PERGUNTA - O senhor visitou Fidel Castro há alguns dias. Como foi o encontro?
MORALES - Eu estava ansioso, desesperado por entrar. Os colaboradores dele me pediram para não abraçá-lo com força porque ainda está frágil. Quando conversamos e o ouvi falar de seus princípios de solidariedade, de seus preocupações com o ambiente e a energia, de suas críticas ao álcool e aos biocombustíveis, tive vontade de chorar, eu me emocionei. Eu lhe disse: "Comandante, o senhor não precisa convencer a Chávez, a mim e a outros líderes. Basta nos dar instruções". Na despedida, trocamos um forte abraço, ninguém impediu. Disse-me: "Evo, cuide de sua segurança, e não se separe do povo".
PERGUNTA - O senhor está distribuindo aos prefeitos de cidades bolivianas cheques em valores de milhares de dólares, assinados pela Embaixada da Venezuela. Isso é ingerência de Hugo Chávez nos assuntos bolivianos?
MORALES - Não. Chávez jamais tentou me influenciar. Uma afirmação como essa deriva da discriminação -insinuam que Evo é incapaz e por isso Chávez o ajuda a governar? Quanto aos cheques, todos os países o fazem por meio de ONGs. Os Estados Unidos vêm sem respeitar governadores, prefeitos ou o presidente e distribuem dinheiro. Mas, no caso da ajuda de Chávez, coordenamos com os prefeitos os projetos que lhes interessam e assim não existe malversação de fundos.
Diplomacia Bolivariana
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Não achei outro lugar melhor para transcrever parte de uma reportagem da Folha, então:
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Então já não é mais ingerência do Chavez. É gerência mesmo.
O que me preocupa são os próximos 5-10 anos. Teremos um Chavez fortalecido militarmente, interferindo politicamente em todos os vizinhos, discursando(ele e os vizinhos) contra um Brasil imperialista (guiado por elites da direita bla bla bla )enquanto apóia nossos pobres e oprimidos (=mst e afins), que estarão atuando ainda mais sem freios nessa nossa terra sem lei.
O que me preocupa são os próximos 5-10 anos. Teremos um Chavez fortalecido militarmente, interferindo politicamente em todos os vizinhos, discursando(ele e os vizinhos) contra um Brasil imperialista (guiado por elites da direita bla bla bla )enquanto apóia nossos pobres e oprimidos (=mst e afins), que estarão atuando ainda mais sem freios nessa nossa terra sem lei.
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Asfixia Energética
Tensão na América do Sul
ENTREVISTA / EVO MORALES
"Lula deveria pensar na Bolívia, não só no Brasil"
Boliviano desconfia das multinacionais e vê entendimento difícil com Petrobras
MERCEDES IBAIBARRIAGA
O presidente da Bolívia, Evo Morales, desconfia das multinacionais porque acha que elas não têm interesse em investir no país e considera que o "entendimento é difícil" com essas empresas, "especialmente a Petrobras". Avalia que as relações com o Brasil seriam mais difíceis se não fosse sua amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acha que Lula "deveria pensar também na Bolívia, e não só no Brasil". Foi o que disse em entrevista no Palácio Quemado, em La Paz, na última segunda-feira: "Os brasileiros, e Lula, precisam compreender que o gás natural pertence aos bolivianos e que nos cabia corrigir um mau negócio anterior".
Na entrevista, Morales avaliou seus 18 meses de governo com uma mistura de otimismo e preocupação. Os governadores da parte leste do país, mais próspera, se opõem ao seu projeto-símbolo: a declaração de um Estado plurinacional, com autonomia para os povos indígenas, como parte da nova Constituição, em elaboração pela Assembléia Constituinte -que acaba de adiar outra vez a entrega do projeto de Carta.
Alguns governadores apelaram às Forças Armadas e à resistência civil em defesa de outro modelo de autonomia, a provincial. Morales garante que as duas são compatíveis. Ele reconheceu que o país sofrerá escassez interna de gás natural e precisará importá-lo da Venezuela. Terminou com a garantia de que um dia a Bolívia se igualará à Suíça. Abaixo, trechos da entrevista.
PERGUNTA - O presidente Lula criticou sua agressividade verbal em relação à Petrobras e ao comércio de gás natural com seu país. As relações são tensas?
EVO MORALES - Não, sempre nos comunicamos. Bem... talvez Lula esteja chateado, mas não fui agressivo com ele, nem com a Petrobras e ainda menos com o Brasil. Se tivéssemos sido agressivos, isso significaria bloquear a saída de gás natural para o Brasil, e isso é algo que nunca faremos. Garantimos gás ao Brasil e cumpriremos os novos contratos.
Mas os brasileiros, e Lula, precisam compreender que o gás natural pertence ao Estado bolivianos e que nos cabia corrigir um mau negócio anterior. Lula deveria pensar também na Bolívia, e não só no Brasil. Não confiscamos os bens da Petrobras, o que significa que não fomos agressivos. Mas estamos procurando uma maneira de trabalhar juntos, na indústria petroquímica.
PERGUNTA - E em que ponto está o diálogo a esse respeito?
EVO MORALES - Veja, tenho muito respeito e admiração pelo presidente do Brasil. Lula intercede muitas vezes em nossa defesa, da Bolívia e da América Latina. Reconhecemos a liderança regional do Brasil.
Nas negociações com as empresas, especialmente a Petrobras, um entendimento é difícil, sinceramente. Se as negociações entre Bolívia e Petrobras avançam é porque as duas partes precisam disso. Quanto a esse tema, sempre serão importantes as decisões políticas de presidente a presidente, de governo a governo. Se não existisse a vantagem que nossa amizade com o presidente Lula representa, talvez houvesse um distanciamento bem maior no relacionamento com o Brasil. Mas queremos fortalecê-lo.
PERGUNTA - A estatal petroleira YFPB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos), responsável por implementar a nova política de energia, não está conseguindo decolar.
MORALES - O maior problema que temos é recuperar a YPFB. Não dispomos de especialistas bolivianos patriotas dispostos a trabalhar pelos salários que o governo paga. Apostei com muito carinho na política de austeridade, reduzi meu salário de 40 mil para 15 mil bolívares [cerca de US$ 1.800], e a nova lei dispõe que nenhum funcionário público ganhe mais do que o presidente. Mas os especialistas querem cobrar o mesmo que pagam as multinacionais, salários astronômicos, e isso não é possível.
PERGUNTA - Mas também existe um problema de investimento. O grupo hispano-argentino Repsol YPF e a brasileira Petrobras ainda não apresentaram seus planos de investimentos.
MORALES - Precisam fazê-lo, estamos esperando seus números. Espero que esse assunto se acelere porque elas têm o dever de apresentar seus planos de investimento, nos termos dos novos contratos. Eu acreditava que tivesse havido grande investimento sob os governos neoliberais anteriores e sob a lei de capitalização [que fez da estatal YPFB uma empresa de propriedade mista], mas não foi isso que aconteceu.
De 1996 para cá, quase não houve investimento em prospecção, e muito menos para elevar o volume de produção no mercado interno. As empresas petroleiras extraíam gás de áreas já prospectadas pela antiga estatal e descartaram qualquer esforço de descobrir novos campos, prospectar. Os investimentos da Petrobras e da Repsol foram muito baixos e só para exportar ao Brasil ou à Argentina, ou seja, para tirar o gás de nossas fronteiras. E, agora, por que não existe investimento? Que os neoliberais não o venham perguntar a mim.
PERGUNTA - O senhor confia nas multinacionais petroleiras?
MORALES - A verdade é que confio mais em estatais do que em empresas multinacionais privadas. Desconfio muito das multinacionais porque não vejo nelas vontade política nem interesse de investir muito. Nossa política agora é, primeiro, que a Bolívia vai investir recursos próprios para prospectar, extrair e comercializar o gás natural, sempre que possível. Nos casos em que isso não seja viável, nossa preferência é a associação com estatais.
A terceira opção são as multinacionais. Nós oferecemos garantias e segurança jurídica. No passado, as empresas firmaram contratos que o Congresso não ratificou; algumas deixaram de cumpri-los; não houve investimento; praticaram o contrabando. Por isso, que moral têm para falar de segurança jurídica? A segurança é a primeira coisa que vamos garantir na Bolívia, mas esperamos que as empresas retribuam.
PERGUNTA - Analistas acreditam que a Bolívia possa sofrer desabastecimento interno de gás.
MORALES - Estamos cientes e adotando medidas preventivas. Necessitamos, para os três meses de inverno, de pelo menos 3.600 toneladas de gás natural e já prevíamos adquiri-lo da Venezuela por precaução. Mas estou animado porque assinei um decreto de luta contra o contrabando de gás, indiquei um novo presidente para a Alfândega e já não temos gente na fila para comprar um botijão.
PERGUNTA - A Bolívia tem capacidade de suprir a demanda argentina e a brasileira?
MORALES - Sim. No momento, exportamos à Argentina cerca de 5,7 milhões de metros cúbicos ao dia [o contrato entre a YPFB e a Enasa prevê que as exportações diárias sejam de no mínimo 4,6 milhões e no máximo 7,7 milhões de metros cúbicos de gás natural ao dia] e estamos cumprindo perfeitamente o contrato. No caso do Brasil, nosso volume diário de exportação é de 25 milhões de metros cúbicos ao dia e nos pediram que o elevássemos a 27 milhões. Sempre declaramos que atender à demanda máxima [30 milhões de metros cúbicos ao dia] era difícil. Mas um aumento na cota é possível.
PERGUNTA - A ONU denunciou um aumento "dramático" (de cerca de 8%) no cultivo de coca. Já aos EUA, sua política de "revalorização" da folha de coca causa "inquietação".
MORALES - Dois mil hectares a mais de coca são um aumento dramático? Querem que na Bolívia haja forças paramilitares, fumigações, violações dos direitos humanos? Não consigo ver por que a ONU e os Estados Unidos não compreendem que, do ponto de vista de luta coordenada contra o narcotráfico, o melhor exemplo do mundo é a Bolívia. Estamos instaurando o controle social, a redução voluntária coordenada com o Exército, a limitação do cultivo de coca por família; não existe erradicação forçada nem violação dos direitos humanos. Desenvolvemos um novo modelo de luta contra o narcotráfico.
PERGUNTA - Por que o senhor mantém seu posto como presidente das federações de produtores de coca do Chapare? Não seria incompatível com o cargo de chefe de Estado?
MORALES - O panorama mudou na Bolívia. Quando a origem de alguém são as lutas sociais, é possível ser presidente e dirigente sindical. Em outras épocas, isso não teria acontecido.
PERGUNTA - O senhor visitou Fidel Castro há alguns dias. Como foi o encontro?
MORALES - Eu estava ansioso, desesperado por entrar. Os colaboradores dele me pediram para não abraçá-lo com força porque ainda está frágil. Quando conversamos e o ouvi falar de seus princípios de solidariedade, de seus preocupações com o ambiente e a energia, de suas críticas ao álcool e aos biocombustíveis, tive vontade de chorar, eu me emocionei. Eu lhe disse: "Comandante, o senhor não precisa convencer a Chávez, a mim e a outros líderes. Basta nos dar instruções". Na despedida, trocamos um forte abraço, ninguém impediu. Disse-me: "Evo, cuide de sua segurança, e não se separe do povo".
PERGUNTA - O senhor está distribuindo aos prefeitos de cidades bolivianas cheques em valores de milhares de dólares, assinados pela Embaixada da Venezuela. Isso é ingerência de Hugo Chávez nos assuntos bolivianos?
MORALES - Não. Chávez jamais tentou me influenciar. Uma afirmação como essa deriva da discriminação -insinuam que Evo é incapaz e por isso Chávez o ajuda a governar? Quanto aos cheques, todos os países o fazem por meio de ONGs. Os Estados Unidos vêm sem respeitar governadores, prefeitos ou o presidente e distribuem dinheiro. Mas, no caso da ajuda de Chávez, coordenamos com os prefeitos os projetos que lhes interessam e assim não existe malversação de fundos.
PERGUNTA - A Bolívia vai se aproximar do socialismo do século 21 de que fala Chávez?
MORALES - Cada país tem suas particularidades. Na Bolívia, os povos indígenas são socialistas por princípio e natureza. Em certas comunidades não existe propriedade privada. Socialismo é viver com certa igualdade. Que alguns não morram de fome enquanto outros enriquecem roubando as riquezas do Estado. Existem algumas famílias na Bolívia que só querem esta terra para saqueá-la, este povo para explorá-lo e este Estado para espoliá-lo. O que me interessa é que exista paz com justiça social. Se em Cuba dão a isso o nome de comunismo, bom; se na Venezuela é socialismo, bom. Eu usaria o termo humanismo.
PERGUNTA - Mas como socialismo é entendido na Bolívia?
MORALES - No sentido de uma forma de reparar as desigualdades geradas por 500 anos de colonialismo. Aqui, apostamos em pôr fim à exclusão e à pobreza. O capitalismo é o pior inimigo do ser humano.
PERGUNTA - O senhor tem ambições de permanecer no poder para garantir sua revolução?
MORALES - Pretendo me aposentar na hora certa. Assim, não serei repudiado como outros presidentes. Mas isso não depende de mim. A reeleição depende do povo.
PERGUNTA - Mas o senhor pretende garantir sua reeleição e adotar um sistema de Câmara única para o Legislativo, na nova Constituição?
MORALES - A Câmara Alta e a Câmara Baixa nos levam ao atraso e ao conflito. Na Câmara dos Deputados [onde o governo tem maioria], as iniciativas são aprovadas, mas, no Senado [onde o MAS, de Morales, é minoritário], elas são bloqueadas, o que prejudica o país. O sistema unicameral está em debate. E a reeleição do presidente é uma proposta das forças sociais. Não só a ratificação mas também a revogação de mandato.
PERGUNTA - Que temas não admitem recuo, na nova Constituição?
MORALES - Medidas que proíbam firmemente a privatização dos recursos naturais, garantam a luta contra a corrupção, assegurem o fim da discriminação. Também é preciso garantir a autonomia dos povos indígenas e dos departamentos e declarar o Estado plurinacional e comunitário.
PERGUNTA - O termo plurinacional não gera divisões?
MORALES - Pelo contrário. O novo Estado plurinacional inclui todos. Essa é a melhor forma de nos integrarmos. O termo plurinacional reconhece todas as nações da Bolívia e não significa autogoverno para cada comunidade, ayllu ou tenta [organizações indígenas pré-coloniais]
Eu questiono o primeiro artigo da Constituição, que fala em Estado multiétnico. Que é isso, etnia? Somos nações. Dizer a um quechua que ele representa uma etnia seria derrogatório. No passado, imigrantes da Croácia, da Alemanha, instalaram-se na parte oeste do país. Não são etnias, são nações. E agora parte da Bolívia.
PERGUNTA - Os quatro departamentos da "meia-lua", no leste do país, declararam guerra à autonomia dos povos indígenas.
MORALES - Não faz sentido porque vemos duas classes de autonomia, e são complementares. Uma é a autonomia ou autodeterminação defendida há séculos pelos movimentos indígenas, que pedem o reconhecimento de seu modo de vida e de seus direitos como povos. E, há cem anos, surgiu a demanda pela autonomia departamental. O governo garante as duas agendas. Vamos conceder certos poderes autônomos aos departamentos, mas estes não podem tratar como escravos os povos indígenas que lá vivem. O que noto é que algumas famílias do leste afirmam conduzir a autonomia como reivindicação regional, mas por trás dessa demanda existe discriminação e racismo. Se as autonomias departamentais não estiverem orientadas à divisão, separação e independência, estão garantidas desde já.
Mas algumas pessoas querem trasladar o centralismo nacional ao nível dos departamentos. É essa a desconfiança que sentem os irmãos indígenas. Com a criação de duas autonomias, departamentais e indígenas, temos de pôr fim a essa divisão entre os collas [os indígenas do oeste do país] e os cambas [bolivianos do leste].
PERGUNTA - A Assembléia Constituinte é um foco de divisão?
MORALES - Não. Muita gente diz que a Bolívia é inviável. Falso. A Bolívia é viável, não está ancorada ao subdesenvolvimento. Contamos com bases para a esperança, graças aos nossos recursos naturais. Se continuarmos avançando como agora, dentro de 15 anos poderemos ser iguais à Suíça.
- Marino
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Notas e informações
O ultimato do coronel Chávez
O coronel Hugo Chávez é um tipo extrovertido, dado a rompantes. Mas engana-se quem pensa que ele é dominado pelo temperamento. Ele estuda cuidadosamente a situação, avalia as possíveis reações de aliados e adversários - e só então age. O ultimato que deu aos Congressos do Brasil e do Paraguai, na terça-feira, não foi fruto de impulso de momento. Ao anunciar que, se os dois Parlamentos não aprovarem até setembro o protocolo de ingresso da Venezuela no Mercosul - Argentina e Uruguai já o fizeram -, ele se retira do bloco, Hugo Chávez completou uma manobra iniciada cerca de 15 dias antes.
Os insultos que havia dirigido ao Senado brasileiro - o “papagaio” dos Estados Unidos -, em resposta a uma moção que pedia a reconsideração do cancelamento da licença de funcionamento da RCTV, provocaram a enérgica reação dos parlamentares e empresários brasileiros. A truculência do caudilho como que lhes abriu os olhos para as previsíveis conseqüências do ingresso definitivo da Venezuela bolivariana no Mercosul. O “socialismo”, o anticapitalismo e o antiamericanismo de Chávez seriam um peso insuportável para o Brasil e o Mercosul, que precisam disputar mercados num mundo capitalista.
Chávez percebeu a mudança. Afirmou, então, que desejava entrar num “novo Mercosul” e que, se os outros sócios não tivessem vontade de mudar, ele não estava interessado no “velho Mercosul”. No sábado passado, ao desembarcar em Teerã, reiterou as críticas ao “velho Mercosul”, que classificou de “mecanismo marcado pelo capitalismo e pela competição feroz”. E afirmou que, se a “direita brasileira” não queria o ingresso da Venezuela no Mercosul, não haveria problema - ele poderia até retirar o pedido de ingresso.
Na véspera, na cúpula do Mercosul em Assunção, o chanceler Celso Amorim havia sugerido que o presidente da Venezuela fizesse um “gesto positivo” - “ninguém quer a autoflagelação da Venezuela” -, em relação ao Senado brasileiro, para facilitar a aprovação do acordo de adesão. Chávez usou essas declarações para elevar o tom do confronto. “Se o Brasil insistir em que a Venezuela tem de se desculpar, não entraremos no Mercosul.” E declarou-se credor de desculpas do Senado brasileiro.
Houve época em que o coronel respeitava o Brasil e seus governantes. Era visível, por exemplo, o respeito reverencial que tinha pelo presidente Fernando Henrique, que mais de uma vez teve de colocar Chávez na linha. Mas com o presidente Lula o relacionamento mudou. Julgando que tinha encontrado um aliado, com identidade de propósitos e idéias, Lula cedeu a praticamente todas as exigências de Chávez - e o que ganhou foi um tratamento que revela familiaridade, mas não necessariamente respeito.
O caudilho venezuelano acha que pode fazer o que quiser, que sempre será atendido. Ele sabia à exaustão quais eram os defeitos e as qualidades do Mercosul, quando seduziu o presidente Néstor Kirchner para que apadrinhasse o seu pedido de ingresso no bloco, feito às pressas. Ele também sabia que, o pedido sendo aceito, a Venezuela teria um prazo para adaptar sua estrutura legal e tarifária às condições da união aduaneira. Este mês, aliás, deveria apresentar sua proposta de abertura da economia venezuelana aos sócios do Mercosul. Nada justifica que, agora, venha falar em “paradigmas do capitalismo selvagem” ou se fazer de vítima - “se nos pedirem que nos suicidemos e abramos nossa economia, não vamos fazê-lo”.
O fato é que Hugo Chávez quis entrar no Mercosul, há exatamente um ano, porque precisava de um palanque onde pudesse, sem encontrar maiores resistências, fazer o seu monótono comício contra Washington, a União Européia e o capitalismo. E foi isso o que fez, nas primeiras reuniões de que participou. Mas agora já não está tão interessado nessa platéia. Tem a atenção cativa da Bolívia, da Nicarágua e de Cuba, na Alba. Tornou-se um cliente sempre recebido - pelo volume de armas que compra - de Moscou. Encontrou no ditador da Belarus - contumaz violador de direitos humanos e no poder há mais tempo do que Chávez - uma alma gêmea, parceiro ideal para a “aliança estratégica” contra os Estados Unidos. E tornou-se freqüentador habitual dos palácios de Teerã, onde articula com Mahmud Ahmadinejad acordos de cooperação e planos de resistência contra o demônio ianque. Com parceiros assim, é melhor, mesmo, que Chávez não queira associar-se ao Mercosul.
Os verdadeiros motivos:
Adesão ao bloco é desastre, diz industrial venezuelano
Mas razão de Chávez para se afastar do Mercosul é política, afirma líder do setor
Ismael Vigil, presidente da Confederação Venezuelana de Industriais, diz que seu país não é competitivo com o Brasil em nenhum setor
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MÉRIDA (VENEZUELA)
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, age corretamente ao se distanciar do Mercosul, mas a sua motivação é sobretudo política, na opinião de Ismael Pérez Vigil, presidente-executivo da Confederação Venezuelana de Industriais. Opositora da entrada da Venezuela ao Mercosul, a Conindustria representa cerca de 90% da produção manufatureira do país. Leia, a seguir, a entrevista de Peréz Vigil à Folha, por telefone.
FOLHA - A Conindustria concorda com o distanciamento de Chávez em relação ao Mercosul?
ISMAEL PÉREZ VIGIL - Nossa posição tem sido contrária à saída da Comunidade Andina de Nações (CAN) e à entrada no Mercosul. A razão, hoje utilizada pelo presidente Chávez, é o tema da assimetria. Consideramos que as economias são demasiado assimétricas entre a Venezuela e os demais países do Mercosul, sobretudo o Brasil. Praticamente nenhum setor venezuelano é competitivo com o equivalente brasileiro. O ingresso sempre nos pareceu uma loucura, um desastre. Por outro lado, a CAN tem mecanismos mais transparentes do que o Mercosul, que deixa muito sob o critério dos governos durante as reuniões presidenciais. Há instrumentos, como o Tribunal Andino, aos quais se pode recorrer. O Pacto Andino oferece muito mais segurança jurídica.
FOLHA - Esse afastamento é por ceder à pressão do setor industrial ou está mais ligado à polêmica com o Senado por causa da RCTV?
PÉREZ - Assim como a decisão inicial foi política, consideramos que essa decisão também tenha sido política, sem relações com os motivos econômicos com os quais temos argumentado. Não creio que o governo tenha feito isso por levar em consideração o ponto de vista dos empresários que representamos. Agora, o resultado prático nos parece conveniente para a indústria venezuelana. É bem-vindo.
FOLHA - O comércio com o Brasil tem crescido muito rápido sob Chávez, a ponto de se tornar o segundo parceiro comercial da Venezuela, superando a Colômbia. É uma mudança política? Essa invasão tem provocado dano à indústria local?
PÉREZ - Sem dúvida. Uma boa parte da penetração de produtos brasileiros se deve a decisões do Estado venezuelano, como a contratação de empresas brasileiras para construir certas obras, a importação de alimentos pelo governo.
Não é a mesma facilidade que temos para entrar no Brasil, porque não somos tão competitivos, mas também porque o governo brasileiro cria barreiras muito difíceis de romper. É totalmente assimétrico. Com a Colômbia, a relação era mais ou menos equilibrada.
- Marino
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ELIANE CANTANHÊDE
Tudo que seu mestre mandar
BRASÍLIA - Chávez deu um ultimato: se o Congresso brasileiro não aprovar a adesão da Venezuela ao Mercosul até setembro, ele cai fora. O que o Congresso fez? Engoliu em seco e já articulou a aprovação.
Questão delicada. O peso da Venezuela nas exportações brasileiras e no PIB do Mercosul é significativo. No ano passado, as empresas daqui venderam US$ 3,6 bi para os venezuelanos, na grande maioria em produtos industrializados, com um superávit de US$ 3 bi. E o PIB do Mercosul, com a Venezuela, pula para US$ 1 trilhão -passando de 54% para 76% da economia da América Latina e mudando o status do bloco num mundo altamente globalizado e competitivo.
Em compensação... a adesão da Venezuela é também a adesão de Chávez, com sua megalomania, sua verborragia, seus ataques aos EUA, suas provocações ao Brasil e sua corrida armamentista de deixar meio mundo de cabelo em pé. Há que equilibrar bônus econômico com ônus político. Um equilíbrio difícil, cheio de interrogações.
Com o presidente do Senado sob suspeição e o Congresso em frangalhos, quem vai decidir é o Executivo, e a melhor aposta é que a inclusão da Venezuela e de Chávez seja enfim aprovada. Depois, Lula, Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim que se virem para tourear o novo e imprevisível parceiro.
O Paraguai vai aprovar, e o Brasil não tem saída. Enterrou a Alca, é pivô do impasse na OMC e não fez -nem deixou os parceiros do Cone Sul fazerem- acordos bilaterais com os EUA. Restam duas alternativas para driblar uma derrota acachapante: levar a sério as negociações com a União Européia e reforçar o Mercosul, principalmente com a Venezuela. Ruim com Chávez, pior ainda sem ele. Melhor dizendo, sem a Venezuela. Desculpe o lugar comum, mas é o típico caso de "se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come". Chávez grunhe grosso. E o Brasil afina.
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Marino escreveu:ELIANE CANTANHÊDE
Tudo que seu mestre mandar
BRASÍLIA - Chávez deu um ultimato: se o Congresso brasileiro não aprovar a adesão da Venezuela ao Mercosul até setembro, ele cai fora. O que o Congresso fez? Engoliu em seco e já articulou a aprovação.
Questão delicada. O peso da Venezuela nas exportações brasileiras e no PIB do Mercosul é significativo. No ano passado, as empresas daqui venderam US$ 3,6 bi para os venezuelanos, na grande maioria em produtos industrializados, com um superávit de US$ 3 bi. E o PIB do Mercosul, com a Venezuela, pula para US$ 1 trilhão -passando de 54% para 76% da economia da América Latina e mudando o status do bloco num mundo altamente globalizado e competitivo.
Em compensação... a adesão da Venezuela é também a adesão de Chávez, com sua megalomania, sua verborragia, seus ataques aos EUA, suas provocações ao Brasil e sua corrida armamentista de deixar meio mundo de cabelo em pé. Há que equilibrar bônus econômico com ônus político. Um equilíbrio difícil, cheio de interrogações.
Com o presidente do Senado sob suspeição e o Congresso em frangalhos, quem vai decidir é o Executivo, e a melhor aposta é que a inclusão da Venezuela e de Chávez seja enfim aprovada. Depois, Lula, Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim que se virem para tourear o novo e imprevisível parceiro.
O Paraguai vai aprovar, e o Brasil não tem saída. Enterrou a Alca, é pivô do impasse na OMC e não fez -nem deixou os parceiros do Cone Sul fazerem- acordos bilaterais com os EUA. Restam duas alternativas para driblar uma derrota acachapante: levar a sério as negociações com a União Européia e reforçar o Mercosul, principalmente com a Venezuela. Ruim com Chávez, pior ainda sem ele. Melhor dizendo, sem a Venezuela. Desculpe o lugar comum, mas é o típico caso de "se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come". Chávez grunhe grosso. E o Brasil afina.
Assisti alguns debates na TV senado. Penso que a autora do artigo acima está totalmente errada. Nem que todas vacas da Venezuela, que já são poucas atualmente, tussam juntas o senado não aprovará o ingresso da Venezuela no Mercosul até setembro.
saudações
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Vinicius Pimenta escreveu:Ninguém vai deixar de comercializar com a Venezuela. Mas também não precisamos abrir as pernas pro megalomaníaco. Não à entrada do Chávez no Mercosul. Minha opinião.
ahh mas os caras tb tão demorando 8 meses pra pagar, ai não da pra fazer comex não POWSS.
só importar ehaeae
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Aí, povo, os americanos estão achando é que vai sobrar é p/os holandeses...
http://www.strategypage.com/on_point/20076601449.aspx
A Second Falklands?
by Austin Bay
June 6, 2007
When Argentina invaded the Falklands Islands in April 1982 and ignited the Falklands War with Great Britain, many commentators saw the conflict as something of a quaint historical anomaly, a "throwback" campaign reminiscent of 19th century "petty scrapes" imperial Britain engaged in when the sun never set on its globe-circling empire.
The war ended on June 14, 1982, making this month the 25th anniversary of its conclusion.
Unfortunately, lingering historical land claims continue to figure in the calculations of contemporary despots.
The Falklands War serves as a historical sketch of a dangerous gambit.
Scarred by its own dirty war of death squads and terrorists, and nagged by a sclerotic economy, the Argentine military dictatorship led by Gen. Leopoldo Galtieri decided a war with Great Britain would shift domestic attention from its failures and malfeasance. With the battle cry, "Las Malvinas son Argentinas" (the Falklands are Argentine, Malvinas being the Argentine name for the islands), the junta launched an "anti-imperialist" international confrontation. In the context of the Cold War, the anti-Western, anti-imperialism pitch resonated with the Russians' network of friendly propagandists.
Britain countered the Argentine invasion with a remarkable naval and amphibious task force that sailed some 8,000 miles to the war zone. The Royal Navy faced sustained and deadly air attacks, as Argentine aircraft struck with bombs and anti-ship missiles. A British brigade finally landed and defeated the Argentine occupiers. It was no Gilbert and Sullivan affair or splendid little war: 255 British and 649 Argentine servicemen died in battle.
Argentina's Falklands-Malvinas quest isn't quite over. In 2006, it began a new diplomatic drive to gain control of the islands. Argentina still bases its claim to the islands on geographic proximity and historical ties, but this time it has enlisted the support of Cuba's Fidel Castro and Venezuela's Hugo Chavez. Argentina emphasizes that its current efforts to "reclaim" the islands are political, not military.
Not so for Chavez. Never one to shy from inflammatory rhetoric and violent risks, Chavez has added land claims to his list of grievances with neighboring states -- and he rattles sabers.
Though domestic rancor is increasing in Venezuela -- a vague echo of Argentina in 1982 -- an expansionary ideology and explosive ego propel Chavez. He styles himself as the new Simon Bolivar, who will reunite the South American continent while cowing the United States and other imperialists. He also bills himself as the 21st century's Fidel Castro.
Chavez is buying a modern air force and expanding his navy. Venezuela may purchase up to nine Russian submarines.
Why? Chavez says he needs the hardware to defeat a U.S. invasion. The military might also gives Venezuela the ability to enforce land claims against Colombia, Guyana, and Holland -- yes, the Kingdom of the Netherlands, still sovereign on the Caribbean islands of Aruba, Curacao and Bonaire, located just off the Venezuelan mainland.
Chavez isn't stupid -- he knows Argentina lost its Falklands gamble. But he also knows that Britain's Falkland victory was more of a "near thing" than many think. Argentine combat aircraft could just reach the Falklands, while Venezuelan fighters could easily strike the Antilles.
With the Falklands in mind, Holland has garrisoned the islands with a small naval force and an infantry battalion supported by a half-dozen F-16 fighter jets and helicopters.
In a March 8, 2007, article, StrategyPage.com concluded geography, oil power and military hardware give Venezuela a huge tactical and operational advantage over the Dutch. Venezuela could take the islands, and the Dutch "lack the ability to retake the islands on their own."
The smart bet is that a Falklands redux is not in the cards. Chavez will shadow box because it pays in cash. His bombastic threats spike oil prices, which benefits his regime.
But the Falklands War demonstrates that when dealing with caudillos, the military "what if" must never be dismissed.
What happens if Chavez calculates that a Bolivar-like "liberation" of the islands from the prison of European colonial oppression would galvanize support for him throughout Latin America?
Outlandish, grandiose and delusional? Twenty-five years ago, Argentina's dictatorship concluded the risks of outlandish action were worth the grand rewards.
http://www.strategypage.com/on_point/20076601449.aspx
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Segunda Malvinas foi boa.
Fotos do Dia da Independência Venezuelana.
Se mostrarem essa última foto para o democrata americano Al Gore, ele invade a Venezuela, com certeza.
Fotos do Dia da Independência Venezuelana.
Venezuelan soldiers of Army's Reserve participates in an Independence Day military parade in Fort Tiuna in Caracas, Venezuela, Thursday, July 05, 2007
Venezuelan Army Reserve soldiers participate in an Independence Day military parade in Fort Tiuna in Caracas, Venezuela, Thursday, July 05, 2007
Venezuelan soldiers carrying Russian made AK-103 assault rifles march during a Venezuela's independence day military parade in Fort Tiuna in Caracas, Venezuela, Thursday, July 05, 2007
A military jeep pulls a parachute during an Independence Day military parade in Caracas, Venezuela, Thursday, July 05, 2007
Tanks participate in an Independence Day military parade in Fort Tiuna in Caracas, Venezuela, Thursday, July 05, 2007.
Se mostrarem essa última foto para o democrata americano Al Gore, ele invade a Venezuela, com certeza.
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Marino escreveu:ELIANE CANTANHÊDE
Tudo que seu mestre mandar
BRASÍLIA - Chávez deu um ultimato: se o Congresso brasileiro não aprovar a adesão da Venezuela ao Mercosul até setembro, ele cai fora. O que o Congresso fez? Engoliu em seco e já articulou a aprovação.
Questão delicada. O peso da Venezuela nas exportações brasileiras e no PIB do Mercosul é significativo. No ano passado, as empresas daqui venderam US$ 3,6 bi para os venezuelanos, na grande maioria em produtos industrializados, com um superávit de US$ 3 bi. E o PIB do Mercosul, com a Venezuela, pula para US$ 1 trilhão -passando de 54% para 76% da economia da América Latina e mudando o status do bloco num mundo altamente globalizado e competitivo.
Em compensação... a adesão da Venezuela é também a adesão de Chávez, com sua megalomania, sua verborragia, seus ataques aos EUA, suas provocações ao Brasil e sua corrida armamentista de deixar meio mundo de cabelo em pé. Há que equilibrar bônus econômico com ônus político. Um equilíbrio difícil, cheio de interrogações.
Com o presidente do Senado sob suspeição e o Congresso em frangalhos, quem vai decidir é o Executivo, e a melhor aposta é que a inclusão da Venezuela e de Chávez seja enfim aprovada. Depois, Lula, Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim que se virem para tourear o novo e imprevisível parceiro.
O Paraguai vai aprovar, e o Brasil não tem saída. Enterrou a Alca, é pivô do impasse na OMC e não fez -nem deixou os parceiros do Cone Sul fazerem- acordos bilaterais com os EUA. Restam duas alternativas para driblar uma derrota acachapante: levar a sério as negociações com a União Européia e reforçar o Mercosul, principalmente com a Venezuela. Ruim com Chávez, pior ainda sem ele. Melhor dizendo, sem a Venezuela. Desculpe o lugar comum, mas é o típico caso de "se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come". Chávez grunhe grosso. E o Brasil afina.
Tem coisa errada nesse texto. A autora dá a entender que nós não levamos a sério as negociações dos acordos comerciais. Depois comete outro erro ao dizer que só com a Venezuela o PIB do Mercosul seria de US$ 1 trilhão. Ora, sabe-se que o PIB do Brasil sozinho passa desse valor.
Eu me pergunto se isso é ignorância ou má-fé.