Fotos Sniper

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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#151 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 12:47 am

FCarvalho escreveu:Olá Mateus,

los irmanos aí em cima não seriam do Buzo Tático?

o rifle maior parece ser uma Barret .50, mas o fuzil ao lado me é estranho, algo em configuração bullpup aparentemente; saberia dizer de que tipo é, e qual fabricante?

parece-me que enquanto nossos vizinhos remam para frente na qualificação e melhoria das dotações de armamento de suas FEs, nós vamos no sentido contrário.

Abraços.


Carvalho, as FE do EB usam diversos tipos de fuzis sniper de alta qualidade (PSG-1, MiniHecate e outros) para uso por seus caçadores. O que tá devagar é a entrega de armas (AGLC) para os caçadores dos Pelotões de Comando dos Batalhões de Infantaria "normais".




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#152 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 12:57 am

SGT GUERRA escreveu:Fala Barão...não houve mal entendido não, eu concordei plenamente com seu post. O conhecimento sobre esse assunto é pequeno mesmo e o FAL realmente não é a arma ideal. Meu post ficou meio embaçado, vou tentar esclarecer melhor meu ponto de vista. O que eu quis dizer é que, dentro de pelotão de fuzileiros, o FAL com luneta (embora não seja o ideal) nas mãos de um bom atirador, pode cumprir as missões que vierem a ser atribuídas ao pelotão. A nível batalhão, que é onde o caçador é empregado, não resta duvida que é necessário não apenas uma arma com características próprias, mas tb de pessoal especializado (Acho que foi o Rodrigo que disse que no EB não tem nem 200 militares especializados). Eu acho que o maior problema não é nem de material e pessoal, na minha opinião o problema é mais complexo. Sem colocar em duvida a capacidade de um comandante de unidade em saber empregar um caçador, mas será que os comandantes de unidades confiariam certas missões em combate a um caçador, mesmo sendo um especialista? Eu acho difícil. Mas é louvavel o esforço daqueles que estão por trás desse projeto. Eu não faço nem ideia de quem esta por tras disso, mas com certeza deve ser dos "baixos coturnos" de onde geralmente sai esse tipo de iniciativa.
Um abraço...


De início, o trabalho de desenvolver a doutrina do emprego de caçadores nos Batalhões de Infantaria do EB estava a cargo da Seção de Tiro da AMAN. De 2005 para cá, o encargo passou a ser da Brigada de Operações Especiais. Foi uma decisão do Alto Comando do EB.




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#153 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 1:12 am

SGT GUERRA escreveu:Acho que o russo e o austriaco pecaram na camuflagem da mão. O russo também não camuflou o fuzil e aquele breve forçou a amizade. O chines ficou estranho camuflado de musgo num terreno urbano, mas deve ser uma posição temporaria.


Pessoal, é preciso lembrar que a Ghillie Suite tem como função "quebrar" o contorno do corpo humano e não a camuflagem em si. A camuflagem do sniper é obtida prendendo-se vegetação da área de operação à Ghillie Suite. Como o SGT. Guerra disse, deve ser uma posição temporária. Se for uma posição de tiro, para o qual o cara vai precisar de longa permanência no local, ele pega uns ramos daquela vegetação rasteira que aparece, prende na veste e, aí sim, fica "invisível"...




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#154 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 1:35 am

Guilherme escreveu:
rodrigo escreveu:O EB, até o ano 2000, não tinha curso de sniper. Existiam estágios diversos, na selva, montanha, catinga e FE. Todos em adaptações para as peculiaridades de cada teatro de operações. A partir dessa data(não sei especificamente quem foi o idealizador), o EB teve a oportunidade de enviar um tenente ao curso no United States Army Sniper School(1º aluno estrangeiro a se formar lá) e trouxe tudo que precisávamos para fazer o curso aqui. Desde então, a seção de tiro da AMAN criou o curso de caçador, e em coordenação com a IMBEL ajudou a desenvolver o fuzil AGLC, que se tornou a arma padrão do sniper do EB. Existem poucos formados, mas trata-se de um time de elite, com capacidade de treinamento de mais atiradores em pouco tempo. Mas ainda temos muito para aprender, e lamentavelmente estamos atrasados, mas já estamos correndo atrás. :D


O Discovery Channel, há alguns anos, produziu uma reportagem sobre treinamento de franco-atiradores no US Army (veiculada no programa Discovery Magazine). Mostrava o treinamento dos soldados, muitos foram desclassificados. O tenente brasileiro conseguiu terminar o curso.


Na verdade, não era um tenente, mas um capitão.




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Caçadores no EB - Parte 1

#155 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 1:42 am

Segue um artigo que escrevi em 2005, para a revista Segurança & Defesa, devidido em duas partes, sendo a segunda sobre o estágio de caçadores no 1º BIS (Amv).

Emprego de caçadores no Exército Brasileiro

“Deus é contra quem faz a guerra, mas fica ao lado de quem atira bem”
Voltaire

Alexandre Fontoura

Até o final do Século XX, não havia, no Exército Brasileiro, qualquer tipo de doutrina oficial quanto ao emprego dos chamados “Caçadores”1 (ou snipers) em suas unidades de infantaria. Claro que sempre ocorreram iniciativas isoladas e o emprego dos chamados “atiradores de escol”, selecionados entre os melhores atiradores da unidade e equipados com a arma padrão, como o Fuzil Automático Leve (FAL) dotado de luneta, nem sempre adequada ao tiro de sniper.
O emprego desses atiradores era, entretanto, baseado no empirismo e no método de tentativa-e-erro, uma vez que não existiam nem doutrina e nem qualquer documentação oficial a respeito do emprego deste tipo de combatente. Em 1998 o Estado-Maior do Exército (EME) despertou para esse problema e deu início a uma série de ações para reverter esse quadro e equipar os Batalhões de Infantaria com equipes de Caçadores, como veremos adiante.

Emprego ao longo da história
Uma das razões que levaram o Alto Comando do Exército Brasileiro a desenvolver uma doutrina para o uso de caçadores em suas unidades de infantaria foi o reconhecimento da grande diferença que o emprego desses combatentes especializados provocou na história das batalhas, em favor dos Exércitos que os empregavam de modo correto.
Nossos comandantes militares lembraram, por exemplo, que a simples morte do general inglês Simon Frazer, em 7 de outubro de 1777, na batalha de Saratoga, foi suficiente para propiciar uma retirada desordenada dos ingleses, levando a uma vitória dos americanos em uma das mais importantes batalhas na Guerra da Independência dos Estados Unidos da América. Consta que o general inglês, no comando da Força Especial de Reconhecimento, criada por ele para combater os revoltosos americanos, aproximou-se com seus comandados de uma área de vegetação mais densa, em busca de batalhões rebeldes. Os rebeldes empregavam táticas não convencionais contra as forças inglesas que, por sua vez, manobravam sempre em massa, por batalhões, empregando fogo e movimento.
Naquele dia, o miliciano Tim Murphy, empregando um fuzil Kentucky de cano longo, calibre .40 e dotado de mira metálica simples, disparou a uma distância registrada pelos americanos como sendo de 500m, matando Frazer. Estudos posteriores apontaram que a distância verdadeira teria sido menor (cerca de 300m). Independentemente desse detalhe, o caso revela perfeitamente a conseqüência da eliminação ou neutralização de um alvo escolhido pelo seu valor.
Mais adiante na história, durante a Guerra de Secessão, foi feito o registro de um tiro realmente incrível: Em 9 de maio de 1864, no desenrolar da Batalha de Spotsylvannia, o sargento Grace, do 4º Batalhão de Infantaria da Geórgia, utilizando um fuzil British Whitworth, uma arma de cano raiado, disparou contra o major-general John Sedgwick, do Exército da União. Conta-se que Sedgwick foi abatido a oitocentas jardas quando respondia ao seu ajudante de ordens, que o alertava para não se expor, uma vez que os confederados tinham caçadores. “Why, they couldn’t hit an elephant at this dist...” (“Ora, eles não poderiam atingir um elefante a essa dist…”, foram as últimas palavras de Sedgwick, atingido na cabeça).
Mais recentemente, é digna de registro a atuação de dois caçadores finlandeses, Simo Häyhä e Suko Kolkka, contra os soviéticos. Armados com fuzis Mosin-Nagant M28 com miras metálicas simples, eles eliminaram 500 e 400 inimigos, respectivamente, durante a invasão da Finlândia, em 1939, por um Corpo de Exército soviético (7o, 8o, 9o e 14o Exércitos). As forças soviéticas eram integradas por 28 Divisões de Infantaria, várias Brigadas Blindadas e 800 aviões: eram ao todo 300.000 combatentes poderosamente armados, aos quais se contrapunham apenas nove Divisões de Infantaria finlandesas, algumas bastante incompletas. A vantagem do conhecimento do terreno por parte dos finlandeses, aliada ao emprego de táticas como o uso de caçadores, acabou por forçar a retirada dos soviéticos, após mais de 100 mil baixas.
Podemos ainda lembrar, durante a Segunda Guerra Mundial, do ostensivo emprego de scharfchutzen2 pelos alemães contra os aliados. Na Alemanha, os scharfchutzen eram formados em uma Unidade Escola, próxima a Berlim. Recebiam um primoroso treinamento de tiro com armas longas e eram equipados com fuzis Mauser, calibre 7,92mm, possivelmente customizados. Utilizavam munição selecionada (match) e eram equipados com lunetas de pontaria (aumento de 4x) e vestes camufladas de diversos tipos. Por ocasião da Segunda Guerra, foram ainda equipados com lunetas infravermelhas primitivas, que permitiam o tiro noturno.
Durante o cerco a Stalingrado, os russos sofreram muito com a ação desses combatentes alemães, situação que só começou a ser revertida quando resolveram usar também snipers contra o invasor. Foi assim que obteve destaque naquela batalha o sargento Vasili Zaitsev, um caçador dos Urais ao qual foram creditados 242 abates com o dispêndio de 243 projéteis (sendo 40 alvos abatidos nos primeiros dez dias!), incluindo o comandante da escola de scharfchutzen, major Erwin Konings/Koenig. Esse fato, entretanto, nunca foi admitido pelos alemães, que negaram inclusive que ele estivesse em Stalingrado. Algumas fontes indicam que o super-sniper alemão enviado para caçar Zaitsev era, na verdade, o Standartenfuhrer SS Heinz Thorwald. De qualquer modo, a história demonstra que, contra caçadores, a melhor contramedida é outro caçador.
No conflito do Vietnã, o Exército e o Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos ressuscitaram o uso de snipers e foram desenvolvidas novas táticas e novas técnicas de emprego, além de terem sido desenvolvidos novos fuzis, munições e outros equipamentos.
Naquele conflito, os snipers foram amplamente empregados também como elementos de inteligência e em operações de inquietação. Eram comuns as emboscadas nas possíveis rotas por onde os grupos guerrilheiros recebiam suprimento e deslocavam suas tropas. Equipados com fuzis de alta precisão, lunetas de 10 aumentos e, também, com lunetas de visão noturna (de ampliação da luz residual ou termais), exerciam um efeito psicológico extremamente eficiente sobre o inimigo, que sem treinamento adequado e sem armas similares, não tinham como se contrapor aos snipers norte-americanos. Os snipers vietcongs contaram, apenas, com fuzis russos Dragunov com lunetas de 4 aumentos.
Nesta guerra ficou particularmente famoso o sargento Carlos N. Hathcock II, com 93 inimigos abatidos, confirmados. A eficácia de uma bem treinada e entrosada equipe de caçadores contra o inimigo pode ser aquilatada por uma missão realizada por Hathcock, na região do Vale do Elefante. Com a ajuda de seu spotter (observador), cabo John Burke, Hathcock praticamente destruiu uma companhia de vietcongs, mantendo-os engajados durante três dias, enquanto eram abatidos um a um (estando eles em campo aberto, com os americanos abrigados na mata e em posição mais alta). Na tarde do terceiro dia, o sargento requisitou e ajustou fogos de Artilharia, que eliminaram os inimigos remanescentes.
Hathcock tem também a seu crédito o recorde de ter obtido o abate a maior distância, tendo atingido um vietcong a 2.500 jardas, usando uma metralhadora .50 equipada com luneta!
A importância do emprego de caçadores no Vietnã pode ser aquilatada pelas estatísticas finais norte-americanas sobre a guerra do Vietnã, que podem ser extrapoladas para qualquer conflito. Segundo os estudos, em média os americanos precisaram gastar 16 toneladas de munição para neutralizar um soldado vietcong. Para obter o mesmo efeito, os snipers de uma divisão americana despenderam somente 1,34 cartuchos de 7,62mm.
Tem sido bastante divulgado e comentado na Internet um impressionante vídeo produzido pela resistência iraquiana. As imagens mostram uma série de disparos feitos por um (?) sniper iraquiano, conhecido como Jubba, contra alvos militares americanos em ambientes urbanos. O vídeo mostra disparos (registrados por uma câmera de vídeo acoplada ao fuzil) realizados ao nível do solo, contra militares americanos selecionados ao acaso, não havendo preocupação em escolher alvos pela patente. Embora nem todos os tiros resultem em mortes, o atirador em questão demonstra extrema coragem, disparando contra indivíduos que nunca estão sozinhos e, em geral, contam com o apoio de blindados, equipados com metralhadoras e canhões.
Dias depois do início da distribuição deste vídeo, as forças americanas anunciaram a captura do suposto Jubba, e divulgaram fotos mostrando o fuzil Dragunov com a câmera acoplada. Os disparos eram realizados por uma abertura no pára-brisa traseiro de uma perua do tipo van, também mostrada por fotos. A intenção do vídeo, que apresentava no final uma estatística com mais de 150 vítimas e mais de 50 feridos, era obviamente causar inquietação entre as tropas dos EUA.

No Brasil
Como dissemos antes, o conhecimento de fatos como os descritos foi o motivo condutor da decisão do EME de reverter a situação de total ausência de doutrina de emprego de caçadores no Exército Brasileiro. Até 1998, registravam-se apenas notas de instrução sobre o atirador de emboscada, atirador de escol, e tiro com luneta, mas nada apresentando ainda em termos de Quadro de Cargos Previstos (QCP). As principais etapas da evolução do emprego do caçador no EB podem ser assim enumeradas:
- em 1998, o EME criou a função de caçador nos QCP de diversas OM de Infantaria, e foi feita a Edição do Caderno de Instrução 22-1, “O Caçador”, pela Seção de Tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).
- em 2000 surge o “Projeto Caçador” na AMAN, com os primeiros estágios provisórios;
- em 2001, foi enviado um oficial, Capitão de Artilharia Guilherme Guimarães Ferreira (da turma de 1996 da AMAN, e que na época estava servindo como Instrutor da Seção de Tiro da AMAN), para freqüentar a renomada instituição de formação de caçadores: a “United States Army Sniper School”, em Fort Benning, Geórgia. Só para que se tenha o registro das qualificações do oficial como atirador, o mesmo é recordista da AMAN, do Exército e das Forças Armadas no tiro de fuzil;
- em 2002 o EME determina a revisão do CI 22-1 da Sec Tir/ AMAN. Este trabalho ainda não está oficialmente aprovado pelo EME, que vem trabalhando na versão final do mesmo, em conjunto com a Seção de Tiro da AMAN. É importante destacar que o novo caderno inclui tudo o que foi “captado” em Fort Benning;
- em 2002, uma parceria entre a SEC Tir/AMAN e a IMBEL propicia o 1º Estágio de Caçadores com os novos conhecimentos;
- em 2003 a Sec Tir/AMAN envia ao EME três propostas de CI: “Emprego Tático dos Caçadores”, “Operações Contra-Caçadores” e “Técnica de Tiro do Caçador”;
- em 2004, foi aprovado o CI “Operações Contra-Caçadores”.
Desde então, à medida que os oficiais formados pela AMAN e que receberam o curso de caçador militar chegam às unidades de infantaria, o conhecimento começa a ser difundido, em estágios para Caçadores promovidos nessas unidades. O atual planejamento do EB determina que cada Companhia de Fuzileiros dos Batalhões de Infantaria conte com uma equipe de Caçadores. Existe a possibilidade de, em futuro próximo, esse número vir a ser ampliado, incluindo uma terceira equipe no QCP da Companhia de Comando.
O Exército vem avaliando e adotando diversas armas e equipamentos para suas diversas equipes de Caçadores, constituídas por um elemento Atirador e um elemento Observador, que podem (e devem!) se alternar nas funções. Armas como os fuzis Remington M24 Sniper Weapon System, o Springfield M21, o Sig Sauer SSG 3000, o H&K PSG1 e o MSG90 foram adquiridas em pequenas quantidades e já equipam algumas unidades, como as que compõem a nova Brigada de Operações Especiais.
Entretanto, tudo parece indicar que o Exército Brasileiro resolveu adotar uma arma padrão para uso por suas equipes de caçadores, na forma do Fuzil IMBEL .308 AGLC (ver Box). Na realidade, algumas informações dão conta que a IMBEL já está prontificando o primeiro lote de 50 armas AGLC encomendados pelo Exército Brasileiro. Essas armas já estão no padrão final, equipadas com coronha regulável, bipé e miras Bushnell Elite 3200, dotadas de retículo do tipo MilDot.
O autor entrou em contato por e-mail com a IMBEL solicitando fotografias desta versão final do fuzil, mas a resposta recebida, estranhamente lacônica e anônima, simplesmente negou a informação da prontificação do lote como descrito, e apontou o site da empresa como a fonte para a obtenção das fotos da arma que ilustram esse artigo...

Desenvolvimento da doutrina
É patente que o EB estava muito atrasado na doutrina de emprego de snipers. Entretanto, desde a entrada no novo século, têm sido evidentes as demonstrações da disposição do Exército em eliminar seu atraso neste campo.
O EME vem trabalhando intensamente neste sentido e aguarda-se para breve a aprovação do CI 22-I O Caçador, de autoria da Seção de Tiro /Aman para a definitiva implantação das equipes de caçadores em todas as unidades de infantaria do EB. No momento, várias unidades realizam estágios sobre o emprego de caçadores, Um exemplo é o 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel), em Manaus, que já realizou dois estágios e prepara-se para o terceiro, ainda no primeiro semestre de 2006. O primeiro estágio, realizado no primeiro semestre de 2005, foi voltado para seu próprio pessoal. O segundo, realizado em agosto de 2005, inclui várias unidades do EB na Amazônia, alem de equipes do Corpo de Fuzileiros Navais (Batalhão de Operações Ribeirinhas), FAB (BInfA da BAMN), alem de equipes da Policia Militar do Amazonas (Comando de Operações Especiais), Policia Civil do Amazonas (Grupo Fera) e Policia Federal. É importante destacar a diferença entre curso e estágio, pois o primeiro segue padrões mais rígidos quanto à padronização do armamento, enquanto o segundo destina-se mais a divulgação da doutrina, não sendo fundamental a padronização do armamento e da munição.
Aliás, ao planejar este artigo, a intenção do autor era discorrer sobre as táticas de emprego do caçador militar no Brasil. Entretanto, como se trata de algo muito recente e devido às limitações de espaço, foi decidido dividir este trabalho em duas seções. Essa primeira parte cobre o início do desenvolvimento da doutrina de emprego deste combatente especializado e, na segunda parte, a ser publicada na próxima edição de “Segurança & Defesa”, será apresentada a experiência desenvolvida no 1º BIS (Amv), com a realização de seus Estágios para Caçadores Militares. Além de servirem de pólo difusor das técnicas e táticas de emprego, esses Estágios têm a vantagem de formar combatentes Caçadores que já contam com a experiência de operações na selva, com a qualidade e renome internacional do guerreiro de selva brasileiro, formando uma combinação certamente mortal.
Na segunda parte, portanto, desenvolveremos mais o tema, mostrando boa parte das técnicas e táticas de emprego de Caçadores no Exército Brasileiro, especialmente na Selva Amazônica.

__
1 O “Common Snipe” (Gallinago gallinago), é o nome como é conhecida na Grã-Bretanha a Narceja ou Maçarico, ave migratória de ótima visão e capaz de perceber mínimos movimentos no ambiente. Para caçar essas aves, os caçadores costumavam se camuflar usando vestes especiais, batizadas de Ghillie. Assim, o termo sniper, ou caçador de narcejas, acabou por ser adotado no meio militar para designar o atirador de elite, ou caçador camuflado. No Brasil, não seria conveniente uma tradução literal e, portanto, adotou-se apenas o termo “caçador”. É importante destacar que, em sua atual concepção, o termo não tem nenhuma relação com os antigos Batalhões de Caçadores que, nos dias atuais, guardariam maior relação com os modernos Batalhões de Infantaria Leve (BIL) do Exército Brasileiro.

2 Atiradores de elite, em alemão.


BOX
O Fuzil IMBEL .308 AGLC
O fuzil que deverá ser a arma-padrão dos Caçadores do Exército Brasileiro teve o início de seu desenvolvimento no final dos anos 90, quando o então E2 do Comando Militar da Amazônia, Cel Inf Athos Gabriel Lacerda de Carvalho desenvolveu um protótipo de fuzil de sniper, utilizando-se da ação Mauser retirada do veterano fuzil Mauser, um cano de metralhadora .30 e uma coronha de competição, aos quais foram somados outros itens, como bipé e luneta. Este arranjo deve ter sido a fonte de boatos de que o fuzil AGLC ora sendo entregue ao EB seria uma simples remanufatura de velhos Mosquefal (adaptação realizada pela IMBEL nos anos 60 em velhos Mauser 1908 do EB para que disparassem a mesma munição 7.62x51mm dos então novos FAL). Nada mais longe da verdade. Na realidade, o único item similar aos velhos Mosquefal é a conhecida e confiável ação Mauser. O cano do AGLC, por exemplo, teve pelo menos quatro gerações, antes de chegar à versão atual: flutuante, tipo match, em calibre .308 Win (7.62x51 mm), forjado a frio e adaptado para o tiro com luneta.
O nível de precisão (99% de chance de acertar um alvo a 400 m, no primeiro impacto) faz com que esta arma seja a solução ideal para emprego operacional ou treinamento de forças militares e policiais.

Especificações

Calibre .308 Win (7.62x51mm)
Funcionamento repetição, ação Mauser
Carregador 4 tiros, interno
Peso 4,7 kg, descarregada e sem acessórios
Comprimento 1.200 mm
Cano Raiado, passo 10 ou 12 pol. , comprimento 609 mm (24 pol.)
V0 820 m/s
Precisão 1 MOA
Acessórios Miras metálicas, lunetas diurna e noturna, bipé, bandoleira, coronha
Status Em produção

[/b]




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Caçadores no EB - Parte 2

#156 Mensagem por Mapinguari » Seg Dez 03, 2007 1:45 am

Estágio para Caçadores no 1º BIS (Amv)

Na edição 84 de Segurança & Defesa, págs. 22-24, descrevemos alguns fatos históricos com relação ao emprego de Caçadores por vários exércitos do mundo, ao longo da História. Nesta edição apresentamos mais informações sobre o emprego desses combatentes especializados no Exército Brasileiro (EB) e detalhes sobre o Estágio para Caçadores, realizado em agosto de 2005, pelo 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel).

Alexandre Fontoura

O 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel), ou 1º BIS (Amv), em sua forma abreviada — conhecido como Batalhão Amazonas e sediado em Manaus há 90 anos — é uma unidade de elite do Exército Brasileiro. Parte da chamada Força de Ação Rápida (FAR) do EB, o 1º BIS (Amv) tem sob sua responsabilidade, além da formação do soldado combatente de selva, um Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR), a condução de Estágios de Adaptação à Selva para militares deslocados de outras áreas do país para unidades sediadas na Amazônia, e o preparo de uma companhia de recrutas (além dos seus efetivos profissionais).
Trata-se de uma unidade militar profissional e altamente operacional. Uma medida desta operacionalidade pode ser dada pelo fato de que, em 2004 e 2005, o 1º BIS (Amv) foi a unidade de infantaria do EB com maior número de horas de vôo.
Entre as diversas missões do 1º BIS (Amv) está, desde o ano passado, a promoção do Estágio de Caçadores, com duração de duas semanas e com os objetivos de:
- habilitar os estagiários a exercerem a função de Caçador nas suas OM;
- difundir e padronizar o uso de armamentos e equipamento, assim como os conhecimentos técnicos e táticos específicos do Caçador; e
- motivar profissionalmente os militares na busca de sua qualificação no tocante aos conhecimentos específicos sobre o Caçador.
Como mencionamos no artigo citado na abertura desta matéria, até o final do Século XX o Exército Brasileiro não possuía Caçadores em suas unidades operacionais. Até 1998 havia somente notas de instrução sobre o atirador de emboscada, atirador de escol, tiro com luneta, etc, sem que houvesse previsão da dotação de Caçadores no Quadro de Cargos Previstos (QCP) das unidades.

Em busca de informações
Em 1998, o Estado-Maior do Exército despertou para o problema e introduziu este combatente especializado nos QCP dos Pelotões de Comando de todos os Batalhões de Infantaria.
Entretanto, como não havia àquela época nenhuma doutrina sobre o tema, nem qualquer tipo de documentação, o Estado-Maior do Exército (EME) incumbiu a Seção de Tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (Sec Tir AMAN) do desenvolvimento de pesquisas a respeito do emprego do Caçador militar. Ainda em 1998, surge a primeira versão do CI 22-1 “O Caçador”, como uma espécie de “farol” ou direção geral num quadro de falta de doutrina.
A partir de meados do ano 2000, o Projeto Caçador começou a ser desenvolvido pela Seção de Tiro do Corpo de Cadetes da AMAN, em parceria com a Seção de Pesquisa da IMBEL/Itajubá. Este trabalho levou ao início da revisão do CI 22-1, desenvolvido pela Sec Tir AMAN, sob a coordenação do Cel Inf EM Mário Hecksher Neto, e que contou com a participação e colaboração dos seguintes militares: Cel Inf EM (Res) Athos Gabriel Lacerda de Carvalho (consultor)1, Maj QEMA Paulo Augusto Capetti Rodrigues Porto2, Maj Inf Fernando Cardoso Júnior, Cap Inf Gustavo Megale Hecksher, Cap Cav Túlio Endres da Silva Gomes, Cap Art Guilherme Guimarães Ferreira, Cap Inf Fernando Barcellos da Rosa, Cap Inf Leandro Ataido Acosta, Cap Cav Giovani Dalarosa Amaral, 1º Ten Inf Volney Vieira Melo, e 2o Sgt Inf Marcelo Alvarenga dos Santos.
Numa primeira etapa, essa equipe multidisciplinar foi buscar a informação onde ela já existia: com as unidades policiais de elite. Assim, foram promovidas visitas, palestras e reuniões objetivando a coleta de subsídios. É importante destacar, entretanto, que existem óbvias diferenças entre o emprego do sniper policial e do Caçador militar. Enquanto este é treinado visando atingir alvos a distâncias, em média, de 600-800 metros, o sniper policial é treinado para tiros com precisão “cirúrgica” a, em quase 100% dos casos, até 75 metros de distância. Um sniper policial pode, portanto, visar o chamado “T da morte”3 de um criminoso.
Como informamos em S&D nº 84, o Cap Art Guilherme Guimarães Ferreira foi enviado em 2002 aos Estados Unidos da América para fazer o curso de Sniper na United States Army Sniper School, em Fort Benning, Georgia. O capitão preparou-se diligentemente para cumprir a missão recebida, e o fez com brilhantismo. Levou inúmeros questionamentos sobre a formação e o emprego dos snipers, e trouxe respostas adequadas a todas elas, esclarecendo as dúvidas que preocupavam a equipe da Sec Tir AMAN. Os conhecimentos que adquiriu e compartilhou com os seus camaradas permitiram a execução, em dezembro de 2002, de um Estágio de Caçador, com avaliações de comprovado rendimento. Isto possibilitou a elaboração de uma proposta de revisão do CI 22-I que está em vias de ser enviado ao EME.
Os militares que fizeram parte da equipe da Sec Tir AMAN, bem como os que passaram pelos Estágios para Caçadores lá desenvolvidos, após suas transferências para diversas unidades do EB, passaram a atuar como irradiadores da doutrina do emprego do Caçador nas unidades de infantaria.
E foi assim que o primeiro Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv) foi realizado no primeiro semestre de 2005, somente para o pessoal interno da unidade, por iniciativa e sugestão dos Cap Inf Amilton Fernando Barbosa Moleta, Oficial de Operações, Cap Inf Edmar Loiri Cordeiro, Comandante de Companhia de Fuzileiros de Selva e o Cap Inf Fernando Barcellos da Rosa, Oficial de Inteligência do Batalhão, entusiasticamente apoiados pelo então comandante do 1º BIS (Amv), Cel Inf Ajax Porto Pinheiro.

Emprego tático do Caçador
Alguns observadores têm questionado a real utilidade do emprego de Caçadores pelo EB em uma área como a Região Amazônica. Para entender as possibilidades do uso deste combatente na região citada, é preciso lembrar quais as principais missões do Caçador militar.
Os Caçadores militares têm, tanto no EB como na maior parte dos exércitos que os empregam, uma missão principal e uma secundária. A missão principal é, obviamente, executar tiros precisos, a longa distância, contra alvos inimigos selecionados, sejam de oportunidade, sejam planejados. A missão secundária é a de buscar informes sobre o inimigo e sobre o andamento do combate, relatando-os ao escalão superior, o mais breve possível.
No cumprimento da missão principal o Caçador deverá eliminar ou neutralizar:
- os oficiais, os “comandantes”, de todos os níveis;
- os guias e rastreadores inimigos e seus cães;
- os atiradores de armas coletivas e o pessoal de Comunicações (rádio-operadores e outros) inimigo;
- os chefes e motoristas de blindados inimigos;
- os pilotos de helicópteros inimigos, pousados ou em vôo pairado;
- os observadores avançados;
- os Caçadores (snipers) inimigos; e
- na ausência dos alvos acima, eliminará ou neutralizará qualquer elemento hostil.
Caso disponha de equipamento adequado (fuzil .50, luneta e munição), poderá destruir ou danificar viaturas, aeronaves de asa fixa ou rotativa, radares, material de comunicações e outros equipamentos.
Note-se que os alvos acima listados são selecionados por sua importância em determinado momento do combate, caracterizando pessoal e material de difícil substituição. O Caçador poderá, ainda, engajar esses alvos também à noite, desde que disponha de equipamento apropriado de visão noturna.
Já ao cumprir sua missão secundária, o Caçador empregará sua capacidade de infiltrar-se em área ocupada pelo inimigo, para nela permanecer sem ser visto. Deste modo, o Caçador poderá monitorar regiões de interesse para a inteligência (RIPI), realizar reconhecimentos de pontos ou de pequenas áreas e vigiar um setor, uma via de acesso, ou um eixo. Para esse fim, a equipe de Caçadores será lançada a uma distância que permita a comunicação via rádio com a Unidade, de modo que possa relatar suas observações em tempo útil.
A simples descrição das missões principal e secundária do Caçador militar permite vislumbrar amplas possibilidades de emprego deste tipo de combatente em uma área como a região Amazônica.

O Estágio
Segurança & Defesa teve a oportunidade de acompanhar o segundo Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv), realizado entre os dias 15 e 26 de agosto de 2005, nas instalações da OM no bairro de São Jorge, em Manaus. Julgamos necessário esclarecer que a diferença entre Estágio e Curso, no jargão do EB, refere-se, entre outras coisas, à duração dos mesmos.
Ao contrário do primeiro Estágio, o segundo foi aberto à participação de turmas de Caçadores de outras unidades do EB da Região Amazônica, de outras Forças Armadas, da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado do Amazonas (COE-PM e Grupo Fera, respectivamente).
Um total de 20 estagiários tomou parte no segundo Estágio, cumprindo um total de 160 horas de instrução, abrangendo as partes teórica e prática, incluindo construção de abrigos do Caçador, seleção de materiais de camuflagem para a confecção da roupa de camuflagem (Ghillie Suit), avaliação de distâncias, balística e técnicas de tiro, busca e seleção de alvos, caderneta do Caçador, documentos de tiro, emprego do Caçador no combate em localidade, emprego tático dos Caçadores, exercícios no terreno, pedido e condução de fogo de artilharia, rastreamento, prática de tiro, tiro com Óculos de Visão Noturna (OVN) e Luneta de Visão Noturna (LVN), tiro em alvos móveis (incluindo embarcações), tiro em posições alternativas, sistema de armamento do Caçador, histórico e seleção de Caçadores, emprego de meios de comunicação, operações contra-Caçador, lunetas, jogos de memória, e outros.
Muitos podem estranhar a presença, na grade curricular do Estágio, de pontos como os Jogos de Memória. Entretanto, de acordo com o Cap Inf Barcellos, eles são fundamentais para o aprimoramento das capacidades cognitivas do Caçador — essenciais, por exemplo, numa situação em que, durante uma missão de reconhecimento, ele veja uma coluna de veículos inimigos dirigindo-se para a área onde se encontram as forças amigas. A correta descrição da quantidade e dos tipos de veículos que compõem a coluna será, com certeza, uma informação de crucial importância para a Seção de Informações do Batalhão.

A “Caçada”
Muitas das técnicas relacionadas acima e desenvolvidas no Estágio envolvem certa dose de sigilo e, por este motivo, não nos aprofundaremos em sua descrição. Entretanto, descreveremos a seguir a operação que se constitui no coroamento de toda a instrução teórica e prática do Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv), e o momento mais esperado pelos estagiários: a Caçada. A Caçada nada mais é do que uma prova prática, em terreno apropriado, onde os estagiários aplicam tudo o que aprenderam na sala de aula e no stand de tiro.
No dia da Caçada, nos deslocamos, de caminhão, juntamente com os oficiais instrutores (Capitães Cordeiro e Acosta), os 20 estagiários e dois sargentos, para a área de instrução, na região periférica conhecida por Tarumã, na Zona Norte de Manaus, onde existem alguns loteamentos imobiliários e muitas áreas abertas, com floresta nativa, com algumas vias não-pavimentadas.
Após cerca de 40 minutos de percurso até o local, o caminhão seguiu por uma estrada de terra e deixou os estagiários à margem da mesma, ao lado de uma área arborizada onde, no lado oposto, existe um campo aberto com alguma vegetação mais rasteira, desmatado há alguns meses para construção de um empreendimento imobiliário. Em seguida, o motorista levou as demais pessoas até o outro lado, onde estacionou, com a traseira da viatura voltada para o campo aberto.
Enquanto os 20 estagiários preparavam-se para o exercício, camuflando seus rostos com tinta e aplicando folhagens do local às suas roupas Ghillie, cada um dos dois sargentos muniu-se de uma bandeira, dirigindo-se em seguida ao campo e aguardando o início do exercício.
Acosta e Cordeiro nos explicaram a metodologia a ser aplicada à Caçada: os Caçadores em avaliação se deslocariam pela área coberta por vegetação, progredindo no terreno até ocuparem sua posição de tiro. Os dois oficiais, sentados em cadeiras atrás de uma mesa na carroceria do caminhão, voltada para a área de onde viriam os Caçadores, seriam os alvos, identificados pelos Caçadores por meio de determinados códigos, previamente acertados.
Assim que obtivessem condições para o tiro (usando munição de festim), deveriam executá-lo, e o sargento com a bandeira que estivesse mais próximo deveria levantá-la, caminhar na direção do atirador até um determinado raio próximo ao mesmo, mas sem revelar sua posição aos oficiais.
O oficial que foi “atingido”, munido de binóculo e já sabendo que o atirador encontra-se nas proximidades do sargento com a bandeira, passa a procurá-lo, enquanto solicita do sargento que indague ao atirador qual o “alvo” atingido. Por meio de uma sinalização apropriada, o atirador confirma ou não que realmente atingiu o oficial-alvo. Se a identificação do alvo for positiva, o oficial autoriza um segundo tiro, enquanto continua a busca do atirador por binóculo.
Ao ver qualquer coisa suspeita, ou se visualizar o clarão ou fumaça do disparo, o oficial-alvo passa a direcionar por rádio o sargento porta-bandeira até o que ele pensa ser o atirador.
Se a identificação for positiva, aquele Caçador está desclassificado na prova. Se a resposta for negativa, o sargento com a bandeira retorna à sua posição inicial e o exercício prossegue. Durante o período da Caçada que acompanhamos, que durou quase toda a tarde, a área percorrida pelos Caçadores em meio à vegetação era de menos de 100 metros, o que demonstra que a paciência e arte da dissimulação caminham de mãos dadas na atividade do Caçador militar.
O resultado do exercício foi, para nós, surpreendente, pois não conseguimos, de modo algum, identificar o local de origem dos tiros, a não ser já no fim da tarde e após uma forte chuva, quando o escurecimento do ambiente aumentou o contraste com o mato ao fundo e nos permitiu enxergar a fumaça dos disparos de dois dos estagiários. O “debriefing” do exercício, após o mesmo, permitiu que os capitães Cordeiro e Acosta pudessem passar aos estagiários suas avaliações de desempenho.

Conclusão
Durante nossas entrevistas com os oficiais envolvidos no Estágio de Caçadores do 1º BIS pudemos fazer diversas perguntas e levantar questões. Foram eliminadas de nossas mentes quaisquer dúvidas que pudéssemos ainda ter a respeito da validade do emprego de Caçadores no Exército Brasileiro e, em especial, na Região Amazônica.
É óbvio que a falta de verbas prejudica sobremaneira a capacitação de nossos combatentes.
Ela se reflete, por exemplo, na ausência de padronização dos armamentos e em sua inadequação, uma vez que os estagiários usaram armas padrão de infantaria, como o próprio FAL 7,62mm (equipado com luneta) no caso de militares do 1º BIS e de outras unidades do EB, do SIG 551 de 5,56mm no caso da dupla do BInFA da Base Aérea de Manaus (que, independente do calibre diferente e da luneta inadequada, conseguia acertar os alvos a distâncias de até 400m) e do M16A2 de 5,56mm da dupla do Batalhão de Operações Ribeirinhas (FN) da Marinha. Aguarda-se para breve a chegada de um lote de fuzis Imbel .308 AGLC, próprios para o tiro de caçador, o que melhorará sensivelmente a instrução. No estágio que acompanhamos, somente a dupla de caçadores do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) usou um fuzil próprio para o tiro de caçador, na forma de um dos protótipos do fuzil AGLC.
Mas a falta do equipamento ideal não foi motivo para desanimar nem o Comando do 1º BIS, nem o coordenador do Estágio, Cap Inf Barcellos.
“Não podemos ficar esperando que as coisas aconteçam e nos lamentando da falta de recursos. Os Estágios estão servindo como um pólo irradiador da doutrina do emprego tático de Caçadores no Exército e para a disseminação de importantes técnicas e táticas entre membros de diferentes Forças Armadas e instituições policiais. Em caso de necessidade, esses Caçadores poderão trabalhar em conjunto, seguindo os mesmos procedimentos, sem problemas”, informou Barcellos. Acrescentou ainda que tem certeza que o trabalho que viu nascer na Sec Tir AMAN, quando fez parte da equipe que desenvolveu as primeiras linhas da doutrina de emprego de Caçadores no EB, será coroado com brilhantismo e eficiência por parte da Brigada de Operações Especiais que, desde o início deste ano, é a responsável pelo desenvolvimento desta doutrina no Exército Brasileiro.

Agradecimentos
O autor gostaria de apresentar seus mais sinceros agradecimentos a todos os militares que tornaram possível a realização deste trabalho, como o Cel Inf Ajax Porto Pinheiro, ex-comandante do 1º BIS (Amv), o Ten Cel Inf Alfredo José Dias, atual comandante do 1º BIS (Amv), Cap Inf Acosta, Cap Inf Cordeiro e, em especial, ao Cap Inf Barcellos, por sua vibração e profissionalismo, respondendo a todas as nossas perguntas, mesmo as mais simples, com simpatia e paciência infinitas. A todos eles, nosso respeito e admiração pela difícil missão a que dedicaram suas vidas. SELVA!

Notas:
1 O Cel Inf Athos Gabriel Lacerda de Carvalho foi o responsável pela criação do Fuzil Sniper .308 da Imbel, que tem a sigla AGLC, em sua homenagem.
2 Engenheiro de armamento da IMBEL.
3 Área do rosto compreendida entre o arco dos olhos e a base do nariz, formando um “T” imaginário. Um tiro nesta região resulta em morte instantânea, sem reflexos motores, e é muito executado por snipers em situações policiais que envolvem reféns mantidos sob mira de armas.




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#157 Mensagem por rodrigo » Seg Dez 03, 2007 10:58 am

Na verdade, não era um tenente, mas um capitão.
Na época ele era tenente, instrutor na seção de tiro na AMAN. Depois foi promovido, transferido para Brasília, e atualmente se encontra no Sudão como observador.




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
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#158 Mensagem por Guilherme » Seg Dez 03, 2007 11:55 am

Mapinguari escreveu:
Guilherme escreveu:
rodrigo escreveu:O EB, até o ano 2000, não tinha curso de sniper. Existiam estágios diversos, na selva, montanha, catinga e FE. Todos em adaptações para as peculiaridades de cada teatro de operações. A partir dessa data(não sei especificamente quem foi o idealizador), o EB teve a oportunidade de enviar um tenente ao curso no United States Army Sniper School(1º aluno estrangeiro a se formar lá) e trouxe tudo que precisávamos para fazer o curso aqui. Desde então, a seção de tiro da AMAN criou o curso de caçador, e em coordenação com a IMBEL ajudou a desenvolver o fuzil AGLC, que se tornou a arma padrão do sniper do EB. Existem poucos formados, mas trata-se de um time de elite, com capacidade de treinamento de mais atiradores em pouco tempo. Mas ainda temos muito para aprender, e lamentavelmente estamos atrasados, mas já estamos correndo atrás. :D


O Discovery Channel, há alguns anos, produziu uma reportagem sobre treinamento de franco-atiradores no US Army (veiculada no programa Discovery Magazine). Mostrava o treinamento dos soldados, muitos foram desclassificados. O tenente brasileiro conseguiu terminar o curso.


Na verdade, não era um tenente, mas um capitão.


Segundo o programa, era um tenente. Talvez hoje ele já seja capitão.




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#159 Mensagem por rodrigo » Seg Dez 03, 2007 1:54 pm

as FE do EB usam diversos tipos de fuzis sniper de alta qualidade (PSG-1, MiniHecate e outros
O EB não usa o minihecate. Você deve estar confundindo com o ULTIMA RATIO da PGM, em calibre 308. Externamente são muito parecidos, só que o minihecate é em calibre 338 lapua magnum.




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Re:

#160 Mensagem por Guilherme Ferreira » Sex Ago 17, 2018 12:33 pm

Eu estava no meu último ano de 1º Tenente, em 2002, quando realizei o curso.




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Re: Caçadores no EB - Parte 2

#161 Mensagem por Guilherme Ferreira » Sex Ago 17, 2018 12:35 pm

Mapinguari escreveu: Seg Dez 03, 2007 1:45 am Estágio para Caçadores no 1º BIS (Amv)

Na edição 84 de Segurança & Defesa, págs. 22-24, descrevemos alguns fatos históricos com relação ao emprego de Caçadores por vários exércitos do mundo, ao longo da História. Nesta edição apresentamos mais informações sobre o emprego desses combatentes especializados no Exército Brasileiro (EB) e detalhes sobre o Estágio para Caçadores, realizado em agosto de 2005, pelo 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel).

Alexandre Fontoura

O 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel), ou 1º BIS (Amv), em sua forma abreviada — conhecido como Batalhão Amazonas e sediado em Manaus há 90 anos — é uma unidade de elite do Exército Brasileiro. Parte da chamada Força de Ação Rápida (FAR) do EB, o 1º BIS (Amv) tem sob sua responsabilidade, além da formação do soldado combatente de selva, um Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR), a condução de Estágios de Adaptação à Selva para militares deslocados de outras áreas do país para unidades sediadas na Amazônia, e o preparo de uma companhia de recrutas (além dos seus efetivos profissionais).
Trata-se de uma unidade militar profissional e altamente operacional. Uma medida desta operacionalidade pode ser dada pelo fato de que, em 2004 e 2005, o 1º BIS (Amv) foi a unidade de infantaria do EB com maior número de horas de vôo.
Entre as diversas missões do 1º BIS (Amv) está, desde o ano passado, a promoção do Estágio de Caçadores, com duração de duas semanas e com os objetivos de:
- habilitar os estagiários a exercerem a função de Caçador nas suas OM;
- difundir e padronizar o uso de armamentos e equipamento, assim como os conhecimentos técnicos e táticos específicos do Caçador; e
- motivar profissionalmente os militares na busca de sua qualificação no tocante aos conhecimentos específicos sobre o Caçador.
Como mencionamos no artigo citado na abertura desta matéria, até o final do Século XX o Exército Brasileiro não possuía Caçadores em suas unidades operacionais. Até 1998 havia somente notas de instrução sobre o atirador de emboscada, atirador de escol, tiro com luneta, etc, sem que houvesse previsão da dotação de Caçadores no Quadro de Cargos Previstos (QCP) das unidades.

Em busca de informações
Em 1998, o Estado-Maior do Exército despertou para o problema e introduziu este combatente especializado nos QCP dos Pelotões de Comando de todos os Batalhões de Infantaria.
Entretanto, como não havia àquela época nenhuma doutrina sobre o tema, nem qualquer tipo de documentação, o Estado-Maior do Exército (EME) incumbiu a Seção de Tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (Sec Tir AMAN) do desenvolvimento de pesquisas a respeito do emprego do Caçador militar. Ainda em 1998, surge a primeira versão do CI 22-1 “O Caçador”, como uma espécie de “farol” ou direção geral num quadro de falta de doutrina.
A partir de meados do ano 2000, o Projeto Caçador começou a ser desenvolvido pela Seção de Tiro do Corpo de Cadetes da AMAN, em parceria com a Seção de Pesquisa da IMBEL/Itajubá. Este trabalho levou ao início da revisão do CI 22-1, desenvolvido pela Sec Tir AMAN, sob a coordenação do Cel Inf EM Mário Hecksher Neto, e que contou com a participação e colaboração dos seguintes militares: Cel Inf EM (Res) Athos Gabriel Lacerda de Carvalho (consultor)1, Maj QEMA Paulo Augusto Capetti Rodrigues Porto2, Maj Inf Fernando Cardoso Júnior, Cap Inf Gustavo Megale Hecksher, Cap Cav Túlio Endres da Silva Gomes, Cap Art Guilherme Guimarães Ferreira, Cap Inf Fernando Barcellos da Rosa, Cap Inf Leandro Ataido Acosta, Cap Cav Giovani Dalarosa Amaral, 1º Ten Inf Volney Vieira Melo, e 2o Sgt Inf Marcelo Alvarenga dos Santos.
Numa primeira etapa, essa equipe multidisciplinar foi buscar a informação onde ela já existia: com as unidades policiais de elite. Assim, foram promovidas visitas, palestras e reuniões objetivando a coleta de subsídios. É importante destacar, entretanto, que existem óbvias diferenças entre o emprego do sniper policial e do Caçador militar. Enquanto este é treinado visando atingir alvos a distâncias, em média, de 600-800 metros, o sniper policial é treinado para tiros com precisão “cirúrgica” a, em quase 100% dos casos, até 75 metros de distância. Um sniper policial pode, portanto, visar o chamado “T da morte”3 de um criminoso.
Como informamos em S&D nº 84, o Cap Art Guilherme Guimarães Ferreira foi enviado em 2002 aos Estados Unidos da América para fazer o curso de Sniper na United States Army Sniper School, em Fort Benning, Georgia. O capitão preparou-se diligentemente para cumprir a missão recebida, e o fez com brilhantismo. Levou inúmeros questionamentos sobre a formação e o emprego dos snipers, e trouxe respostas adequadas a todas elas, esclarecendo as dúvidas que preocupavam a equipe da Sec Tir AMAN. Os conhecimentos que adquiriu e compartilhou com os seus camaradas permitiram a execução, em dezembro de 2002, de um Estágio de Caçador, com avaliações de comprovado rendimento. Isto possibilitou a elaboração de uma proposta de revisão do CI 22-I que está em vias de ser enviado ao EME.
Os militares que fizeram parte da equipe da Sec Tir AMAN, bem como os que passaram pelos Estágios para Caçadores lá desenvolvidos, após suas transferências para diversas unidades do EB, passaram a atuar como irradiadores da doutrina do emprego do Caçador nas unidades de infantaria.
E foi assim que o primeiro Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv) foi realizado no primeiro semestre de 2005, somente para o pessoal interno da unidade, por iniciativa e sugestão dos Cap Inf Amilton Fernando Barbosa Moleta, Oficial de Operações, Cap Inf Edmar Loiri Cordeiro, Comandante de Companhia de Fuzileiros de Selva e o Cap Inf Fernando Barcellos da Rosa, Oficial de Inteligência do Batalhão, entusiasticamente apoiados pelo então comandante do 1º BIS (Amv), Cel Inf Ajax Porto Pinheiro.

Emprego tático do Caçador
Alguns observadores têm questionado a real utilidade do emprego de Caçadores pelo EB em uma área como a Região Amazônica. Para entender as possibilidades do uso deste combatente na região citada, é preciso lembrar quais as principais missões do Caçador militar.
Os Caçadores militares têm, tanto no EB como na maior parte dos exércitos que os empregam, uma missão principal e uma secundária. A missão principal é, obviamente, executar tiros precisos, a longa distância, contra alvos inimigos selecionados, sejam de oportunidade, sejam planejados. A missão secundária é a de buscar informes sobre o inimigo e sobre o andamento do combate, relatando-os ao escalão superior, o mais breve possível.
No cumprimento da missão principal o Caçador deverá eliminar ou neutralizar:
- os oficiais, os “comandantes”, de todos os níveis;
- os guias e rastreadores inimigos e seus cães;
- os atiradores de armas coletivas e o pessoal de Comunicações (rádio-operadores e outros) inimigo;
- os chefes e motoristas de blindados inimigos;
- os pilotos de helicópteros inimigos, pousados ou em vôo pairado;
- os observadores avançados;
- os Caçadores (snipers) inimigos; e
- na ausência dos alvos acima, eliminará ou neutralizará qualquer elemento hostil.
Caso disponha de equipamento adequado (fuzil .50, luneta e munição), poderá destruir ou danificar viaturas, aeronaves de asa fixa ou rotativa, radares, material de comunicações e outros equipamentos.
Note-se que os alvos acima listados são selecionados por sua importância em determinado momento do combate, caracterizando pessoal e material de difícil substituição. O Caçador poderá, ainda, engajar esses alvos também à noite, desde que disponha de equipamento apropriado de visão noturna.
Já ao cumprir sua missão secundária, o Caçador empregará sua capacidade de infiltrar-se em área ocupada pelo inimigo, para nela permanecer sem ser visto. Deste modo, o Caçador poderá monitorar regiões de interesse para a inteligência (RIPI), realizar reconhecimentos de pontos ou de pequenas áreas e vigiar um setor, uma via de acesso, ou um eixo. Para esse fim, a equipe de Caçadores será lançada a uma distância que permita a comunicação via rádio com a Unidade, de modo que possa relatar suas observações em tempo útil.
A simples descrição das missões principal e secundária do Caçador militar permite vislumbrar amplas possibilidades de emprego deste tipo de combatente em uma área como a região Amazônica.

O Estágio
Segurança & Defesa teve a oportunidade de acompanhar o segundo Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv), realizado entre os dias 15 e 26 de agosto de 2005, nas instalações da OM no bairro de São Jorge, em Manaus. Julgamos necessário esclarecer que a diferença entre Estágio e Curso, no jargão do EB, refere-se, entre outras coisas, à duração dos mesmos.
Ao contrário do primeiro Estágio, o segundo foi aberto à participação de turmas de Caçadores de outras unidades do EB da Região Amazônica, de outras Forças Armadas, da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado do Amazonas (COE-PM e Grupo Fera, respectivamente).
Um total de 20 estagiários tomou parte no segundo Estágio, cumprindo um total de 160 horas de instrução, abrangendo as partes teórica e prática, incluindo construção de abrigos do Caçador, seleção de materiais de camuflagem para a confecção da roupa de camuflagem (Ghillie Suit), avaliação de distâncias, balística e técnicas de tiro, busca e seleção de alvos, caderneta do Caçador, documentos de tiro, emprego do Caçador no combate em localidade, emprego tático dos Caçadores, exercícios no terreno, pedido e condução de fogo de artilharia, rastreamento, prática de tiro, tiro com Óculos de Visão Noturna (OVN) e Luneta de Visão Noturna (LVN), tiro em alvos móveis (incluindo embarcações), tiro em posições alternativas, sistema de armamento do Caçador, histórico e seleção de Caçadores, emprego de meios de comunicação, operações contra-Caçador, lunetas, jogos de memória, e outros.
Muitos podem estranhar a presença, na grade curricular do Estágio, de pontos como os Jogos de Memória. Entretanto, de acordo com o Cap Inf Barcellos, eles são fundamentais para o aprimoramento das capacidades cognitivas do Caçador — essenciais, por exemplo, numa situação em que, durante uma missão de reconhecimento, ele veja uma coluna de veículos inimigos dirigindo-se para a área onde se encontram as forças amigas. A correta descrição da quantidade e dos tipos de veículos que compõem a coluna será, com certeza, uma informação de crucial importância para a Seção de Informações do Batalhão.

A “Caçada”
Muitas das técnicas relacionadas acima e desenvolvidas no Estágio envolvem certa dose de sigilo e, por este motivo, não nos aprofundaremos em sua descrição. Entretanto, descreveremos a seguir a operação que se constitui no coroamento de toda a instrução teórica e prática do Estágio de Caçadores do 1º BIS (Amv), e o momento mais esperado pelos estagiários: a Caçada. A Caçada nada mais é do que uma prova prática, em terreno apropriado, onde os estagiários aplicam tudo o que aprenderam na sala de aula e no stand de tiro.
No dia da Caçada, nos deslocamos, de caminhão, juntamente com os oficiais instrutores (Capitães Cordeiro e Acosta), os 20 estagiários e dois sargentos, para a área de instrução, na região periférica conhecida por Tarumã, na Zona Norte de Manaus, onde existem alguns loteamentos imobiliários e muitas áreas abertas, com floresta nativa, com algumas vias não-pavimentadas.
Após cerca de 40 minutos de percurso até o local, o caminhão seguiu por uma estrada de terra e deixou os estagiários à margem da mesma, ao lado de uma área arborizada onde, no lado oposto, existe um campo aberto com alguma vegetação mais rasteira, desmatado há alguns meses para construção de um empreendimento imobiliário. Em seguida, o motorista levou as demais pessoas até o outro lado, onde estacionou, com a traseira da viatura voltada para o campo aberto.
Enquanto os 20 estagiários preparavam-se para o exercício, camuflando seus rostos com tinta e aplicando folhagens do local às suas roupas Ghillie, cada um dos dois sargentos muniu-se de uma bandeira, dirigindo-se em seguida ao campo e aguardando o início do exercício.
Acosta e Cordeiro nos explicaram a metodologia a ser aplicada à Caçada: os Caçadores em avaliação se deslocariam pela área coberta por vegetação, progredindo no terreno até ocuparem sua posição de tiro. Os dois oficiais, sentados em cadeiras atrás de uma mesa na carroceria do caminhão, voltada para a área de onde viriam os Caçadores, seriam os alvos, identificados pelos Caçadores por meio de determinados códigos, previamente acertados.
Assim que obtivessem condições para o tiro (usando munição de festim), deveriam executá-lo, e o sargento com a bandeira que estivesse mais próximo deveria levantá-la, caminhar na direção do atirador até um determinado raio próximo ao mesmo, mas sem revelar sua posição aos oficiais.
O oficial que foi “atingido”, munido de binóculo e já sabendo que o atirador encontra-se nas proximidades do sargento com a bandeira, passa a procurá-lo, enquanto solicita do sargento que indague ao atirador qual o “alvo” atingido. Por meio de uma sinalização apropriada, o atirador confirma ou não que realmente atingiu o oficial-alvo. Se a identificação do alvo for positiva, o oficial autoriza um segundo tiro, enquanto continua a busca do atirador por binóculo.
Ao ver qualquer coisa suspeita, ou se visualizar o clarão ou fumaça do disparo, o oficial-alvo passa a direcionar por rádio o sargento porta-bandeira até o que ele pensa ser o atirador.
Se a identificação for positiva, aquele Caçador está desclassificado na prova. Se a resposta for negativa, o sargento com a bandeira retorna à sua posição inicial e o exercício prossegue. Durante o período da Caçada que acompanhamos, que durou quase toda a tarde, a área percorrida pelos Caçadores em meio à vegetação era de menos de 100 metros, o que demonstra que a paciência e arte da dissimulação caminham de mãos dadas na atividade do Caçador militar.
O resultado do exercício foi, para nós, surpreendente, pois não conseguimos, de modo algum, identificar o local de origem dos tiros, a não ser já no fim da tarde e após uma forte chuva, quando o escurecimento do ambiente aumentou o contraste com o mato ao fundo e nos permitiu enxergar a fumaça dos disparos de dois dos estagiários. O “debriefing” do exercício, após o mesmo, permitiu que os capitães Cordeiro e Acosta pudessem passar aos estagiários suas avaliações de desempenho.

Conclusão
Durante nossas entrevistas com os oficiais envolvidos no Estágio de Caçadores do 1º BIS pudemos fazer diversas perguntas e levantar questões. Foram eliminadas de nossas mentes quaisquer dúvidas que pudéssemos ainda ter a respeito da validade do emprego de Caçadores no Exército Brasileiro e, em especial, na Região Amazônica.
É óbvio que a falta de verbas prejudica sobremaneira a capacitação de nossos combatentes.
Ela se reflete, por exemplo, na ausência de padronização dos armamentos e em sua inadequação, uma vez que os estagiários usaram armas padrão de infantaria, como o próprio FAL 7,62mm (equipado com luneta) no caso de militares do 1º BIS e de outras unidades do EB, do SIG 551 de 5,56mm no caso da dupla do BInFA da Base Aérea de Manaus (que, independente do calibre diferente e da luneta inadequada, conseguia acertar os alvos a distâncias de até 400m) e do M16A2 de 5,56mm da dupla do Batalhão de Operações Ribeirinhas (FN) da Marinha. Aguarda-se para breve a chegada de um lote de fuzis Imbel .308 AGLC, próprios para o tiro de caçador, o que melhorará sensivelmente a instrução. No estágio que acompanhamos, somente a dupla de caçadores do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) usou um fuzil próprio para o tiro de caçador, na forma de um dos protótipos do fuzil AGLC.
Mas a falta do equipamento ideal não foi motivo para desanimar nem o Comando do 1º BIS, nem o coordenador do Estágio, Cap Inf Barcellos.
“Não podemos ficar esperando que as coisas aconteçam e nos lamentando da falta de recursos. Os Estágios estão servindo como um pólo irradiador da doutrina do emprego tático de Caçadores no Exército e para a disseminação de importantes técnicas e táticas entre membros de diferentes Forças Armadas e instituições policiais. Em caso de necessidade, esses Caçadores poderão trabalhar em conjunto, seguindo os mesmos procedimentos, sem problemas”, informou Barcellos. Acrescentou ainda que tem certeza que o trabalho que viu nascer na Sec Tir AMAN, quando fez parte da equipe que desenvolveu as primeiras linhas da doutrina de emprego de Caçadores no EB, será coroado com brilhantismo e eficiência por parte da Brigada de Operações Especiais que, desde o início deste ano, é a responsável pelo desenvolvimento desta doutrina no Exército Brasileiro.

Agradecimentos
O autor gostaria de apresentar seus mais sinceros agradecimentos a todos os militares que tornaram possível a realização deste trabalho, como o Cel Inf Ajax Porto Pinheiro, ex-comandante do 1º BIS (Amv), o Ten Cel Inf Alfredo José Dias, atual comandante do 1º BIS (Amv), Cap Inf Acosta, Cap Inf Cordeiro e, em especial, ao Cap Inf Barcellos, por sua vibração e profissionalismo, respondendo a todas as nossas perguntas, mesmo as mais simples, com simpatia e paciência infinitas. A todos eles, nosso respeito e admiração pela difícil missão a que dedicaram suas vidas. SELVA!

Notas:
1 O Cel Inf Athos Gabriel Lacerda de Carvalho foi o responsável pela criação do Fuzil Sniper .308 da Imbel, que tem a sigla AGLC, em sua homenagem.
2 Engenheiro de armamento da IMBEL.
3 Área do rosto compreendida entre o arco dos olhos e a base do nariz, formando um “T” imaginário. Um tiro nesta região resulta em morte instantânea, sem reflexos motores, e é muito executado por snipers em situações policiais que envolvem reféns mantidos sob mira de armas.
Cumprimentos pelo excelente artigo!




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arcanjo
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Re: Fotos Sniper

#162 Mensagem por arcanjo » Dom Out 07, 2018 1:38 pm

Treinamento dos "Sniper" Comandos.
1º Batalhão de Ações de Comandos, Goiânia/GO.

https://scontent.fcgh3-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/43210637_2463436883683225_5608333862363987968_n.jpg?_nc_cat=109&oh=01dee79c34952cf9ad9af3545bf8530a&oe=5C1D9F5D
(Clique para ampliar)

abs.

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