Re: Georgia X Rússia
Enviado: Ter Mai 26, 2009 8:39 am
terra.com.br
Guerra no Cáucaso não está descartada, alerta especialista
Direto de Paris
O momento é de tensão no Cáucaso e uma nova guerra entre Rússia e Geórgia pode acontecer, sinaliza a ex-diretora do Centro Franco-Russo de Ciências Sociais em Moscou, Laure Delcour, uma das maiores especialistas francesas na ex-União Soviética. Na última terça-feira, os russos deixaram, em Genebra, a mesa de negociações sobre a segurança na fronteira com a Geórgia, alegando que não poderiam prosseguir sem a presença de representantes da Abcásia, uma região separatista georgiana e cuja independência fora reconhecida pelos russos, à contragosto dos georgianos. Os abcásios, por sua vez, aguardavam a divulgação de um relatório da ONU que os classificasse como estado autônomo, o que não ocorreu, provocando a sua ausência nas negociações.
Foi a quinta sessão de discussões, sob a égide da União Européia, da ONU e da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que acontecem desde outubro, dois meses após o fim da guerra entre os dois países. Até agora nenhuma medida prática de conciliação foi tomada, ao mesmo tempo em que os ocidentais tentam, sem sucesso, instalar observadores internacionais na região para prevenir novos incidentes armados e assegurar o acesso de ajuda humanitária caso a situação se deteriore novamente entre russos e georgianos.
Para completar o clima desfavorável à paz, desde o início do mês e 1o de junho, a Otan - na qual a Geórgia sonha ingressar - está realizando uma série de exercícios militares em território georgiano, no que a Rússia classifica como uma provocação. A Rússia, que tem as relações com a Otan rompidas desde a guerra de 2008, se negou a participar dos exercícios e aconselhou os países da região a fazerem o mesmo.
"A Geórgia, muito mais do que os demais, é o país da ex-URSS que mantém as relações mais difíceis com a Rússia", explica Delcour, que desde 2003 conduz missões da União Européia no Cáucaso. "Existe com certeza um risco de a situação degringolar, mas se isso vai resultar em uma nova guerra, não podemos saber. De qualquer forma, também não se pode excluir essa hipótese."
As negociações em Genebra tem futuro?
É muito difícil porque a Geórgia está colocada diante da vitória da Rússia e do reconhecimento da independência da Ossétia do Sul, ao mesmo tempo em que o presidente Mikheil Saakashvili tinha feito da reintegração dessa região uma de suas prioridades. A situação está completamente bloqueada, como se viu, com a Rússia deixando a mesa de negociações. A Rússia está assinando acordos de defesa com as duas regiões cuja independência da Geórgia ela reconheceu, e há um aumento das forças russas nessas duas regiões. É uma situação de bloqueio completo na qual os negociadores internacionais, para piorar, não estão autorizados a penetrar nessas regiões.
Por enquanto, as discussões que vêm ocorrendo desde outubro são, então, um fracasso?
De qualquer forma, desde o início sabíamos que seria muito difícil e demorado, porque os dois países têm posições radicais. A Geórgia, muito mais do que os demais, é o país da ex-URSS que mantém as relações mais difíceis com a Rússia, desde 1991, e que quis muito rapidamente se emancipar da tutela russa. Desde a chegada de Saakashvili ao poder, então, ela se virou complemente em direção ao Ocidente. Já pelo lado da Rússia, tem ao mesmo tempo a vontade de enfraquecer a Geórgia e de manter a sua influência em toda a região do Cáucaso. O problema é que se tratam de posições que raramente deixam de ser radicais.
Você acha que os dois países podem estar perto de uma nova guerra, como a que aconteceu subitamente no ano passado?
Em relação a isso, prefiro não fazer previsões porque a guerra do ano passado era praticamente impossível de se prever, de tanto que ela era perigosa. Os dois países assumiram os riscos e foram em frente, a Geórgia já foi lançando uma ofensiva em direção à Ossétia do Sul, enquanto a Rússia respondeu de uma forma totalmente desproporcional. Sendo assim, agora não podemos excluir nenhuma possibilidade, até porque a gente não tem como se saber o que acontece exatamente em cada um dos lados. O que sabemos é que existe uma tensão constante e provocações que acontecem o tempo todo, dos dois lados da fronteira. Existe com certeza um risco de a situação degringolar, mas se isso vai resultar em uma nova guerra, não podemos saber. De qualquer forma, também não se pode excluir essa hipótese.
A Otan está realizando desde o início do mês uma série de exercícios militares naquela região, o que tem aparentado ser uma provocação aos russos. Alguns falam mesmo em retorno do clima da Guerra Fria. É tão grave assim?
Sim, sim. O projeto de alargamento da Otan é uma das causas principais da intervenção da Rússia na Geórgia. A Rússia está excluída da Otan, uma organização que ela considera nascida da Guerra Fria, e isso provoca estresse na fronteira. O alargamento aos países bálticos já foi difícil de aceitar, então pela Ucrânia e a Geórgia, a Rússia já deixou claro que seria uma linha vermelha. A guerra esquentou os ânimos, e talvez mesmo os tenha definitivamente estragado, do projeto de alargamento à Geórgia, mas ao mesmo tempo a Geórgia continua uma parceira da Otan e essas manobras militares a Rússia não pode aceitar. É todo um contexto que explica, ao mesmo tempo, o fato de a Rússia ter deixado a mesa das negociações em Genebra e que ela fique indignada com os exercícios da Otan na região.
Por que os russos são tão reticentes à presença de observadores internacionais na região?
Simplesmente por uma razão: eles são reticentes quanto às interferências do Ocidente. Eles preferem pensar que eles ganharam aquela terra do que fazer novos acordos.
Os ocidentais, então, tem pouco a fazer para tentar ajudar a trazer estabilidade região?
A guerra mostrou que a Rússia tem o peso para controlar a região e os ocidentais não tem nada do que se meter.
Neste sentido, Genebra foi uma boa escolha para ser o palco das negociações?
Sim e não. A mediação européia foi bem aceita durante a guerra, mas com certos limites. Ou seja, agora que eles reconheceram a independência das duas regiões, eles pensam que é uma consagração da zona de influência e que os ocidentais não têm de intervir.
O que você espera da visita do presidente americano Barack Obama à Rússia, em julho?
Será certamente algo muito importante que dará o novo tom das relações russo-americanas a partir de agora. As relações se degradaram extremamente há alguns anos e é assim que elas se encontram ainda hoje. Mas a mudança de tom por parte da nova administração americana - Barack Obama o tendo mudado completamente em relação ao predecessor -, poderá ser muito importante para os russos. Eles não se sentiam nada escutados e nem respeitados pela administração Bush e tudo indica que isso está mudando. Em relação à Geórgia, também deve ser positivo, mas nada acontecerá agora. Será um processo mais demorado, tendo em vista que primeiro é preciso melhorar as relações com a chefona Rússia.
Guerra no Cáucaso não está descartada, alerta especialista
Direto de Paris
O momento é de tensão no Cáucaso e uma nova guerra entre Rússia e Geórgia pode acontecer, sinaliza a ex-diretora do Centro Franco-Russo de Ciências Sociais em Moscou, Laure Delcour, uma das maiores especialistas francesas na ex-União Soviética. Na última terça-feira, os russos deixaram, em Genebra, a mesa de negociações sobre a segurança na fronteira com a Geórgia, alegando que não poderiam prosseguir sem a presença de representantes da Abcásia, uma região separatista georgiana e cuja independência fora reconhecida pelos russos, à contragosto dos georgianos. Os abcásios, por sua vez, aguardavam a divulgação de um relatório da ONU que os classificasse como estado autônomo, o que não ocorreu, provocando a sua ausência nas negociações.
Foi a quinta sessão de discussões, sob a égide da União Européia, da ONU e da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que acontecem desde outubro, dois meses após o fim da guerra entre os dois países. Até agora nenhuma medida prática de conciliação foi tomada, ao mesmo tempo em que os ocidentais tentam, sem sucesso, instalar observadores internacionais na região para prevenir novos incidentes armados e assegurar o acesso de ajuda humanitária caso a situação se deteriore novamente entre russos e georgianos.
Para completar o clima desfavorável à paz, desde o início do mês e 1o de junho, a Otan - na qual a Geórgia sonha ingressar - está realizando uma série de exercícios militares em território georgiano, no que a Rússia classifica como uma provocação. A Rússia, que tem as relações com a Otan rompidas desde a guerra de 2008, se negou a participar dos exercícios e aconselhou os países da região a fazerem o mesmo.
"A Geórgia, muito mais do que os demais, é o país da ex-URSS que mantém as relações mais difíceis com a Rússia", explica Delcour, que desde 2003 conduz missões da União Européia no Cáucaso. "Existe com certeza um risco de a situação degringolar, mas se isso vai resultar em uma nova guerra, não podemos saber. De qualquer forma, também não se pode excluir essa hipótese."
As negociações em Genebra tem futuro?
É muito difícil porque a Geórgia está colocada diante da vitória da Rússia e do reconhecimento da independência da Ossétia do Sul, ao mesmo tempo em que o presidente Mikheil Saakashvili tinha feito da reintegração dessa região uma de suas prioridades. A situação está completamente bloqueada, como se viu, com a Rússia deixando a mesa de negociações. A Rússia está assinando acordos de defesa com as duas regiões cuja independência da Geórgia ela reconheceu, e há um aumento das forças russas nessas duas regiões. É uma situação de bloqueio completo na qual os negociadores internacionais, para piorar, não estão autorizados a penetrar nessas regiões.
Por enquanto, as discussões que vêm ocorrendo desde outubro são, então, um fracasso?
De qualquer forma, desde o início sabíamos que seria muito difícil e demorado, porque os dois países têm posições radicais. A Geórgia, muito mais do que os demais, é o país da ex-URSS que mantém as relações mais difíceis com a Rússia, desde 1991, e que quis muito rapidamente se emancipar da tutela russa. Desde a chegada de Saakashvili ao poder, então, ela se virou complemente em direção ao Ocidente. Já pelo lado da Rússia, tem ao mesmo tempo a vontade de enfraquecer a Geórgia e de manter a sua influência em toda a região do Cáucaso. O problema é que se tratam de posições que raramente deixam de ser radicais.
Você acha que os dois países podem estar perto de uma nova guerra, como a que aconteceu subitamente no ano passado?
Em relação a isso, prefiro não fazer previsões porque a guerra do ano passado era praticamente impossível de se prever, de tanto que ela era perigosa. Os dois países assumiram os riscos e foram em frente, a Geórgia já foi lançando uma ofensiva em direção à Ossétia do Sul, enquanto a Rússia respondeu de uma forma totalmente desproporcional. Sendo assim, agora não podemos excluir nenhuma possibilidade, até porque a gente não tem como se saber o que acontece exatamente em cada um dos lados. O que sabemos é que existe uma tensão constante e provocações que acontecem o tempo todo, dos dois lados da fronteira. Existe com certeza um risco de a situação degringolar, mas se isso vai resultar em uma nova guerra, não podemos saber. De qualquer forma, também não se pode excluir essa hipótese.
A Otan está realizando desde o início do mês uma série de exercícios militares naquela região, o que tem aparentado ser uma provocação aos russos. Alguns falam mesmo em retorno do clima da Guerra Fria. É tão grave assim?
Sim, sim. O projeto de alargamento da Otan é uma das causas principais da intervenção da Rússia na Geórgia. A Rússia está excluída da Otan, uma organização que ela considera nascida da Guerra Fria, e isso provoca estresse na fronteira. O alargamento aos países bálticos já foi difícil de aceitar, então pela Ucrânia e a Geórgia, a Rússia já deixou claro que seria uma linha vermelha. A guerra esquentou os ânimos, e talvez mesmo os tenha definitivamente estragado, do projeto de alargamento à Geórgia, mas ao mesmo tempo a Geórgia continua uma parceira da Otan e essas manobras militares a Rússia não pode aceitar. É todo um contexto que explica, ao mesmo tempo, o fato de a Rússia ter deixado a mesa das negociações em Genebra e que ela fique indignada com os exercícios da Otan na região.
Por que os russos são tão reticentes à presença de observadores internacionais na região?
Simplesmente por uma razão: eles são reticentes quanto às interferências do Ocidente. Eles preferem pensar que eles ganharam aquela terra do que fazer novos acordos.
Os ocidentais, então, tem pouco a fazer para tentar ajudar a trazer estabilidade região?
A guerra mostrou que a Rússia tem o peso para controlar a região e os ocidentais não tem nada do que se meter.
Neste sentido, Genebra foi uma boa escolha para ser o palco das negociações?
Sim e não. A mediação européia foi bem aceita durante a guerra, mas com certos limites. Ou seja, agora que eles reconheceram a independência das duas regiões, eles pensam que é uma consagração da zona de influência e que os ocidentais não têm de intervir.
O que você espera da visita do presidente americano Barack Obama à Rússia, em julho?
Será certamente algo muito importante que dará o novo tom das relações russo-americanas a partir de agora. As relações se degradaram extremamente há alguns anos e é assim que elas se encontram ainda hoje. Mas a mudança de tom por parte da nova administração americana - Barack Obama o tendo mudado completamente em relação ao predecessor -, poderá ser muito importante para os russos. Eles não se sentiam nada escutados e nem respeitados pela administração Bush e tudo indica que isso está mudando. Em relação à Geórgia, também deve ser positivo, mas nada acontecerá agora. Será um processo mais demorado, tendo em vista que primeiro é preciso melhorar as relações com a chefona Rússia.