Preferência de Lula por caça francês contraria a FAB
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Ao anunciar, na segunda (8), a abertura de negociações para a aquisição de 36 caças da França, Lula ignorou avaliação técnica feita pela FAB.
Reforçadas por declarações do chanceler Celso Amorim, as palavras de Lula deram à opção pelo equipamento da França ares de fato consumado.
Nesta terça (8), decorridas escassas 24 horas, o governo viu-se compelido a dar meia-volta retórica.
Em nota, veiculada na noite passada, o ministro Nelson Jobim (Defesa) escreveu que o processo de seleção do avião a ser adquirido ainda não foi “encerrado”.
Anotou que o comando da Aeronáutica “prosseguirá com negociações junto aos três participantes” da seleção, que podem redefinir “as propostas apresentadas”.
O blog conversou com um oficial envolvido na análise das propostas para a aquisição dos caças. Falou sob o compromisso do aninimato. Informou o seguinte:
1. São três as empresas que formularam propostas: a francesa Dassault (caça Rafale), a americana Boeing (F-18) e a sueca Saab (avião Gripen).
2. A frota de aviões franceses, Rafale, custaria ao Brasil algo como US$ 4 bilhões. A cifra excede em cerca de 40% o orçamento dos concorrentes.
3. A FAB preparou um relatório no qual analisa tecnicamente as três aeronaves. Além do pessoal próprio, consultou técnicos de quatro empresas. Entre elas a Embraer.
4. Foram sopesados os mais variados aspectos. Por exemplo: a incorporação de armamentos aos caças e o custos da hora de vôo.
5. Concluiu-se o seguine: do ponto de vista etritamente técnico, o caça que melhor atende os interesses da FAB é o sueco Gripen. Em segundo lugar, o americano F-18. Em último, o fancês Rafale.
6. Ao indicar a preferência pelo equipamento francês antes da conclusão do processo seletivo, Lula sujeita o governo brasileiro a ações judiciais.
7. De acordo com o oficial ouvido pelo repórter, as empresas preteridas realizaram despesas nas negociações com o Brasil.
Podem se animar a questionar na Justiça a opção pela concorrente francesa. Uma opção mais política do que técnico-financeira.
8. Em sua declaração, feita ao lado do presidente francês Nicolas Sarkozi, Lula dissera que, mais do que os aviões, interessa ao Brasil a transferência de teccnologia.
9. Amorim, mais específico, ecoou o chefe: “Houve uma decisão, com base em todos os aspectos outros além do financeiro”.
O chanceler mencionou, além da disposição da França de transferir tecnologia ao Brasil, a promessa de Sarkozi de comprar dez aviões da Embraer.
Referia-se a aeronaves do tipo KC-390, um carqueiro militar que, por ora, encontra-se em fase de projeto na Embraer.
10. A despeito da contrariedade de parte da oficalidade da FAB e da negativa protocolar de Jobim, o Brasil pende mesmo para a França.
11. Antes de deixar o Brasil, na própria terça (8), Sarkozi assinou uma carta-compromisso. O conteúdo é, por ora, desconhecido.
12. Sabe-se apenas que, no texto, o presidente francês comprometeu-se a negociar pontos que o Brasil considera essenciais.
13. Entre esses pontos o governo brasileiro espera que seja incluída, além da transferência tecnológica e da compra na Embraer:
A garantia de exclusidade do Brasil em relação ao Rafale na América Latina e o oferecimento de condições vantajosas de crédito.
14. Espera-se, de resto, que a Dassault, fabricante do Rafale, reduza o valor de sua proposta, aproximando-a dos concorrentes.
15. Fechado o pacote, restarão as dúvidas de natureza técnica. Algo para Lula decidir. Politicamente. Uma decisão que levará em conta, como disse Amorim, "aspectos outros" além do financeiro.
- PS.: Vai abaixo a íntegra da nota divulgada por Nelson Jobim:
“No dia 06 de setembro, o Presidente da França, Nicolas Sarkozy, em encontro com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manifestou o interesse do governo francês em aprofundar a parceria entre os dois países também no setor aeronáutico.
Afirmou que o Governo Francês assume, além de outros, o compromisso de fazer ofertar os aviões Rafale ao Brasil com preços competitivos, razoáveis e comparáveis com os pagos pelas Forças Armadas da França.
Informou, ainda, da disposição da França de adquirir aviões KC-390, em fase de projeto na Embraer.
Diante desse fato novo, o processo de seleção do Projeto FX-2, conduzido pelo Comando da Aeronáutica, ainda não encerrado, prosseguirá com negociações junto aos três participantes, onde serão aprofundadas e, eventualmente, redefinidas as propostas apresentadas”.
Nelson A. Jobim
Ministro de Estado da Defesa