Enviado: Ter Jul 24, 2007 7:07 pm
ESTARIAM OS ESTADOS UNIDOS SE PREPARANDO PARA ATACAR O PAQUISTÃO?
Por Eric Margolis – 24 de julho de 2007.
A administração Bush pode estar se preparando para se descartar de seu velho aliado, Paquistão, a quem Washington, agora, culpa por seus humilhantes fracassos em esmagar a al-Qaeda, capturar seus fugidios líderes, ou derrotar as forças da resistência Taliban, no Afeganistão.
Imediatamente somos lembrados da Guerra do Vietnam, quando o Pentágono, incapaz de derrotar o Exército norte-vietnamita e as forças do Viet Cong, pediu pela invasão do Camboja.
Fontes em Washington dizem que o Pentágono está rascunhando planos para atacar a região tribal “autônoma”, bordejando o Afeganistão. Incursões terrestres limitadas de “perseguição” por forças americanas baseadas no Afeganistão, intensivos ataques aéreos, e incursões de forças especiais dentro da região tribal autônoma do Paquistão estão sendo avaliadas.
Nesta semana, o chefe da inteligência nacional dos Estados Unidos e outros porta-vozes de inteligência, confirmaram que ataques contra “alvos terroristas” no cinturão tribal do Paquistão são, cada vez mais, prováveis. Esses avisos tencionam tanto pressionar mais o atormentado homen-forte do Paquistão, Presidente Pervez Musharraf para enviar mais tropas para as áreas tribais a fim de combater seu próprio povo, como para preparar a opinião pública americana para uma possível ampliação da guerra no Afeganistão para dentro do Paquistão.
O cinturão tribal do Paquistão de 27.200 Km, oficialmente conhecido como Área Tribal Autônoma Federal (ou FATA, Federal Autonomous Tribal Area), é o lar para 3,3 milhões de nativos Pashtun. Ela se tornou um abrigo seguro para a al-Qaeda, Taliban e outros grupos de resistência afegãos, e uma fonte de atividade anti-americana, principalmente graças à ocupação do Afeganistão, liderada pelos Estados Unidos, que levou muitos militantes através da fronteira para dentro do Paquistão. Osama bin Laden, muito provavelmente, está abrigado nessa região, como afirma a inteligência americana.
Eu passei um tempo notável nesta região medieval e selvagem, durante os anos 1980 e 1990, viajando sozinho onde nem mesmo os funcionários do governo paquistanês ousavam ir, visitando as tribos do Wazirisão, Orakzai, Khyber, Chitral e Kurram, e encontrando seus chefes, chamados “maliks.”
Esses cinturões tribais são sempre considerados como “sem lei”. Nativos pashtun podem fuzilar você, se não gostarem da sua cara. Rudyard Kipling preveniu os soldados imperiais britânicos de que, ao combaterem cruéis e ferozes guerreiros pashtun do Clã Afridi, caso fossem feridos, “guardem sua última bala para vocês mesmos.”
Mas há uma lei: o tradicional código tribal pashtun, Pashtunwali, que governa, rigidamente, o comportamento e a honra pessoal. Proteger convidados era sagrado. Eu fui cativado por essa magistral região montanhosa e escrevi sobre ela, extensivamente, em meu livro, ”War at the Top of the World”.
Os 40 milhões de pashtun – chamados de “pathan” pelos britânicos – são o maior grupo tribal do mundo. O Império Britânico os dividiu por uma fronteira artifical, a Linha Durand, que iria se tornar, igual a tantas outras fronteiras coloniais britânicas, a atual fronteira Afeganistão-Paquistão. Quando o Paquistão foi criado em 1947, os pashtun foram divididos entre esta nova nação e o Afeganistão.
Os pashtun do Paquistão somam entre 28 à 30 milhões, mais 2,5 milhões adicionais de refugiados do Afeganistão. Os pashtuns, uma das afamadas “raças marciais” do Exército Anglo-Indiano, ocupam muitas posições superiores na burocracia, serviço de inteligência e forças armadas do Paquistão e, naturalmente, tem muita simpatia por seus atormentados primos no Afeganistão. Os 15 milhões de pashtun do Afeganistão formam o maior grupo étnico dessa nação, com apenas um pouco menos da metade da população.
A agência tribal pashtun se juntou, com relutância, ao recém-criado Paquistão, em 1947 sob expressa garantia constitucional de total autonomia e uma proibição de tropas paquistanesas de jamais entrarem lá.
Mas, sob intensa pressão americana, o Presidente Pervez Musharraf violou a constituição do Paquistão ao enviar 80 mil soldados federais para combater as tribos da região, matando 3 mil nativos. Na melhor tradição imperial britânica, Washington paga 100 milhões de dólares mensais, para Musharraf alugar seus sipaios (soldados nativos) para enfrentar as tribos pashtun. Como resultado, o Paquistão está rumando, aceleradamente, para a guerra civil, como o sangrento cerco da Mesquita Vermelha de Islamabad e a atual onda de ataques à bomba através de toda a nação, demonstra.
O movimento anti-comunista Taliban, é parte do povo pashtun. Os combatentes talibans movem-se através da artificial fronteira Paquistão-Afeganistão, tomando emprestado um dito maoista, como o peixe pela água. Osama bin Laden é um herói na região e, provavelmente, se abriga lá.
Os Estados Unidos acabaram de aumentar sua recompensa por bin Laden para $ 50 milhões e planejam fazer chover mais $ 750 milhões na região tribal, num esforço para comprar a lealdade dela. Bush/Cheney & Co. não compreendem que, embora possam alugar o governo do Presidente Musharraf, em Islamabad, muitos pashtun valorizam a honra pessoal muito mais do que dinheiro e não podem ser comprados. É por isso, muito provavelmente, que bin Laden ainda não foi traído.
Qualquer ataque americano contra o Paquistão irá ser um engano catastrófico. Primeiro, assaltos terrestres e aéreos irão, apenas, aumentar a guerra anti-americana e mesclá-la com a resistência do Afeganistão à ocupação ocidental. Forças americanas já estão excessivamente distendidas para serem envolvidas em mais outra pequena guerra.
Segundo, os oficiais do exército do Paquistão que se recusam a serem comprados podem resistir a um ataque americano sobre sua terra natal, e derrubarem o homem que o permita, general Musharraf. Um ataque americano irá aumentar, agudamente, a ameaça de extremistas anti-Estados Unidos assumirem o controle do estratégico Paquistão e marginalizarem estes que buscam o retorno a um governo democrático.
Terceiro, um ataque americano contra as áreas tribais poderá reacender o velho movimento irredentista para reunir as partes pashtun do Paquistão e do Afeganistão em um estado independente, “Pashtunistão”. Isso poderá desmanchar o frágil Paquistão, deixando seu arsenal nuclear pronto para ser arrebatado, e deixar a Índia ser tentada a intervir.
Os militares dos Estados Unidos ficaram acostumados a atacar pequenas e fracas nações como Granada, Panamá e o Iraque. O Paquistão, com 163 milhões de pessoas e um exército, pobremente equipado, mas muito duro, não irá oferecer vitórias fáceis. Esses funcionários da Administração Bush que, tolamente, advogam por um ataque ao Paquistão, estão brincando com fogo.
Por Eric Margolis – 24 de julho de 2007.
A administração Bush pode estar se preparando para se descartar de seu velho aliado, Paquistão, a quem Washington, agora, culpa por seus humilhantes fracassos em esmagar a al-Qaeda, capturar seus fugidios líderes, ou derrotar as forças da resistência Taliban, no Afeganistão.
Imediatamente somos lembrados da Guerra do Vietnam, quando o Pentágono, incapaz de derrotar o Exército norte-vietnamita e as forças do Viet Cong, pediu pela invasão do Camboja.
Fontes em Washington dizem que o Pentágono está rascunhando planos para atacar a região tribal “autônoma”, bordejando o Afeganistão. Incursões terrestres limitadas de “perseguição” por forças americanas baseadas no Afeganistão, intensivos ataques aéreos, e incursões de forças especiais dentro da região tribal autônoma do Paquistão estão sendo avaliadas.
Nesta semana, o chefe da inteligência nacional dos Estados Unidos e outros porta-vozes de inteligência, confirmaram que ataques contra “alvos terroristas” no cinturão tribal do Paquistão são, cada vez mais, prováveis. Esses avisos tencionam tanto pressionar mais o atormentado homen-forte do Paquistão, Presidente Pervez Musharraf para enviar mais tropas para as áreas tribais a fim de combater seu próprio povo, como para preparar a opinião pública americana para uma possível ampliação da guerra no Afeganistão para dentro do Paquistão.
O cinturão tribal do Paquistão de 27.200 Km, oficialmente conhecido como Área Tribal Autônoma Federal (ou FATA, Federal Autonomous Tribal Area), é o lar para 3,3 milhões de nativos Pashtun. Ela se tornou um abrigo seguro para a al-Qaeda, Taliban e outros grupos de resistência afegãos, e uma fonte de atividade anti-americana, principalmente graças à ocupação do Afeganistão, liderada pelos Estados Unidos, que levou muitos militantes através da fronteira para dentro do Paquistão. Osama bin Laden, muito provavelmente, está abrigado nessa região, como afirma a inteligência americana.
Eu passei um tempo notável nesta região medieval e selvagem, durante os anos 1980 e 1990, viajando sozinho onde nem mesmo os funcionários do governo paquistanês ousavam ir, visitando as tribos do Wazirisão, Orakzai, Khyber, Chitral e Kurram, e encontrando seus chefes, chamados “maliks.”
Esses cinturões tribais são sempre considerados como “sem lei”. Nativos pashtun podem fuzilar você, se não gostarem da sua cara. Rudyard Kipling preveniu os soldados imperiais britânicos de que, ao combaterem cruéis e ferozes guerreiros pashtun do Clã Afridi, caso fossem feridos, “guardem sua última bala para vocês mesmos.”
Mas há uma lei: o tradicional código tribal pashtun, Pashtunwali, que governa, rigidamente, o comportamento e a honra pessoal. Proteger convidados era sagrado. Eu fui cativado por essa magistral região montanhosa e escrevi sobre ela, extensivamente, em meu livro, ”War at the Top of the World”.
Os 40 milhões de pashtun – chamados de “pathan” pelos britânicos – são o maior grupo tribal do mundo. O Império Britânico os dividiu por uma fronteira artifical, a Linha Durand, que iria se tornar, igual a tantas outras fronteiras coloniais britânicas, a atual fronteira Afeganistão-Paquistão. Quando o Paquistão foi criado em 1947, os pashtun foram divididos entre esta nova nação e o Afeganistão.
Os pashtun do Paquistão somam entre 28 à 30 milhões, mais 2,5 milhões adicionais de refugiados do Afeganistão. Os pashtuns, uma das afamadas “raças marciais” do Exército Anglo-Indiano, ocupam muitas posições superiores na burocracia, serviço de inteligência e forças armadas do Paquistão e, naturalmente, tem muita simpatia por seus atormentados primos no Afeganistão. Os 15 milhões de pashtun do Afeganistão formam o maior grupo étnico dessa nação, com apenas um pouco menos da metade da população.
A agência tribal pashtun se juntou, com relutância, ao recém-criado Paquistão, em 1947 sob expressa garantia constitucional de total autonomia e uma proibição de tropas paquistanesas de jamais entrarem lá.
Mas, sob intensa pressão americana, o Presidente Pervez Musharraf violou a constituição do Paquistão ao enviar 80 mil soldados federais para combater as tribos da região, matando 3 mil nativos. Na melhor tradição imperial britânica, Washington paga 100 milhões de dólares mensais, para Musharraf alugar seus sipaios (soldados nativos) para enfrentar as tribos pashtun. Como resultado, o Paquistão está rumando, aceleradamente, para a guerra civil, como o sangrento cerco da Mesquita Vermelha de Islamabad e a atual onda de ataques à bomba através de toda a nação, demonstra.
O movimento anti-comunista Taliban, é parte do povo pashtun. Os combatentes talibans movem-se através da artificial fronteira Paquistão-Afeganistão, tomando emprestado um dito maoista, como o peixe pela água. Osama bin Laden é um herói na região e, provavelmente, se abriga lá.
Os Estados Unidos acabaram de aumentar sua recompensa por bin Laden para $ 50 milhões e planejam fazer chover mais $ 750 milhões na região tribal, num esforço para comprar a lealdade dela. Bush/Cheney & Co. não compreendem que, embora possam alugar o governo do Presidente Musharraf, em Islamabad, muitos pashtun valorizam a honra pessoal muito mais do que dinheiro e não podem ser comprados. É por isso, muito provavelmente, que bin Laden ainda não foi traído.
Qualquer ataque americano contra o Paquistão irá ser um engano catastrófico. Primeiro, assaltos terrestres e aéreos irão, apenas, aumentar a guerra anti-americana e mesclá-la com a resistência do Afeganistão à ocupação ocidental. Forças americanas já estão excessivamente distendidas para serem envolvidas em mais outra pequena guerra.
Segundo, os oficiais do exército do Paquistão que se recusam a serem comprados podem resistir a um ataque americano sobre sua terra natal, e derrubarem o homem que o permita, general Musharraf. Um ataque americano irá aumentar, agudamente, a ameaça de extremistas anti-Estados Unidos assumirem o controle do estratégico Paquistão e marginalizarem estes que buscam o retorno a um governo democrático.
Terceiro, um ataque americano contra as áreas tribais poderá reacender o velho movimento irredentista para reunir as partes pashtun do Paquistão e do Afeganistão em um estado independente, “Pashtunistão”. Isso poderá desmanchar o frágil Paquistão, deixando seu arsenal nuclear pronto para ser arrebatado, e deixar a Índia ser tentada a intervir.
Os militares dos Estados Unidos ficaram acostumados a atacar pequenas e fracas nações como Granada, Panamá e o Iraque. O Paquistão, com 163 milhões de pessoas e um exército, pobremente equipado, mas muito duro, não irá oferecer vitórias fáceis. Esses funcionários da Administração Bush que, tolamente, advogam por um ataque ao Paquistão, estão brincando com fogo.