19/01/2010 - 11h10
ONU rebate críticas por papel dos EUA no Haiti; ajuda ainda demora a chegar
da Folha Online
A ONU (Organização das Nações Unidas) defendeu nesta terça-feira a coordenação da ajuda humanitárias às vítimas do terremoto de magnitude 7 que atingiu o Haiti há uma semana e rejeitou as críticas sobre o controle excessivo dos americanos sobre os esforços de ajuda e sobre o aeroporto de Porto Príncipe, ponto de chegada dos aviões de vários países com equipes e suprimentos.
Elizabeth Byrs, porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) da ONU, disse nesta terça-feira que a coordenação da entrega da ajuda humanitária aos cerca de 3 milhões de afetados pelo tremor, segundo estimativas da Cruz Vermelha, está indo bem.
O fato é que, uma semana depois do devastador terremoto, a ajuda humanitária já flui com mais intensidade, mas a magnitude da tragédia ainda torna difícil o acesso à água, alimentos e assistência médica para os milhares de feridos e desabrigados.
"A logística está aumentando de potência, mas continua sendo prioritário salvar os feridos que precisam de assistência médica urgente", disse Byrs.
Segundo a porta-voz, muitas equipes de resgate começaram a sair para as outras três cidades próximas à capital que sofreram fortes danos. Segundo relato da própria ONU (Organização das Nações Unidas) na semana passada, a cidade de Leogane teve entre 80% e 90% dos edifícios destruídos, já Gressier e Petit-Goave sofreram danos entre 40% e 50%.
"As equipes só conseguem chegar a essas localidades de helicóptero, pois as estradas estão muito danificadas", disse.
Apesar dos casos de pilhagem e violência que se espalharam pela capital haitiana em consequência do desespero dos sobreviventes, Byrs disse que "a situação está sob controle". "Há pilhagens, mas, em geral, a situação está sob controle. Os comboios de distribuição de ajuda andam com escolta", disse.
EUA
Byrs defendeu ainda os esforços americanos no Haiti e disse que o aeroporto de Porto Príncipe não estaria funcionando sem os militares americanos. O controle americano sob a chegada de aviões humanitários criou uma breve tensão com Brasil e levou até mesmo a um protesto formal da França. Ambos os países, contudo, minimizaram o episódio.
A porta-voz elogiou ainda o grande volume de suprimentos e especialistas enviados pelos Estados Unidos, que prometeram ajuda a longo-prazo.
As declarações vieram um dia após um acordo para garantir que os EUA daria prioridade de chegada ao aeroporto aos voos com ajuda humanitária. Os EUA têm sido criticados por supostamente priorizar aviões nacionais com militares e equipamento de resgate.
As agências de ajuda internacionais, contudo, alertam que muitos haitianos desabrigados ou feridos estão morrendo enquanto as equipes tentam superar o caos na organização da distribuição da ajuda. Alguns deles, afirma o jornal britânico "The Guardian", criticam o controle excessivo dos americanos como parte do problema.
A ONG Médicos Sem Fronteiras diz que a confusão sobre quem comanda os esforços --os americanos ou a ONU-- está atrapalhando a entrega de suprimentos de primeira necessidade a milhares de pessoas. "A coordenação não existe ou não está funcionando até este momento", disse ao jornal Benoit Leduc, gerente de operação da ONG em Porto Príncipe.
Esta é a mesma impressão de John O'Shea, chefe da ONG de tratamento médico Goal. Ele disse ao jornal que o único obstáculo à distribuição maciça de ajuda é "liderança e coordenação". "você não tem nenhuma das duas neste momento".
O cenário descrito pelas ONGs é de que, de um lado há o controle dos americanos sobre o aeroporto. Do outro lado, a ONU diz que controla a distribuição de comida. A crítica é principalmente sobre a ONU, que não tem o papel de comando que deveria assumir.
Coordenação
Byrs rejeitou as críticas e disse que existe uma grande coordenação entre a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), lideradas pelo Brasil, as forças policiais haitianas e as tropas americanas que chegaram ao país.
Nesse sentido, tanto Byrs quanto porta-vozes de outras agências da ONU insistiram em ignorar as críticas sobre as supostas intenções de Washington em relação ao Haiti e a forte presença militar americana no país caribenho.
"A coordenação humanitária é dirigida pela ONU, enquanto a logística é controlada pelas forças dos EUA", disse Byrs. "Trabalhamos em estreita colaboração com as forças dos EUA e, graças a eles, o aeroporto de Porto Príncipe está funcionando, e devemos agradecer. Além disso, já começaram a consertar o porto", ressaltou.
A porta-voz insistiu em que "é a ONU que coordena os esforços humanitários e, para isso, usamos os meios logísticos dos países-membros. Os EUA são o país mais próximo [entre os ricos] e essa é sua área regional de influência".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 1488.shtml