Brigadeiro do Ar Renato Claudio Costa Pereira, Ex- Secretário Geral da ICAO ( OACI Organização da Aviação Civil Internacional)
BILHÕES!!!
Meu caro Boechat,
Espero que você dê a este meu comentário a mesma atenção
com que escutamos o seu comentário no seu muito bom programa todas as
manhãs.
Concordo quase sempre com sua visão neste controvertido
quadro político em que vivemos, onde as agendas pessoais estão sempre
à frente do interesse nacional, ou por pura e simples corrupção ou por
projetos de "grupos de interesse" para beneficio próprio.
O Professor Darcy Bessone sempre me dizia que nunca
existiu essa figura que chamam de "povo", mas sim, e apenas, existem
esses grupos mais ou menos instrumentados para atingir seus objetivos,
ainda que em detrimento de toda uma nação e do seu futuro.
Nesse caso, que podemos batizar de "Contrato Sarkozy/Lula"
existem inúmeros e importantes detalhes que nós, bem como toda a
população brasileira e francesa não conhecemos suficientemente.
Não se trata apenas de prover recursos orçamentários a um
contrato já realizado que, pelo seu valor financeiro, compromete todo
um futuro e talvez duas gerações de brasileiros, muitos ainda nem
nascidos.
Primeiro, as razões alegadas para tal necessidade são
muito nebulosas e, no mínimo, muito estranhas.
"Defender" a Amazônia contra o que? Tráfico de drogas?
Ocupação ilegal? Ações militares inimigas?
Tudo isso as nossas Forças Armadas junto com as Forças
Policiais e o Ministério Público já o fazem, e pelo visto,
satisfatoriamente.
Queiram ou não, só existe, historicamente, uma maneira de
defender um território, ou seja, uma ocupação dentro da lei. Quanto
mais ocupado mais protegido estará, porque a gente ali instalada
defenderá o que é seu, em nome da nação e pressionando governos a
ajudá-los nessa tarefa. Foi assim que aconteceu na expansão americana
para os territórios do oeste, foi assim com Plácido de Castro na
defesa do nosso território do Acre. Se quisermos defender e proteger a
Amazônia então, ocupemos a Amazônia, dentro da lei brasileira antes
que estrangeiros o façam dentro das suas leis.
Para a defesa da Amazônia não precisamos nem de submarinos
nucleares nem de aviões de última geração . Afinal, quem são esses
terríveis inimigos que pretendem atacar aquela região? Se é que eles
existem, pode ter certeza que irão devagar ocupando a área e se
estabelecendo lá, como os Americanos fizeram com o Texas no fim do
século 19. Nesse particular, as ONGs são a estratégia, mas para elas
basta a lei brasileira e a Policia, desde que apoiadas por "vontade
política".
É claro que todos vão ter de cumprir a lei, os governos também!
Outro dos motivos alegados para esta corrida armamentista
é a defesa e a proteção do famoso "Pré-sal", senão vejamos:
Primeiro anunciaram a descoberta de jazidas imensas de
petróleo. Calcularam a partir do que ainda é misterioso, não só a
quantidade de óleo como também "o preço com o qual ele vai ser
comercializado", não sabe Deus quando e com que custo para trazê-lo à
superfície. É consenso que ainda que a Petrobrás seja uma das empresas
que tem maior experiência em explorar poços profundos, nessa
profundidade e "depois" da camada de sal ela é tão inexperiente quanto
todas as demais petroleiras conhecidas. Será preciso trabalhar muito e
aprender muito ainda. Tudo isso traz consensualmente entre experts
internacionais, um prazo de 15 a 20 anos para possibilitar uma
exploração tecnicamente viável, apesar de um imenso desconhecimento
das condições de viabilidade econômica. Note-se que ainda não existem
provas sobre a real quantidade de óleo "esperando" lá em baixo.
Convém refletir que combustível fóssil é poluente por
natureza, e com as pressões dos movimentos ecológicos, a tendência é a
sua substituição gradual para limpar a atmosfera e retardar o
aquecimento global.
As Forças Armadas, especialmente Força Aérea e Marinha de
Guerra, receberam esta tarefa a cumprir. Milhares de quilômetros
quadrados de mar, onde "se confirmada" a possível exploração dessa
"riqueza", haverá ação militar de inimigos que nos atacarão em guerra
total e aberta, para conquistá-la.
Mais uma vez, quem serão estes "piratas" modernos
equipados com marinha de guerra e força aérea, equipadas com aeronaves
no estado da arte, navios de superfície e submarinos nucleares,
equipadas e treinadas na utilização eficiente e eficaz do armamento
mais moderno e sofisticado existente no mundo?
Se por acaso tememos uma invasão em grande escala,
perpetrada por uma grande potencia nuclear deste, ou de outro planeta,
então, esses aviões e esses submarinos servirão tanto quanto serviram
o formidável aparelho militar do ditador do Iraque por duas ocasiões
em passado recente.
Sempre achei muito engraçado o "temor" do ditador da
Venezuela de que a utilização compartilhada de algumas bases militares
Colombianas por forças colombianas e americanas fossem utilizadas para
um "ataque" à Venezuela. A tecnologia e o treinamento demonstrados
pelas forças americanas no Iraque, deixaram bem claro para todo o
planeta que eles poderão "atacar", se necessário, qualquer ponto da
Terra, com máxima força e com mínima perda, a partir das suas bases
nos Estados Unidos.
Ainda bem que hoje temos um grande americano como líder
dessa capacidade tecnológica e militar!
Precisamos, sim, de uma aeronave capaz de manter nossa
Força Aérea capacitada e seu pessoal treinado, e pronto para qualquer
sacrifício pela pátria. O mesmo serve à nossa Marinha de Guerra e
nosso Exercito, a mais democrática de todas as nossas organizações.
Sim precisamos de aviões de combate, navios de guerra e
até tanques e canhões, mas temos de ser muito cuidadosos com o custo a
ser imposto a nação brasileira. Nossas forças armadas estudam
cuidadosamente e com profissionalismo nossas hipóteses de conflito, e
buscam, até mesmo, sem o apoio político, estarem preparadas para essas
eventualidades.
Neste contrato "Sarkosy/Lula" ninguém adiantou o ponto
mais importante.
E as "armas" com que estes aviões submarinos e
helicópteros irão utilizar? Estarão lá, como parte do contrato?
Que armas (canhões, mísseis, torpedos, metralhadoras,
bombas, balas, etc...) estarão lá usufruindo dessa "transferência de
tecnologia" e em quantidade suficiente para treinamento e reservas de
guerra?
Quais os prazos para recebimento dessa tecnologia
transferida? Quais as empresas brasileiras que receberão essa
tecnologia? Quais as clausulas práticas para comercialização? Qual o
envolvimento das nossas universidades, do IME ou do CTA? Etc, etc,
etc...
Uma máquina de guerra sem armas serve apenas para enfeite
e diversão. Armas são caras e exigem reposição imediata para a
manutenção da capacidade militar. Mísseis e bombas, por exemplo, mesmo
nas prateleiras dos depósitos envelhecem e perdem capacidade de ação,
exigindo manutenção permanente, cuidadosa e cara. Na verdade elas
deveriam ser produzidas por nós aqui, depois de termos recebido a
tecnologia incorporado essa capacitação à nossa engenharia e ao nosso
parque industrial,com prazos e ações muito bem detalhados. Como este
acordo/contrato prevê tudo isso?
Ninguém sabe meu caro Boechat!
É constrangedor presenciar nossas Forças Armadas servirem
de "banquinho" de campanha eleitoral.
É perigoso perceber que as decisões estão passando ao
largo do conhecimento e da razão.
Muita gente tem de explicar direitinho a todos nós o que é
isso e o que se pretende afinal.
Finalmente, gostaria de relembrar que as Forças Armadas
tem, e devem ter, poder militar, mas sempre utilizá-lo dentro da lei,
da ordem e para servir e proteger toda esta nação.
Estarei sempre às ordens para esclarecer qualquer ponto
que porventura você queira melhor entender.
Maj Brig do Ar Renato Claudio Costa Pereira
E-mail:
rccpereira@gmail.com
Tel: 31 35041004