GEOPOLÍTICA
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Re: GEOPOLÍTICA
terra.com.br
Rússia alerta EUA contra sanções unilaterais ao Irã
13 de maio de 2010 •
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, alertou os Estados Unidos e outros países ocidentais nesta quinta-feira contra a imposição de sanções unilaterais ao Irã por conta do programa nuclear da República Islâmica, informou a agência de notícias Interfax.
A União Europeia havia afirmado que pode impor sanções unilaterais caso uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas fracasse.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito campanha para que países ocidentais não façam negócios com o Irã, mas não impôs sanções.
Países que enfrentam sanções do Conselho de Segurança da ONU "não podem, sob nenhuma circunstância, serem alvos de sanções unilaterais impostas por um ou outro governo, passando por cima do Conselho de Segurança", disse Lavrov, segundo a Interfax.
"A posição dos Estados Unidos hoje não apresenta compreensão desta absolutamente clara verdade", acrescentou.
A Rússia mantém negociações com os EUA e com outros países que integram o Conselho de Segurança sobre uma quarta rodada de sanções contra o Irã. Moscou indicou que apoiaria sanções, desde que elas não prejudiquem a população iraniana.
Washington não alertou publicamente sobre a possibilidade de sanções unilaterais, mas já deixou claro que quer medidas mais duras do que a Rússia, país que tem poder de veto no Conselho de Segurança.
Integrantes permanentes e com poder de veto do Conselho, Rússia e China são contra os planos dos EUA de impor sanções duras e amplas contra a República Islâmica devido à recusa iraniana em suspender as atividades de enriquecimento de urânio e abrir completamente seu programa nuclear para inspeções da ONU.
Visita de Lula
O alerta de Lavrov coincide com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia. O Brasil ocupa atualmente um assento rotativo no Conselho de Segurança e também se opõe à imposição de novas sanções ao Irã.
Lula deve se reunir com autoridades russas do primeiro escalão na sexta-feira para discutir maneiras de retomar um acordo de troca de combustível nuclear que visa minimizar os riscos de Teerã usar o enriquecimento de urânio para fins militares. Lula viaja para o Irã no domingo.
O Brasil defende uma solução negociada para o impasse envolvendo o programa nuclear iraniano, e tem buscado ampliar seu papel em temas globais sob o governo Lula. Críticos da posição do Brasil, que tem seu próprio programa nuclear para fins energéticos, afirmam que o Irã se aproveita desta intenção brasileira para ganhar tempo.
Lavrov disse que os Estados Unidos tendem a não enxergar a lei internacional como tendo precedência sobre as leis nacionais.
"Estamos sendo confrontados por este problema agora durante as discussões sobre uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o Irã", disse.
Apesar de suas críticas, Lavrov disse que as relações com os Estados Unidos mostraram sinais claros de melhora, especialmente com a assinatura de um tratado de desarmamento nuclear entre os dois países. Ele disse que o acordo será em breve submetido ao Parlamento russo para aprovação.
Rússia alerta EUA contra sanções unilaterais ao Irã
13 de maio de 2010 •
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, alertou os Estados Unidos e outros países ocidentais nesta quinta-feira contra a imposição de sanções unilaterais ao Irã por conta do programa nuclear da República Islâmica, informou a agência de notícias Interfax.
A União Europeia havia afirmado que pode impor sanções unilaterais caso uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas fracasse.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito campanha para que países ocidentais não façam negócios com o Irã, mas não impôs sanções.
Países que enfrentam sanções do Conselho de Segurança da ONU "não podem, sob nenhuma circunstância, serem alvos de sanções unilaterais impostas por um ou outro governo, passando por cima do Conselho de Segurança", disse Lavrov, segundo a Interfax.
"A posição dos Estados Unidos hoje não apresenta compreensão desta absolutamente clara verdade", acrescentou.
A Rússia mantém negociações com os EUA e com outros países que integram o Conselho de Segurança sobre uma quarta rodada de sanções contra o Irã. Moscou indicou que apoiaria sanções, desde que elas não prejudiquem a população iraniana.
Washington não alertou publicamente sobre a possibilidade de sanções unilaterais, mas já deixou claro que quer medidas mais duras do que a Rússia, país que tem poder de veto no Conselho de Segurança.
Integrantes permanentes e com poder de veto do Conselho, Rússia e China são contra os planos dos EUA de impor sanções duras e amplas contra a República Islâmica devido à recusa iraniana em suspender as atividades de enriquecimento de urânio e abrir completamente seu programa nuclear para inspeções da ONU.
Visita de Lula
O alerta de Lavrov coincide com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia. O Brasil ocupa atualmente um assento rotativo no Conselho de Segurança e também se opõe à imposição de novas sanções ao Irã.
Lula deve se reunir com autoridades russas do primeiro escalão na sexta-feira para discutir maneiras de retomar um acordo de troca de combustível nuclear que visa minimizar os riscos de Teerã usar o enriquecimento de urânio para fins militares. Lula viaja para o Irã no domingo.
O Brasil defende uma solução negociada para o impasse envolvendo o programa nuclear iraniano, e tem buscado ampliar seu papel em temas globais sob o governo Lula. Críticos da posição do Brasil, que tem seu próprio programa nuclear para fins energéticos, afirmam que o Irã se aproveita desta intenção brasileira para ganhar tempo.
Lavrov disse que os Estados Unidos tendem a não enxergar a lei internacional como tendo precedência sobre as leis nacionais.
"Estamos sendo confrontados por este problema agora durante as discussões sobre uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o Irã", disse.
Apesar de suas críticas, Lavrov disse que as relações com os Estados Unidos mostraram sinais claros de melhora, especialmente com a assinatura de um tratado de desarmamento nuclear entre os dois países. Ele disse que o acordo será em breve submetido ao Parlamento russo para aprovação.
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
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Re: GEOPOLÍTICA
http://sopabrasiguaia.blogspot.com/2010 ... bases.html
O governo federal brasileiro deve instalar, até o final de 2012, 11 bases para atuação conjunta entre Polícia Federal (PF) e Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) ao longo das fronteiras terrestres do país. Somente em 2010, R$ 56 milhões serão desembolsados.
A informação foi confirmada nesta segunda-feira (03) por Luiz Paulo Barreto, ministro da Justiça, durante o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo na cidade de Ponta Porã (MS), fronteira seca com Pedro Juan Caballero e futura sede de uma das bases.
Vista como problemática, a fronteira com o Paraguai terá outra base, também, na cidade paranaense de São Miguel do Iguaçu, como forma de cobrir a região do Lago de Itaipu e fechar o cerco contra os traficantes e contrabandistas que aproveitam-se da atual debilidade para introduzir suas “mercadorias”.
"Vamos dar uma resposta muito concreta à entrada de ilegais nas nossas fronteiras. E aí, com as bases, o nosso interesse é em empreender cooperação com o país vizinho, a fim de combatermos em conjunto estes crimes que atingem os dois países", afirmou o ministro, citado pela Agência Estado.
Até 2012, a previsão é de que R$ 144 milhões sejam investidos em treinamento de 506 agentes de elite, construção de edifícios e aquisição de lanchas blindadas, helicópteros, aviões não-tripulados, armas e equipamentos para dotar as forças da lei de totais condições para o combate frontal ao crime organizado.
O governo federal brasileiro deve instalar, até o final de 2012, 11 bases para atuação conjunta entre Polícia Federal (PF) e Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) ao longo das fronteiras terrestres do país. Somente em 2010, R$ 56 milhões serão desembolsados.
A informação foi confirmada nesta segunda-feira (03) por Luiz Paulo Barreto, ministro da Justiça, durante o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo na cidade de Ponta Porã (MS), fronteira seca com Pedro Juan Caballero e futura sede de uma das bases.
Vista como problemática, a fronteira com o Paraguai terá outra base, também, na cidade paranaense de São Miguel do Iguaçu, como forma de cobrir a região do Lago de Itaipu e fechar o cerco contra os traficantes e contrabandistas que aproveitam-se da atual debilidade para introduzir suas “mercadorias”.
"Vamos dar uma resposta muito concreta à entrada de ilegais nas nossas fronteiras. E aí, com as bases, o nosso interesse é em empreender cooperação com o país vizinho, a fim de combatermos em conjunto estes crimes que atingem os dois países", afirmou o ministro, citado pela Agência Estado.
Até 2012, a previsão é de que R$ 144 milhões sejam investidos em treinamento de 506 agentes de elite, construção de edifícios e aquisição de lanchas blindadas, helicópteros, aviões não-tripulados, armas e equipamentos para dotar as forças da lei de totais condições para o combate frontal ao crime organizado.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Re: GEOPOLÍTICA
Muito interessante esse texto, mas ele mistura três coisas que tem de ser devidamente discutidas:
1) Deveria o governo ter uma rede de dados privativa para as Forças Armadas, serviço de inteligência, polícias e outros departamentos que exijam privacidade, garantia de operação e altíssima disponibilidade? Nessa rede eu incluo os sistema de dados via satélite, com satélites exclusivos ou pelo menos controlados pelo governo?
Sem dúvida alguma. Se a Telebrás for revivida para esse fim, acho que faz todo o sentido. Afinal, comunicação é essencial para os serviços estratégicos do país, e não podemos mesmo ficar à mercê de interesses privados, ou depender de sistemas de outros para falar com nossos submarinos e aviões. Diria até que não há oque se discutir, exceto talvez o orçamento, as metas e a estrutura que será responsável por essa rede.
2) Deveria o governo permitir que uma empresa pública ofereça serviços básicos de banda larga para a população em geral, competindo com as operadoras privadas?
Nessa questão eu vejo dois lados: Para o cidadão comum, principalmente o de baixa renda, a oferta de um serviço barato de acesso à internet é extremamente importante, lhe dá um poder de participar e de aprender que, de outra forma, permaneceria restrito às famílias mais abastadas. Isso sim é construir uma democracia. Para a empresa privada, por outro lado, é uma situação totalmente desconfortável. Uma empresa privada tem de dar lucro, enquanto a Telebras pode muito bem dar prejuizo, como fazia antes. Isso significa que a competição não virá apenas pela questão da maior eficiência de concorrentes, mas também com o descompromisso da Telebras de trabalhar pelas mesmas regras. Se houvesse um negócio fácil de explorar de serviços para as classes C e D, e que fosse minimamente rentável, alguém já estaria fazendo. Oque significa imaginar que a Telebras, para cumprir seu objetivo, vai demandar um investimento inicial e um custo de operação grande, e trabalhar com prejuizo ou sem lucro, eventualmente predando os serviços oferecidos pelas operadoras privadas. O jeito seria limitar a área de atuação ou a qualidade dos serviços prestados seriamente, mas como essas limitações evoluiriam com o tempo e com as mudanças do mercado?(por lei, deve ser impossível. Vejam como exemplo as revisões dos índices de produtividade para fins de reforma agrária...)
3) Podemos consertar a falta de competição no serviço de banda larga colocando empresas estatais para competir com privadas? É esse o jeito certo de consertar a privatização das empresas de telecom?
Eu entendo que não, esse é o jeito errado de atacar o problema. Empresas estatais, de forma geral, não são eficientes, e geralmente não geram lucro, a menos que sejam monopólios ou que sua área de atuação seja ridículamente lucrativa por natureza(e monopólio estatal). Isso significa que as empresas privadas estariam competindo com entidade ou entidades virtuais, artificiais, que de fato não jogam pelas mesmas regras, nem tem os mesmos problemas.
Pelo que sei, a principal vantagem das empresas de telecom dominantes é a disponibilidade de uma infra-estrutura de cabos de cobre ou fibra já passadas pelas ruas das cidades grandes, oque lhes dá o acesso ao usuário final, que chamamos normalmente de "last-mile". As empresas espelhos, que tentaram competir com essas privatizadas, falharam todas(exceto a GVT, porque tinha dinheiro e uma boa estratégia de negócios, até onde sabemos), principalmente pelos altos custos de se instalar, e pelas deficiências das tecnologias alternativas versus as redes de cobre existentes. Ou uma mudança nas regras do jogo força as empresas privatizadas a abrirem suas redes de cobres para os concorrentes a preços justos(nunca aconteceu e nunca vai acontecer, ninguém sabe oque é preço justo), ou dá-se vantagens para as alternativas(Wimax, Wi-Fi, TV à Cabo e FTTH) serem exploradas nessas áreas. Por exemplo, num leilão de Wimax para São Paulo, Telefônica não poderia participar, mas Oi e Embratel, sim. O mesmo tipo de leilão no Rio de Janeiro não seria acessível à Oi, mas sim à Telefônica, e assim por diante. Aonde há competição em igualdade de condições, os serviços são bons e os preços, razoáveis. É só tomar como exemplo as empresas celulares, que só em SP são 5 ou mais competindo pelos mesmos clientes.
Resumindo, eu acho que a Telebras deveria mesmo resurgir como fornecedora de serviços de dados para as Forças Armadas e departamentos de segurança pública, com satélite privativo, redundância e alta disponibilidade. Também acho que precisamos de uma estratégia, independente do primeiro ítem, para garantir a universalização do acesso por banda larga(os números de investimento e custo do governo para esse projeto via Telebras, aliás, são uma verdadeira palhaçada. Vai custar 10 vezes mais, pelo menos, e só Deus sabe quando por ano para manter), e terceiro, acho que temos de pensar como garantir a competição que favorece a melhora dos serviços e dos preços entre as empresas de telecom privatizadas, sem ser injusto.
1) Deveria o governo ter uma rede de dados privativa para as Forças Armadas, serviço de inteligência, polícias e outros departamentos que exijam privacidade, garantia de operação e altíssima disponibilidade? Nessa rede eu incluo os sistema de dados via satélite, com satélites exclusivos ou pelo menos controlados pelo governo?
Sem dúvida alguma. Se a Telebrás for revivida para esse fim, acho que faz todo o sentido. Afinal, comunicação é essencial para os serviços estratégicos do país, e não podemos mesmo ficar à mercê de interesses privados, ou depender de sistemas de outros para falar com nossos submarinos e aviões. Diria até que não há oque se discutir, exceto talvez o orçamento, as metas e a estrutura que será responsável por essa rede.
2) Deveria o governo permitir que uma empresa pública ofereça serviços básicos de banda larga para a população em geral, competindo com as operadoras privadas?
Nessa questão eu vejo dois lados: Para o cidadão comum, principalmente o de baixa renda, a oferta de um serviço barato de acesso à internet é extremamente importante, lhe dá um poder de participar e de aprender que, de outra forma, permaneceria restrito às famílias mais abastadas. Isso sim é construir uma democracia. Para a empresa privada, por outro lado, é uma situação totalmente desconfortável. Uma empresa privada tem de dar lucro, enquanto a Telebras pode muito bem dar prejuizo, como fazia antes. Isso significa que a competição não virá apenas pela questão da maior eficiência de concorrentes, mas também com o descompromisso da Telebras de trabalhar pelas mesmas regras. Se houvesse um negócio fácil de explorar de serviços para as classes C e D, e que fosse minimamente rentável, alguém já estaria fazendo. Oque significa imaginar que a Telebras, para cumprir seu objetivo, vai demandar um investimento inicial e um custo de operação grande, e trabalhar com prejuizo ou sem lucro, eventualmente predando os serviços oferecidos pelas operadoras privadas. O jeito seria limitar a área de atuação ou a qualidade dos serviços prestados seriamente, mas como essas limitações evoluiriam com o tempo e com as mudanças do mercado?(por lei, deve ser impossível. Vejam como exemplo as revisões dos índices de produtividade para fins de reforma agrária...)
3) Podemos consertar a falta de competição no serviço de banda larga colocando empresas estatais para competir com privadas? É esse o jeito certo de consertar a privatização das empresas de telecom?
Eu entendo que não, esse é o jeito errado de atacar o problema. Empresas estatais, de forma geral, não são eficientes, e geralmente não geram lucro, a menos que sejam monopólios ou que sua área de atuação seja ridículamente lucrativa por natureza(e monopólio estatal). Isso significa que as empresas privadas estariam competindo com entidade ou entidades virtuais, artificiais, que de fato não jogam pelas mesmas regras, nem tem os mesmos problemas.
Pelo que sei, a principal vantagem das empresas de telecom dominantes é a disponibilidade de uma infra-estrutura de cabos de cobre ou fibra já passadas pelas ruas das cidades grandes, oque lhes dá o acesso ao usuário final, que chamamos normalmente de "last-mile". As empresas espelhos, que tentaram competir com essas privatizadas, falharam todas(exceto a GVT, porque tinha dinheiro e uma boa estratégia de negócios, até onde sabemos), principalmente pelos altos custos de se instalar, e pelas deficiências das tecnologias alternativas versus as redes de cobre existentes. Ou uma mudança nas regras do jogo força as empresas privatizadas a abrirem suas redes de cobres para os concorrentes a preços justos(nunca aconteceu e nunca vai acontecer, ninguém sabe oque é preço justo), ou dá-se vantagens para as alternativas(Wimax, Wi-Fi, TV à Cabo e FTTH) serem exploradas nessas áreas. Por exemplo, num leilão de Wimax para São Paulo, Telefônica não poderia participar, mas Oi e Embratel, sim. O mesmo tipo de leilão no Rio de Janeiro não seria acessível à Oi, mas sim à Telefônica, e assim por diante. Aonde há competição em igualdade de condições, os serviços são bons e os preços, razoáveis. É só tomar como exemplo as empresas celulares, que só em SP são 5 ou mais competindo pelos mesmos clientes.
Resumindo, eu acho que a Telebras deveria mesmo resurgir como fornecedora de serviços de dados para as Forças Armadas e departamentos de segurança pública, com satélite privativo, redundância e alta disponibilidade. Também acho que precisamos de uma estratégia, independente do primeiro ítem, para garantir a universalização do acesso por banda larga(os números de investimento e custo do governo para esse projeto via Telebras, aliás, são uma verdadeira palhaçada. Vai custar 10 vezes mais, pelo menos, e só Deus sabe quando por ano para manter), e terceiro, acho que temos de pensar como garantir a competição que favorece a melhora dos serviços e dos preços entre as empresas de telecom privatizadas, sem ser injusto.
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Re: GEOPOLÍTICA
MARACUJINA depois do almoço....
Muito bom o comentário do colega ninjanki. Persiste a necessidade de um canal de voz e dados privativo das FAAs, com todas as condições que estas necessitam; Se eu não estiver muito enganado, a Petrobrás e o Bradesco possuem cada um o seu. Um projeto que deve considerar as necessidades de cada força e o contato instatantâneo que se fazem obrigatórios. As dimensões do nosso país e as diferentes exigências cotidianas do emprego destas mesmas forças, este canal é pra "ontem"...
Ainda na sopa de letrinhas das notícias de hoje, saiu na Revista F A uma matéria de autoria do Rudinei Dias da Cunha, sobre a Operação Orchard. A operação israelense de ataque contra a "instalação" (?) Síria em Al Kibar. Onde quem atacou não falou nada,e, quem foi atacado sequer tocou no assunto...
Não foi uma operação da mesma envergadura e complexidade da Operação Ópera, que destruiu o reator de Saddam no Iraque nos anos 80.
A Operação Orchard trouxe uma questão GEOPOLÍTICA acachapante. O Irã não é a Síria; E, Israel continua tendo vontade política para decisões unilaterais. Mais; Decisões que tornam negações, protestos ou retaliações, sob a constante sombra do que se escondia, ou se negava existir nas locações dos alvos.
Ainda veremos muitos capítulos deste TO. Aguardemos o retorno das viagens de "Nosso Guia".
Por ali a bola está quicando para a próximo lance...
Debater é preciso.
Muito bom o comentário do colega ninjanki. Persiste a necessidade de um canal de voz e dados privativo das FAAs, com todas as condições que estas necessitam; Se eu não estiver muito enganado, a Petrobrás e o Bradesco possuem cada um o seu. Um projeto que deve considerar as necessidades de cada força e o contato instatantâneo que se fazem obrigatórios. As dimensões do nosso país e as diferentes exigências cotidianas do emprego destas mesmas forças, este canal é pra "ontem"...
Ainda na sopa de letrinhas das notícias de hoje, saiu na Revista F A uma matéria de autoria do Rudinei Dias da Cunha, sobre a Operação Orchard. A operação israelense de ataque contra a "instalação" (?) Síria em Al Kibar. Onde quem atacou não falou nada,e, quem foi atacado sequer tocou no assunto...
Não foi uma operação da mesma envergadura e complexidade da Operação Ópera, que destruiu o reator de Saddam no Iraque nos anos 80.
A Operação Orchard trouxe uma questão GEOPOLÍTICA acachapante. O Irã não é a Síria; E, Israel continua tendo vontade política para decisões unilaterais. Mais; Decisões que tornam negações, protestos ou retaliações, sob a constante sombra do que se escondia, ou se negava existir nas locações dos alvos.
Ainda veremos muitos capítulos deste TO. Aguardemos o retorno das viagens de "Nosso Guia".
Por ali a bola está quicando para a próximo lance...
Debater é preciso.
Santa é a guerra, e sagradas são as armas para aqueles que somente nelas podem confiar.
Tito Lívio.
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Re: GEOPOLÍTICA
Soberania e agricultura
12/05/2010 - 23:24 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Mauro Santayana
Há muitos anos que, sob a negligência do Estado, empresas e instituições estrangeiras compram terras no Brasil. Na Amazônia, já nos anos 60, chegou-se a detectar estratégica localização progressiva dessas glebas, de forma a estabelecer uma faixa em arco que dividiria o território em duas partes, ao norte e ao sul. É antiga a aspiração americana a estender sua soberania a todo o hemisfério.
Entre outros planos alheios para a região, houve a ideia estapafúrdia do futurólogo Herman Kahn, ainda nos anos 50, de construir imenso lago interior, com o represamento de seus grandes rios. A dimensão do lago pretendido difere, conforme as fontes: de 180 a 500 mil quilômetros quadrados (a represa de Tucurui não chega a 2.500 km²). Que o alucinado cientista norte-americano projetasse o lago (e a internacionalização do território) podemos entender; o que assustou foi a adesão de importantes personalidades brasileiras ao plano.
A aquisição de terras amazônicas se agrava. Ainda nos anos 70, calculava-se em 20 milhões de hectares as glebas adquiridas por multinacionais sob controle norte-americano, como eram a Georgia Pacific, a Anderson Clayton, a Goodyear e a Swift-Armour, algumas destinadas à pecuária extensiva, com incentivos do Estado, e outras à exploração madeireira e mineral. Temos tido, ao longo do tempo, posição defensiva com relação à soberania na Amazônia, quase pedindo desculpas ao mundo por possuirmos 60% de sua área. Por isso, não demos a devida resposta a Al Gore, que disse, textualmente, que a Amazônia pertence ao mundo e não aos brasileiros. Seria interessante saber como os Estados Unidos reagiriam diante da proposta de internacionalização do Alasca, e se os russos admitiriam a soberania mundial sobre a grande floresta de coníferas da Sibéria, com suas grandes reservas aquíferas e suas incalculáveis jazidas minerais.
Agora não é só a Amazônia e outras regiões que têm suas terras alienadas. Empresas e governos da China, da Coreia do Sul, da Indonésia, estão negociando com os governos dos estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins a compra de vastas glebas, destinadas a projetos agrícolas. Pretendem produzir grãos para o consumo de seus povos, já que não têm disponibilidade de terras férteis em seu próprio território. É incompreensível que esses governadores, todos em fim de mandato, se disponham a negociar com os estrangeiros, quando a política externa é assunto exclusivo da União e a aquisição de terras é uma questão de soberania nacional. Segundo informa a Folha de S. Paulo, o governo da Bahia irá enviar uma delegação à China para cuidar do tema. Temos sido negligentes, e é hora de reação contra essa continuada e solerte ocupação do território brasileiro. Os candidatos à Presidência da República são convocados a dizer o que pensam disso.
Não necessitamos de capitais, nem de tecnologia para a exploração das nossas terras. A Embrapa é hoje referência mundial em agricultura tropical e em terras temperadas. Se os coreanos, japoneses, chineses, dinamarqueses ou alemães quiserem consumir grãos produzidos no Brasil, que os adquiram dos brasileiros, de acordo com o interesse mútuo. Temos que agir, no intercâmbio de mercadorias com os outros países do mundo, em absoluta igualdade de condições, e como temos procurado fazer, sem intermédio do dólar.
Ficha limpa
Mais importante do que a aprovação, pela Câmara, do projeto de iniciativa popular que exige ficha limpa dos candidatos aos cargos eletivos, é a própria ação da cidadania. Com seus poucos recursos, os cidadãos se organizaram, realizaram uma campanha nacional e conseguiram colher quase 2 milhões de assinaturas, obrigando o Congresso a aceitar o projeto. Não há dúvida de que, por iniciativa de qualquer um de seus membros, o Parlamento atual jamais aprovaria proposta dessa natureza.
O crescimento da consciência da cidadania, principalmente nestes últimos anos, se deve a muitos fatores, entre eles a melhoria do padrão de vida dos brasileiros e de sua educação cívica. O povo constata que esta é uma conquista que deve ser preservada, o que exige o aprimoramento moral da representação política.
http://www.jblog.com.br/politica.php?itemid=21147
12/05/2010 - 23:24 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Mauro Santayana
Há muitos anos que, sob a negligência do Estado, empresas e instituições estrangeiras compram terras no Brasil. Na Amazônia, já nos anos 60, chegou-se a detectar estratégica localização progressiva dessas glebas, de forma a estabelecer uma faixa em arco que dividiria o território em duas partes, ao norte e ao sul. É antiga a aspiração americana a estender sua soberania a todo o hemisfério.
Entre outros planos alheios para a região, houve a ideia estapafúrdia do futurólogo Herman Kahn, ainda nos anos 50, de construir imenso lago interior, com o represamento de seus grandes rios. A dimensão do lago pretendido difere, conforme as fontes: de 180 a 500 mil quilômetros quadrados (a represa de Tucurui não chega a 2.500 km²). Que o alucinado cientista norte-americano projetasse o lago (e a internacionalização do território) podemos entender; o que assustou foi a adesão de importantes personalidades brasileiras ao plano.
A aquisição de terras amazônicas se agrava. Ainda nos anos 70, calculava-se em 20 milhões de hectares as glebas adquiridas por multinacionais sob controle norte-americano, como eram a Georgia Pacific, a Anderson Clayton, a Goodyear e a Swift-Armour, algumas destinadas à pecuária extensiva, com incentivos do Estado, e outras à exploração madeireira e mineral. Temos tido, ao longo do tempo, posição defensiva com relação à soberania na Amazônia, quase pedindo desculpas ao mundo por possuirmos 60% de sua área. Por isso, não demos a devida resposta a Al Gore, que disse, textualmente, que a Amazônia pertence ao mundo e não aos brasileiros. Seria interessante saber como os Estados Unidos reagiriam diante da proposta de internacionalização do Alasca, e se os russos admitiriam a soberania mundial sobre a grande floresta de coníferas da Sibéria, com suas grandes reservas aquíferas e suas incalculáveis jazidas minerais.
Agora não é só a Amazônia e outras regiões que têm suas terras alienadas. Empresas e governos da China, da Coreia do Sul, da Indonésia, estão negociando com os governos dos estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins a compra de vastas glebas, destinadas a projetos agrícolas. Pretendem produzir grãos para o consumo de seus povos, já que não têm disponibilidade de terras férteis em seu próprio território. É incompreensível que esses governadores, todos em fim de mandato, se disponham a negociar com os estrangeiros, quando a política externa é assunto exclusivo da União e a aquisição de terras é uma questão de soberania nacional. Segundo informa a Folha de S. Paulo, o governo da Bahia irá enviar uma delegação à China para cuidar do tema. Temos sido negligentes, e é hora de reação contra essa continuada e solerte ocupação do território brasileiro. Os candidatos à Presidência da República são convocados a dizer o que pensam disso.
Não necessitamos de capitais, nem de tecnologia para a exploração das nossas terras. A Embrapa é hoje referência mundial em agricultura tropical e em terras temperadas. Se os coreanos, japoneses, chineses, dinamarqueses ou alemães quiserem consumir grãos produzidos no Brasil, que os adquiram dos brasileiros, de acordo com o interesse mútuo. Temos que agir, no intercâmbio de mercadorias com os outros países do mundo, em absoluta igualdade de condições, e como temos procurado fazer, sem intermédio do dólar.
Ficha limpa
Mais importante do que a aprovação, pela Câmara, do projeto de iniciativa popular que exige ficha limpa dos candidatos aos cargos eletivos, é a própria ação da cidadania. Com seus poucos recursos, os cidadãos se organizaram, realizaram uma campanha nacional e conseguiram colher quase 2 milhões de assinaturas, obrigando o Congresso a aceitar o projeto. Não há dúvida de que, por iniciativa de qualquer um de seus membros, o Parlamento atual jamais aprovaria proposta dessa natureza.
O crescimento da consciência da cidadania, principalmente nestes últimos anos, se deve a muitos fatores, entre eles a melhoria do padrão de vida dos brasileiros e de sua educação cívica. O povo constata que esta é uma conquista que deve ser preservada, o que exige o aprimoramento moral da representação política.
http://www.jblog.com.br/politica.php?itemid=21147
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Re: GEOPOLÍTICA
Artigo muito interessante...
Anglo-French defence: Entente nouvelle
By James Blitz and Sylvia Pfeifer
Published: March 14 2010 18:38 | Last updated: March 14 2010 18:38
Financial Times
http://www.ft.com/cms/s/0/a13e3332-2f87 ... abdc0.html
Anglo-French defence: Entente nouvelle
By James Blitz and Sylvia Pfeifer
Published: March 14 2010 18:38 | Last updated: March 14 2010 18:38
Financial Times
http://www.ft.com/cms/s/0/a13e3332-2f87 ... abdc0.html
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: GEOPOLÍTICA
Este é um dos mais importantes textos publicados em nossos jornais.
Há muito esperávamos por uma alma que tivesse visão e, principalmente, coragem para escrever sobre o tema.
Mas o dia chegou.
Que seja o primeiro de uma série de alertas ao nosso povo, aos nossos dirigentes, aos nossos congressistas.
==============================
Coisas da Política
Mauro Santayana
Como se prepara uma conquista
Desde que existem fronteiras, existem guerras. As guerras se fazem sobre as fronteiras, para que se abram aos invasores. Ao se abrirem, deslocam-se, em favor dos que vencem, cujo espaço se vê ampliado. Há as fronteiras físicas, eventualmente com suas fortalezas e seus obstáculos naturais, e há as fronteiras morais. O povo invadido não se defende apenas com as armas, por mais poderosas sejam; defendem-se com sua bravura, sua honra, seu sentimento de fraternidade.
É natural que os homens morram na defesa de suas ideias e de sua dignidade, mas para isso devem nelas acreditar como alguma coisa maior do que eles mesmos. Nenhuma outra ideia, nenhum outro compromisso, é maior do que a ideia de pátria, que aceita e amplia o sentimento de família. O homem que morre na defesa de sua pátria, morre na defesa de seus filhos e de todos os filhos, de todas as mulheres, de todos os anciões de seu povo. Por isso, a defesa é mais poderosa do que o ataque como temos visto em todas as guerras. A defesa se transforma em ataque, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial. A resistência russa, nas portas de Moscou e na gesta desesperadora de Stalingrado, se converteu na cena orgulhosa do soldado que fixa a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim.
As guerras não são fenômenos repentinos na História. Muitos estudiosos vão à mitológica Guerra de Troia, na versão de Homero, com seus paradigmas de astúcia, heroísmo, covardia e traições, para nela encontrar o exemplo clássico dessa patologia: todos os conflitos anteriores e todos os que se seguiram se explicam com a expedição de Agamenon, a astúcia de Ulysses, o inútil corpo fechado de Aquiles, com seu calcanhar vulnerável, a coragem de Ájax no confronto com Hector, a enigmática figura de Palamedes.
A guerra está presente em todas as comunidades humanas, seja na conquista ou na defesa. Um dia, se houver Deus, é possível que haja paz. Não tem havido paz. Assim, os agressores, mais do que pensar nas defesas físicas do presumido inimigo a ser conquistado, buscam atingir previamente sua armadura moral. Uma desmoralização fácil, e de que se valeram os nazistas, é a racial. Sendo diferente, o inimigo deve ser aniquilado: não faz parte da nossa espécie. Os mais velhos se lembram das histórias em quadrinhos americanas, nas quais os japoneses eram caricaturados como se fossem símios, e os alemães sempre obesos e embriagados. Para combatê-los, surgiu a nova mitologia dos super-homens, dos fantasmas-voadores, dos capitães-américa.
Depois de Avatar, de James Cameron, uma alegoria claramente identificada com a Amazônia, sua biodiversidade e seus minérios, a cineasta Kathryn Bigelow anuncia película a ser ambientada na Tríplice Fronteira. Alguns senhores, de curta inteligência ou de duvidoso patriotismo, saúdam a iniciativa, como promoção do turismo. Não percebem que se trata de abrir caminho a futura ocupação da área, anunciada durante o governo Bush, contra a soberania do Brasil, da Argentina e do Paraguai, a pretexto do combate ao terrorismo. Trata-se da construção de uma ideia da região, que nada tem a ver com a realidade, e da justificação subliminar para operações das Forças Armadas norte-americanas na área. Para isso, os ianques já construíram grande pista de pouso no Chaco paraguaio.
Os três governos atuam em conjunto para reforçar a vigilância nas fronteiras, contra o contrabando e o tráfico de drogas, além de outras formas do crime organizado. A eles cabe e a ninguém mais cuidar dos interesses comuns, na defesa da soberania de cada um de seus países e da paz para seus povos.
Os americanos se movem pela fé no Destino manifesto. Não se trata somente de política de Estado, mas de certa crença nacional, consolidada pelos meios de comunicação, a partir de Hearst e Pulitzer, e robustecida pela indústria cinematográfica, de que se imbuem cineastas como Cameron e Bigelow. Desde os gregos o entretenimento é instrumento de convencimento político. Temos todo o direito de recusar a entrada, em nossos países, dos que nos querem engambelar com a magia do cinema. Os colares de miçangas e os presentes de grego mudam de formato e de conteúdo, mas o propósito de conquista e domínio continua o mesmo
Há muito esperávamos por uma alma que tivesse visão e, principalmente, coragem para escrever sobre o tema.
Mas o dia chegou.
Que seja o primeiro de uma série de alertas ao nosso povo, aos nossos dirigentes, aos nossos congressistas.
==============================
Coisas da Política
Mauro Santayana
Como se prepara uma conquista
Desde que existem fronteiras, existem guerras. As guerras se fazem sobre as fronteiras, para que se abram aos invasores. Ao se abrirem, deslocam-se, em favor dos que vencem, cujo espaço se vê ampliado. Há as fronteiras físicas, eventualmente com suas fortalezas e seus obstáculos naturais, e há as fronteiras morais. O povo invadido não se defende apenas com as armas, por mais poderosas sejam; defendem-se com sua bravura, sua honra, seu sentimento de fraternidade.
É natural que os homens morram na defesa de suas ideias e de sua dignidade, mas para isso devem nelas acreditar como alguma coisa maior do que eles mesmos. Nenhuma outra ideia, nenhum outro compromisso, é maior do que a ideia de pátria, que aceita e amplia o sentimento de família. O homem que morre na defesa de sua pátria, morre na defesa de seus filhos e de todos os filhos, de todas as mulheres, de todos os anciões de seu povo. Por isso, a defesa é mais poderosa do que o ataque como temos visto em todas as guerras. A defesa se transforma em ataque, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial. A resistência russa, nas portas de Moscou e na gesta desesperadora de Stalingrado, se converteu na cena orgulhosa do soldado que fixa a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim.
As guerras não são fenômenos repentinos na História. Muitos estudiosos vão à mitológica Guerra de Troia, na versão de Homero, com seus paradigmas de astúcia, heroísmo, covardia e traições, para nela encontrar o exemplo clássico dessa patologia: todos os conflitos anteriores e todos os que se seguiram se explicam com a expedição de Agamenon, a astúcia de Ulysses, o inútil corpo fechado de Aquiles, com seu calcanhar vulnerável, a coragem de Ájax no confronto com Hector, a enigmática figura de Palamedes.
A guerra está presente em todas as comunidades humanas, seja na conquista ou na defesa. Um dia, se houver Deus, é possível que haja paz. Não tem havido paz. Assim, os agressores, mais do que pensar nas defesas físicas do presumido inimigo a ser conquistado, buscam atingir previamente sua armadura moral. Uma desmoralização fácil, e de que se valeram os nazistas, é a racial. Sendo diferente, o inimigo deve ser aniquilado: não faz parte da nossa espécie. Os mais velhos se lembram das histórias em quadrinhos americanas, nas quais os japoneses eram caricaturados como se fossem símios, e os alemães sempre obesos e embriagados. Para combatê-los, surgiu a nova mitologia dos super-homens, dos fantasmas-voadores, dos capitães-américa.
Depois de Avatar, de James Cameron, uma alegoria claramente identificada com a Amazônia, sua biodiversidade e seus minérios, a cineasta Kathryn Bigelow anuncia película a ser ambientada na Tríplice Fronteira. Alguns senhores, de curta inteligência ou de duvidoso patriotismo, saúdam a iniciativa, como promoção do turismo. Não percebem que se trata de abrir caminho a futura ocupação da área, anunciada durante o governo Bush, contra a soberania do Brasil, da Argentina e do Paraguai, a pretexto do combate ao terrorismo. Trata-se da construção de uma ideia da região, que nada tem a ver com a realidade, e da justificação subliminar para operações das Forças Armadas norte-americanas na área. Para isso, os ianques já construíram grande pista de pouso no Chaco paraguaio.
Os três governos atuam em conjunto para reforçar a vigilância nas fronteiras, contra o contrabando e o tráfico de drogas, além de outras formas do crime organizado. A eles cabe e a ninguém mais cuidar dos interesses comuns, na defesa da soberania de cada um de seus países e da paz para seus povos.
Os americanos se movem pela fé no Destino manifesto. Não se trata somente de política de Estado, mas de certa crença nacional, consolidada pelos meios de comunicação, a partir de Hearst e Pulitzer, e robustecida pela indústria cinematográfica, de que se imbuem cineastas como Cameron e Bigelow. Desde os gregos o entretenimento é instrumento de convencimento político. Temos todo o direito de recusar a entrada, em nossos países, dos que nos querem engambelar com a magia do cinema. Os colares de miçangas e os presentes de grego mudam de formato e de conteúdo, mas o propósito de conquista e domínio continua o mesmo
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: GEOPOLÍTICA
Marino escreveu:Este é um dos mais importantes textos publicados em nossos jornais.
Há muito esperávamos por uma alma que tivesse visão e, principalmente, coragem para escrever sobre o tema.
Mas o dia chegou.
Que seja o primeiro de uma série de alertas ao nosso povo, aos nossos dirigentes, aos nossos congressistas.
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Como se prepara uma conquista
Desde que existem fronteiras, existem guerras. As guerras se fazem sobre as fronteiras, para que se abram aos invasores. Ao se abrirem, deslocam-se, em favor dos que vencem, cujo espaço se vê ampliado. Há as fronteiras físicas, eventualmente com suas fortalezas e seus obstáculos naturais, e há as fronteiras morais. O povo invadido não se defende apenas com as armas, por mais poderosas sejam; defendem-se com sua bravura, sua honra, seu sentimento de fraternidade.
É natural que os homens morram na defesa de suas ideias e de sua dignidade, mas para isso devem nelas acreditar como alguma coisa maior do que eles mesmos. Nenhuma outra ideia, nenhum outro compromisso, é maior do que a ideia de pátria, que aceita e amplia o sentimento de família. O homem que morre na defesa de sua pátria, morre na defesa de seus filhos e de todos os filhos, de todas as mulheres, de todos os anciões de seu povo. Por isso, a defesa é mais poderosa do que o ataque como temos visto em todas as guerras. A defesa se transforma em ataque, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial. A resistência russa, nas portas de Moscou e na gesta desesperadora de Stalingrado, se converteu na cena orgulhosa do soldado que fixa a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim.
As guerras não são fenômenos repentinos na História. Muitos estudiosos vão à mitológica Guerra de Troia, na versão de Homero, com seus paradigmas de astúcia, heroísmo, covardia e traições, para nela encontrar o exemplo clássico dessa patologia: todos os conflitos anteriores e todos os que se seguiram se explicam com a expedição de Agamenon, a astúcia de Ulysses, o inútil corpo fechado de Aquiles, com seu calcanhar vulnerável, a coragem de Ájax no confronto com Hector, a enigmática figura de Palamedes.
A guerra está presente em todas as comunidades humanas, seja na conquista ou na defesa. Um dia, se houver Deus, é possível que haja paz. Não tem havido paz. Assim, os agressores, mais do que pensar nas defesas físicas do presumido inimigo a ser conquistado, buscam atingir previamente sua armadura moral. Uma desmoralização fácil, e de que se valeram os nazistas, é a racial. Sendo diferente, o inimigo deve ser aniquilado: não faz parte da nossa espécie. Os mais velhos se lembram das histórias em quadrinhos americanas, nas quais os japoneses eram caricaturados como se fossem símios, e os alemães sempre obesos e embriagados. Para combatê-los, surgiu a nova mitologia dos super-homens, dos fantasmas-voadores, dos capitães-américa.
Depois de Avatar, de James Cameron, uma alegoria claramente identificada com a Amazônia, sua biodiversidade e seus minérios, a cineasta Kathryn Bigelow anuncia película a ser ambientada na Tríplice Fronteira. Alguns senhores, de curta inteligência ou de duvidoso patriotismo, saúdam a iniciativa, como promoção do turismo. Não percebem que se trata de abrir caminho a futura ocupação da área, anunciada durante o governo Bush, contra a soberania do Brasil, da Argentina e do Paraguai, a pretexto do combate ao terrorismo. Trata-se da construção de uma ideia da região, que nada tem a ver com a realidade, e da justificação subliminar para operações das Forças Armadas norte-americanas na área. Para isso, os ianques já construíram grande pista de pouso no Chaco paraguaio.
Os três governos atuam em conjunto para reforçar a vigilância nas fronteiras, contra o contrabando e o tráfico de drogas, além de outras formas do crime organizado. A eles cabe e a ninguém mais cuidar dos interesses comuns, na defesa da soberania de cada um de seus países e da paz para seus povos.
Os americanos se movem pela fé no Destino manifesto. Não se trata somente de política de Estado, mas de certa crença nacional, consolidada pelos meios de comunicação, a partir de Hearst e Pulitzer, e robustecida pela indústria cinematográfica, de que se imbuem cineastas como Cameron e Bigelow. Desde os gregos o entretenimento é instrumento de convencimento político. Temos todo o direito de recusar a entrada, em nossos países, dos que nos querem engambelar com a magia do cinema. Os colares de miçangas e os presentes de grego mudam de formato e de conteúdo, mas o propósito de conquista e domínio continua o mesmo
Perfeito, sem reparações, só espero que o autor não seja taxado de anti-americano!
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
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Re: GEOPOLÍTICA
CINEMA
Brasil, Argentina e Paraguai se voltam contra Kathryn Bigelow
Novo filme falaria de tráfico e terrorismo na Tríplice Fronteira
André Miranda
anunciada intenção da diretora americana Kathryn Bigelow de filmar o longa-metragem "Tríplice
fronteira" tem causado um certo desconforto em Argentina, Paraguai e Brasil. As primeiras informações
divulgadas sobre o filme indicam que ele trataria da existência de máfias, contrabando e tráfico de
drogas, inclusive com a presença de terroristas árabes, na região das Cataratas do Iguaçu, uma divisa
dos três países.
O secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, Felipe Gonzalez Camilo Rorato, divulgou uma nota
em que diz que "a liberação de qualquer imagem turística (...) da cidade só será autorizada após leitura e
aprovação do roteiro". Ele escreveu ainda: "Sobre a suposta temática do filme, acreditamos que não há
elementos concretos para se afirmar qualquer conexão de empresários, entidades ou pessoas de
ascendência árabe da fronteira com o financiamento de grupos terroristas islâmicos."
A ministra do Turismo do Paraguai, Liz Cramer, foi além em entrevista ao jornal espanhol "El
País":
- Falei com o secretário de Turismo da Argentina e com autoridades brasileiras. Estamos todos
indignados. Eles querem nos sujar como os perversos do mundo.
Kathryn é a atual detentora dos Oscars de melhor direção e filme, por "Guerra ao terror". Ela
ainda não se manifestou sobre as críticas acerca de "Tríplice fronteira".
Brasil, Argentina e Paraguai se voltam contra Kathryn Bigelow
Novo filme falaria de tráfico e terrorismo na Tríplice Fronteira
André Miranda
anunciada intenção da diretora americana Kathryn Bigelow de filmar o longa-metragem "Tríplice
fronteira" tem causado um certo desconforto em Argentina, Paraguai e Brasil. As primeiras informações
divulgadas sobre o filme indicam que ele trataria da existência de máfias, contrabando e tráfico de
drogas, inclusive com a presença de terroristas árabes, na região das Cataratas do Iguaçu, uma divisa
dos três países.
O secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, Felipe Gonzalez Camilo Rorato, divulgou uma nota
em que diz que "a liberação de qualquer imagem turística (...) da cidade só será autorizada após leitura e
aprovação do roteiro". Ele escreveu ainda: "Sobre a suposta temática do filme, acreditamos que não há
elementos concretos para se afirmar qualquer conexão de empresários, entidades ou pessoas de
ascendência árabe da fronteira com o financiamento de grupos terroristas islâmicos."
A ministra do Turismo do Paraguai, Liz Cramer, foi além em entrevista ao jornal espanhol "El
País":
- Falei com o secretário de Turismo da Argentina e com autoridades brasileiras. Estamos todos
indignados. Eles querem nos sujar como os perversos do mundo.
Kathryn é a atual detentora dos Oscars de melhor direção e filme, por "Guerra ao terror". Ela
ainda não se manifestou sobre as críticas acerca de "Tríplice fronteira".
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: GEOPOLÍTICA
VISÃO GLOBAL
A propaganda que a Tríplice Fronteira gostaria de evitar
Vizinhos do Brasil temem que filme cause prejuízos à região
*Tom Philips, The Guardian - O Estado de S.Paulo
Para muitos países que esperam receber mais destaque no palco mundial, a ideia pode ser vista
como um pequeno golpe - ser escolhido como cenário do próximo filme de uma das cineastas mais
celebradas do mundo.
Mas, nesta semana, políticos sul-americanos reagiram negativamente aos planos do mais novo
projeto da diretora Kathryn Bigelow, ganhadora do Oscar, que pretende documentar a vida na famosa
região da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai com toda a adrenalina que se espera dela.
De acordo com reportagens publicadas no ano passado pela revista Variety, o filme, cujo título
provisório é Triple Border, será um "longa metragem de ação e aventura... que se passa na famosa
região da fronteira".
De acordo com a Variety, o filme será dirigido por Kathryn e o roteiro será de Mark Boal, o
jornalista americano cujas reportagens sobre o Iraque serviram de inspiração para o filme Guerra ao
Terror, que venceu seis Oscars na última cerimônia de premiação da academia de cinema.
Entretanto, na terça feira, em visita à região, a ministra do turismo do Paraguai, Liz Cramer, disse
ao jornal La Nación que o filme não deve receber "nenhum apoio" do governo, pois os políticos e
empresários da região estavam furiosos com o projeto.
"Quanto teremos de gastar para limpar nossa imagem?", perguntou Liz em Ciudad del Este, a
precária cidade de fronteira onde seguranças armados com escopetas vigiam centenas de lojas de
eletrônicos repletas de laptops baratos e aparelhos de som.
"Apoiar o projeto seria estupidez de nossa parte."
Ela acrescentou: "Estamos furiosos porque parece que eles ficaram sem ideias para filmes, como
se não houvesse temas suficientes espalhados pelo mundo", sugerindo que Kathryn devesse em vez
disso rodar um filme sobre "as 8 mil execuções que ocorrem na fronteira dos Estados Unidos".
Enrique Meyer, ministro do turismo da Argentina, disse à agência de notícias France Presse que
as autoridades ficaram "profundamente indignadas ao descobrir que esse projeto pretende transmitir uma
imagem negativa da região".
A fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai é também um dos destinos turísticos mais
procurados da América do Sul. É lá que ficam as famosas Cataratas do Iguaçu - um dos maiores
conjuntos de quedas d"água de todo o mundo. As principais cidades da região são Ciudad del Este, no
Paraguai, Puerto Iguazú, na Argentina, e Foz do Iguaçu, no Brasil.
O lugar também é conhecido como base de operações de contrabandistas e traficantes de armas
e drogas.
E as autoridades americanas sugeriram repetidas vezes que Ciudad del Este, que abriga uma
numerosa comunidade árabe, seria o refúgio de grupos envolvidos na arrecadação de recursos para
organizações terroristas internacionais.
As autoridades brasileiras e paraguaias estão cada vez mais preocupadas com a presença de
traficantes de drogas nos quase mil quilômetros de fronteira comum entre os dois países.
Mas a reação brasileira ao anúncio do filme Triple Border foi mais cordial. Carlos Duso (PT),
vereador de Foz do Iguaçu, disse que a cidade estava preparada para ajudar os produtores do
documentário em tudo "que for necessário".
"É apenas um filme, não?" declarou. "Nova York foi destruída muitas vezes no cinema, e isso
não prejudicou a imagem da cidade. Temos de manter a mente aberta." /
Tradução de Augusto Calil
*É correspondente no Brasil dos jornais "The Guardian" e "The Observer"
A propaganda que a Tríplice Fronteira gostaria de evitar
Vizinhos do Brasil temem que filme cause prejuízos à região
*Tom Philips, The Guardian - O Estado de S.Paulo
Para muitos países que esperam receber mais destaque no palco mundial, a ideia pode ser vista
como um pequeno golpe - ser escolhido como cenário do próximo filme de uma das cineastas mais
celebradas do mundo.
Mas, nesta semana, políticos sul-americanos reagiram negativamente aos planos do mais novo
projeto da diretora Kathryn Bigelow, ganhadora do Oscar, que pretende documentar a vida na famosa
região da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai com toda a adrenalina que se espera dela.
De acordo com reportagens publicadas no ano passado pela revista Variety, o filme, cujo título
provisório é Triple Border, será um "longa metragem de ação e aventura... que se passa na famosa
região da fronteira".
De acordo com a Variety, o filme será dirigido por Kathryn e o roteiro será de Mark Boal, o
jornalista americano cujas reportagens sobre o Iraque serviram de inspiração para o filme Guerra ao
Terror, que venceu seis Oscars na última cerimônia de premiação da academia de cinema.
Entretanto, na terça feira, em visita à região, a ministra do turismo do Paraguai, Liz Cramer, disse
ao jornal La Nación que o filme não deve receber "nenhum apoio" do governo, pois os políticos e
empresários da região estavam furiosos com o projeto.
"Quanto teremos de gastar para limpar nossa imagem?", perguntou Liz em Ciudad del Este, a
precária cidade de fronteira onde seguranças armados com escopetas vigiam centenas de lojas de
eletrônicos repletas de laptops baratos e aparelhos de som.
"Apoiar o projeto seria estupidez de nossa parte."
Ela acrescentou: "Estamos furiosos porque parece que eles ficaram sem ideias para filmes, como
se não houvesse temas suficientes espalhados pelo mundo", sugerindo que Kathryn devesse em vez
disso rodar um filme sobre "as 8 mil execuções que ocorrem na fronteira dos Estados Unidos".
Enrique Meyer, ministro do turismo da Argentina, disse à agência de notícias France Presse que
as autoridades ficaram "profundamente indignadas ao descobrir que esse projeto pretende transmitir uma
imagem negativa da região".
A fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai é também um dos destinos turísticos mais
procurados da América do Sul. É lá que ficam as famosas Cataratas do Iguaçu - um dos maiores
conjuntos de quedas d"água de todo o mundo. As principais cidades da região são Ciudad del Este, no
Paraguai, Puerto Iguazú, na Argentina, e Foz do Iguaçu, no Brasil.
O lugar também é conhecido como base de operações de contrabandistas e traficantes de armas
e drogas.
E as autoridades americanas sugeriram repetidas vezes que Ciudad del Este, que abriga uma
numerosa comunidade árabe, seria o refúgio de grupos envolvidos na arrecadação de recursos para
organizações terroristas internacionais.
As autoridades brasileiras e paraguaias estão cada vez mais preocupadas com a presença de
traficantes de drogas nos quase mil quilômetros de fronteira comum entre os dois países.
Mas a reação brasileira ao anúncio do filme Triple Border foi mais cordial. Carlos Duso (PT),
vereador de Foz do Iguaçu, disse que a cidade estava preparada para ajudar os produtores do
documentário em tudo "que for necessário".
"É apenas um filme, não?" declarou. "Nova York foi destruída muitas vezes no cinema, e isso
não prejudicou a imagem da cidade. Temos de manter a mente aberta." /
Tradução de Augusto Calil
*É correspondente no Brasil dos jornais "The Guardian" e "The Observer"
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: GEOPOLÍTICA
ACORDO MILITAR
Passa na CRE acordo com a Rússia sobre cooperação técnico-militar
A CRE aprovou ontem voto do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) favorável ao projeto de decreto
legislativo (PDS 34/10), com o texto do acordo entre os governos do Brasil e da Rússia sobre
cooperação técnico-militar.
Na exposição de motivos sobre o acordo, o Ministério das Relações Exteriores informa que o
objetivo é promover a cooperação técnico-militar entre os dois países nos campos da pesquisa e
desenvolvimento, apoio logístico, aquisição de produtos e serviços de defesa, treinamento profissional,
intercâmbio de pessoal docente e discente, visitas recíprocas e encontros voltados para a realização de
programas conjuntos e outras áreas técnico-militares.
Segundo Eduardo Suplicy, o acordo se adapta à Estratégia Nacional de Defesa do governo
federal, "em que há interesse no desenvolvimento da indústria bélica brasileira para efeitos de
reequipamento das Forças Armadas e fomento da indústria e da tecnologia de produção nacional".
Passa na CRE acordo com a Rússia sobre cooperação técnico-militar
A CRE aprovou ontem voto do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) favorável ao projeto de decreto
legislativo (PDS 34/10), com o texto do acordo entre os governos do Brasil e da Rússia sobre
cooperação técnico-militar.
Na exposição de motivos sobre o acordo, o Ministério das Relações Exteriores informa que o
objetivo é promover a cooperação técnico-militar entre os dois países nos campos da pesquisa e
desenvolvimento, apoio logístico, aquisição de produtos e serviços de defesa, treinamento profissional,
intercâmbio de pessoal docente e discente, visitas recíprocas e encontros voltados para a realização de
programas conjuntos e outras áreas técnico-militares.
Segundo Eduardo Suplicy, o acordo se adapta à Estratégia Nacional de Defesa do governo
federal, "em que há interesse no desenvolvimento da indústria bélica brasileira para efeitos de
reequipamento das Forças Armadas e fomento da indústria e da tecnologia de produção nacional".
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: GEOPOLÍTICA
Sei não! O artigo "Como se prepara uma conquista" aborda bem isso.Marino escreveu:VISÃO GLOBAL
A propaganda que a Tríplice Fronteira gostaria de evitar
Vizinhos do Brasil temem que filme cause prejuízos à região
*Tom Philips, The Guardian - O Estado de S.Paulo
Para muitos países que esperam receber mais destaque no palco mundial, a ideia pode ser vista
como um pequeno golpe - ser escolhido como cenário do próximo filme de uma das cineastas mais
celebradas do mundo.
Mas, nesta semana, políticos sul-americanos reagiram negativamente aos planos do mais novo
projeto da diretora Kathryn Bigelow, ganhadora do Oscar, que pretende documentar a vida na famosa
região da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai com toda a adrenalina que se espera dela.
De acordo com reportagens publicadas no ano passado pela revista Variety, o filme, cujo título
provisório é Triple Border, será um "longa metragem de ação e aventura... que se passa na famosa
região da fronteira".
De acordo com a Variety, o filme será dirigido por Kathryn e o roteiro será de Mark Boal, o
jornalista americano cujas reportagens sobre o Iraque serviram de inspiração para o filme Guerra ao
Terror, que venceu seis Oscars na última cerimônia de premiação da academia de cinema.
Entretanto, na terça feira, em visita à região, a ministra do turismo do Paraguai, Liz Cramer, disse
ao jornal La Nación que o filme não deve receber "nenhum apoio" do governo, pois os políticos e
empresários da região estavam furiosos com o projeto.
"Quanto teremos de gastar para limpar nossa imagem?", perguntou Liz em Ciudad del Este, a
precária cidade de fronteira onde seguranças armados com escopetas vigiam centenas de lojas de
eletrônicos repletas de laptops baratos e aparelhos de som.
"Apoiar o projeto seria estupidez de nossa parte."
Ela acrescentou: "Estamos furiosos porque parece que eles ficaram sem ideias para filmes, como
se não houvesse temas suficientes espalhados pelo mundo", sugerindo que Kathryn devesse em vez
disso rodar um filme sobre "as 8 mil execuções que ocorrem na fronteira dos Estados Unidos".
Enrique Meyer, ministro do turismo da Argentina, disse à agência de notícias France Presse que
as autoridades ficaram "profundamente indignadas ao descobrir que esse projeto pretende transmitir uma
imagem negativa da região".
A fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai é também um dos destinos turísticos mais
procurados da América do Sul. É lá que ficam as famosas Cataratas do Iguaçu - um dos maiores
conjuntos de quedas d"água de todo o mundo. As principais cidades da região são Ciudad del Este, no
Paraguai, Puerto Iguazú, na Argentina, e Foz do Iguaçu, no Brasil.
O lugar também é conhecido como base de operações de contrabandistas e traficantes de armas
e drogas.
E as autoridades americanas sugeriram repetidas vezes que Ciudad del Este, que abriga uma
numerosa comunidade árabe, seria o refúgio de grupos envolvidos na arrecadação de recursos para
organizações terroristas internacionais.
As autoridades brasileiras e paraguaias estão cada vez mais preocupadas com a presença de
traficantes de drogas nos quase mil quilômetros de fronteira comum entre os dois países.
Mas a reação brasileira ao anúncio do filme Triple Border foi mais cordial. Carlos Duso (PT),
vereador de Foz do Iguaçu, disse que a cidade estava preparada para ajudar os produtores do
documentário em tudo "que for necessário".
"É apenas um filme, não?" declarou. "Nova York foi destruída muitas vezes no cinema, e isso
não prejudicou a imagem da cidade. Temos de manter a mente aberta." /
Tradução de Augusto Calil
*É correspondente no Brasil dos jornais "The Guardian" e "The Observer"
Eles vão mostrar a grande mesquita de Foz do Iguaçu e aí... vem as associações...
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Re: GEOPOLÍTICA
É ridículo isso. O pessoal já fala em boicotar o filme aqui, seja nas gravações ou com outros meios.
Não deixarão gravarem isso em paz aqui, e não vi assim tanta cordialidade por parte dos políticos e secretarias aqui de Foz sobre isso. Não vi nenhuma nota da comunidade árabe sobre o filme, mas seja qual for, terá o apoio do povo iguaçuense. É ridículo associar toda a comunidade árabe daqui, com terrorismo, se pelo menos eles tivessem feito algo contra nós. Mas nunca fizeram, a maioria segue as leis e as normas brasileira como qualquer brasileiro. Nunca houve qualquer atentado terrorista na região, mesmo quando eles também sofrem com a violência de Foz do Iguaçu.
Não deixarão gravarem isso em paz aqui, e não vi assim tanta cordialidade por parte dos políticos e secretarias aqui de Foz sobre isso. Não vi nenhuma nota da comunidade árabe sobre o filme, mas seja qual for, terá o apoio do povo iguaçuense. É ridículo associar toda a comunidade árabe daqui, com terrorismo, se pelo menos eles tivessem feito algo contra nós. Mas nunca fizeram, a maioria segue as leis e as normas brasileira como qualquer brasileiro. Nunca houve qualquer atentado terrorista na região, mesmo quando eles também sofrem com a violência de Foz do Iguaçu.
“melhor seria viver sozinho, mas isso não é possível: precisamos do poder de todos para proteger o de cada um e dos outros” (Francis Wolff)
Re: GEOPOLÍTICA
A primeira batalha de qualquer projeto geopolítico é travada dentro de suas próprias fronteiras, ou seja, consiste em conquistar o imaginário da população que dará sustentação a tal ação política. Não importa qual seja o país.
Aqui falamos da conquista de corações e mentes dos Homers Simpsons que jazem refestelados em seus sofás na América Profunda. Foz do Iguaçú não será Bagda ou Falluja, mas também não será apenas um ponto obscuro no mapa "daquilo que não é a América". Não é do interesse dos USA permitir que o Brasil desempenhe um papel de predominância regional inquestionável. É fundamental se estabelecer um mecanismo de contrapontos. Não uma política de obliteração ou de enfrentamento explícito, pois isto não é interessante para nenhum dos lados. Mas uma presença clara o suficiente para que não seja esquecida. Isto envolve montar um aparato de inteligência mais robusto, flexionar alguns músculos, manter uma infra-estrutura disponível para uma eventual crise, etc. E para isto precisam de justificativas "palpáveis e imediatas". A mente do americano médio está totalmente sensibilizada ao conceito de terrorismo e drogas, tornando este um gancho imperdível. Timming...
[]'s
Aqui falamos da conquista de corações e mentes dos Homers Simpsons que jazem refestelados em seus sofás na América Profunda. Foz do Iguaçú não será Bagda ou Falluja, mas também não será apenas um ponto obscuro no mapa "daquilo que não é a América". Não é do interesse dos USA permitir que o Brasil desempenhe um papel de predominância regional inquestionável. É fundamental se estabelecer um mecanismo de contrapontos. Não uma política de obliteração ou de enfrentamento explícito, pois isto não é interessante para nenhum dos lados. Mas uma presença clara o suficiente para que não seja esquecida. Isto envolve montar um aparato de inteligência mais robusto, flexionar alguns músculos, manter uma infra-estrutura disponível para uma eventual crise, etc. E para isto precisam de justificativas "palpáveis e imediatas". A mente do americano médio está totalmente sensibilizada ao conceito de terrorismo e drogas, tornando este um gancho imperdível. Timming...
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- marcelo l.
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Re: GEOPOLÍTICA
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... r_pu.shtml
A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões", afirma Plattner, cofundador da revista acadêmica Journal of Democracy.
Editor de diversos livros sobre o tema, especializado em democracias emergentes, como a Índia e os países latino-americanos, Plattner ainda assim defende o modelo liberal de democracia porque, mais que o governo da maioria, representa a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade.
"Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia", afirma. "Hoje estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia."
A entrevista é parte da minissérie de sete reportagens sobre democracia que a BBC Brasil propõe neste ano de eleições. Através de entrevistas com especialistas, a série avaliará o estágio democrático de seis casos simbólicos: Brasil, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Índia, Rússia e Irã.
A seguir, leia trechos da conversa da BBC Brasil, na qual Plattner diz não acreditar em um "modelo russo ou iraniano" de democracia e avalia que o Brasil já deixou de ser "emergente" neste aspecto.
Qual sua definição de democracia?
No dicionário, democracia significa o governo do povo. No sentido atual, porém, significa democracia liberal, que não é apenas o governo da maioria, mas a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade. Esses dois aspectos têm de estar presente.
Existe algum modelo de democracia que se aproxime do ideal no mundo de hoje?
A melhor democracia não significa necessariamente a melhor sociedade. A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões. Quando se discute esse tema, os países nórdicos – Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia – tendem a sair na frente, porque eles têm menos corrupção e relativamente menos desigualdades econômicas que outros países. Mas não sei se isso quer dizer que sejam mais democráticos que outros, e sim que suas sociedades têm mais virtudes que outras.
O escritor americano Fareed Zakaria sugeriu que o processo de democratização mundial gerou democracias de fachadas, ou "iliberais". O senhor acha que essa é uma tendência?
O diagnóstico de Zakaria é correto. Antes de 1975, a democracia se restringia aos países ricos e avançados do Ocidente, que também tinham uma longa história de liberalismo. Nos anos 1970 ocorre a chamada "terceira onde da democratização". Dezenas e dezenas de países que não tinham histórico de liberalismo, tradição de Estado de Direito e não eram economias avançadas começam a ter eleições e escolher seus próprios líderes. Não surpreende, portanto, que muitos fossem iliberais no início. A questão é como você desenvolve a democracia liberal. Para mim, o caminho passa por trabalhar junto com essas democracias iliberais, tentando fortalecer o Estado de Direito, a proteção dos direitos dos indivíduos, etc.
Zakaria chegou a sugeriu que, em vez de incentivar o nascimento de "democracias iliberais", era melhor criar as "autocracias liberais". Qual sua opinião?
Discordo de Zakaria. Se você analisar o mundo hoje, não existem autocracias liberais, no sentido de que os países que são autocráticos tampouco tendem a ser liberais e você não pode contar que seu direito seja respeitado nesses países.
É possível falar de um modelo de democracia iraniano ou russo, ou nesses países simplesmente não há democracia?
Segundo Plattner, maioria dos estudiosos afirmam que Rússia e Irã não são democracias
Esses países não são democracias e certamente não democracias liberais. Você pode jogar com as palavras e falar de "democracia gerenciada" ou "democracia soberana", como o governo Putin tem feito. Da mesma forma, na era soviética, falava-se de "democracia popular". Você pode usar e abusar da palavra sem chegar à verdade. A maioria dos estudiosos sobre a democracia concorda que nem o Irã nem a Rússia são democracias.
Então o senhor não acredita que haja fatores culturais, por exemplo? Podemos apontar para a história autoritária da Rússia, que explicaria o formato do sistema político do país.
Sim, há fatores históricos que dificultam a democratização dos países. Mas eles se tornam democráticos. Lembre-se que há alguns séculos não havia democracias e todos os países democráticos tiveram de superar obstáculos na sua história e tradição que eram avessos à democracia. Talvez isto seja mais difícil para umas culturas que para outras, mas nunca vi nenhuma que seja irremediavelmente incompatível com a democracia.
O senhor então é um otimista em relação ao processo de democratização do mundo? Ou a democracia liberal sempre será um ideal?
Sou otimista. Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia, especialmente entre 1985 e 1995. Depois as coisas começaram a desacelerar um pouco e, nos últimos três ou quatro anos, segundo a organização Freedom House (que monitora a democracia no mundo), é possível ver uma ligeira erosão na democracia liberal, ou das liberdades, como eles chamam. Hoje creio que estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia. Creio que nos próximos cinco ou dez anos não haverá grande mudança em qualquer direção. Mas em geral sou otimista em relação à democracia.
Especialista se diz chocado com reação de Lula a protestos e eleições iranianas
Em que estágio democrático o senhor avalia que o Brasil está? Ainda somos uma "democracia emergente"?
A palavra que os cientistas políticos usam para países que já fizeram a transição para a democracia é "consolidação", o que reflete a ideia de que esse país ainda passará um período sob o risco de regredir e de que leva tempo para a democracia fincar suas raízes e as pessoas se acostumarem a ela. E em algum momento há uma conclusão de que um país se tornou uma democracia, se consolidou. Não conheço muito o caso brasileiro, mas estou inclinado a pensar que o Brasil não é mais emergente, mas sim perto de se consolidar. Minha única preocupação não é com a política doméstica do Brasil e sim com a postura do Brasil em relação à democracia em outros lugares, que não acho que tem sido construtiva.
O senhor se refere (à demonstração de apoio do Brasil) ao Irã?
Sim. Fiquei chocado com o que o presidente Lula disse em relação aos protestos iranianos e as eleições iranianas. Porque no Irã as pessoas estão lutando pela democracia, da mesma forma que fizeram os brasileiros 25 anos antes, entre eles o presidente.
A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões", afirma Plattner, cofundador da revista acadêmica Journal of Democracy.
Editor de diversos livros sobre o tema, especializado em democracias emergentes, como a Índia e os países latino-americanos, Plattner ainda assim defende o modelo liberal de democracia porque, mais que o governo da maioria, representa a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade.
"Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia", afirma. "Hoje estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia."
A entrevista é parte da minissérie de sete reportagens sobre democracia que a BBC Brasil propõe neste ano de eleições. Através de entrevistas com especialistas, a série avaliará o estágio democrático de seis casos simbólicos: Brasil, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Índia, Rússia e Irã.
A seguir, leia trechos da conversa da BBC Brasil, na qual Plattner diz não acreditar em um "modelo russo ou iraniano" de democracia e avalia que o Brasil já deixou de ser "emergente" neste aspecto.
Qual sua definição de democracia?
No dicionário, democracia significa o governo do povo. No sentido atual, porém, significa democracia liberal, que não é apenas o governo da maioria, mas a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade. Esses dois aspectos têm de estar presente.
Existe algum modelo de democracia que se aproxime do ideal no mundo de hoje?
A melhor democracia não significa necessariamente a melhor sociedade. A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões. Quando se discute esse tema, os países nórdicos – Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia – tendem a sair na frente, porque eles têm menos corrupção e relativamente menos desigualdades econômicas que outros países. Mas não sei se isso quer dizer que sejam mais democráticos que outros, e sim que suas sociedades têm mais virtudes que outras.
O escritor americano Fareed Zakaria sugeriu que o processo de democratização mundial gerou democracias de fachadas, ou "iliberais". O senhor acha que essa é uma tendência?
O diagnóstico de Zakaria é correto. Antes de 1975, a democracia se restringia aos países ricos e avançados do Ocidente, que também tinham uma longa história de liberalismo. Nos anos 1970 ocorre a chamada "terceira onde da democratização". Dezenas e dezenas de países que não tinham histórico de liberalismo, tradição de Estado de Direito e não eram economias avançadas começam a ter eleições e escolher seus próprios líderes. Não surpreende, portanto, que muitos fossem iliberais no início. A questão é como você desenvolve a democracia liberal. Para mim, o caminho passa por trabalhar junto com essas democracias iliberais, tentando fortalecer o Estado de Direito, a proteção dos direitos dos indivíduos, etc.
Zakaria chegou a sugeriu que, em vez de incentivar o nascimento de "democracias iliberais", era melhor criar as "autocracias liberais". Qual sua opinião?
Discordo de Zakaria. Se você analisar o mundo hoje, não existem autocracias liberais, no sentido de que os países que são autocráticos tampouco tendem a ser liberais e você não pode contar que seu direito seja respeitado nesses países.
É possível falar de um modelo de democracia iraniano ou russo, ou nesses países simplesmente não há democracia?
Segundo Plattner, maioria dos estudiosos afirmam que Rússia e Irã não são democracias
Esses países não são democracias e certamente não democracias liberais. Você pode jogar com as palavras e falar de "democracia gerenciada" ou "democracia soberana", como o governo Putin tem feito. Da mesma forma, na era soviética, falava-se de "democracia popular". Você pode usar e abusar da palavra sem chegar à verdade. A maioria dos estudiosos sobre a democracia concorda que nem o Irã nem a Rússia são democracias.
Então o senhor não acredita que haja fatores culturais, por exemplo? Podemos apontar para a história autoritária da Rússia, que explicaria o formato do sistema político do país.
Sim, há fatores históricos que dificultam a democratização dos países. Mas eles se tornam democráticos. Lembre-se que há alguns séculos não havia democracias e todos os países democráticos tiveram de superar obstáculos na sua história e tradição que eram avessos à democracia. Talvez isto seja mais difícil para umas culturas que para outras, mas nunca vi nenhuma que seja irremediavelmente incompatível com a democracia.
O senhor então é um otimista em relação ao processo de democratização do mundo? Ou a democracia liberal sempre será um ideal?
Sou otimista. Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia, especialmente entre 1985 e 1995. Depois as coisas começaram a desacelerar um pouco e, nos últimos três ou quatro anos, segundo a organização Freedom House (que monitora a democracia no mundo), é possível ver uma ligeira erosão na democracia liberal, ou das liberdades, como eles chamam. Hoje creio que estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia. Creio que nos próximos cinco ou dez anos não haverá grande mudança em qualquer direção. Mas em geral sou otimista em relação à democracia.
Especialista se diz chocado com reação de Lula a protestos e eleições iranianas
Em que estágio democrático o senhor avalia que o Brasil está? Ainda somos uma "democracia emergente"?
A palavra que os cientistas políticos usam para países que já fizeram a transição para a democracia é "consolidação", o que reflete a ideia de que esse país ainda passará um período sob o risco de regredir e de que leva tempo para a democracia fincar suas raízes e as pessoas se acostumarem a ela. E em algum momento há uma conclusão de que um país se tornou uma democracia, se consolidou. Não conheço muito o caso brasileiro, mas estou inclinado a pensar que o Brasil não é mais emergente, mas sim perto de se consolidar. Minha única preocupação não é com a política doméstica do Brasil e sim com a postura do Brasil em relação à democracia em outros lugares, que não acho que tem sido construtiva.
O senhor se refere (à demonstração de apoio do Brasil) ao Irã?
Sim. Fiquei chocado com o que o presidente Lula disse em relação aos protestos iranianos e as eleições iranianas. Porque no Irã as pessoas estão lutando pela democracia, da mesma forma que fizeram os brasileiros 25 anos antes, entre eles o presidente.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant