Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Moderador: Conselho de Moderação
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
George Soros ao Negócios
"Crise financeira pode ainda vir a ser muito pior"
George Soros, o multimilionário húngaro naturalizado norte-americano, recebeu o Jornal de Negócios em Londres, onde falou da actual crise financeira. A mais grave de sempre.
Alexandra Machado
amachado@mediafin.pt
George Soros, o multimilionário húngaro naturalizado norte-americano, recebeu o Jornal de Negócios em Londres, onde falou da actual crise financeira. A mais grave de sempre.
Concedeu-nos meia hora, também sob o pretexto de falarmos do livro que editou recentemente "O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros - a crise de crédito de 2008 e as suas implicações". A entrevista aconteceu antes da falência da Lehman, da salvação do AIG e do plano Paulson. Mas George Soros deixou os avisos.
O livro "O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros - a crise de crédito de 2008 e as suas implicações", editado este ano, já tinha servido para George Soros, o especulador multimilionário de 78 anos, lançar avisos aos mercados, às autoridades e aos governos.
"Estamos a passar pela pior crise financeira desde os anos 30". É assim que o livro começa. E George Soros, que recebeu o Negócios em Londres, não está agora mais optimista. Diz mesmo que estamos neste momento a mergulhar na crise financeira, acreditando que ainda há muito para vir ao de cima. Muito menos estamos na fase de sair da crise. "É onde divirjo dos sentimentos prevalecentes do mercado, que pensa que estamos a sair", disse em entrevista ao Negócios George Soros.
"Crise financeira pode ainda vir a ser muito pior"
George Soros, o multimilionário húngaro naturalizado norte-americano, recebeu o Jornal de Negócios em Londres, onde falou da actual crise financeira. A mais grave de sempre.
Alexandra Machado
amachado@mediafin.pt
George Soros, o multimilionário húngaro naturalizado norte-americano, recebeu o Jornal de Negócios em Londres, onde falou da actual crise financeira. A mais grave de sempre.
Concedeu-nos meia hora, também sob o pretexto de falarmos do livro que editou recentemente "O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros - a crise de crédito de 2008 e as suas implicações". A entrevista aconteceu antes da falência da Lehman, da salvação do AIG e do plano Paulson. Mas George Soros deixou os avisos.
O livro "O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros - a crise de crédito de 2008 e as suas implicações", editado este ano, já tinha servido para George Soros, o especulador multimilionário de 78 anos, lançar avisos aos mercados, às autoridades e aos governos.
"Estamos a passar pela pior crise financeira desde os anos 30". É assim que o livro começa. E George Soros, que recebeu o Negócios em Londres, não está agora mais optimista. Diz mesmo que estamos neste momento a mergulhar na crise financeira, acreditando que ainda há muito para vir ao de cima. Muito menos estamos na fase de sair da crise. "É onde divirjo dos sentimentos prevalecentes do mercado, que pensa que estamos a sair", disse em entrevista ao Negócios George Soros.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Ministro das finanças alemão
"EUA vão perder o seu estatuto de grande potencia do sistema financeiro internacional"
O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, afirmou que a actual crise vai levar os EUA a perder o estatuto de grande potência e a fazer com que o mundo não volte a ser o mesmo .
Lara Rosa
lararosa@mediafin.pt
O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, afirmou que a actual crise vai levar os EUA a perder o estatuto de “grande potência” e a fazer com que o “mundo não volte a ser o mesmo”.
Os EUA “vão perder o seu estatuto de grande potência do sistema financeiro internacional” como consequência da grave crise que afecta os mercados internacionais, afirmou Peer Steinbrück no início de uma declaração do Governo perante o Parlamento alemão, de acordo com o jornal espanhol “El País”.
O ministro acrescentou ainda que perante as actuais condições, “o mundo não voltará a ser igual ao que era antes da crise”.
No seu discurso que antecedeu o debate que tinha como objectivo informar sobre a crise financeira, as suas consequências e as soluções, Steinbrück afirmou que “até agora a gestão internacional para a crise tem funcionado” não se tendo ainda verificado o “temido colapso”.
Sobre a economia alemã, a maior da Zona Euro, o ministro referiu que inevitavelmente “a nossa economia real vai sofrer” devido à actual crise, o que terá efeitos no crescimento, que vai diminuir, e no desemprego, que vai aumentar.
"EUA vão perder o seu estatuto de grande potencia do sistema financeiro internacional"
O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, afirmou que a actual crise vai levar os EUA a perder o estatuto de grande potência e a fazer com que o mundo não volte a ser o mesmo .
Lara Rosa
lararosa@mediafin.pt
O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, afirmou que a actual crise vai levar os EUA a perder o estatuto de “grande potência” e a fazer com que o “mundo não volte a ser o mesmo”.
Os EUA “vão perder o seu estatuto de grande potência do sistema financeiro internacional” como consequência da grave crise que afecta os mercados internacionais, afirmou Peer Steinbrück no início de uma declaração do Governo perante o Parlamento alemão, de acordo com o jornal espanhol “El País”.
O ministro acrescentou ainda que perante as actuais condições, “o mundo não voltará a ser igual ao que era antes da crise”.
No seu discurso que antecedeu o debate que tinha como objectivo informar sobre a crise financeira, as suas consequências e as soluções, Steinbrück afirmou que “até agora a gestão internacional para a crise tem funcionado” não se tendo ainda verificado o “temido colapso”.
Sobre a economia alemã, a maior da Zona Euro, o ministro referiu que inevitavelmente “a nossa economia real vai sofrer” devido à actual crise, o que terá efeitos no crescimento, que vai diminuir, e no desemprego, que vai aumentar.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Republicanos recuam e recusam aprovar plano de salvação do sistema financeiro
As negociações do plano de salvação do sistema financeiro dos EUA, no valor de 700 mil milhões de dólares, voltaram a um impasse, depois de um grupo de republicanos do Congresso ter recusado apoiar o programa apresentado.
Sara Antunes
saraantunes@mediafin.pt
As negociações do plano de salvação do sistema financeiro dos EUA, no valor de 700 mil milhões de dólares, voltaram a um impasse, depois de um grupo de republicanos do Congresso ter recusado apoiar o programa apresentado.
Um grupo de Republicanos do Senado, liderado por Eric Cantor, afirmou que não vai apoiar o plano apresentado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e pelo presidente da Reserva Federal (Fed) dos EUA, Ben Bernanke.
Ao final do dia de ontem tudo parecia estar no caminho da aprovação do programa de salvação do sistema financeiro, depois de ter sido revelado que o comité do Senado para a banca e responsáveis do Congresso tinham chegado a um acordo de princípios para salvar o sector. As bolsas fecharam mesmo com ganhos expressivos.
Contudo, durante a noite, nos EUA, um grupo de republicanos afirmou que recusa aprovar um plano baseado nos critérios estabelecidos por Paulson.
Este impasse fez com que Paulson voltasse ao Capitólio para voltar a debater ideias com os responsáveis. “Estamos sentados onde estávamos ontem ao final do dia”, afirmou à Bloomberg o senador republicano Bob Corker.
As negociações do plano de salvação do sistema financeiro dos EUA, no valor de 700 mil milhões de dólares, voltaram a um impasse, depois de um grupo de republicanos do Congresso ter recusado apoiar o programa apresentado.
Sara Antunes
saraantunes@mediafin.pt
As negociações do plano de salvação do sistema financeiro dos EUA, no valor de 700 mil milhões de dólares, voltaram a um impasse, depois de um grupo de republicanos do Congresso ter recusado apoiar o programa apresentado.
Um grupo de Republicanos do Senado, liderado por Eric Cantor, afirmou que não vai apoiar o plano apresentado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e pelo presidente da Reserva Federal (Fed) dos EUA, Ben Bernanke.
Ao final do dia de ontem tudo parecia estar no caminho da aprovação do programa de salvação do sistema financeiro, depois de ter sido revelado que o comité do Senado para a banca e responsáveis do Congresso tinham chegado a um acordo de princípios para salvar o sector. As bolsas fecharam mesmo com ganhos expressivos.
Contudo, durante a noite, nos EUA, um grupo de republicanos afirmou que recusa aprovar um plano baseado nos critérios estabelecidos por Paulson.
Este impasse fez com que Paulson voltasse ao Capitólio para voltar a debater ideias com os responsáveis. “Estamos sentados onde estávamos ontem ao final do dia”, afirmou à Bloomberg o senador republicano Bob Corker.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- Bourne
- Sênior
- Mensagens: 21087
- Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
- Localização: Campina Grande do Sul
- Agradeceu: 3 vezes
- Agradeceram: 21 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
A entrevista é do Carlos Lessa, está velho, gordo e senil, mas, ainda sim, é gente boa. O outro cara citado Luiz Gonzaga Belluzo é "sangue nos zóio". Poré isso não quer dizer que sejam perfeitos, ninguém é, as vezes falam besterias enormes, mas são pouco frequentes.
"O dólar acabou", avalia Carlos Lessa
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/inter ... Lessa.html
Ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o economista Carlos Lessa nada na contra-corrente do comissariado federal: identifica riscos imediatos para a economia brasileira, com o agravamento da crise nos Estados Unidos.
Congressistas democratas e republicanos se reuniram ontem com o presidente dos EUA, George W. Bush, para discutir o pacote anticrise. Participaram do encontro os candidatos à Casa Branca, Barack Obama e John McCain. A proposta do Tesouro americano prevê US$ 700 bilhões para a compra de títulos de risco. O acordo final ainda não foi fechado.
Para Lessa, "o dólar acabou" e seria preciso que um novo "Bretton Woods" estabelecesse novos parâmetros para a economia mundial. Em entrevista a Terra Magazine, expõe:
- Só tem um jeito. A Rússia já propôs, e a França também: reunir as potências do mundo e definir um novo acordo de Bretton Woods. O dólar acabou. Mas o problema é o seguinte: os Estados Unidos não vão deixar que o dólar acabe... O que os americanos vão tentar fazer é distribuir essa conta pelo mundo inteiro.
O economista demonstra segurança ao defender que "a crise está entrando no Brasil", apesar da tranqüilidade alardeada pela equipe do presidente Lula. O modelo de crescimento nacional, em sua opinião, está fundado em bolhas de crédito - e direciona a atenção aos créditos fáceis na venda de automotores.
Faz outro diagnóstico:
- Pra você ter uma idéia: as empresas no Brasil tomam 10% do total de crédito de empresa no exterior. Só que os bancos do exterior pararam de emprestar. Por que o Banco Central reduziu os depósitos obrigatórios dos bancos? Sabe por quê? Para tentar gerar um espaço de crédito pra essas empresas que não têm mais crédito. Quem diria que um país tupiniquim, com doutor (Henrique) Meirelles todo-poderoso, pagando os mais altos juros do
mundo, que tem US$ 207 bilhões na reserva, ia ter que fazer isso?
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, chegou a afirmar que os bancos brasileiros não tinham problema de liquidez. Adiante, um recuo. O BC anunciou anteontem a elevação da liquidez para bancos pequenos. Injeção de R$ 13,2 bilhões no mercado. Crítico da política monetária, Lessa elabora perguntas inquietantes:
1. "Não quero falar nada, mas quanto o Bradesco já perdeu? Quanto o Itaú já perdeu? Ninguém sabe. Eles não vão falar. Mas os bancos são encadeados uns com os outros."
2. "Como levaram o crescimento da economia brasileira? Pelo endividamento das famílias, não pelo investimento das empresas, não pelo investimento público."
Leia a entrevista:
Terra Magazine - O pacote de US$ 700 bilhões do governo Bush é um bom caminho para combater a crise? Como o senhor analisa esse plano emergencial?
Carlos Lessa - É preciso ter duas coisas em consideração. Primeiro, o poder norte-americano. Na história da humanidade, nunca houve uma sociedade tão poderosa quanto os Estados Unidos. É um poder militar, é um poder cultural enorme, mas a chave desse poder chama-se dólar, por uma razão muito simples: as reservas de todos os bancos centrais do mundo são lastreadas, predominantemente, em títulos do Tesouro norte-americano. Os Estados Unidos têm uma vantagem estratégica sobre qualquer outro País: o que ele emite, é dívida. Mas é a riqueza dos outros. Então, quem emite a riqueza, no caso os Estados Unidos, tem mais poder do que ter Forças Armadas.
Essa crise americana foi, na verdade, o jogo financeiro dos bancos americanos que, em última instância, debilitou profundamente o dólar.
Ninguém sabe o tamanho do buraco. A informação que se tem é que são de US$ 14 trilhões as operações imobiliárias. Porém, ninguém sabe como é que isto foi, pela ginástica da alquimia financeira; derivativos em cima de derivativos - o derivativo pega um papel ruim e converte em papel bom -, derivando de tal maneira que vou dar a seguinte informação: o País mais conservador do mundo é a Suíça.
Por quê?
Do ponto de vista financeiro, é o País mais conservador do mundo. É a pátria onde os bancos são dominantes. O maior banco suíço chama-se UBS. O UBS já perdeu US$ 40 bilhões com títulos de primeira classe norte-americanos.
Quarenta bilhões. Bom, o que estou querendo dizer: todos os bancos do mundo estão interligados nessa porcaria que os americanos fizeram. As perdas, ninguém sabe quais são. A esperança do governo americano, obviamente, é que colocando esses US$ 700 bilhões, pára. Por um lado, teoricamente, isso seria ótimo. O que o governo americano vai fazer é chamar para si tudo que é podre. Mas o problema é que, nessas crises, apodrece até o que é bom.
O economista Luiz Gonzaga Belluzo alertou para o risco de contaminar os bancos comerciais.
Luiz Gonzaga conhece profundamente isso. E já estão contaminados. Pra você ter uma idéia: as empresas no Brasil tomam 10% do total de crédito de empresa no exterior. Só que os bancos do exterior pararam de emprestar. Por que o Banco Central reduziu os depósitos obrigatórios dos bancos? Sabe por quê? Para tentar gerar um espaço de crédito pra essas empresas que não têm mais crédito. Quem diria que um país tupiniquim, com doutor (Henrique) Meirelles todo-poderoso, pagando os mais altos juros do mundo, que tem US$ 207 bilhões na reserva, ia ter que fazer isso?
Conciliando com o discurso de que o País não está sendo afetado?
Só 10% do crédito de empresas do Brasil vêm de fora. Agora, o UBS, o maior banco suíço, já perdeu US$ 40 bilhões. Não quero falar nada, mas quanto o Bradesco já perdeu? Quanto o Itaú já perdeu? Ninguém sabe. Eles não vão falar. Mas os bancos são encadeados uns com os outros. O Lehman Brothers era o terceiro banco em tamanho nos Estados Unidos, o maior banco de investimentos. Maravilhoso, fortíssimo e tal. Pra fechar o caixa, tirou US$ 8 bilhões do depósito do Lehman na Inglaterra. Aí o Lehman da Inglaterra não pagou seus funcionários. Quatro mil funcionários passando fome porque não receberam o salário do mês. Uma bolha dessa, quando explode, distribui fragmentos para todos os lados. Ninguém fez uma avaliação desse tamanho.
Então, como o senhor avalia...?
O que eu posso dizer é o seguinte: o tamanho do buraco é provavelmente muito maior do que foi anunciado até agora. Os bancos americanos já puseram US$ 1 trilhão.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) estimou as perdas em US$ 1,3 trilhão.
E agora mais US$ 700 bilhões! Você já fez acampamento? Pois veja bem. Todo mundo que faz acampamento sabe que tem que abafar a fogueira. Como é que se abafa? Joga um cobertor em cima e apaga. Tira o oxigênio. Mas se você puser um cobertor menor que a fogueira, alimenta o fogo. Eles já puseram US$ 1,3 trilhão nos últimos quatro meses. E vão colocar US$ 700 bilhões. Acho que é cobertor curto. Como os bancos do mundo estão entendendo essa história? O desespero deles fazendo isso é porque a situação é muito séria. Se a situação é muito séria, não vou emprestar pra ninguém.
Noutra entrevista, o senhor já tinha alertado também para a dissociação entre consumo e a renda real de uma pessoa, com a proliferação do crédito fácil. Qual é o risco para o País?
Certo. Chamei muita atenção de que o crescimento brasileiro, nos últimos dois anos, estava em cima de uma bolha de crédito. Vender carro sem pagamento à vista. O prazo de 90 prestações é o equivalente tupiniquim à bolha imobiliária americana. Se a crise bater no Brasil, os endividados vão fazer o quê? Parar de pagar. Os bancos vão fazer o quê? Executar e ficar dono dos carros? Vão fazer o que com os carros? A crise americana está se propagando pelo mundo inteiro. É só pra isso que estou chamando a atenção. E ninguém sabe o tamanho dela. A única coisa que se sabe é o seguinte: quanto mais ela avança, maior ela fica.
O que deve ser proposto?
Só tem um jeito. A Rússia já propôs, e a França também: reunir as potências do mundo e definir um novo acordo de Bretton Woods (que estabeleceu, em 1944, as relações monetárias mundiais). O dólar acabou. Mas o problema é o seguinte: os Estados Unidos não vão deixar que o dólar acabe. Mas, objetivamente, o dólar acabou. O que os americanos vão tentar fazer é distribuir essa conta pelo mundo inteiro. Vai sobrar até para a Guatemala.
Entre as propostas do democrata Barack Obama para apoiar esse novo pacote de Bush, está a de ajudar também os proprietários de imóveis, não só os detentores de hipotecas. O que o senhor acha dessa proposta?
Isso é o jogo eleitoral que ele está fazendo. Porque os americanos nunca vão deixar, não vão estar preocupados com os proprietários de imóveis. Eles vão estar preocupados é com os bancos. O proprietário de imóvel, que se endividou, azar! Vai ter que pagar ou perde o imóvel. Agora, os bancos, não recebendo, vão ficando podres. O dólar não está nos proprietários de imóveis. O dólar está nos bancos e no Tesouro americano. Niguém está se
perguntando o seguinte: se os americanos vão emitir mais US$ 700 bilhões, são mais US$ 700 bilhões de dívidas do tesouro americano. Quem é que vai comprar?
Quem o senhor sugere?
Vão tentar forçar o mundo inteiro a comprar. Vão jogar pra fora, vão jogar a crise pra fora. E o que o nosso Lula está dizendo? Que tá tudo bem, né? O que o (Guido) Mantega está dizendo? Metade do povo brasileiro é de classe média. O que é que dr. Meirelles não diz, mas faz? Continua a fazer o que sempre fez. A minha preocupação é que se tenha uma crise muito grande avançando, enquanto o governo faz um discurso que não tem nada a ver com o real.
Não há uma dimensão humana por trás disso?
As pessoas não estão... Há seis dias, estive em Juiz de Fora, pra fazer uma conferência. Lá tenho muitos amigos. Sabe qual foi a informação que eu recolhi? A cidade tem 520 mil habitantes. Sabe quantos veículos automotores estão licenciados na municipalidade de Juiz de Fora? 140 mil.
Uma proporção elevada.
Um para menos de quatro moradores. Se você pegar essa informação para Ribeirão Preto, Campinas, cidades próximas a São Paulo, vai encontrar uma proporção maior. Menos gente por carro. Como levaram o crescimento da economia brasileira? Pelo endividamento das famílias, não pelo investimento das empresas, não pelo investimento público. A única coisa que aconteceu foi o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Quando eu fui presidente do BNDES, o Lula me pediu pra fazer a lista dos projetos prioritários para o País. Fiz uma relação muito parecida com o PAC atual. Aliás, eu acho que eles partiram da lista que nós fizemos. Trabalhamos três meses com 50 pessoas. Detalhe: neste ano, só gastaram 40% do que foi programado. Você acha que vão continuar o PAC? E aí? Você acha os juros vão subir? Posso afirmar que vão, pois é a única coisa que o dr. Meirelles sabe fazer. Como os dólares estão saindo do Brasil, Meirelles vai empurrar os juros pra cima.
Os empresários vão continuar a investir? Já anunciaram que estão paralisando. A crise está entrando no Brasil.
- Edu Lopes
- Sênior
- Mensagens: 4549
- Registrado em: Qui Abr 26, 2007 2:18 pm
- Localização: Brasil / Rio de Janeiro / RJ
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Brasil ganha destaque dentro do Bric
Leda Rosa, JB Online
SÃO PAULO - O furacão da crise financeira global não vai ser tão devastador para o Bric – grupo formado pelas economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China. Analistas brasileiros e americanos apostam que os quatro vão continuar crescendo, na contramão da recessão mundial. Neste cenário, o Brasil lidera, ao lado da China, as previsões otimistas, lastreado por um conjunto de fatores estruturais, no qual o sistema bancário tem destaque. À Rússia coube a liderança no ranking de vulnerabilidade.
– A crise mostra que o sistema financeiro é vital e deveria ser balizado pelo acordo da Basiléia. Entre os Bric, o Brasil é o único que segue a cartilha – diz Ernesto Lozardo, professor de economia da FGV-SP e autor do livro Globalização: a certeza imprevisível das nações.
O Basiléia II é o acordo que regula em mais de 100 países a gestão do risco bancário. A regulação foca a prevenção de uma crise bancária internacional, através da fiscalização do lastro nas ações de risco. Justamente o elemento que poderia ter evitado a crise mundial, detonada pelos subprimes nos Estados Unidos.
– A principal âncora do nosso desenvolvimento é o sistema financeiro estável e sólido. Ele fará o Brasil se sair melhor na crise. Os bancos brasileiros estão capitalizados e são confiáveis. Esta credibilidade é dada pelo Banco Central que faz correções rápidas, fiscalizando a liquidez e o grau de risco dos bancos – diz Lozardo, que acrescenta que o país é o único com metas para a inflação e ações interbancárias.
Nem a China, com quem o Brasil divide a melhor posição diante da crise, dispõe de tal eficiência.
– O sistema bancário da China ainda é arcaico se comparado com o nosso – diz Rodrigo Maciel, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).
Mas, se os chineses só têm cartões de crédito há três anos, exibem reservas estrangeiras incomparáveis. O Brasil dispõe de US$ 208 bilhões, a China de US$ 2 trilhões.
– A China é a base sólida que os Bric têm para reduzir o impacto da crise e continuar garantindo o crescimento mundial – diz Maciel.
Crescimento mundial
Em 2007, os quatro países representavam 30% da economia mundial e foram responsáveis por quase metade do crescimento global, segundo o FMI. Os Bric avançam assim no rumo da profecia de Jim O´Neill, economista-chefe do Goldman Sachs que criou o termo e previu que o grupo seria a maior economia do mundo até 2050. Em artigo recente, O´Neill disse que a demanda dos Bric pode compensar a desaceleração americana. Mesmo analistas como Paul Krugman, que consideram uma estupidez o agrupamento estabelecido por O´Neill, admitem que a maior parte do crescimento econômico mundial vem dos emergentes.
– Todos os Bric têm elementos que garantem a possibilidade de continuar crescendo, mas o Brasil fica numa posição muito razoável por motivos que vão das reservas altas ao sucesso da política monetária no combate à inflação. Evidente que haverá impacto para os brasileiros, mas não será tão grave. O importante não é a situação atual, mas o futuro, com o encolhimento dos mercados para exportação – diz Albert Fishlow, economista e brasilianista americano, diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos do Brasil da Universidade Columbia.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/extra/2008 ... 17763.html
Leda Rosa, JB Online
SÃO PAULO - O furacão da crise financeira global não vai ser tão devastador para o Bric – grupo formado pelas economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China. Analistas brasileiros e americanos apostam que os quatro vão continuar crescendo, na contramão da recessão mundial. Neste cenário, o Brasil lidera, ao lado da China, as previsões otimistas, lastreado por um conjunto de fatores estruturais, no qual o sistema bancário tem destaque. À Rússia coube a liderança no ranking de vulnerabilidade.
– A crise mostra que o sistema financeiro é vital e deveria ser balizado pelo acordo da Basiléia. Entre os Bric, o Brasil é o único que segue a cartilha – diz Ernesto Lozardo, professor de economia da FGV-SP e autor do livro Globalização: a certeza imprevisível das nações.
O Basiléia II é o acordo que regula em mais de 100 países a gestão do risco bancário. A regulação foca a prevenção de uma crise bancária internacional, através da fiscalização do lastro nas ações de risco. Justamente o elemento que poderia ter evitado a crise mundial, detonada pelos subprimes nos Estados Unidos.
– A principal âncora do nosso desenvolvimento é o sistema financeiro estável e sólido. Ele fará o Brasil se sair melhor na crise. Os bancos brasileiros estão capitalizados e são confiáveis. Esta credibilidade é dada pelo Banco Central que faz correções rápidas, fiscalizando a liquidez e o grau de risco dos bancos – diz Lozardo, que acrescenta que o país é o único com metas para a inflação e ações interbancárias.
Nem a China, com quem o Brasil divide a melhor posição diante da crise, dispõe de tal eficiência.
– O sistema bancário da China ainda é arcaico se comparado com o nosso – diz Rodrigo Maciel, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).
Mas, se os chineses só têm cartões de crédito há três anos, exibem reservas estrangeiras incomparáveis. O Brasil dispõe de US$ 208 bilhões, a China de US$ 2 trilhões.
– A China é a base sólida que os Bric têm para reduzir o impacto da crise e continuar garantindo o crescimento mundial – diz Maciel.
Crescimento mundial
Em 2007, os quatro países representavam 30% da economia mundial e foram responsáveis por quase metade do crescimento global, segundo o FMI. Os Bric avançam assim no rumo da profecia de Jim O´Neill, economista-chefe do Goldman Sachs que criou o termo e previu que o grupo seria a maior economia do mundo até 2050. Em artigo recente, O´Neill disse que a demanda dos Bric pode compensar a desaceleração americana. Mesmo analistas como Paul Krugman, que consideram uma estupidez o agrupamento estabelecido por O´Neill, admitem que a maior parte do crescimento econômico mundial vem dos emergentes.
– Todos os Bric têm elementos que garantem a possibilidade de continuar crescendo, mas o Brasil fica numa posição muito razoável por motivos que vão das reservas altas ao sucesso da política monetária no combate à inflação. Evidente que haverá impacto para os brasileiros, mas não será tão grave. O importante não é a situação atual, mas o futuro, com o encolhimento dos mercados para exportação – diz Albert Fishlow, economista e brasilianista americano, diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos do Brasil da Universidade Columbia.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/extra/2008 ... 17763.html
- cvn73
- Avançado
- Mensagens: 674
- Registrado em: Sex Mar 28, 2008 4:57 pm
- Localização: em algum lugar do Planalto Central
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Edu Lopes escreveu: – A principal âncora do nosso desenvolvimento é o sistema financeiro estável e sólido. Ele fará o Brasil se sair melhor na crise. Os bancos brasileiros estão capitalizados e são confiáveis. Esta credibilidade é dada pelo Banco Central que faz correções rápidas, fiscalizando a liquidez e o grau de risco dos bancos – diz Lozardo, que acrescenta que o país é o único com metas para a inflação e ações interbancárias.
Bom, pelo jeito as crises passadas serviram como vacina para o Brasil.
unanimidade só existe no cemitério
- cvn73
- Avançado
- Mensagens: 674
- Registrado em: Sex Mar 28, 2008 4:57 pm
- Localização: em algum lugar do Planalto Central
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Mais um do G-8 defendendo a ampliação do bloco.
Mas tamanho interesse, a meu ver, se deve ao fato que a galera do G-8 quer mesmo é dividir as responsabilidades ($$$$) em caso de crise.
Mas tamanho interesse, a meu ver, se deve ao fato que a galera do G-8 quer mesmo é dividir as responsabilidades ($$$$) em caso de crise.
Itália quer expansão do G8 para entrada de Brasil e China
28 de Setembro de 2008 | 10:02
ROMA (Reuters) - A Itália vai defender a expansão do G8 para que nações como China, Índia e Brasil sejam incluídas, quando assumir a presidência rotativa do grupo das oito maiores potências industrializadas do mundo, no ano que vêm, afirmou o ministro italiano de Finanças.
"Não podemos esperar mais... para transformar o G8 no G14, para permitir a entrada de China, Índia, África do Sul, México e Brasil", disse Giulio Tremonti.
Tremonti havia dito este mês que a Itália pretende utilizar a presidência do G8 para liderar a implementação de novas regras que evitem crises financeiras como a que acontece atualmente nos Estados Unidos.
(Por Phil Stewart)
unanimidade só existe no cemitério
- Sterrius
- Sênior
- Mensagens: 5140
- Registrado em: Sex Ago 01, 2008 1:28 pm
- Agradeceu: 115 vezes
- Agradeceram: 323 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Que o Brasil vai ser afetado pela crise é claro que vai. Tem que ser ingenuo pra pensar que todo mundo vai perder ou ter redução de lucros e a gente vai continuar tranquilo como se nada ocorre-se.
Agora de que tamanho vai ser a queda que temos que ver. Torcer pra que os bancos aguentem o tranco e os 200bilhões deem conta de compensar a falta de investimento estrangeiro e as falhas da economia que respingarem aqui.
OBS: Espero que os EUA nao compre nenhum papel destes 700bilhões. "È uma cilada bino!"
Agora de que tamanho vai ser a queda que temos que ver. Torcer pra que os bancos aguentem o tranco e os 200bilhões deem conta de compensar a falta de investimento estrangeiro e as falhas da economia que respingarem aqui.
OBS: Espero que os EUA nao compre nenhum papel destes 700bilhões. "È uma cilada bino!"
- Bourne
- Sênior
- Mensagens: 21087
- Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
- Localização: Campina Grande do Sul
- Agradeceu: 3 vezes
- Agradeceram: 21 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
O plano é comprar os papeis podres, utilizando os 700 bi da viúva e, assim, savar os bancos e o sistema de crédito norte-americano, porém o rombo chega a trilhões. Nessa operação, o governo norte-americano vai emitir títulos da divida pública para financiar essa compra,daí as coisas começam a complicar para o mundo e, até mesmo, para os EUA.Sterrius escreveu: OBS: Espero que os EUA nao compre nenhum papel destes 700bilhões. "È uma cilada bino!"
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
28 Setembro 2008 - 14h30
Mário Soares
"José Sócrates é o anti-Guterres”
Mário Soares, antigo Presidente da República,.... . NATO e neoliberais são criticados pelo ex-líder do PS, que aposta tudo na vitória de Barack Obama nas presidenciais dos EUA.
Correio da Manhã/Rádio Clube – Afirmou que os líderes europeus continuam subservientes de Bush. No seu tempo era assim ou não? A Europa, no seu tempo, era mais independente dos EUA?
Mário Soares – Talvez não fosse mais independente. Mas de qualquer maneira havia governos bastante europeístas e que tinham uma estratégia de desenvolver a então Comunidade Europeia, que depois de transformou em União Europeia. Tinham um projecto.
- Um projecto político.
- Sim. Não tinha propriamente a ver com os Estados Unidos, embora quisessem manter a aliança atlântica com os EUA, isso não se punha em causa.
- Por causa da União Soviética.
- Nessa altura era tempo da Guerra Fria, em que havia dois blocos e a Europa estava claramente no bloco ocidental, com os Estados Unidos.
- Hoje é considerado um anti-americano primário. É só por causa de Bush ou mudou as suas posições face aos Estados Unidos?
- Sabe. O que é extraordinário é que eu nunca fui pró-americano. Pró-europeu sempre fui. Mas fui simpatizante e amigo dos EUA e do povo dos EUA. Sempre fui. Apesar de no tempo da ditadura, e é preciso não esquecer esse tempo, nós termos entrado indevidamente no pacto Atlântico.
- A NATO não admitia ditaduras.
- Por principio não. Deixaram-nos entrar porque convinha à política americana anti-soviética. Convinha-lhes fechar os olhos à situação de ditadura que existia em Portugal e noutros países. Mas quando veio o 25 de Abril eu percebi muito rapidamente que a situação tinha mudado e que nós deveríamos fazer uma democracia, que eu pretendia que fosse de esquerda, e uma descolonização, duas coisas muito difíceis, mas sem pôr em causa a nossa aliança atlântica.
.....
- Mas nessa altura a qual era a sua posição sobre os EUA?
- Nessa altura o ataque que me faziam, diziam que eu era pró-americano.
- Exactamente.
- Nunca fui propriamente pró-americano. Mas amigo dos americanos fui, dos que nos ajudaram e ajudaram a Europa a salvar a guerra. Tinha uma grande admiração pelo Roosevelt. Depois, quando eu comecei a atacar a administração Bush, começaram a dizer que eu era um anti-americano primário.
- Ainda dizem.
- Mas realmente nunca fui anti-americano. Fui contra a administração Bush desde o início. Isso sim. Também não conheço o Bush filho, conheço o Bush pai, que é bastante melhor do que o filho e que por sinal até me convidou para a festa dos seus 80 anos já o filho era Presidente.
- Não foi.
- Não. Mandei-lhe dizer que não ia por várias razões. Uma delas era que estava lá o Bush filho. Não era correcto ir.
- Para sua festa dos 80 anos não convidou o Bush pai.
- Nem o Bush pai, nem o Bush filho, nem convidei ninguém. Foi uma festa que as pessoas organizaram um pouco à minha revelia. Isso é outra questão.
- Voltando aos EUA, apesar de eu ter notado que nos primeiros três minutos fez logo uma piscadela de olho ao PC.
- Não, não se trata de uma piscadela, trata-se de um facto histórico.
- Estou a brincar. A Europa de Mitterrand , Kohl, González, Tatcher, Mário Soares foi substituída por uma Europa de personagens menores, sem grande substância política? E acredita que Obama é mais do que um enormíssimo produto de marketing? Acredita que Obama pode mudar um pouco a história das ideias?
- Acredito a cem por cento e sobre isso não tenho a menor dúvida. Não o conheço pessoalmente, não sei, nunca o vi em pessoa, mas tenho seguido a sua carreira desde que se candidatou. Antes disso não fazia ideia nenhuma que existia Obama. Mas as ideias que lançou, a maneira como fez a campanha, as pessoas que o rodeiam no Partido Democrático e tudo aquilo dão-me a maior da confiança. Aliás, fui talvez dos primeiros em Portugal que comecei a falar no Obama e a defender o Obama.
- Barak Obama. Pode ganhar as eleições presidenciais, mas também as pode perder. Ainda não se sabe. As diferenças são muito pequenas. Em sua opinião, o que é que vai acontecer ao Mundo se não ganhar?
- Resta saber que Mundo. Mas acho que a Europa, o Ocidente em geral, a América em particular e a própria América Latina vão entrar inexoravelmente num período de decadência.
- De decadência?
- De decadência. Há um grande autor alemão, um filósofo chamado Oswaldo Spengler, do princípio do século, entre as duas guerras, que escreveu um livro chamado ‘A Decadência do Ocidente’. Ele preconizou essa decadência com o advento dos outros mundos. Nessa altura era inimaginável que tivessem crescido tanto, como a China, a Índia, o Brasil, a Rússia, os chamados países emergentes. Mas a verdade é que isso já foi preconizado. Mas depois veio o nazismo, tudo isso, mas agora estamos numa altura em que o mundo ocidental pode entrar em decadência.
- Porquê?
- Repare. Isso é que as pessoas normalmente não vêem quando se discute o problema fundamental do que se vai passar a seguir, se é o Obama ou o Mcain. O que é fundamental perceber é que há um sistema e um paradigma da economia e da política americana que é considerado neoliberal.
- Neoliberal porquê?
- Porque se baseia no mercado e na liberdade do mercado. Menos Estado e mais privados. E a economia livre vai regular-se. É a mão invisível que maneja o mercado. Este era o sistema neoliberal.
- Ainda se lembra do livro do Fukuyama, ‘O Capitalismo é o Fim da História’.
- Exactamente. Mas a verdade é que o que se passou...
- Esta crise financeira internacional?
- Mas está a passar-se desde há anos a esta parte. Não quero estar aqui a armar-me em profeta. Mas se virem os livros que eu publiquei nos últimos cinco ou seis anos, desde o terrorismo, esse fenómeno novo, que agora está a ser posto em causa, dir-lhe-ei que estava claro que isto ia acontecer. Simplesmente ninguém viu, nem ninguém quis ver.
- A crise só começou a ser falada há uns meses.
- Repare. Quando falavam aqui há três ou quatro ou cinco meses que havia uma crise financeira nos EUA...
- Começou com o sub-prime...
-... Sub-prime e isso. Mas quando se falava que podia vir uma recessão económica, que estava iminente, os nossos grandes economistas diziam que não, era apenas um pequeno abrandamento.
- No Império Romano os bárbaros estavam nas fronteiras e em Roma via-se alegremente teatro e a falar-se da sua eternidade. Agora há um cheiro a decadência no ar. Podemos estar a assistir a um fim de um ciclo?
- Estamos a assistir a um fim de um ciclo. Isso é indiscutível. E o ciclo anterior estava podre. E o que me preocupa não é a questão dos bancos falirem ou não falirem, das pessoas terem mais ou menos emprego, já se viu em 1929 e isso foi superável de alguma maneira.
- Agora não será superável também?
- Nessa altura a crise foi superável com a administração do Roosevelt. E foi uma intervenção de tipo socialista. Foi um percursor do socialismo democrático.
- Falou agora do socialismo democrático. Já disse que os líderes socialistas europeus, como Schroeder e Blair, se deixaram colonizar pelos neoliberais.
- Pelo fascínio dos negócios.
- Exacto. Falando de Portugal. Este Governo do PS, socialista democrático, também se deixa fascinar pelos negócios?
- Bem, é possível que sim. É possível que algumas figuras que estão no Governo tenham algum fascínio pelo dinheiro e pelo sistema. E ao princípio sim. Quer dizer, quando aqui há quatro ou cinco anos o Blair lançou a sua terceira via e que eu disse que era uma vigarice pura e que não acreditava no Blair.
- Tanta gente o criticou na altura.
- Pois claro. Por exemplo, eu lembro-me que o meu amigo Guterres tinha pelo Blair uma verdadeira...
- Fascínio, uma admiração...
- Fascínio, uma grande admiração. É um homem brilhante, isso é.
- Blair ou Guterres?
- São ambos. Guterres é do mais inteligente que passou pela política portuguesa. Incontestavelmente e bem preparado. O Blair também é um homem de grande inteligência, fala muito bem, bom orador, eu conheço-o pessoalmente. Aliás, é muito simpático. Mas ele estava a vender...
- Uma ilusão?
- Gato por lebre. Gato por lebre.
.....
- O PS não se deixou também iludir, não se deixou levar por essas ideias neoliberais?
- Muitos dos dirigentes do PS apostaram na terceira via. E foram blairistas ao princípio. Mas agora já não são.
- Agora já não são?
- Acho que não.
- O que são, então?
- Bem, voltaram, regressaram aos valores socialistas, muitos deles. E espero que esse regresso continue. Porque há um grande economista, que não é socialista, que é o Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, que publicou um artigo há pouco tempo em que diz isto: “O Ocidente só se pode salvar se o sistema for reformulado”. Todo. E se partirmos do princípio que o sistema está apodrecido e só vejo que haja entidades capazes de fazer isso que são os socialistas. Os socialistas democráticos. Bem, mas para isso é preciso que sejam socialistas, isto é, que tenham a preocupação primeira nas questões sociais...
- No trabalho também.
- No trabalho, que é uma questão social, na luta contra o desemprego, na luta contra a pobreza. E esses são os grandes valores. E a luta a favor do ambiente.
.......
- Snu Abecassis.
- A Snu, que era social-democrata e que tinha uma linha que vinha do Olof Palme, era grande admiradora do Palme e conhecia os sociais-democratas. Bem. Eu tinha a maior simpatia por ela e até pela coragem que o Sá Carneiro teve. Mas naquele período eleitoral houve uns tipos do PS que resolveram levar isso, não eu, mas levaram e eu não os desautorizei, não fiz aquilo que devia ter feito. E nessa altura eu disse à Snu, porque ela também disse “eu nunca julguei que você fizesse uma coisa dessas”, pois está bem, não fui eu que fiz mas, enfim, encaixo porque eu era o responsável. E peço desculpa pela minha parte, porque realmente não devia ter feito. Mas enfim, essas coisas das competições eleitorais são difíceis. Mas claro que eu acho que o Sá Carneiro era um homem que tinha uma visão social-democrata do Mundo mas muito. Muito liberal no sentido antigo do termo.
- Claro.
- Muito ligado a certas concepções muito anti-comunistas. Coisa que eu nunca fui. Até porque eu tenho uma origem inicial do Partido Comunista.
- Exactamente.
- Mas não tinha dúvidas que era preciso vencer o Partido Comunista em Portugal. Como foi vencido.
- Respondeu ao Luís Osório e disse que está mais próximo de José Sócrates. Mas agora sinceramente. Já lançou alguns avisos à navegação socialista, dizendo cuidado, não se aproximem tanto do capital, aproximem-se mais dos sindicatos, das confederações sindicais, das pessoas. Olhando para toda esta política, para estas reformas, como o recente Código de Trabalho. Conhece o novo Código do trabalho?
- Não, não li. Por acaso não li.
......
- Vamos falar do futuro. Do País, do Mundo e da Europa também, claro.
......
- Futuro de Portugal. Neste momento as pessoas estão a viver pior do que viviam.
- Sim.
- Têm menos dinheiro, têm dificuldades graves. A classe média está a sofrer imenso, os outros também.
- Há uns que não sofrem. Os que têm mais dinheiro e enriquecem mesmo nas crises.
- Esses nunca sofrem. Ao longo destes anos todos, Portugal na União Europeia, Portugal com fundos europeus, chegamos a 2008, há evidentemente uma crise em todo o Mundo, mas Portugal chega a este ponto e está a ser ultrapassado por outros países. Há razão para sermos optimistas sofre o futuro de Portugal ou não?
- Há, absolutamente.
- Mas como?
- Em primeiro lugar é preciso confiar no povo português. Eu confio no povo português e no génio do povo português. E um povo que tem a história que tem Portugal e fez aquilo que fez, incluindo a revolução de sucesso que foi a revolução do 25 de Abril, que realizou todos os seus objectivos, um País que consegue ter a melhores relações com África e com as antigas colónias portuguesas como não têm nem os franceses nem os ingleses.
- Exactamente.
- É verdade.
- E agora Angola. Angola está a ser o futuro para Portugal. Em termos de investimento, até de emprego.
- Essa é uma das ironias do nosso tempo.
- É que nós estamos a emigrar para Angola.
- E vice-versa. Há muitos angolanos em Portugal. Isso não é assim. Mas se me dá licença eu tenho uma grande confiança em Portugal. E penso que não se pode abstrair da circunstância do Governo Sócrates ter resolvido um grande problema que nós tínhamos, que era o problema da redução do défice. É possível que isso venha a reaparecer, mais longe, com a crise. É possível. Mais longe. Mas ele fez esse trabalho. E esse trabalho foi feito e deu-nos o prestígio de nós termos abordado a Presidência europeia em boas condições, sem dever nada a ninguém. Portanto, os portugueses têm a mania de dizer mal deles próprios. Quando vão para o estrangeiro percebem rapidamente que o nosso País tem muita qualidade e muito interesse. Mas só no estrangeiro.
- Em termos de segurança. Mas ao nível da qualidade de vida chegamos a Londres e Paris e é outro mundo.
- Os dois exemplos que deu são maus exemplos. Porque Londres está numa situação muito difícil. Londres e toda a Inglaterra. Quando se dizia que aquilo tinha sido uma vitória brutal e que estava num grande desenvolvimento. Não está nada. A Irlanda, que era o exemplo, agora está em recessão, coisa em que nós não entrámos ainda. Está em recessão. E nós vamos talvez ser capazes de reagir a esta crise melhor, que não está resolvida nem será resolvida com os 700 mil milhões de dólares que puseram.
- Ou vão pôr.
- Porventura vão pôr. Ainda não se sabe. Isso pode ser um remendo. Porque o sistema é que faliu. O sistema económico que eles têm, a globalização neoliberal, a chamada democracia liberal faliu.
- Faliu lá e também faliu na Europa.
- Faliu lá, faliu na Europa e faliu no Mundo. Mas o que é que vem? Não é o capitalismo que vai desaparecer. O capitalismo vai, talvez, se for capaz, se houver a possibilidade de regulamentar o capitalismo e ter Governos de esquerda na Europa e no Mundo, na América.
- Acha que só com Governos de esquerda é possível reformular o capitalismo?
- Neste momento sim. Porque os outros são os responsáveis da crise. Esta crise tem de ter responsáveis. Houve responsáveis.
- O Reino Unido teve nestes doze anos um Governo de esquerda.
- De esquerda? Bem. Não me faça rir.
- O alargamento da Europa não está a tornar mais visível que a construção europeia é hoje apenas uma construção de interesses.
- Não é apenas.
- Se esta crise se alargar não pode estar em causa a própria União Europeia?
- Pode. Evidentemente que pode. A União Europeia alargou-se muito precipitadamente. Os alargamentos foram feitos para esconder outros fracassos e outras incapacidades. Como a reforma institucional. A indispensável reforma institucional. Como sabe eu sou um europeísta federalista e acho que deve haver um Governo europeu e que devem haver símbolos europeus. Não há por timidez, por cobardia, por falta de coragem.
- Numa Europa a 27 é totalmente utópico.
- Numa Europa a 27 começa a ser uma grande balbúrdia cá dentro. Mas, enfim, o sistema tem de continuar e é possível que vá continuar. E o grande projecto europeu é um projecto de paz e nós com a Europa temos conseguido viver em paz estes anos todos. E não é um pequeno feito. Temos de continuar a acreditar na Europa e a avançar na Europa e com os projectos europeus.
- Falou em paz. Mas a Europa, em termos de Defesa, vive da NATO.
- Por acaso tem feito alguns progressos.
- Mas poucos.
- Alguns progressos que são sensíveis.
- Um analista militar ainda dizia recentemente que os exércitos europeus são ridículos.
- Bem, isso é excessivo.
- Mas não acha que a NATO continua a ser importante em termos do futuro da Europa e da paz?
- Eu acho que não. Eu pergunto-me se a NATO tem sentido. Eu acho que a NATO não tem sentido e que depois da Guerra Fria ter acabado devia ter acabado. Não houve coragem para fazer isso. E isso cria muitos problemas.
- Tem consciência que essa opinião é mais uma vez contra a corrente dominante.
- Claro, com certeza que é. Absolutamente. Porque não pensaram nisso. Vão seguindo. O que se está a passar na NATO é que a NATO vai ter os maiores problemas, não na Europa, mas no Afeganistão. E o Afeganistão vai ser um caos maior e mais grave do que foi o Iraque, o que tem sido o Iraque até agora e que vai continuar a ser, ao contrário do que dizem. É preciso mudar isso tudo. E é nesse sentido que eu acredito muito no Obama. Não que ele vá mudar tudo, que não vai. Mas o Obama vai levantar um vento fresco que vai soprar sobre a Europa e sobre o Mundo que é extremamente salutar.
- Sobre o Médio Oriente também vai soprar esse vento fresco?
- Sim, se o meu amigo ver o que se está a passar no Médio Oriente percebe que isso é indispensável. A própria sobrevivência de Israel, com a situação que criou com aquele enclave no mundo árabe, é uma situação muito periclitante. Basta que mudem as coisas e aos americanos percam o poder que têm para isso tudo vir abaixo. Porque eles vivem da América. Esses é que vivem da América. Bem, eu acredito que o Mundo vai se aperceber com a crise de algumas questões que são fundamentais. Que o sistema tem de mudar, temos de avançar num sistema social a sério, num sistema ambiental a sério e que para o bom funcionamento da economia é preciso que os trabalhadores tenham uma palavra dizer e sejam tratados com dignidade.
- No meio de tudo isto os velhos partidos comunistas não podem ter uma janela de oportunidade?
- Não creio. Onde é que estão os velhos partidos comunistas? Estão a repetir a cartilha. Sinceramente não creio. Evidentemente que eles têm uma voz contestatária e o protesto é útil. Acho que o PC tem importância.
......
- Falou nos trabalhadores, no respeito pelos seus direitos. Mas o Estado Social, a Europa social...
- Não tem sustentabilidade.
- Não está falido?
- É uma receita do neoliberalismo para tapar a boca.
- Os cidadãos que nos estão a ouvir e a ler têm menos reformas hoje em dia. Não é verdade?
- Têm de ter mais.
- Mas têm menos.
- Mas têm de ter mais. A verdade é esta. O Estado social é indispensável para que a economia funcione. E os anos de progresso da Europa foi porque tinha um Estado social. Não foi por mais nada.
- E isso não faliu?
- Está a ser dito. Agora está a ser reconhecido por toda a gente. Claro que há pessoas que já viram isto há uns anos atrás. Mas isto é a mudança fundamental. E os americanos vão sair desta crise reforçados. Porque só podem sair se houver políticas como o Roosevelt na crise de 1º929. Se não não saem.
- Sabendo que é uma referência e é um homem do futuro, o que é que tem a dizer às pessoas que vivem momentos dramáticos para serem optimistas?
- As razões são as que eu disse. Espero que se consiga vencer esta crise. E o Obama dará uma boa contribuição se for eleito.
- Está a jogar as cartas todas no Obama.
- Não estou aqui a jogar as cartas.
- Mas disse que se ganhar o McCain, se perder o Obama vai ser um desastre.
- O McCain é mais do mesmo. O McCain é a mesma coisa do que o Bush. E a senhora que ele escolheu ainda é pior do que o Bush
- A Sarah Palin.
- Sim, é muito pior do que o Bush. Aquilo tudo é uma ilusão. Se os americanos fizerem isso é porque são tontos. Há uma massa americana muito pouco crítica. Mas tudo o que é sólido na América, tudo o que é inteligência, nas universidades, nas artes, nas ciências, está com o Obama. Tem alguma dúvida disso?
- Não tenho dúvida. Mas noutros tempos estavam com o Al Gore. E depois perderam.
- Pois estiveram. Perderam.
- A democracia é assim.
- Perderam e houve também alguma falta de coragem dos lideres democratas e que têm responsabilidades. Com toda a estima pelo Al Gore. Mas agora não é o caso. Este tipo tem mostrado, o Obama, que não só tem cabeça como tem coragem.
- Tem defendido algumas vezes a democracia directa de Hugo Chávez.
- Não é uma democracia directa, desculpará.
- Como é que a define.
- É uma democracia, que não é ainda uma democracia social, mas que para lá caminha, se tiver tempo, com grandes laivos de populismo. Essa é a questão de toda a América Latina, em que houve uma evolução total, há uma revolução pacífica na América Latina que nós não acompanhamos. Eu acompanho porque sou muito partidário da América Latina e acho que tem muito a ver connosco. Nós temos 700 mil portugueses na Venezuela, temos de ter boas relações, bati-me por isso. E a propaganda que se faz contra o Chávez, muita dela sabe-se de onde vem. Mas o Chávez tem algumas qualidades. Eu conheci-o, tornei-me amigo dele, fiz uma conversa com ele na televisão em que mostrou que não é um imbecil como se julgava, nem é um louco, porque foi muitíssimo hábil.
- Não tem comparação com Lula da Silva.
- São diferentes.
- Lula da Silva mostrou que é um estadista.
- Sim. Eu sou grande amigo do Lula, como sabe.
- Eu sei.
- Mas acho que o Lula e o Chávez, eles compreenderam isso, têm necessidade um do outro. O Chávez não é um homem cruel. Nunca matou ninguém, não mete os inimigos na cadeia, não faz essas coisas. E perde eleições e respeita esse veredicto. Isso é importante.
......
- Depois de preso doze vezes, deportado, lutador, por convicções. Valeu a pena?
- Absolutamente. Sinto-me perfeitamente realizado e não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Só gostaria de ter tido tempo para escrever mais dois ou três livros.
- As memórias? Isso não?
- Eu acho que não tenho categoria para escrever memórias.
PERFIL
Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa no dia 7 de Dezembro de 1924. Casado, com dois filhos, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa e em Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Fundador do PS, esteve preso doze vezes na ditadura e foi deportado por Salazar para São Tomé. Daí partiu para o exílio em França. Regressou a Portugal depois da revolução de Abril, foi deputado, ministro, primeiro-ministro e Presidente da República de 1986 a 1996.
António Ribeiro Ferreira (Correio da Manhã) e Luís Osório (Rádio Clube Português)
Mário Soares
"José Sócrates é o anti-Guterres”
Mário Soares, antigo Presidente da República,.... . NATO e neoliberais são criticados pelo ex-líder do PS, que aposta tudo na vitória de Barack Obama nas presidenciais dos EUA.
Correio da Manhã/Rádio Clube – Afirmou que os líderes europeus continuam subservientes de Bush. No seu tempo era assim ou não? A Europa, no seu tempo, era mais independente dos EUA?
Mário Soares – Talvez não fosse mais independente. Mas de qualquer maneira havia governos bastante europeístas e que tinham uma estratégia de desenvolver a então Comunidade Europeia, que depois de transformou em União Europeia. Tinham um projecto.
- Um projecto político.
- Sim. Não tinha propriamente a ver com os Estados Unidos, embora quisessem manter a aliança atlântica com os EUA, isso não se punha em causa.
- Por causa da União Soviética.
- Nessa altura era tempo da Guerra Fria, em que havia dois blocos e a Europa estava claramente no bloco ocidental, com os Estados Unidos.
- Hoje é considerado um anti-americano primário. É só por causa de Bush ou mudou as suas posições face aos Estados Unidos?
- Sabe. O que é extraordinário é que eu nunca fui pró-americano. Pró-europeu sempre fui. Mas fui simpatizante e amigo dos EUA e do povo dos EUA. Sempre fui. Apesar de no tempo da ditadura, e é preciso não esquecer esse tempo, nós termos entrado indevidamente no pacto Atlântico.
- A NATO não admitia ditaduras.
- Por principio não. Deixaram-nos entrar porque convinha à política americana anti-soviética. Convinha-lhes fechar os olhos à situação de ditadura que existia em Portugal e noutros países. Mas quando veio o 25 de Abril eu percebi muito rapidamente que a situação tinha mudado e que nós deveríamos fazer uma democracia, que eu pretendia que fosse de esquerda, e uma descolonização, duas coisas muito difíceis, mas sem pôr em causa a nossa aliança atlântica.
.....
- Mas nessa altura a qual era a sua posição sobre os EUA?
- Nessa altura o ataque que me faziam, diziam que eu era pró-americano.
- Exactamente.
- Nunca fui propriamente pró-americano. Mas amigo dos americanos fui, dos que nos ajudaram e ajudaram a Europa a salvar a guerra. Tinha uma grande admiração pelo Roosevelt. Depois, quando eu comecei a atacar a administração Bush, começaram a dizer que eu era um anti-americano primário.
- Ainda dizem.
- Mas realmente nunca fui anti-americano. Fui contra a administração Bush desde o início. Isso sim. Também não conheço o Bush filho, conheço o Bush pai, que é bastante melhor do que o filho e que por sinal até me convidou para a festa dos seus 80 anos já o filho era Presidente.
- Não foi.
- Não. Mandei-lhe dizer que não ia por várias razões. Uma delas era que estava lá o Bush filho. Não era correcto ir.
- Para sua festa dos 80 anos não convidou o Bush pai.
- Nem o Bush pai, nem o Bush filho, nem convidei ninguém. Foi uma festa que as pessoas organizaram um pouco à minha revelia. Isso é outra questão.
- Voltando aos EUA, apesar de eu ter notado que nos primeiros três minutos fez logo uma piscadela de olho ao PC.
- Não, não se trata de uma piscadela, trata-se de um facto histórico.
- Estou a brincar. A Europa de Mitterrand , Kohl, González, Tatcher, Mário Soares foi substituída por uma Europa de personagens menores, sem grande substância política? E acredita que Obama é mais do que um enormíssimo produto de marketing? Acredita que Obama pode mudar um pouco a história das ideias?
- Acredito a cem por cento e sobre isso não tenho a menor dúvida. Não o conheço pessoalmente, não sei, nunca o vi em pessoa, mas tenho seguido a sua carreira desde que se candidatou. Antes disso não fazia ideia nenhuma que existia Obama. Mas as ideias que lançou, a maneira como fez a campanha, as pessoas que o rodeiam no Partido Democrático e tudo aquilo dão-me a maior da confiança. Aliás, fui talvez dos primeiros em Portugal que comecei a falar no Obama e a defender o Obama.
- Barak Obama. Pode ganhar as eleições presidenciais, mas também as pode perder. Ainda não se sabe. As diferenças são muito pequenas. Em sua opinião, o que é que vai acontecer ao Mundo se não ganhar?
- Resta saber que Mundo. Mas acho que a Europa, o Ocidente em geral, a América em particular e a própria América Latina vão entrar inexoravelmente num período de decadência.
- De decadência?
- De decadência. Há um grande autor alemão, um filósofo chamado Oswaldo Spengler, do princípio do século, entre as duas guerras, que escreveu um livro chamado ‘A Decadência do Ocidente’. Ele preconizou essa decadência com o advento dos outros mundos. Nessa altura era inimaginável que tivessem crescido tanto, como a China, a Índia, o Brasil, a Rússia, os chamados países emergentes. Mas a verdade é que isso já foi preconizado. Mas depois veio o nazismo, tudo isso, mas agora estamos numa altura em que o mundo ocidental pode entrar em decadência.
- Porquê?
- Repare. Isso é que as pessoas normalmente não vêem quando se discute o problema fundamental do que se vai passar a seguir, se é o Obama ou o Mcain. O que é fundamental perceber é que há um sistema e um paradigma da economia e da política americana que é considerado neoliberal.
- Neoliberal porquê?
- Porque se baseia no mercado e na liberdade do mercado. Menos Estado e mais privados. E a economia livre vai regular-se. É a mão invisível que maneja o mercado. Este era o sistema neoliberal.
- Ainda se lembra do livro do Fukuyama, ‘O Capitalismo é o Fim da História’.
- Exactamente. Mas a verdade é que o que se passou...
- Esta crise financeira internacional?
- Mas está a passar-se desde há anos a esta parte. Não quero estar aqui a armar-me em profeta. Mas se virem os livros que eu publiquei nos últimos cinco ou seis anos, desde o terrorismo, esse fenómeno novo, que agora está a ser posto em causa, dir-lhe-ei que estava claro que isto ia acontecer. Simplesmente ninguém viu, nem ninguém quis ver.
- A crise só começou a ser falada há uns meses.
- Repare. Quando falavam aqui há três ou quatro ou cinco meses que havia uma crise financeira nos EUA...
- Começou com o sub-prime...
-... Sub-prime e isso. Mas quando se falava que podia vir uma recessão económica, que estava iminente, os nossos grandes economistas diziam que não, era apenas um pequeno abrandamento.
- No Império Romano os bárbaros estavam nas fronteiras e em Roma via-se alegremente teatro e a falar-se da sua eternidade. Agora há um cheiro a decadência no ar. Podemos estar a assistir a um fim de um ciclo?
- Estamos a assistir a um fim de um ciclo. Isso é indiscutível. E o ciclo anterior estava podre. E o que me preocupa não é a questão dos bancos falirem ou não falirem, das pessoas terem mais ou menos emprego, já se viu em 1929 e isso foi superável de alguma maneira.
- Agora não será superável também?
- Nessa altura a crise foi superável com a administração do Roosevelt. E foi uma intervenção de tipo socialista. Foi um percursor do socialismo democrático.
- Falou agora do socialismo democrático. Já disse que os líderes socialistas europeus, como Schroeder e Blair, se deixaram colonizar pelos neoliberais.
- Pelo fascínio dos negócios.
- Exacto. Falando de Portugal. Este Governo do PS, socialista democrático, também se deixa fascinar pelos negócios?
- Bem, é possível que sim. É possível que algumas figuras que estão no Governo tenham algum fascínio pelo dinheiro e pelo sistema. E ao princípio sim. Quer dizer, quando aqui há quatro ou cinco anos o Blair lançou a sua terceira via e que eu disse que era uma vigarice pura e que não acreditava no Blair.
- Tanta gente o criticou na altura.
- Pois claro. Por exemplo, eu lembro-me que o meu amigo Guterres tinha pelo Blair uma verdadeira...
- Fascínio, uma admiração...
- Fascínio, uma grande admiração. É um homem brilhante, isso é.
- Blair ou Guterres?
- São ambos. Guterres é do mais inteligente que passou pela política portuguesa. Incontestavelmente e bem preparado. O Blair também é um homem de grande inteligência, fala muito bem, bom orador, eu conheço-o pessoalmente. Aliás, é muito simpático. Mas ele estava a vender...
- Uma ilusão?
- Gato por lebre. Gato por lebre.
.....
- O PS não se deixou também iludir, não se deixou levar por essas ideias neoliberais?
- Muitos dos dirigentes do PS apostaram na terceira via. E foram blairistas ao princípio. Mas agora já não são.
- Agora já não são?
- Acho que não.
- O que são, então?
- Bem, voltaram, regressaram aos valores socialistas, muitos deles. E espero que esse regresso continue. Porque há um grande economista, que não é socialista, que é o Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, que publicou um artigo há pouco tempo em que diz isto: “O Ocidente só se pode salvar se o sistema for reformulado”. Todo. E se partirmos do princípio que o sistema está apodrecido e só vejo que haja entidades capazes de fazer isso que são os socialistas. Os socialistas democráticos. Bem, mas para isso é preciso que sejam socialistas, isto é, que tenham a preocupação primeira nas questões sociais...
- No trabalho também.
- No trabalho, que é uma questão social, na luta contra o desemprego, na luta contra a pobreza. E esses são os grandes valores. E a luta a favor do ambiente.
.......
- Snu Abecassis.
- A Snu, que era social-democrata e que tinha uma linha que vinha do Olof Palme, era grande admiradora do Palme e conhecia os sociais-democratas. Bem. Eu tinha a maior simpatia por ela e até pela coragem que o Sá Carneiro teve. Mas naquele período eleitoral houve uns tipos do PS que resolveram levar isso, não eu, mas levaram e eu não os desautorizei, não fiz aquilo que devia ter feito. E nessa altura eu disse à Snu, porque ela também disse “eu nunca julguei que você fizesse uma coisa dessas”, pois está bem, não fui eu que fiz mas, enfim, encaixo porque eu era o responsável. E peço desculpa pela minha parte, porque realmente não devia ter feito. Mas enfim, essas coisas das competições eleitorais são difíceis. Mas claro que eu acho que o Sá Carneiro era um homem que tinha uma visão social-democrata do Mundo mas muito. Muito liberal no sentido antigo do termo.
- Claro.
- Muito ligado a certas concepções muito anti-comunistas. Coisa que eu nunca fui. Até porque eu tenho uma origem inicial do Partido Comunista.
- Exactamente.
- Mas não tinha dúvidas que era preciso vencer o Partido Comunista em Portugal. Como foi vencido.
- Respondeu ao Luís Osório e disse que está mais próximo de José Sócrates. Mas agora sinceramente. Já lançou alguns avisos à navegação socialista, dizendo cuidado, não se aproximem tanto do capital, aproximem-se mais dos sindicatos, das confederações sindicais, das pessoas. Olhando para toda esta política, para estas reformas, como o recente Código de Trabalho. Conhece o novo Código do trabalho?
- Não, não li. Por acaso não li.
......
- Vamos falar do futuro. Do País, do Mundo e da Europa também, claro.
......
- Futuro de Portugal. Neste momento as pessoas estão a viver pior do que viviam.
- Sim.
- Têm menos dinheiro, têm dificuldades graves. A classe média está a sofrer imenso, os outros também.
- Há uns que não sofrem. Os que têm mais dinheiro e enriquecem mesmo nas crises.
- Esses nunca sofrem. Ao longo destes anos todos, Portugal na União Europeia, Portugal com fundos europeus, chegamos a 2008, há evidentemente uma crise em todo o Mundo, mas Portugal chega a este ponto e está a ser ultrapassado por outros países. Há razão para sermos optimistas sofre o futuro de Portugal ou não?
- Há, absolutamente.
- Mas como?
- Em primeiro lugar é preciso confiar no povo português. Eu confio no povo português e no génio do povo português. E um povo que tem a história que tem Portugal e fez aquilo que fez, incluindo a revolução de sucesso que foi a revolução do 25 de Abril, que realizou todos os seus objectivos, um País que consegue ter a melhores relações com África e com as antigas colónias portuguesas como não têm nem os franceses nem os ingleses.
- Exactamente.
- É verdade.
- E agora Angola. Angola está a ser o futuro para Portugal. Em termos de investimento, até de emprego.
- Essa é uma das ironias do nosso tempo.
- É que nós estamos a emigrar para Angola.
- E vice-versa. Há muitos angolanos em Portugal. Isso não é assim. Mas se me dá licença eu tenho uma grande confiança em Portugal. E penso que não se pode abstrair da circunstância do Governo Sócrates ter resolvido um grande problema que nós tínhamos, que era o problema da redução do défice. É possível que isso venha a reaparecer, mais longe, com a crise. É possível. Mais longe. Mas ele fez esse trabalho. E esse trabalho foi feito e deu-nos o prestígio de nós termos abordado a Presidência europeia em boas condições, sem dever nada a ninguém. Portanto, os portugueses têm a mania de dizer mal deles próprios. Quando vão para o estrangeiro percebem rapidamente que o nosso País tem muita qualidade e muito interesse. Mas só no estrangeiro.
- Em termos de segurança. Mas ao nível da qualidade de vida chegamos a Londres e Paris e é outro mundo.
- Os dois exemplos que deu são maus exemplos. Porque Londres está numa situação muito difícil. Londres e toda a Inglaterra. Quando se dizia que aquilo tinha sido uma vitória brutal e que estava num grande desenvolvimento. Não está nada. A Irlanda, que era o exemplo, agora está em recessão, coisa em que nós não entrámos ainda. Está em recessão. E nós vamos talvez ser capazes de reagir a esta crise melhor, que não está resolvida nem será resolvida com os 700 mil milhões de dólares que puseram.
- Ou vão pôr.
- Porventura vão pôr. Ainda não se sabe. Isso pode ser um remendo. Porque o sistema é que faliu. O sistema económico que eles têm, a globalização neoliberal, a chamada democracia liberal faliu.
- Faliu lá e também faliu na Europa.
- Faliu lá, faliu na Europa e faliu no Mundo. Mas o que é que vem? Não é o capitalismo que vai desaparecer. O capitalismo vai, talvez, se for capaz, se houver a possibilidade de regulamentar o capitalismo e ter Governos de esquerda na Europa e no Mundo, na América.
- Acha que só com Governos de esquerda é possível reformular o capitalismo?
- Neste momento sim. Porque os outros são os responsáveis da crise. Esta crise tem de ter responsáveis. Houve responsáveis.
- O Reino Unido teve nestes doze anos um Governo de esquerda.
- De esquerda? Bem. Não me faça rir.
- O alargamento da Europa não está a tornar mais visível que a construção europeia é hoje apenas uma construção de interesses.
- Não é apenas.
- Se esta crise se alargar não pode estar em causa a própria União Europeia?
- Pode. Evidentemente que pode. A União Europeia alargou-se muito precipitadamente. Os alargamentos foram feitos para esconder outros fracassos e outras incapacidades. Como a reforma institucional. A indispensável reforma institucional. Como sabe eu sou um europeísta federalista e acho que deve haver um Governo europeu e que devem haver símbolos europeus. Não há por timidez, por cobardia, por falta de coragem.
- Numa Europa a 27 é totalmente utópico.
- Numa Europa a 27 começa a ser uma grande balbúrdia cá dentro. Mas, enfim, o sistema tem de continuar e é possível que vá continuar. E o grande projecto europeu é um projecto de paz e nós com a Europa temos conseguido viver em paz estes anos todos. E não é um pequeno feito. Temos de continuar a acreditar na Europa e a avançar na Europa e com os projectos europeus.
- Falou em paz. Mas a Europa, em termos de Defesa, vive da NATO.
- Por acaso tem feito alguns progressos.
- Mas poucos.
- Alguns progressos que são sensíveis.
- Um analista militar ainda dizia recentemente que os exércitos europeus são ridículos.
- Bem, isso é excessivo.
- Mas não acha que a NATO continua a ser importante em termos do futuro da Europa e da paz?
- Eu acho que não. Eu pergunto-me se a NATO tem sentido. Eu acho que a NATO não tem sentido e que depois da Guerra Fria ter acabado devia ter acabado. Não houve coragem para fazer isso. E isso cria muitos problemas.
- Tem consciência que essa opinião é mais uma vez contra a corrente dominante.
- Claro, com certeza que é. Absolutamente. Porque não pensaram nisso. Vão seguindo. O que se está a passar na NATO é que a NATO vai ter os maiores problemas, não na Europa, mas no Afeganistão. E o Afeganistão vai ser um caos maior e mais grave do que foi o Iraque, o que tem sido o Iraque até agora e que vai continuar a ser, ao contrário do que dizem. É preciso mudar isso tudo. E é nesse sentido que eu acredito muito no Obama. Não que ele vá mudar tudo, que não vai. Mas o Obama vai levantar um vento fresco que vai soprar sobre a Europa e sobre o Mundo que é extremamente salutar.
- Sobre o Médio Oriente também vai soprar esse vento fresco?
- Sim, se o meu amigo ver o que se está a passar no Médio Oriente percebe que isso é indispensável. A própria sobrevivência de Israel, com a situação que criou com aquele enclave no mundo árabe, é uma situação muito periclitante. Basta que mudem as coisas e aos americanos percam o poder que têm para isso tudo vir abaixo. Porque eles vivem da América. Esses é que vivem da América. Bem, eu acredito que o Mundo vai se aperceber com a crise de algumas questões que são fundamentais. Que o sistema tem de mudar, temos de avançar num sistema social a sério, num sistema ambiental a sério e que para o bom funcionamento da economia é preciso que os trabalhadores tenham uma palavra dizer e sejam tratados com dignidade.
- No meio de tudo isto os velhos partidos comunistas não podem ter uma janela de oportunidade?
- Não creio. Onde é que estão os velhos partidos comunistas? Estão a repetir a cartilha. Sinceramente não creio. Evidentemente que eles têm uma voz contestatária e o protesto é útil. Acho que o PC tem importância.
......
- Falou nos trabalhadores, no respeito pelos seus direitos. Mas o Estado Social, a Europa social...
- Não tem sustentabilidade.
- Não está falido?
- É uma receita do neoliberalismo para tapar a boca.
- Os cidadãos que nos estão a ouvir e a ler têm menos reformas hoje em dia. Não é verdade?
- Têm de ter mais.
- Mas têm menos.
- Mas têm de ter mais. A verdade é esta. O Estado social é indispensável para que a economia funcione. E os anos de progresso da Europa foi porque tinha um Estado social. Não foi por mais nada.
- E isso não faliu?
- Está a ser dito. Agora está a ser reconhecido por toda a gente. Claro que há pessoas que já viram isto há uns anos atrás. Mas isto é a mudança fundamental. E os americanos vão sair desta crise reforçados. Porque só podem sair se houver políticas como o Roosevelt na crise de 1º929. Se não não saem.
- Sabendo que é uma referência e é um homem do futuro, o que é que tem a dizer às pessoas que vivem momentos dramáticos para serem optimistas?
- As razões são as que eu disse. Espero que se consiga vencer esta crise. E o Obama dará uma boa contribuição se for eleito.
- Está a jogar as cartas todas no Obama.
- Não estou aqui a jogar as cartas.
- Mas disse que se ganhar o McCain, se perder o Obama vai ser um desastre.
- O McCain é mais do mesmo. O McCain é a mesma coisa do que o Bush. E a senhora que ele escolheu ainda é pior do que o Bush
- A Sarah Palin.
- Sim, é muito pior do que o Bush. Aquilo tudo é uma ilusão. Se os americanos fizerem isso é porque são tontos. Há uma massa americana muito pouco crítica. Mas tudo o que é sólido na América, tudo o que é inteligência, nas universidades, nas artes, nas ciências, está com o Obama. Tem alguma dúvida disso?
- Não tenho dúvida. Mas noutros tempos estavam com o Al Gore. E depois perderam.
- Pois estiveram. Perderam.
- A democracia é assim.
- Perderam e houve também alguma falta de coragem dos lideres democratas e que têm responsabilidades. Com toda a estima pelo Al Gore. Mas agora não é o caso. Este tipo tem mostrado, o Obama, que não só tem cabeça como tem coragem.
- Tem defendido algumas vezes a democracia directa de Hugo Chávez.
- Não é uma democracia directa, desculpará.
- Como é que a define.
- É uma democracia, que não é ainda uma democracia social, mas que para lá caminha, se tiver tempo, com grandes laivos de populismo. Essa é a questão de toda a América Latina, em que houve uma evolução total, há uma revolução pacífica na América Latina que nós não acompanhamos. Eu acompanho porque sou muito partidário da América Latina e acho que tem muito a ver connosco. Nós temos 700 mil portugueses na Venezuela, temos de ter boas relações, bati-me por isso. E a propaganda que se faz contra o Chávez, muita dela sabe-se de onde vem. Mas o Chávez tem algumas qualidades. Eu conheci-o, tornei-me amigo dele, fiz uma conversa com ele na televisão em que mostrou que não é um imbecil como se julgava, nem é um louco, porque foi muitíssimo hábil.
- Não tem comparação com Lula da Silva.
- São diferentes.
- Lula da Silva mostrou que é um estadista.
- Sim. Eu sou grande amigo do Lula, como sabe.
- Eu sei.
- Mas acho que o Lula e o Chávez, eles compreenderam isso, têm necessidade um do outro. O Chávez não é um homem cruel. Nunca matou ninguém, não mete os inimigos na cadeia, não faz essas coisas. E perde eleições e respeita esse veredicto. Isso é importante.
......
- Depois de preso doze vezes, deportado, lutador, por convicções. Valeu a pena?
- Absolutamente. Sinto-me perfeitamente realizado e não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Só gostaria de ter tido tempo para escrever mais dois ou três livros.
- As memórias? Isso não?
- Eu acho que não tenho categoria para escrever memórias.
PERFIL
Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa no dia 7 de Dezembro de 1924. Casado, com dois filhos, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa e em Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Fundador do PS, esteve preso doze vezes na ditadura e foi deportado por Salazar para São Tomé. Daí partiu para o exílio em França. Regressou a Portugal depois da revolução de Abril, foi deputado, ministro, primeiro-ministro e Presidente da República de 1986 a 1996.
António Ribeiro Ferreira (Correio da Manhã) e Luís Osório (Rádio Clube Português)
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- Sterrius
- Sênior
- Mensagens: 5140
- Registrado em: Sex Ago 01, 2008 1:28 pm
- Agradeceu: 115 vezes
- Agradeceram: 323 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
OUCH. Eu coloquei EUA no lugar do BRASIL.O plano é comprar os papeis podres, utilizando os 700 bi da viúva e, assim, savar os bancos e o sistema de crédito norte-americano, porém o rombo chega a trilhões. Nessa operação, o governo norte-americano vai emitir títulos da divida pública para financiar essa compra,daí as coisas começam a complicar para o mundo e, até mesmo, para os EUA.
EDIT: Boa cabeça a desse Mario Alberto. Tem umas ideias bem interessantes.
- P44
- Sênior
- Mensagens: 55404
- Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
- Localização: O raio que vos parta
- Agradeceu: 2792 vezes
- Agradeceram: 2460 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
com que então também os ingleses estão virando comunas e NACIONALIZANDO bancos, hein????
O Gordon Brown, o CHAVEZ DA EUROPA hein?????????????
O Gordon Brown, o CHAVEZ DA EUROPA hein?????????????
http://br.reuters.com/article/businessN ... 5P20080928Grã-Bretanha vai nacionalizar banco B&B e pode vender ativos
domingo, 28 de setembro de 2008 14:22 BRT Imprimir[-] Texto [+]
Por Steve Slater e Sumeet Desai
LONDRES (Reuters) - O governo britânico vai nacionalizar a abalada concessora de hipotecas Bradford & Bingley e está discutindo a venda de seus ativos e filiais, disseram fontes do setor bancário.
O Tesouro está conduzindo negociações sobre o resgate do banco e informou neste domingo que as discussões continuam. Um comunicado completo será feito pelo ministro das Finanças, Alistair Darling, antes da abertura do mercado na segunda-feira.
O Tesouro gostaria de um resgaste pelo setor privado para a nona maior concessora de hipotecas da Grã-Bretanha, mas as concorrentes parecem não querer se tornar o "cavaleiro branco" em meio à crise de crédito global e o enfraquecimento do mercado imobiliário britânico.
A BBC informou que o B&B será nacionalizado e seus ativos de hipotecas serão fundidos com a Northern Rock, concessora de empréstimos que foi nacionalizada em fevereiro.
O governo intermediou neste mês a aquisição do HBOS, o maior concessor de hipotecas da Grã-Bretanha, pelo concorrente Lloyds TSB e está intervindo novamente.
"Temos muito claro que os poupadores e correntistas comuns devem ser protegidos adequadamente e que eles serão parte do acordo que vamos determinar", disse à BBC o ministro do Tesouro, Yvette Cooper.
Cooper disse que as negociações ainda estão sendo encaminhadas, mas que o governo está visando sustentar a estabilidade financeira do sistema bancário.
O B&B é o último banco que foi atingido pela crise financeira global, que foi disseminada pelas perdas sobre hipotecas de má qualidade nos Estados Unidos e já atingiu grandes vítimas nos Estados Unidos e na Europa.
(Reportagem adicional de Adrian Croft)
*Turn on the news and eat their lies*
- EDSON
- Sênior
- Mensagens: 7303
- Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
- Localização: CURITIBA/PR
- Agradeceu: 65 vezes
- Agradeceram: 335 vezes
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
O Chavez ta fazendo escola na América Latina e no mundo.
Quem diria não?
Quem diria não?
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
«I.O.U.S.A.» é o filme que vai abalar, ainda mais, a moral do público americano. Conta a história do que designa por «quatro défices» que sacodem os EUA.
Dois americanos fazem uma peregrinação pela América avisando os americanos do terramoto financeiro que espreita. Os quatro «cavaleiros do Apocalipse» financeiro denunciados são quatro défices – o orçamental, o da poupança, o da balança de pagamentos e o da liderança política.
A viagem pela América é verdadeira e não de ficção – trata-se de uma «tournée» intitulada ‘Fiscal Wake-up Tour’, realizada pela Concord Coalition, dirigida por Robert Bixby, e encabeçada por David Walker, o ex-«controlador» geral das contas públicas dos Estados Unidos, que resignou em Março da liderança do Government Accountability Office do Congresso (conhecido pelas três letras GAO) que deveria cumprir até 2013.
O «tour» foi passado a documentário de choque em 85 minutos pelo casal Patrick Creadon e Christine O‘Malley e revisto, apressadamente, em Setembro de 2007 – com os acontecimentos da crise do «subprime» em curso - e já foi seleccionado no Sundance Film Festival de 2008, realizado em Janeiro. Como produtor executivo assina Addison Wiggin, autor de ‘Empire of Debt’ (Império da Dívida), livro publicado em 2005.
O site do filme:
http://www.iousathemovie.com/
Dois americanos fazem uma peregrinação pela América avisando os americanos do terramoto financeiro que espreita. Os quatro «cavaleiros do Apocalipse» financeiro denunciados são quatro défices – o orçamental, o da poupança, o da balança de pagamentos e o da liderança política.
A viagem pela América é verdadeira e não de ficção – trata-se de uma «tournée» intitulada ‘Fiscal Wake-up Tour’, realizada pela Concord Coalition, dirigida por Robert Bixby, e encabeçada por David Walker, o ex-«controlador» geral das contas públicas dos Estados Unidos, que resignou em Março da liderança do Government Accountability Office do Congresso (conhecido pelas três letras GAO) que deveria cumprir até 2013.
O «tour» foi passado a documentário de choque em 85 minutos pelo casal Patrick Creadon e Christine O‘Malley e revisto, apressadamente, em Setembro de 2007 – com os acontecimentos da crise do «subprime» em curso - e já foi seleccionado no Sundance Film Festival de 2008, realizado em Janeiro. Como produtor executivo assina Addison Wiggin, autor de ‘Empire of Debt’ (Império da Dívida), livro publicado em 2005.
O site do filme:
http://www.iousathemovie.com/
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- soultrain
- Sênior
- Mensagens: 12154
- Registrado em: Dom Jun 19, 2005 7:39 pm
- Localização: Almada- Portugal
Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Wall Street incrédula com rejeição do Plano Paulson
A Bolsa de Wall Street reagiu em forte baixa ao anúncio de rejeição pelo Congresso do plano anti-crise proposto pela Administração Bush. "Ninguém contava com esta rejeição", reportava a jornalista da Bloomberg em directo. "Os investidores olharam os ecrãs de TV e ficaram incrédulos: só se ouviu silêncio".
Jornal de Negócios Online
negocios@mediafin.pt
As principais televisões norte-americanas transmitiram em directo a votação do Congresso. A expectativa era de que o plano de empréstimo de 700 mil milhões de dólares fosse aprovado, pois esse era o corolário esperado de uma semana de negociações entre democratas e republicanos.
Mas se a maioria dos congressistas democratas aprovou o plano, sustentando o apoio a Nancy Pelosi, a maioria dos congressistas republicanos inesperadamente votou contra o plano que a Administração do seu próprio partido levou a negociação.
As Bolsas reagiram imediatamente em forta queda, com o Dow Jones industrial a cair mais de 700 pontos.
A votação precisava de 218 votos para ser aprovada. Do lado dos democratas, houve 141 votos a favor e 94 contra. Dos republicanos, verificou-se 65 votos a favor e 133 contra. Saldo total: 206 votos a favor do plano e 227 contra.
A Bolsa de Wall Street reagiu em forte baixa ao anúncio de rejeição pelo Congresso do plano anti-crise proposto pela Administração Bush. "Ninguém contava com esta rejeição", reportava a jornalista da Bloomberg em directo. "Os investidores olharam os ecrãs de TV e ficaram incrédulos: só se ouviu silêncio".
Jornal de Negócios Online
negocios@mediafin.pt
As principais televisões norte-americanas transmitiram em directo a votação do Congresso. A expectativa era de que o plano de empréstimo de 700 mil milhões de dólares fosse aprovado, pois esse era o corolário esperado de uma semana de negociações entre democratas e republicanos.
Mas se a maioria dos congressistas democratas aprovou o plano, sustentando o apoio a Nancy Pelosi, a maioria dos congressistas republicanos inesperadamente votou contra o plano que a Administração do seu próprio partido levou a negociação.
As Bolsas reagiram imediatamente em forta queda, com o Dow Jones industrial a cair mais de 700 pontos.
A votação precisava de 218 votos para ser aprovada. Do lado dos democratas, houve 141 votos a favor e 94 contra. Dos republicanos, verificou-se 65 votos a favor e 133 contra. Saldo total: 206 votos a favor do plano e 227 contra.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ