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Mensagem
por Marino » Qua Set 16, 2009 5:11 pm
Os caças do Brasil
Por Cel Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 14 de setembro de 2009.
“A guerra não é mais para instalar outro modelo econômico: ela é o
modelo”. (Dario Azzelini)
- Esclarecimentos - Projeto F-X2
“O Comando da Aeronáutica informou aos fabricantes finalistas do
Projeto FX-2 (Boeing, Dassault e SAAB), nesta semana (8/9), que será
possível apresentar propostas de melhoria dos quesitos que fazem parte
do processo de seleção dos novos aviões de caça para a defesa do país.
Em nota divulgada nesta semana, o Ministério da Defesa informou que a
negociação com os três finalistas prossegue com a possibilidade de
aprofundamento e redefinição das propostas apresentadas”.
- Caças
“Não podemos comprar um avião caça sem possuir a tecnologia e é
justamente porque pensamos em produzir uma parte deste avião no
Brasil. Temos uma importante empresa que é capaz de fazê-lo”.
(Presidente Luiz Inácio Lula da Silva)
A corrida armamentista, como sempre, devido aos valores astronômicos
envolvidos, é carregada de escândalos, tramas de toda ordem,
declarações estapafúrdias por parte das autoridades e argumentos
inverossímeis dignos de um enredo de 007. Mas desta vez, achamos, que
as tratativas estão tomando o rumo certo.
A França resolveu rever o alto custo dos 36 caças Rafale, ponto mais
desfavorável aos franceses na disputa com os fornecedores suecos (da
Saab) e americanos (da Boeing), e, também, conceder ao Brasil
exclusividade nas vendas do jato na América Latina para que o acordo
seja firmado.
Os americanos reagiram, imediatamente, e informaram ao governo
brasileiro que a proposta de transferência de tecnologia só foi
aprovada pelo Congresso norte-americano no último dia 5 setembro.
"A Missão dos Estados Unidos no Brasil recebeu diversas indagações
sobre a situação da proposta da Boeing para a concorrência dos caças
FX-2. Entendemos que uma decisão final ainda não foi tomada em relação
ao vencedor do contrato. O F/A-18 Super Hornet é um caça de avançada
tecnologia testado em combate e acreditamos que é o melhor em
comparação com seus concorrentes. O governo dos EUA apóia totalmente a
venda do F/A-18 Super Hornet à Força Aérea Brasileira.
(...) Isso significa que a aprovação do Governo dos Estados Unidos
para transferir ao Brasil as tecnologias avançadas associadas ao F/
A-18 Super Hornet é definitiva. O governo aprovou também a montagem
final do Super Hornet no Brasil.”
- Submarinos nucleares
Segundo o assessor especial da Presidência para Assuntos
Internacionais, Marco Aurélio Garcia: "A questão essencial nessa
escolha (submarinos franceses) é a troca de tecnologia, que os outros
países não fizeram. Não vamos mais às compras, mas vamos co-produzir
os nossos armamentos. E isso tem importância para o atual quadro de
defesa da América do Sul".
“O Brasil está prestes a adquirir da empresa estatal francesa DCNS
(Direction des Constructions Navales Services) cinco submarinos
pagando dez vezes o valor que poderia desembolsar se tivesse aceitado
a proposta da empresa privada alemã HDW (Howaldtswerke-Deutsche
Werft)”.
(O GLOBO)
O jornal O Globo, não menciona que a proposta alemã era apenas para a
construção de dois submarinos convencionais (propulsão diesel-
elétrica) e que a Marinha alemã não pode transferir tecnologia de
construção de submarinos nucleares porque simplesmente não a possui.
A proposta francesa, por sua vez, inclui a construção, no Brasil, de
quatro submarinos convencionais, que, através de transferência de
tecnologia, capacitarão o País fabricar seus próprios submarinos com
propulsão nuclear.
A proposta inclui, também, a construção de um estaleiro para a
fabricação de submarinos e de uma nova base naval, para os submarinos
nucleares. A tecnologia nuclear do submarino será integralmente
nacional, desenvolvida pela Marinha do Brasil.
- Cel Gélio Fregapani
Mais uma vez me socorro da lucidez e do conhecimento estratégico
militar de meu caro amigo Coronel Gelio Fregapani sobre a análise
sobre a compra dos caças e submarinos nucleares pelo governo
brasileiro transcrevendo parte de se Comentário nº 50, de 13 de
setembro de 2009.
- Si Vis Pacem Bellum (Cel Gélio Fregapani)
“Se nosso objetivo é dissuadir, torna-se imperioso fazer com que o
preço de qualquer agressão seja mais caro do que o possível lucro.
Isto inclui a capacidade de causar danos na defesa e a capacidade de
retaliar. Dentro dessas premissas, concluímos:
1. A melhor forma de dissuadir uma agressão é poder responder
(retaliar) com um ataque nuclear. Quem tiver armas atômicas e meios de
lançá-las sobre o país do agressor, estará livre de ataques militares
e até mesmo de pressões insuportáveis. Submarinos nucleares sempre
terão sua importância, mas só serão eficiente arma de dissuasão se
dotados de mísseis com ogivas nucleares, capazes de atingir, das
proximidades da costa, centros vitais do país agressor. Aumentando as
tensões, teria que ‘viver’ no mar, incógnito, para evitar ser
destruído no porto.
2. Se tratando de aviões, os únicos que poderiam retaliar seriam os
Sukoy russos, pela autonomia. Para o combate, como plataformas de
tiro, melhores ou piores, todos cumprem satisfatoriamente suas
missões. O desempenho depende mesmo é do armamento e dos ‘avionics’.
Contra um inimigo infinitamente superior, independente do tipo da
aeronave, não teríamos chance de vitória ou de causar dano expressivo,
mas provavelmente os nossos seriam destruídos ainda em terra. Neste
caso a sobrevivência dependerá do sucesso em ocultar o local de
guarda, o que favoreceria a escolha de aviões de pouso e decolagem
vertical, mesmo em detrimento de outras características. Ainda assim,
quaisquer dos que comprarmos serão úteis para manter a
respeitabilidade entre e os vizinhos e, principalmente, para inibir (e
combater), firmas de segurança tipo Blackwaters e Halliburton
eventualmente contratadas pelas ONGs indigenistas para garantir a
independência das reservas.
3. Em terra, não há como se enfrentar, em campo raso, exércitos
infinitamente superiores, mas podemos desafiá-los com guerrilhas na
selva, nas cidades e nos sertões, desde que haja população brasileira
no local. Ainda que seja mínima a capacidade de retaliação – a não ser
sobre os aliados do país mais forte – a capacidade de causar dano, de
cobrar um preço caro demais pela agressão, dependerá de adequarmos o
armamento, o equipamento e os procedimentos para a nova realidade.
A mobilidade ainda crescerá de importância, mas não as blindagens;
motociclos e ‘boogies’ armados com mísseis devem substituir os
dispendiosos e vulneráveis carros de combate (tanques). De vital
importância serão os mísseis portáteis e as armas manejadas e
controladas a distância, as minas e o jogo de sensores. Entretanto a
chave da vitória será sempre a existência de uma população local,
armada e imbuída de decisão de defender a Pátria. Só isto que deixa
uma região inconquistável.
Isto evidencia o erro estratégico de interditar a fronteira aos não-
índios. Só poderemos reverter a bobagem que fizemos, permitindo
garimpos nas reservas”.
- Parceria com a França (Cel Gélio fregapani)
“Há lógica na definição da parceria militar com a França. Lógica,
comercial, mas principalmente política. A França e o Brasil se unem,
não contra os EUA, mas de alguma forma para fugir da sua influência.
Na época da bipolaridade, razões históricas e geográficas nos
colocaram como aliados menores (satélites) dos EUA, o que, se não foi
vantajoso pelo menos cumpriu a finalidade da segurança. Com a queda do
mundo comunista, todos ficaram na incomoda posição de subordinação à
hegemonia Norte-Americana, reconheçamos, bem mais suave do que as
anteriores, mas nela não mais havia motivo para contemporizar com seus
aliados e se ampliaram as desconfianças pré-existentes na medida em
que disputavam o controle dos recursos naturais. Mesmo antes da crise,
o futuro já apontava para uma tendência ao poder multipolar, cada
grupo com um líder e seus satélites.
Numa comparação doméstica, Colômbia e Peru aprofundam a sua ligação
com os EUA, aliás, de dependência. A Venezuela, o Equador e a Bolívia
voltam-se para a Rússia, em alianças também desequilibradas, enquanto
o Brasil tende a optar pela França, formando um bloco onde ambos os
parceiros tem a mesma importância.
A orgulhosa França secularmente procura não se submeter a hegemonias,
mas mesmo sendo um dos mais sofisticados tecnologicamente, não dispõe
de base física para, sem alianças, ser um dos pólos de poder mundial.
O Brasil, um país continental, com a Amazônia, mercado crescente, com
produção agrícola, biocombustíveis e agora com o pré-sal, sem falar
das maiores jazidas de urânio do planeta, torna-se para a França, o
parceiro ideal. Poderia também ser o parceiro ideal para outras
potências tecnológicas sem a base física, pois nenhum bloco pode ser
significativo sem os recursos naturais de um país-continente. Foi uma
questão de escolha.
Na parceria houve interesse estratégico. Para nós, a certeza da
transferência de tecnologia propiciará o avanço que almejamos e em
troca a França certamente visa, mais do que a mercados, ao acesso a
recursos naturais escassos no mundo, entre os quais, sou capaz de
apostar, o urânio. Vale lembrar que a França é uma potência nuclear.
Por que não podemos ser também?
Prosseguindo esta parceria como esperamos, será formado um novo centro
de poder a altura dos demais, mas onde os parceiros serão iguais e
complementares”.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco