Esquerda vence eleições legislativas em França
Daniel Ribeiro, Paris 11 Jun, 2012, 08:06 / atualizado em 11 Jun, 2012, 08:10
Os partidos de Esquerda venceram as eleições legislativas de domingo em França, não havendo garantia de que o PS consegue obter a maioria absoluta sozinho.
As sondagens da primeira volta das eleições dão 47 por cento dos votos aos partidos de Esquerda, 35,5 por cento à Direita e 13,5 por cento à Extrema-Direita. A abstenção obteve o número recorde de 41 por cento.
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Socialistas e aliados aproximam-se da maioria absoluta nas legislativas francesas
Carlos Santos Neves, RTP 11 Jun, 2012, 08:06 / atualizado em 11 Jun, 2012, 09:24
Debaixo da sombra de uma abstenção histórica, o campo político de François Hollande venceu ontem a primeira volta das eleições legislativas francesas, garantindo uma posição que lhe poderá valer a maioria absoluta no segundo capítulo do escrutínio, dentro de uma semana. É esse o objetivo que prevalece em todas as intervenções públicas do partido do Presidente. À direita, a maioria de sinal contrário que se desenha na Assembleia Nacional é desvalorizada. “Não houve uma vaga rosa”, sublinhou François Fillon, ex-primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy.
Onde os socialistas encontram um claro “apoio à mudança”, a União por um Movimento Popular (UMP) vê falta de “apetite” pela formação política do novo Presidente francês. A fórmula foi empregue por dois ex-chefes de governos conservadores.
Jean-Pierre Raffarin, primeiro-ministro de 2002 a 2005, afirmava ontem na estação televisiva France 2 que houve um “voto de inquietação”. François Fillon, o antecessor do atual primeiro-ministro socialista Jean-Marc Ayrault, afinou pela mesma nota dominante: “Há muitas inquietações quanto às primeiras medidas tomadas por François Hollande”.
Os resultados definitivos entretanto divulgados pelo Ministério do Interior mostram uma posição confortável para as principais formações da esquerda. PS, Europa Ecologia – Os Verdes (EELV) e Frente de Esquerda somam 46,77 por cento dos votos, contra os 34,07 por cento obtidos por UMP e aliados de direita e os 13,6 por cento da Frente Nacional.
As últimas projeções para o desenho pós-eleitoral da Assembleia Nacional atribuem entre 283 a 329 assentos parlamentares a PS e aliados mais próximos, entre os quais o Movimento Republicano e Cidadão (MRC) e o Partido Radical de Esquerda (PRG). O que significaria que estas forças poderiam estar em condições de alcançar os 289 assentos necessários para uma maioria absoluta sem dependerem dos ecologistas e da Frente de Esquerda.
Direita e aliados teriam, por seu turno, entre 210 a 263 assentos, ao passo que extrema-direita e centro poderiam conquistar até três lugares no Parlamento.
Extrema-direta em ascensão
No entanto, há outros dois dados que estão a marcar o rescaldo da primeira volta das eleições legislativas francesas. Em primeiro lugar o mais elevado índice de abstenção da V República em escrutínios para a Assembleia Nacional – 42,77 por cento. A que se segue o resultado histórico da Frente Nacional.
O partido de Marine Le Pen, que cilindrou o dirigente da Frente de Esquerda (Partido Comunista Francês e Partido de Esquerda) Jean-Luc Mélenchon na circunscrição de Hénin-Beaumont, cresceu de quatro por cento dos votos em 2007 para 13,6 por cento.
À partida para a segunda volta do próximo domingo, que a vai opor ao socialista Philippe Kemel em Hénin-Beaumont, Le Pen fazia ontem um apelo a uma “recomposição” da direita e sublinhava que a Frente Nacional acabara de cimentar “a sua posição como terceira força política de França”. A líder do partido de extrema-direita teve 42 por cento dos sufrágios na sua circunscrição, afastando Mélenchon da segunda volta.
Já o rosto da Frente de Esquerda não escondeu a desilusão pessoal. Mas tratou de capitalizar os resultados globais da sua formação, que, com cerca de sete por cento dos votos na primeira volta, poderá ser capaz de eleger entre 13 a 20 deputados à Assembleia Nacional.
“Uma larga maioria” para Hollande
Reeleito à primeira volta pela terceira circunscrição da Loire-Atlantique, o primeiro-ministro francês apressou-se a pedir aos eleitores que “se mobilizem no próximo domingo para dar ao Presidente da República uma larga maioria”, de forma a que François Hollande disponha de suficiente apoio parlamentar para pôr em marcha o programa de reformas prometido na campanha das presidenciais. Porque a “mudança”, afirmou Jean-Marc Ayrault, está apenas “a começar”.
Diante das câmaras da France 2, Martine Aubry, primeira-secretária do Partido Socialista, avaliou os resultados da jornada eleitoral como uma demonstração de “apoio à mudança” e de “vontade de amplificação” da vitória de François Hollande sobre Nicolas Sarkozy a 6 de maio. Mas admitiu também que “nada está decidido”. Para convidar os dirigentes da esquerda a congregarem-se em torno do mote de que “nenhum assento deve cair para a direita por causa de divisões” no campo contrário.
François Fillon, o barão da UMP que terá ainda de medir forças na segunda circunscrição de Paris com o socialista Axel Kahn, quis deixar vincado que “não houve uma vaga rosa” na noite eleitoral, tão-pouco qualquer expressão de “apetite” pelas propostas da esquerda.
Rejeitando qualquer forma de “aliança com a Frente Nacional”, o secretário-geral da UMP, Jean-François Copé, apelou também à “mobilização geral das francesas e dos franceses”. Para pôr um travão às políticas do Presidente socialista: “Muitos compatriotas falaram-nos da sua preocupação face ao risco de um aumento em massa dos impostos para pagar as promessas do senhor Hollande, perante o recuo da luta contra a delinquência”.
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