Vinicius Pimenta escreveu:LeandroGCard escreveu:Bolovo escreveu:O que vocês estão falando de desenvolver caça nacional? Menos pessoal, menos. Escolher um caça de 4º geração, que comparado em desenvolver um é praticamente idiota, é difícil, estamos a mais de dez anos, imagina desenvolver alguma coisa... quando a Europa estiver voando X-Wing a gente vai estar aqui brincando de cacinha. :?
Bolovo,
Seu argumento pode ficar bem literariamente (caças, X-Wing, etc...), mas não tem conteúdo.
Você poderia por favor explicar porque acha que uma empresa como a Embraer, que é a terceira indústria aeronáutica mundial, projeta e constrói aviões dos mais diversos tipos há décadas, já participou do projeto e desenvolvimento de um jato de combate, projetou e construiu as famílias 135/145 e 170/190 (que já são aviões grandes e complexos) em tempo recorde por qualquer padrão mundial e está em pleno processo de integração de aviônica no estado-da-arte em dois modelos diferentes de aviões de combate, inclusive um supersônico, não poderia(com apoio de um fabricante já tradicional russo, francês, sueco, etc...) desenvolver um caça nacional pelo menos tão bom quanto um Gripen ou um M-2000?
Argumentos tipo "somos um país sub-desenvolvido" não valem, pois isto também teria impedido todas as realizações que citei acima. Também não vale dizer que seria muito caro, pois esta não é uma questão técnica e sim de decisão política.
O fato da simples escolha do F-X estar atrasada (muito) também não é argumento, a FAB e o Governo não são a Embraer. Se você disser que não acredita que a FAB ou o governo não tem condições de bancar uma decisão deste tipo, aí posso até concordar, mas isto é uma questão exclusivamente política, e não tem nada a ver com as capacidades do país.
Abraços,
Leandro G. Card
Leandro, nem Embraer, nem qualquer outra empresa brasileira, domina diversos aspectos de um caça de combate. Não dominamos tecnologia para a produção de aeronaves supersônicas. Não dominamos tecnologias de sistemas embarcados. Não dominamos tecnologia de turbinas. Não dominamos diversas tecnologias que são fundamentais para o desenvolvimento de uma aeronave "tão boa quanto Gripen ou M2000".
Desenvolver um Gripen ou um M2000 hoje não adianta. Já estamos falando de caças de quinta-geração. Já tem gente pensando na 6ª geração. A Índia com muito mais investimentos que nós está desenvolvendo um LCA. A China, um J-10. Boas aeronaves mas há anos luz de um EF-2000 ou Rafale. F-22, F-35 ou PAK, nem se fala. Se nações mais desenvolvidas tecnologicamente têm enorme dificuldade de desenvolver projetos do tipo (veja os atrasados e entraves de programas como Rafale e EF-2000), teríamos que fazer um razoável exercício ufanista para crer que conosco seria diferente.
Acho que a gente tem que parar de se preocupar tanto com a plataforma e mais com os sistemas embarcados. Esses darão maior autonomia do que ter uma carcaça de metal nacional recheada de componentes estrangeiros. Veja o exemplo de Israel. Nós devemos começar por aí.
Caro Vinicius,
Nem a Embraer nem nenhuma outra empresa no mundo produz todos os ítens necessários para a construção de qualquer avião, nem mesmo um de brinquedo. Todos os elementos que você citou são produzidos por outras empresas, e o que o fabricante de aeronaves faz é integrar todos estes ítens, e isto a Embraer sabe fazer extremamente bem!
Se você der uma olhada nos meus posts anteriores, verá que o que minha idéia é bem diferente do que você parece imaginar. O que eu vejo é que a própria concorrência do FX-2, a situação atual da FAB e a condição política do mundo e da AL em particular abrem uma janela de oportunidade ímpar que poderia ser muito bem aproveitada se o governo brasileiro através do MD decidisse realmente levar à frente as idéias que tem divulgado sobre alavancar a tecnologia nacional no campo militar. Vejamos os pontos um por um:
1) A evolução do quadro político na Venezuela, Bolívia, Equador e outros países da AL, devidamente divulgada pela grande imprensa, deixou claro para a sociedade brasileira que nosso país não pode mais se furtar a desenvolver suas capacidades militares, e que um preço em $$$ terá que ser pago por isso. Portanto, ao contrário do que acontecia há apenas uns poucos anos atrás, é perfeitamente possível ao governo hoje apresentar planos de investimento no setor militar que seriam aprovados pela sociedade, se mostrassem ser bem elaborados e capazes de melhorar as tristes condições de nossas FA's. Se estes planos incluíssem ganhos em outras esferas (industrial e/ou tecnológica por exemplo), sua aceitação seria ainda mais fácil.
2) A Embraer conseguiu atravessar a parte mais difícil da crise mundial da aviação pós 11/09, e está fortalecida em termos financeiros e de infra-estrutura técnica e industrial. Ao mesmo tempo, o maior projeto desenvolvido pela companhia, a família 170/190, está pronto, e os recursos de engenharia e desenvolvimento da companhia estão disponíveis para novos projetos. Estamos falando da Embraer, não de uma Índia que nunca desenvolveu um avião antes, ou de uma China que produz os nossos aviões sob licença (e os russos sem licença)!
3) Neste exato momento a Embraer está justamente efetuando o upgrade de dezenas de aviões da FAB, atualizando seus aviônicos com sistemas de projeto israelense montados no Brasil na AEL. Estes sistemas são tão avançados quanto quaisquer outros disponíveis no mundo, e sua integração em pelo menos 3 diferentes células de aviões de combate (A-29, A-1 e F-5) é plenamente dominada pela empresa. E estes aviões deverão operar por mais 12 ou 15 anos.
4) O governo acaba de anunciar a compra de novos caças para a FAB (a quantidade anunciada foi de 36). Segundo divulgado na grande imprensa, serão buscados os melhores vetores possíveis, e o custo unitário será um critério menos importante que a eficiência individual de cada aparelho. Isto significa que a tendencia é por aviões maiores e mais sofisticados, que contrabalançariam as aviões recentemente adquiridos por países vizinhos nossos na AL, mas dificilmente poderiam ser operados em grande quantidade pela FAB devido aos seus custos tanto de aquisição como de operação. Assim ficaria definido o quadro de um Hi-Lo mix para a FAB, como F-X2 como Hi e os F-5M e A-1M como Lo. Foi também divulgado que a transferência de tecnologia será um critério importante nas negociações para a aquisição destes aviões.
Quais as oportunidades que se abrem então?
1) A de se aproveitar a compra dos caças do programa F-X2 para costurar um acordo com as empresas do país vencedor, que poderiam fornecer ao Brasil exatamente o que falta para que a Embraer possa desenvolver o projeto de um caça nacional: O motor (que poderia ser produzido em nosso país, a exemplo do que faz a Índia) e o apoio de engenharia em aerodinâmica supersônica.
2) A necessidade da FAB em começar a imaginar substitutos para os F-5M e A-1M para daqui a 12 ou 15 anos, um prazo muito adequado para o desenvolvimento de um caça pequeno capaz de substituí-los. Também seria o prazo para a MB estar colocando em serviço o substituto do A-12, que poderia utilizar uma versão embracada do mesmo avião.
Só para completar o quadro, mais dois detalhes importantes:
a- Somando-se a substituição dos F-5M (45 aparenhos), mais a dos A-1M ( 53) e supondo-se umas 24 unidades para a MB, o número total de aviões seria de mais de 120 aparelhos (e não menos de 100), apenas para as necessidades de hoje das duas forças (supondo que a MB realmente deseje ter uma força aeronaval de asa fixa mínimamente útil).
b- Em 15 anos os únicos concorrentes internacionais na categoria de caças monomotores menores novos de fábrica seriam o F-35 (com todos os problemas políticos e de custos associados a ele), e o Gripen (que até lá seria um projeto com décadas de idade). Uma oportunidade de negócios bem interessante, exatamente do tipo que a Embraer gosta de aproveitar.
Somando tudo isso é que vejo como bons olhos o início do desenvolvimento de um caça nacional agora. É claro que não seria fácil, e mesmo que tudo desse certo o custo seria mesmo na faixa de 3 a 4 bilhões de dólares só para desenvolvimento, o valor de uns 70 caças mais avançados atuais.
Mas considerando os ganhos estratégicos (de se poder em caso de guerra produzir um caça razoável em qualquer quantidade que se deseje), tecnológicos/industriais e mesmo de prestígio para o país (a capacidade de desenvolver um projeto local é um fator até mais importante para a projeção internacional do que a simples posse de um maior número de aviões produzidos alhures), minha opinião é de que vale muito a pena pelo menos pensar com carinho sobre o assunto.
E não acho que devemos abandonar o desenvolvimento dos sistemas e armamentos possíveis em favor de um programa assim, muito pelo contrário, este programa serviria como um catalizador justamente para o desenvolvimento paralelo destes. Se os custos assustarem, lembrem-se de que estamos falando em prazos de 12 a 15 anos para diluir estes custos.
Lembrando também que a janela de oportunidade está aberta agora, e se não for aproveitada o que teremos é um período de 30 ou 40 anos até que surja uma outra.
Abraços à todos,
Leandro G. Card