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Enviado: Sex Fev 03, 2006 10:25 am
por Paisano
O vício americano*

Fonte: http://www.jb.com.br

Há que se receber com grande cautela o súbito interesse norte-americano pelo álcool e pelo biodiesel do Brasil. O discurso de Bush, anunciando o desejo de depender menos do petróleo do Oriente Médio, e o divulgado propósito de grandes grupos norte-americanos, a começar pela Microsoft, em investir na produção brasileira de etanol, não devem trazer-nos esperanças, mas, sim, gravíssima preocupação. Com civilização fundada no alto consumo de energia - e civilização que exportou ao resto do mundo -, os norte-americanos são, como reconheceu Bush, viciados em petróleo. Querem, agora, trocar de vício.

É aí que a porca torce o rabo, segundo a boa filosofia rural. O grande interesse do Norte pela Amazônia não é bem pelo oxigênio que a floresta produz, mas pela sua biodiversidade e pela reserva de espaço para ocupação futura. O leitor já imaginou o que seria transformar as grandes florestas e o vasto cerrado em extenso canavial, com as sobras vegetais da saccharum officinarum servindo para nutrir o gado confinado? Nos espaços restantes, é claro, seriam produzidos os grãos - entre eles, o de soja - que alimentariam o mundo. Seria, ao mesmo tempo, gerar a força motriz do álcool, e produzir as proteínas vegetais e animais. Isso sem falar na madeira a ser retirada.

Essa é a saída estratégica para os Estados Unidos, e não se trata de idéia nova. Há mais de 50 anos, a revista de estudos Anhembi, dirigida pelo escritor Paulo Duarte, tratava de dispersos projetos de transformação do Brasil em celeiro dos ricos, ou seja, de transformar o nosso país em permanente fornecedor de matérias-primas ao mundo. Mais ou menos na mesma época, o Marechal Tito denunciava projeto semelhante da União Soviética, de preterir a industrialização dos Bálcãs, e destinar o fertilíssimo Vale do Danúbio à produção de alimentos para o consumo dos países socialistas industrializados. É bom registrar que só se assemelham àquelas terras do Danúbio as glebas entre os rios Paraguai e Paraná, e a extensa Pampa Úmida da foz do Rio da Prata, em nosso continente. Tito, alegando razões doutrinárias (o modelo iugoslavo de autogestão do socialismo), mas também denunciando o projeto de colonização agrícola da região, rompeu com Stalin. Manteve a Iugoslávia como líder dos países não alinhados - até sua morte, que trouxe o fim da unidade daquela confederação.

Como os impérios não atuam à mercê das coincidências, mas, sim, com planos de longo prazo, já foi aprovado, na Câmara, projeto que autoriza o governo a ''arrendar'' milhões de hectares de terras amazônicas. E aí nos recordamos de que a boa-fé costuma ser pior do que a má-fé: os diabos se escondem dentro das almas virtuosas. O poder Executivo, por iniciativa da ministra Marina Silva, recosturou projeto do governo Fernando Henrique de conceder, pelo prazo de até 40 anos, o uso dessas áreas à exploração privada. Para iniciar o grande negócio, os estrangeiros (os norte-americanos, mas, também, os chineses) só precisam aprovar seus projetos, obter a concessão e começar a agir. No passado, havia a preocupação de evitar a alienação de grandes áreas aos estrangeiros. A concessão atual é o primeiro passo para que eles se tornem senhores de vastos territórios e neles criem suas próprias leis.

Alega-se que o governo brasileiro não tem conseguido impor a ordem na Amazônia, e que os concessionários seriam capazes de fazê-lo, na exploração racional dos recursos naturais sem comprometer o meio ambiente. O Estado é, sim, capaz de ordenar a exploração racional dos recursos naturais, mediante empreendimentos dos quais detenha controle acionário, e com presença militar na região. Não podemos pedir a outros que imponham ordem em nossa casa.

Há mais de um século, brasileiros liderados por Plácido de Castro foram capazes de conservar a soberania nacional no Acre, contra os interesses norte-americanos do Bolivian Syndicate.

Esta é a nossa esperança. Quando o Estado não se faz presente, o próprio povo costuma defender a soberania sobre o seu território.

*MAURO SANTAYANA

Enviado: Sex Fev 03, 2006 10:48 am
por J.Ricardo
Esta matéria sim, esta sim relata de forma séria o tipo de ameaça que nosso país enfrenta e que por vezes falamos aqui, e a "invasão por via econômica", esta é mais perigosa que a militar, quando alguém for nos invadir militarmente encontraremos sempre alguns aliados, nem que seja apenas na diplomacia, mas já vale, agora no campo econômico a coisa é diferente, principalmente se a curto prazo isso valer empregos e melhor renda, mas a custos altíssimos, será que alguém iria se importar com a "morte da amazônia" se estivesse entrando muitos dólares para nós?
Será que a amazônia não corre o risco de se tornar como aquele vale na China que se tornou um deserto devido a má exploração da cultura do arroz?
Será que não corremos o risco de trocar trocados pela nossa "alma"?
Eu não tenho a resposta, mas será que não vale essa reflexão?

Enviado: Qui Fev 09, 2006 2:13 pm
por Guerra
Bradesco e Volks exploraram trabalho escravo na Amazônia

BRASÍLIA_ Grandes grupos empresariais, com atuação na Amazônia, estão sendo acusados de terem explorado o trabalho escravo em seus latifúdios na região, geralmente em fazendas de gado. A lista das empresas envolvidas com escravidão branca é encabeçada por multinacionais do porte da alemã Volkswagen; de bancos como Bradesco _ o maior do Brasil _ e Bamerindus (hoje HSBC, de capital britânico); construtoras como a falida Encol; seguradoras gigantes como a Atlântica Boa Vista e a Sul-América, além de potências econômicas como Supergasbras, Grupo Matsubara e Manah Fertilizantes.

A denúncia, que atinge boa parte das empresas que alavancam o PIB brasileiro, consta do mais completo levantamento já realizado sobre denúncias de trabalho escravo na região amazônica: "Quão Penosa é a Vida dos Senhores _ Discurso dos proprietários sobre trabalho escravo", tese de mestrado do padre Ricardo Rezende Figueiras, 48 anos, ex-vigário de Rio Maria, no sudeste do Estado do Pará, uma das regiões mais atingidas pelos conflitos armados pela posse da terra no Brasil. A tese de Rezende _ um dos mais assíduos integrantes das listas de cabras marcados para morrer na região do "Bico do Papagaio" (sul/sudeste do Pará, norte do Tocantins e sudoeste do Maranhão) _, foi concluída com sucesso, ao final do ano passado, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

No período analisado pela tese de mestrado do religioso, de 1969 a 1995, cerca de 21.842 trabalhadores foram escravizados, em 125 imóveis rurais apenas nas regiões sul/sudeste do Pará. Ricardo Rezende também apresenta dados atualizados de ações do Ministério do Trabalho realizadas na região, que mostram a libertação de 150 trabalhadores rurais flagrados em regime de escravidão em 1995, 288 libertados em 1996, 220 em 1997, 64 em 1998, 639 em 1999 e 284 peões libertados este ano, quando foram fiscalizadas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho cerca de 22 empresas rurais.

No levantamento feito por Ricardo Rezende, os grandes grupos econômicos _ que em sua maioria implantaram projetos na região com incentivos fiscais do Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) _, são acusados de terem permitido o uso de mão-de-obra escrava desde o final da década de 60. A maioria das acusações contra as empresas partiu de trabalhadores rurais que fugiram de fazendas onde eram explorados e deram depoimentos dramáticos sobre a escravidão branca nessas propriedades à Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Igreja Católica que acompanha há décadas a violência no campo e presta assistência aos movimentos de trabalhadores rurais sem-terra.

Mineiro de Carangola, o padre Ricardo Rezende há mais de 20 anos milita no sul/sudeste do Pará. Em sua tese, eles listou os proprietários de 125 fazendas acusadas de utilizar mão-de-obra escrava, no período compreendido entre 1969 e 1998, na região do Araguaia-Tocantins paraense. "O problema da escravidão era geral na Amazônia, mas se manifestou de maneira especialmente trágica no sul do Pará", afirma Rezende. Segundo o religioso, isso ocorreu por causa do elevado número de projetos aprovados pela Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) na região, que chegou a 54% dos projetos incentivados em toda a Amazônia. "Até 1979, foram aprovados 102 projetos para uma área de 1,8 milhão de hectares, envolvendo um volume de recursos estimado em US$ 33 milhões", garante Ricardo Rezende.

Na maioria dos casos, Rezende diz que tem "convicção moral" de que as denúncias são procedentes. "Até o início dos anos 90, praticamente não houve fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), nem instauração de inquéritos para apurar as denúncias sobre trabalho escravo escaminhadas principalmente pela CPT", justifica. Rezende afirma ter convicção de que houve prática de trabalho escravo principalmente na fazenda Vale do Rio Cristalino, um latifúndio montado pela Volksvagen do Brasil em Santana do Araguaia, no sudeste paraense.

A fazenda, que depois foi vendida pela Volks ao grupo Matsubara, é campeã em denúncias de trabalho escravo, já que foi acusada pela primeira vez há mais de 10 anos, conforme relata o padre Rezende em sua tese de mestrado. A assessoria de imprensa da Volkswagen afirma que as denúncias são falsas e alega em sua defesa que a empresa nunca foi condenada na justiça por praticar tal crime. Mas, além de exibir depoimentos de trabalhadores que conseguiram fugir das fazendas onde eram escravizados, o padre Ricardo Rezende sustenta em sua tese de mestrado a acusação com base no fato de que a Justiça condenou a Volksweagen a pagar dívidas trabalhistas reivindicadas por dois ex-supostos escravos. Um inquérito policial apurou a denúncia contra a Volks em 1983, mas sua conclusão é desconhecida.

As demais empresas listadas na tese de mestrado de Ricardo Rezende também rebatem as acusações. Alegam, entre outras coisas, que nunca foram processadas ou condenadas por prática de trabalho escravo. A Supergasbras diz que desconhece o assunto. O ex-controlador do Bamerindus, José Eduardo Andrade Vieira, diz que outros religiosos comprovam a falsidade da acusação. O Bradesco não retornou os pedidos de informação sobre as denúncias do padre Ricardo Rezende. Sul-América e Manah também negam as acusações. A assessoria de comunicação do grupo Matsubara não retornou as ligações do Paraná, onde é sediada.

Enviado: Qui Fev 09, 2006 3:04 pm
por cabeça de martelo
Se o Brasil quer ser respeitado tem que combater estas coisas de frente, sem medos e em força. Se deixar isto continuar será muito mau, não só para as vitimas mas também para a sua honra e prestigio internacional.
Penso eu de que...

Enviado: Qui Fev 09, 2006 4:30 pm
por J.Ricardo
... que se a coisa continuar assim, estamos dando mais que pretextos para uma ação militar futura no Brasil, travestida de ajuda humanitária. Se seu pensamento é esse estamos de acordo, enquanto não formos um país justo e sério, seremos sempre alvo de todo tipo de acusações, muita séria, muitas falsas, mas o principal culpado disso somos nós e não os "imperialistas/capitalistas/judaico-cristão invasores da república democrática do iraque" :roll: .

Enviado: Sáb Fev 11, 2006 3:47 pm
por VICTOR
J.Ricardo escreveu:o principal culpado disso somos nós e não os "imperialistas/capitalistas/judaico-cristão invasores da república democrática do iraque" :roll: .

É por aí...

Enviado: Seg Abr 10, 2006 3:37 pm
por oraculobq
VICTOR escreveu:
J.Ricardo escreveu:o principal culpado disso somos nós e não os "imperialistas/capitalistas/judaico-cristão invasores da república democrática do iraque" :roll: .

É por aí...


Temos que fazer algo agora pra não ter que chorar depois.

Enviado: Qui Abr 13, 2006 12:10 pm
por Túlio
Deputados avaliam ser realista
a tendência de internacionalização


O processo de internacionalização de parte da Amazônia, a partir de reservas indígenas com grande extensão territorial em faixas de fronteiras, vem sendo consumado nas últimas duas décadas com o apoio do governo brasileiro, segundo os deputados estaduais Mecias de Jesus (PL) e Raul Lima (PSDB).

Na análise de Mecias de Jesus, presidente da Assembléia Legislativa, a concomitância entre a retirada de não-índios da reserva Raposa Serra do Sol e a realização de encontro com juristas dos Estados Unidos em Roraima para discutir política indigenista não é aleatória, mas “planejada e articulada”.

A efetivação da perda de espaço do Estado brasileiro na soberania do extremo Norte do território, afirmou Mecias de Jesus, acontece com a conivência do governo Lula, que “covardemente” deixou de reconhecer o direito de famílias e de produtores que viviam há décadas na área homologada.

De acordo com Raul Lima, a avaliação do cenário não pode ser restrita ao Brasil. A Venezuela e a Guiana têm reservas indígenas limítrofes à Raposa Serra do Sol. “Parece teoria da conspiração, mas é real a tendência de criação de nação independente com o apoio e o interesse de organismos internacionais”.

O peemedebista alerta para o risco de se criar “barreira física insolúvel” entre os três países, algo que afronta o princípio de integração do Mercosul propagado pelo Brasil. Também lembrou que as reservas indígenas implicam ainda em restrições de espaço aéreo, como acontece hoje na terra yanomami. (I.G.)

http://www.defesanet.com.br/toa/raposa_3.htm

Enviado: Qui Abr 13, 2006 1:48 pm
por edson_spbr
Só o Enéas mesmo para mudar tudo isso!! Ele é um digno protetor da Amazonia Brasileira.

Enviado: Sex Abr 14, 2006 3:57 pm
por CFB
edson_spbr escreveu:Só o Enéas mesmo para mudar tudo isso!! Ele é um digno protetor da Amazonia Brasileira.


Infelizmente tenho q concordar com vc

Enviado: Sex Abr 14, 2006 6:23 pm
por joaozinho
Só tenho algo a acrescentar de tudo o que foi exposto: a única forma duma nação militarmente mais fraca manter sua soberania é com armas nucleares. acho um absurdo nosso país com as riquezas cobicadas e recursos naturais estratégicos não as possuir. Por que os EUA não atacam a Coréia do Norte? Poque eles tem as citadas armas! Além disso, com armas nucleares seríamos tratados nas relações internacionais a altura do que somos e teríamos um poder de barganha e importância geopolítica muito maior! Vejam o recente acordo dos EUA com a Índia, reconhecendo-a como potência regional.
Mas o Sarney paralisou o projeto da bomba atômica nacional e logo em seguida Collor, exclusivamente para tirar proveito próprio, assinou o TNP! Inclusive dizem que na época o presidente dos EUA ligou enfurecido e exigiu que o pcoço da Serra do Cachimbo, no Pará, fosse desativado!

Enviado: Sex Abr 14, 2006 6:59 pm
por César
Acredito que o assunto "Armas Nucleares" não faz parte desse tópico. Existem tópicos com esse assunto na Seção de Assuntos Gerais.

Abraços

César

Enviado: Sáb Abr 15, 2006 12:33 pm
por Túlio
Mas que o índio véio tá certo, lá isso ele tá, César...
Nenhum de nós ( :twisted: fora o Maltez e o Paisano :twisted: )é tão velho que esteja livre do desgosto de ver o nosso mapa sem alguns milhões de km2...

Enviado: Sáb Abr 15, 2006 2:21 pm
por FinkenHeinle
tulio escreveu:Mas que o índio véio tá certo, lá isso ele tá, César...
Nenhum de nós ( :twisted: fora o Maltez e o Paisano :twisted: )é tão velho que esteja livre do desgosto de ver o nosso mapa sem alguns milhões de km2...

Ahh meu, tu ainda acredita nessa paranóia?!?


Parece papo do tipo "O FMI sabota nosso desenvolvimento..."!

Enviado: Sáb Abr 15, 2006 2:31 pm
por Túlio
FinkenHeinle escreveu:
tulio escreveu:Mas que o índio véio tá certo, lá isso ele tá, César...
Nenhum de nós ( :twisted: fora o Maltez e o Paisano :twisted: )é tão velho que esteja livre do desgosto de ver o nosso mapa sem alguns milhões de km2...

Ahh meu, tu ainda acredita nessa paranóia?!?


Parece papo do tipo "O FMI sabota nosso desenvolvimento..."!


Acho que o DEFESANET ainda não é Godoy-style, né? Experimentes LER...

Deputados avaliam ser realista
a tendência de internacionalização

O processo de internacionalização de parte da Amazônia, a partir de reservas indígenas com grande extensão territorial em faixas de fronteiras, vem sendo consumado nas últimas duas décadas com o apoio do governo brasileiro, segundo os deputados estaduais Mecias de Jesus (PL) e Raul Lima (PSDB).

Na análise de Mecias de Jesus, presidente da Assembléia Legislativa, a concomitância entre a retirada de não-índios da reserva Raposa Serra do Sol e a realização de encontro com juristas dos Estados Unidos em Roraima para discutir política indigenista não é aleatória, mas “planejada e articulada”.

A efetivação da perda de espaço do Estado brasileiro na soberania do extremo Norte do território, afirmou Mecias de Jesus, acontece com a conivência do governo Lula, que “covardemente” deixou de reconhecer o direito de famílias e de produtores que viviam há décadas na área homologada.

De acordo com Raul Lima, a avaliação do cenário não pode ser restrita ao Brasil. A Venezuela e a Guiana têm reservas indígenas limítrofes à Raposa Serra do Sol. “Parece teoria da conspiração, mas é real a tendência de criação de nação independente com o apoio e o interesse de organismos internacionais”.

O peemedebista alerta para o risco de se criar “barreira física insolúvel” entre os três países, algo que afronta o princípio de integração do Mercosul propagado pelo Brasil. Também lembrou que as reservas indígenas implicam ainda em restrições de espaço aéreo, como acontece hoje na terra yanomami. (I.G.)

http://www.defesanet.com.br/toa/raposa_3.htm