Esse aqui é bem interessante,reparem quem está do lado de quem,sendo que um dos lados é o Brasil.
O ano (militar) da França
Presidente Nicolas Sarkozy assiste ao 7 de setembro de olho em negócios de bilhões de euros na área de defesa
Isabel Fleck
O governo brasileiro não poderia ter preparado um cenário mais otimista para a chegada do presidente francês, Nicolas Sarkozy, convidado especial de Luiz Inácio Lula da Silva para as comemorações do 7 de setembro — no âmbito da celebração do Ano da França no Brasil. A menos de uma semana da visita do mandatário francês, o Senado aprovou, com uma rapidez impressionante, a obtenção de um crédito de 6,08 bilhões de euros para a construção de cinco submarinos de tecnologia francesa. Além disso, Lula assumiu em público sua preferência pelo caça Rafale, da francesa Dassault, na concorrência F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB).
Durante a visita, que tem motivações bem mais expressivas que o desfile na Esplanada dos Ministérios, serão assinados pelos presidentes Lula e Sarkozy o contrato de fornecimento de 51 helicópteros EC-725 — a serem construídos aqui e usados pelas três Forças — e a compra de quatro submarinos convencionais da classe Scorpène e de outro, com propulsão nuclear, cujo motor será desenvolvido pelo Brasil. O programa militar ainda prevê a construção de um estaleiro e de uma base de apoio para os submarinos.
No projeto aprovado pelo plenário do Senado na última quarta-feira, o governo está autorizado a pedir um empréstimo externo de 4,32 bilhões de euros a um consórcio de bancos liderado pelo francês BNP-Paribas. Os recursos serão destinados ao programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha brasileira. Já a segunda verba aprovada pelo Senado, de 1,76 bilhão de euros, será fornecida entre 2010 e 2016 por um consórcio formado pelas empresas Helibras (brasileira)e Eurocopter (franco-alemã). Um dia depois da decisão dos senadores, o governo enviou ao Congresso, para “ajudar” na construção dos submarinos, um crédito de R$ 982 milhões, decorrente de royalties de petróleo.
A aprovação dos créditos pelo Senado, no entanto, só veio após o ministro da Defesa, Nelson Jobim, comparecer à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para prestar esclarecimentos sobre a escolha dos submarinos franceses, em detrimento, por exemplo, do IKL-214, da empresa alemã HDL. O argumento principal do Executivo é a disposição dos franceses para transferir tecnologia — que vem sendo considerada ponto primordial também na disputa dos caças para a FAB.
Tática
Para o especialista em segurança Salvador Ghelfi Raza, professor da Universidade de Defesa dos Estados Unidos, contudo, no caso dos submarinos, só a transferência de tecnologia não basta. “A questão tática, que é muito importante para a integração com o que temos, vai nos custar caro. A engenharia de sistemas na França é muito sofisticada, é muito boa, mas ela é muito autônoma, não dialoga com os outros países”, afirma Raza. “A nossa doutrina de emprego de submarinos de patrulha foi desenhada em cima da lógica da Otan, que é diferente da francesa. No momento em que nos voltamos para a França, não quer dizer que fizemos uma má escolha, mas o custo da integração tática equivalerá a cerca de 25% do valor total, numa compra de cinco submarinos”, completa.
O pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp Geraldo Cavagnari acredita que a integração dos submarinos franceses com os cinco modelos alemães usados hoje pela Marinha brasileira — e com o restante das embarcações — não será um problema tão grande. “O que pode ocorrer é uma evolução dentro do que nós já temos. Mas a França e os Estados Unidos, na questão de doutrina tática, são parecidos, porque os franceses também são ‘meio Otan’”, destaca Cavagnari. Além disso, a oferta francesa bate a alemã pelo simples fato de oferecer a possibilidade de o Brasil ter um submarino de propulsão nuclear, sonho antigo da Marinha, que colocará o país no seleto clube das potências que dispõem dessa tecnologia.
Pacote total divide especialistas
Encaminhados os acordos entre França e Brasil sobre os submarinos e helicópteros, a definição pelo caça Rafale na concorrência F-X2 da FAB parece cada vez mais próxima. A preferência do governo brasileiro pela proposta da Dassault, até então velada, foi confirmada em declarações do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, ele disse que considera a França “o único país importante disposto a discutir a transferência de tecnologia”.
A provável opção por fechar todo o pacote militar com um só país, uma decisão essencialmente política, divide as opiniões dos especialistas em defesa. “A lógica da escolha do submarino é diferente da do avião. O Scorpène é considerado um dos melhores do mundo dentro da sua classe. Já o que está acontecendo com o caça é uma indução da vontade política, muito mais por uma afinidade pessoal com os franceses”, questiona o consultor Salvador Ghelfi Raza. “O que eu tenho visto nas discussões é muito mais paixão do que análise.”
Para Raza, a análise técnica feita pela FAB sobre as três propostas — concorrem com o Rafale o norte-americano F/A-18 Super Hornet da Boeing e o Gripen da Saab — está “muito bem feita”, mas pesará pouco na decisão final do ministro da Defesa, Nelson Jobim. “A FAB não decide, apenas recomenda. Só que, geralmente, para esse tipo de negociação, há uma equipe intermediária, que atribui valores às propostas analisadas pelos técnicos, antes de enviar à equipe decisora. Nós pulamos essa etapa”, explica.
O especialista Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, não vê problemas em uma escolha mais política para a compra dos 36 caças. “Ela é válida desde que a decisão técnica não seja atropelada”, ressalta Cavagnari, que também considera “interessante” fechar todos os acordos com um só país. “Se eles oferecerem condições atraentes, é óbvio que vamos fechar um pacote só, com um só país. Nós fizemos isso com os Estados Unidos até o fim da Guerra Fria, e foi correta a atitude tomada naquela época”, argumenta.
A proposta da Rafale parece, de fato, cada vez mais atraente. Segundo o Correio apurou, os franceses reduziram seu preço em quase 30%, para equipará-lo ao dos concorrentes. Cavagnari não descarta que surjam desentendimentos políticos com os franceses, no futuro. “Mas acredito que a continuidade do entendimento será levada em conta na hora da escolha.” (IF)
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Sds