Vilmar e PT,
Vocês chegaram a ver este post? Estou perguntando porque ele ficou lá para trás e o assunto mudou rápido, então pensei que poderia ter passado em branco...
Só para falar das Vtr sobre rodas anfíbias com canhões de grande calibre...
Só agora segui o tópico, e tenho algumas considerações a tecer sobre ele:
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O AMX10 RC francês, que está em serviço presentemente, não é na sua esmagadora maioria utilizado como veículo anfíbio.
Inicialmente previa-se uma grande encomenda de mais de 500 unidades para o exército francês, mas o veículo era tão caro e desadequada, que a encomenda foi cancelada e nem metade chegou a ser entregue. Eles foram substituídos por um outro veículo, curiosamente equipado com um canhão de 90mm, idêntico ao do Cascavel.
Parte dos AMX10RC foram vendidos para Marrocos, que é um país de desertos de areia.
Um dos clientes potenciais para a empresa portuguesa FABREQUIPA que está a produzir a versão 8x8 do Pandur-II para Portugal é exactamente Marrocos, onde o AMX-10RC já está demasiado velho.
Outro dos problemas de qualquer dos veículos 6x6 o 8x8 anfíbios é a blindagem.
Num teatro de guerra moderna, onde há cada vez um menor numero de veículos por oposição à sua cada vez maior sofisticação, o veículo com canhão 105 vai tornar-se um alvo preferencial.
É essa a razão pela qual os fabricantes tendem a aumentar a sua protecção nos modelos mais recentes, com placas de blindagem composta adicional.
Isto aumenta o peso do veículo e pura e simplesmente transforma-o numa pedra que só vai flutuar se tiver ajuda divina.
Se você verificar, não há UM ÚNICO CASO de veículo 8x8 com blindagem moderna que seja capaz de flutuar, quando inclui a necessária blindagem que nos dias de hoje é imprescindível. (só há desenhos, sobre estudos, mas os desenhos não têm que enfrentar canhões de 25 e 30mm tão típicos dos novos Veículos de Combate de Infantaria)
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Os projectos ucranianos são muito interessantes, mas não passam de desenhos tipicamente resultado da forma russa/soviética de vender produtos.
Eles mostram a versão básica e garantem que flutua, mas quando se chega ao momento da verdade, quando do outro lado está um veículo de reconhecimento com um canhãozinho de 20mm capaz de transformar um carro com canhão de 105mm num passador esburacado, aí a coisa fica complicada.
Já o carro CM-32 de Taiwan, tem blindagem para resistir a tiros de calibre 7.62 perfurante e 12.7 apenas no arco frontal. Ou seja: Uma metralhadora pesada 12.7 pode acabar com um carro desses.
A finada ENGESA, fabricou um URUTU no qual instalou um canhão de 90mm e o resultado não foi exactamente um sucesso, e o veículo estava fracamente blindado.
Na realidade trata-se como sempre do tradicional conflito entre couraça e canhão. O veículo 6x6 e 8x8 é caro e sofisticado, dá uma grande capacidade de protecção às forças em que estiver integrado, mas não pode ser feito de finas tiras de metal.
Se um veículo equipado com canhão de 105mm não puder enfrentar os disparos dos canhões de 25 ou 30mm dos novos VCI's ele vai ser trucidado.
Um exército responsável que quer ter carros 8x8 com canhão de 105mm tem que pensar nisto, e tem que garantir a blindagem dele.
Caso contrário está a deitar dinheiro par o lixo e pior, está a por em perigo a vida dos militares que vão estar lá dentro.
Não acredito (aliás estou convencido) que no Exército Brasileiro, os responsáveis por estes projectos não estejam perfeitamente cientes deste problema.
Uma coisa são as possibilidades teoricas, outra é a realidade de quem tem que garantir a segurança de quem vai estar na linha de fogo.
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UMA NOTA SOBRE O CASCO EM “V”
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Um futuro URUTU-III não pode (ou não deve) ser solução para tudo e não pode incluir um casco em V profundo como acontece com os veículos anti-minas.
Isto tem que ver com a possibilidade de colocação de torres de armamento com perfuração e com o arranjo interno do sistema de transmissão. Há uma quantidade de problemas que será necessário resolver para “casar” o casco em “V” com um veículo equipado com uma torreta que precisa de um poço no veículo e que tem que chegar até abaixo.
A não ser que se faça um veículo com um casco em V, mas com uma torre tão alta, que o veículo pura e simplesmente não se pode ocultar.
Os veículos anti-minas que presentemente vemos a despontar por todos os lados, não são equivalentes a um URUTU, um PANDUR ou a um PIRANHA. São coisas diferentes, e não se pode juntar coisas que são diferentes na origem.
Se o Brasil enviar tropas para um país com o mesmo problema do Iraque, não vai ser o URUTU-III que vai resolver o problema. Para isso, deveria ser construído um veículo com base no UNIMOG (vide os projectos da AVIBRAS) adequado para essa função.
Quando se tenta juntar “tudo em um” normalmente não se consegue um produto bom em nada.
Espero ter explicado o meu ponto de vista.
Cumprimentos