade o problema.
Espero ter esclarecido alguma coisa.