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Enviado: Seg Jun 11, 2007 7:29 pm
por Dieneces
rodrigo escreveu:Vamos lá Dieneces:

Isso tudo é teoria, boa para debate.
Reconhecido até mesmo pelo autor do tópico.
Angola para o Brasil é no mínimo 25 vezes menos importante do que o Uruguai.
Isso pode ser comprovado pelo Itamaraty, pelo Exército Brasileiro, pelo Ministério do Turismo e outras fontes.
Eu só me lembro de Angola quando escuto a música morena de Angola do Chico Buarque.
É verdade :lol:
Os portugueses tem fixação porque levaram fumo, é assim mesmo, os argentinos também tem com as Malvinas.
Levaram fumo porque a guerra colonial se mostou insustentável, inclusive servindo de argumento para o 25 abril. A comparação argentina é de fundo psicológico, já que os derrotados sempre levam o trauma, assim como não houve derrota americana no Vietnã, mas levaram fumo e tiveram que sair.
Rodrigo , se você mesmo considera que seus conhecimentos sobre Angola se restringem a uma letra de música , vou desconsiderar tuas demais assertivas. Mas gostei das tuas fontes ... :wink:

Enviado: Seg Jun 11, 2007 10:38 pm
por Clermont
pt escreveu:A esmagadora maioria dos analistas militares é unanime em afirmar que Portugal é o unico país a ter conseguido vencer uma guerra contra movimentos de guerrilha.


Olha, como já digitei antes, eu mal sei história do Brasil que dirá a de Portugal. Mas, olhando uns livrinhos aqui e acolá, encontrei esses trechos:

(...) Com a economia estagnada, drenado pela imigração para a França e para a Alemanha, Portugal padecia um declínio populacional. Tinha 8,2 milhões de pessoas em casa e 1 milhão fora, a maioria na faixa dos dezoito aos 35 anos. Um português ganhando salário mínimo na França conseguia uma renda superir à de 92 % de seus compatriotas. A segunda maior população de portugueses vivia na cidade de Paris. Um em cada três dos 120 mil portugueses que emigraram em 1973 eram operários qualificados. A poupança remetida pelos emigrados equivalia a 70 % do total das exportações do país.

Esse império anacrônico enfrentava os movimentos de libertação africanos mantendo 150 mil homens armados no além-mar. Estava batido na Guiné-Bissau, onde o poder dos guerrilheiros já fora reconhecido por 54 governos, quase todos africanos ou comunistas. Passava dificuldades em Moçambique e se segurava em Angola, com 60 mil homens aquartelados. As despesas militares chegavam a 425 milhões de dólares, cerca de 7 % do Produto Interno Bruto, percentual maior que o dos Estados Unidos e três vezes superior ao da África do Sul. De cada quatro homens com idade suficiente para para o serviço militar, um estava na tropa. A percentagem da população portuguesa em armas só era superada em Israel nos dois Vietnãs.

(...)

Conheciam-se os números que alimentavam a inquietação militar. Um milhão de soldados portugueses já haviam passado pela guerra da África. A maioria dos combatentes era analfabeta, e os filhos das boas famílias se protegiam servindo nos estados-maiores, que além de ficarem longe do fogo, só começavam a trabalhar depois do almoço. Em Angloa, um subtenente ganhava menos que porteiro de cinema, metade do que recebia um barbeiro. Como a classe média fudiu do serviço militar, o governo preencheu com conscritos as vagas dos níveis inferiores da oficialidade. Os conscritos não podiam subir na hierarquia e, portanto, evitavam as linhas de combate. Em julho de 1973, procurando quebrar o círculo vicioso, ampliou-se o acesso dessa parte da tropa às promoções. Como seria levada em conta a antiguidade de serviço, a providência obstruiria as promoções dos oficiais regulares e, com isso, estaria criado outro círculo vicioso. Em dezembro o governo recuou, revogando as facilidades oferecias aos conscritos e aumentando os salários dos oficiais.

(...)

Uma semana antes da posse, Geisel tinha consigo um livro que fazia imenso sucesso em Lsiboa e no além-mar: Portugal e o futuro, do general Antônio de Spínola. Lançada em fevereiro, a edição de 50 mil exemplares esgotara-se emm doze horas. O autor era vice-chefe do estado-maior e comandara as tropas na Guiné-Bissau, onde, desde 1968, dava a guerra por perdida. Dizia que "o caminho para o futuro próspero de sobrevivência da Nação passa necessariamente pelo rápido restabelecimendo da paz". "Pretender vencer uma guerra asubservisa por meio de ums solução militar é aceitar, de antemão, a derrota." - GASPARI, Elio - A ditadura derrotada - São Paulo, Companhia das Letras, 2003.


E o que pensava o presidente Geisel do tradicional apoio brasileiro, pós-1964, ao domínio colonial português na África, em 1974?

"Eu acho que nós deveríamos mandar Portugal passear. [...] Acho que está na hora de pegar Portugal e dizer: 'Olha, não conte mais com o Brasil' " (conversa com o general Golbery, em 20 de novembro de 1973.)

(...)

"Eu tenho a impressão de que está na hora da gente dizer para Portugal: 'Nós somos amigos, nós somos parentes, somos irmãos, mas esse troço vocês tem que evoluir, vocês tem que estudar a maneira de dar liberdade a esses países. O inglês não deu, o francês não deu? [...] Eles vêm com o negócio que aquilo não é colonialismo, que eles são províncias, mas isso é tapeação. [...] Mas eu acho que a nossa política em relação à Portugal tem que mudar. Eu tenho informações de que a mocidade de Portugal toda está contra. Já não quer prestar serviço militar, o número de mutilados moços que voltam à Portugal, que se vê nas ruas, já é muito grande. E os comunas esperando. Já estão infiltrados, esperando as coisas lá dentro. Aquela posição monolítica que havia antigamente em Portugal, no tempo do Salazar, hoje em dia já não tem mais. (Em conversa com o general Dale Coutinho, 16 de fevereiro de 1974.


Depois, quando a vaca portuguesa foi pro brejo, na África, veio a questão do reconhecimento da independência dos novos países, no fim de 1975. O principal problema era Angola (não por coincidência, o mais estratégico de todos os territórios).

O Brasil, para grande ódio de setores de extrema-direita anticomunista, reconheceu a guerrilha do MPLA, marxista e apoiada nas baionetas [santa figura de linguagem anacrônica!] cubanas para controlar Luanda (coisa que o governo brasileiro, ainda desconhecia, em novembro de 1975, data do reconhecimento oficial).

E o que dizia o ex-presidente Geisel, nos anos 1990, sobre o assunto?

(...) "O mesmo problema surgiu quando reatei as relações com Angola. A mesma história: 'É um país comunista, os Estados Unidos estão subsidiando a revolução contra o governo de Angola, e nós somos solidários com os Estados Unidos!' "Respondi: 'Não, nesse ponto eu não sou solidário. Acho que os Estados Unidos não têm o direito de fomentar a revolução em outro país. Não concordo com esse posicionamento. E tem mais: Angola é fronteira marítima com o Brasil. Nossa fronteira oriental é toda a costa oeste da África. Então não vamos ter relações com um país fronteiriço? Além disso, Angola é descendente de Portugal, fala como nós, a mesma língua! E há outro interesse: as perspectivas são de que o litoral angolano tenha petróleo, e nós poderemos obter suprimento nem Angola'. Respondiam: 'Mas o governo é comunista!' E eu: 'É, é subsidiado pela Rússia, mas a revolução que existe em Angola é subsidiada pelo americano. O americano está financiando uma revolução lá dentro!' A Unita, até hoje, ainda é subsidiada pelo americano em armamento, em munição, em dinheiro e tudo mais. 'Que direito têm os Estados Unidos de intervir no país e lá provocar uma revolução? Não temos nada com isso, não temos nada com a Unita. No passado sempre transacionávamos com Angola e agora temos interesse em trazer petróleo de lá.' Foi outra discussão. Eu dizia: 'Vocês têm que abrir os olhos, o mundo é outro! Vocês não podem ficar nesse círculo estreito!' Eles engoliram a solução, mas evidentemente resmungando. - Ernesto Geisel (org. Maria da Celina D'Araújo e Celso Castro), Rio de Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 12:09 am
por Dieneces
Clermont , pelo sucesso e progresso atingido por Angola , desde 1975 , vemos que a dupla Geisel-Golbery , se estava bem informada e tenho minhas dúvidas , parodiou Pilatus...Quanto aos revezes portugueses em África , não procedem , no caso de Guiné Bissau , sim , mas como já disse o PT , era um território de pouco valor estratégico e pobre e não justificava manter um exército e uma guerra dispendiosa por lá. Em Angola a situação militar estava sob controle , se era a custosa a manutenção militar e governamental por lá , por favor , o petróleo que começava a ser explorado pagaria isso e sobraria. Faltou sintonia com os EUA , a ditadura portuguesa não soube fazer a transição para uma independência que mantivesse o status quo econômico e social mais próximo do que já existia . Os EUA também erraram ao confiar demais na CIA e na África do Sul e desdenhar o interesse da URSS e a capacidade militar dos soldados cubanos.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 6:32 am
por P44
a ditadura portuguesa não soube fazer a transição para uma independência


bolas, esse é que é o cerne da questão, INDEPENDÊNCIA era uma palavra Tabu para o Regime.

Pelas transcrições que li acima o governo brasileiro já tinha percebido no inicio da Guerra na década de 60 o que a Ditadura Portuguesa se recusou a ver até ao fim (a Descolonização ERA inevitável!)

porque tb vos digo uma coisa: Estou convicto de que se não tivesse sido a Guerra Colonial nunca teria havido revolução.

O português é demasiado calão e submisso para se revoltar contra os poderes instítuidos, talvez tivéssemos uma transição pacífica (?) semelhante a Espanha ...

Iria durar mais tempo, mas penso que a queda do regime, completamente isolado a nivel mundial teria de acontecer mais cedo ou mais tarde... o regime seria obrigado mais cedo ou mais tarde a fazer reformas (partindo do principio que a Espanha evoluía como evoluiu, claor está!)

Enviado: Ter Jun 12, 2007 6:48 am
por pt
Clermont escreveu:
pt escreveu:A esmagadora maioria dos analistas militares é unanime em afirmar que Portugal é o unico país a ter conseguido vencer uma guerra contra movimentos de guerrilha.


Olha, como já digitei antes, eu mal sei história do Brasil que dirá a de Portugal. Mas, olhando uns livrinhos aqui e acolá, encontrei esses trechos:


Clermont->
A análise que você colocou, é uma análise politica, e as análises politicas normalmente eram feitas por pessoas que íam a Lisboa e não saiam da cidade, achando que tinham oscultado Portugal.

Mas uma análise política não é uma análise militar.

A diferênça ente uma análise política e uma análise militar, é que a análise politica diz que Portugal "aguentava-se em Angola"

A análise militar diz: "Portugal destruiu toda a oposição interna e anulou a intervenção dos governos dos países vizinhos ao criar movimentos anti-governamentais de guerrilheiros, que se infiltravam na Zambia e atacavam aquele país sempre que o governo da Zambia permitia ataques a Angola".

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A questão que levantei, é relativa ao periodo entre 1964 e a morte de Salazar.
Portanto, trata-se do governo do presidente Castello Branco e também de Costa e Silva (se não me falha a memória) Depois ainda veio o Medici, e só então o Geisel.

Não acredito que os generais tivessem todos as mesmas opiniões, e duvido que em 1964, 1965, 1966 ou 1967, a visão que Brasilia tinha da situação, fosse a mesma de 1973.

Além disto, não esquecer que, a acreditar nos comentário escritos sobre as intenções brasileiras, o regime português teria necessáriamente recusado as sugestões brasileiras, o que naturalmente levaria a que quem tivesse conhecimento da situação a dizer "Portugal que vá passear..."

É um comentário lógico. Para o general brasileiro:
Depois de terem tentado fazer algujma coisa e depois de Portugal ter recusado liminarmente, é natural mandar o governo português "passear".

MAs é evidentemente uma hipótese rebuscada, não baseada em factos pas sim em sinais.

Eu aceito que não se faz história sem documentos, mas não deixa de ser uma possibilidade.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 8:10 am
por Clermont
pt escreveu:Portanto, trata-se do governo do presidente Castello Branco e também de Costa e Silva (se não me falha a memória) Depois ainda veio o Medici, e só então o Geisel.


Pelo que me consta, até a ascensão de Geisel (aliás, o único depois de Castelo Branco a ter miolos o bastante para pretender elaborar políticas externas sofisiticadas) a posição brasileira era, tão somente, uma:

Prestar todo o apoio às ações de Portugal na África, contra o Comunistmo Internacional. E sem muitas elaborações. Nada de hipóteses sobre tal ou qual futuro, as colônias africanas deveriam ter.

Por isso, quando uma brasileira, mulher de um dissidente político português, foi morta, juntamente com o marido (supostamente, por agentes portugueses), o governo de Castelo Branco não emitiu uma só palavra.

Depois, por uma questão de "realpolitik", o novo governo Geisel resolveu se distanciar daquilo que via como uma "causa perdida". E a história seguiu seu rumo.

E, quanto a distinção entre análises políticas e análises militares, normalmente está em que, essas últimas, costumam ser bem mais míopes do que as primeiras. Quaisquer que tenham sido os sucessos militares portugueses, no campo de luta, o fato é que, politicamente, a sociedade portuguesa e seu próprio exército, entraram em colapso moral, e daí veio o 25 de Abril. Portanto, a governança em Lisboa, bem melhor teria feito se, tivesse avaliado, com profundidade, as implicações políticas para Portugal, de continuar sustentando uma campanha militar no ultra-mar. Ainda que, naquele momento, ela parecesse estar dando certo, pelo menos, no principal teatro de operações.

Deus Me Livre de querer enunciar opiniões determinantes sobre como era a situação de Portugal, em 1974. Mas, pelas poucas coisas que li, mesmo aqui, no fórum DB (nessa contenda entre direita e esquerda lusitanas), a impressão que me vêm á cabeça, é de um país esgotado, moral, física e financeiramente, pela tensão de uma guerra, milhares de quilômetros longe da metrópole.

Não sei se essa é a impressão verdadeira, mas, pelo menos, é essa que a diplomacia brasileira e o próprio presidente do Brasil da época, tinham. Como achava Geisel, melhor se os portugueses tivessem tentado uma solução política para aquele imbróglio, em vez de uma solução militar. E isso, bem antes de 1974. Como disse P44 (que, por um acaso, é lusitano) isso bem poderia ter evitado o 25 de Abril. Independente de como essa data seja contemplada pelos portugueses de hoje em dia.

Como uma tragédia ou como uma glória.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 8:14 am
por P44
Clermont escreveu:(...) a impressão que me vêm á cabeça, é de um país esgotado, moral, física e financeiramente, pela tensão de uma guerra, milhares de quilômetros longe da metrópole.


exactamente Clermont :!:

Enviado: Ter Jun 12, 2007 8:44 am
por pt
Relativamente ao facto de sem guerra não ter havido 25 de Abril, isso é certo.

25 de Abril foi um golpe de estado, destinado exactamente a acabar com a guerra, que virou revolução depois das 12:00 às 14:00 do dia 25 de Abril de 1974.

De qualquer forma, a questão que coloco, não é a da posição oficial do Brasil, mas sim das intenções que poderiam ter existido, e que justificaram as palavras escritas nas memórias do ministro português dos negocios estrangeiros no tempo de Oliveira Salazar.

As posições oficiias, evidentemente nós já as conhecemos e fazem parte da História escrita.
Eu apenas gosto de colocar questões, onde a História não responde a pequenos factos que pura e simplesmente não encaixam.

E esses pequenos factos muitas vezes são interessantes de estudar.

Parecem haver diferenças subtis entre os vários generais brasileiros desde Castello Branco até Figueiredo, o que poderia implicar diferenças de posicionamentos.

De resto, estou de acordo que estamos no campo especulativo, mas creio que existiriam razões para que Angola tivesse sido analisada pelos governantes brasileiros. Afinal, meio mundo estava interessado no país. Portugal já tinha dito aos americanos que não os deixava entrar, e disse o mesmo aos russos à bala.

A questão é:
Terá dito o mesmo aos brasileiros entre 1964 e 1967 ou 1968?

A questão das boas relações com o Brasil sempre foi considerada primordial pelos governos de Lisboa (embora na realidade nenhum dos governos tenha qualquer influência no outro) e por isso se houve algum "mal entendido" ele terá sido "relevado".

Enviado: Ter Jun 12, 2007 10:20 am
por Sintra
Clermont escreveu:
pt escreveu:A esmagadora maioria dos analistas militares é unanime em afirmar que Portugal é o unico país a ter conseguido vencer uma guerra contra movimentos de guerrilha.


Olha, como já digitei antes, eu mal sei história do Brasil que dirá a de Portugal. Mas, olhando uns livrinhos aqui e acolá, encontrei esses trechos:

(...) a impressão que me vêm á cabeça, é de um país esgotado, moral, física e financeiramente, pela tensão de uma guerra, milhares de quilômetros longe da metrópole.


Antes de mais

A "esmagadora maioria dos analistas militares" teriam de ser bastante ignorantes para fazer tal afirmação, o que menos falta na história militar são exemplos de guerras em que os movimento de guerrilha são claramente derrotados. Os Britânicos ao longo do século XIX e XX tornaram-se especialistas em derrotar movimentos de guerrilha, os "Mau Mau" no Quénia dos anos 60, a "Malayan Emergency" que durou de 1948 a 1960, a guerrilha Comunista Grega de 1946 a 1949, os multiplos levantamentos na Peninsula Arábica durante os anos 20, etc, etc, etc... Os Turcos e os Russos ao longo da sua história também se tornaram conhecidos por acabar de forma "terminal" com movimentos de guerrilha, tipicamente da forma mais violenta (não existe nada que um "genocidiozito" não resolva) e se formos por ai fora, podemos ver o mesmissimo molde em Vespasiano e Tito nas três revoltas Judias do primeiro século depois de Cristo, ou até aos escritos Assirios acerca das guerras contra o Reino do "Elam"...

A conclusão do Clermont está correctissima, Portugal, em 1974 estava esgotado...

Enviado: Ter Jun 12, 2007 10:35 am
por Rui Elias Maltez
A esmagadora maioria dos analistas militares é unanime em afirmar que Portugal é o unico país a ter conseguido vencer uma guerra contra movimentos de guerrilha.


:shock:

Por favor, PT não seja panfletário.

Uma guerra ganha-se ou perde-se politicamente antes de o se miliatarmente.

Os EUA perderam o Vietname, porque o perderam politicamente, ou acredita que o perderam só militarmente?

Bastaria mais empenhamento e 2 ou 3 nukes sobre Hanoi e a guerra estava ganha.

O problema era que a URSS não aceitaria essa escalada, e por isso acabaram por retirar de Saigão.

Na "nossa" Guiné, estamos falados, e o que facilitou a vida ao PAIGC não foi o movimento das marés, mas o facto de praticamente não haver colonos lá, mas militares e alguns funcionários públicos em comissão.

Em Angola, quem detinha o poder militar era a FNLA que a partir de um certo periodo foi reforçada com as tropas dissidentes do MPLA lideradas pelo Chipenda, e que abriram uma frente no leste com rectaguarda na Zâmbia.

E a a UNITA (maoista) mas muito útil ao regime e ao português lá, que sob o comando do Costa Gomes conseguiram fazer muito do trabalho que os portugueses deveriam ter feito.

O único partido inter-étnico e urbano era o MPLA, mas tinha um defeito para muitos: era de inspiração marxista. :roll:

Em Moçambique a guerra já estava a perder-se desde 1973, ou esqueceu-se das manifestações de colonos na Beira contra os militares, quando a guerra lhes chegou ao calcanhares?

A guerra ficou perdida dede 1961, quando o regime declarou que nunca negociaria, quando demitiu o Adriano Moreira por este admitir uma solução mais ou menos federalista, quando recusou as teses de Spínola para a Guine, quando enterrou a cabeça na areia e fingiu que o mundo não mudara após a II Grande Guerra.

Você fala muito do anti-colonialismo dos EUA, no tempo do JFK, mas esqueceu que para o fim estávamos a receber armamento do ocidente (Alemanha, França e Espanha, e eram apoiados pela Inglaterra até por via da África do Sul e da Rodésia, e até algum americano, que fingiam não apoiar o que apoiavam de facto, num quadro de guerra-fria?

Ou acha que o milagre da vitória armada sobre os "turras-comunas" se deveu só à arte e engenho dos portugueses?

Enviado: Ter Jun 12, 2007 10:37 am
por Sintra
Dieneces escreveu:Clermont , pelo sucesso e progresso atingido por Angola , desde 1975 , vemos que a dupla Geisel-Golbery , se estava bem informada e tenho minhas dúvidas , parodiou Pilatus...Quanto aos revezes portugueses em África , não procedem , no caso de Guiné Bissau , sim , mas como já disse o PT , era um território de pouco valor estratégico e pobre e não justificava manter um exército e uma guerra dispendiosa por lá. Em Angola a situação militar estava sob controle , se era a custosa a manutenção militar e governamental por lá , por favor , o petróleo que começava a ser explorado pagaria isso e sobraria. Faltou sintonia com os EUA , a ditadura portuguesa não soube fazer a transição para uma independência que mantivesse o status quo econômico e social mais próximo do que já existia . Os EUA também erraram ao confiar demais na CIA e na África do Sul e desdenhar o interesse da URSS e a capacidade militar dos soldados cubanos.


Dieneces

Dizer que o caso da Guiné era uma questão "de um território de pouco valor estratégico e pobre e que não justificava manter um exercito e uma guerra dispendiosa por lá" é incorrecto...
Nós levámos uma "coça à boa e velha maneira" nos pântanos da Guiné. Em Maio de 1973 o exército Português estava em retirada de uma boa parte do território debaixo de ataques constantes. As batalhas de Guidaje, Guileje, Gadamael foram um inferno. Estamos a falar de batalhões cercados, debaixo de fogo de armas de 120 mm, foguetes e com a FAP a perder aviões para misseis SA-7 "Strella" de uma forma continua.
Eu tive a oportunidade de falar com vários elementos, tanto do exército como da FAP (nenhum deles é comunista, antes pelo contrário :twisted: ) que participaram em operações como a "Ametista Real" e eles corroboram o que vem nos livros de história, alguns deles pintam um quadro extremamente negro.

Abraços :wink:

Enviado: Ter Jun 12, 2007 10:57 am
por Rui Elias Maltez
E já agora, no norte e centro de Moçambique a coisa não estava tão fácil como era propagandeado.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 11:09 am
por alcmartin
Dieneces escreveu:Clermont , pelo sucesso e progresso atingido por Angola , desde 1975 , vemos que a dupla Geisel-Golbery , se estava bem informada e tenho minhas dúvidas , parodiou Pilatus...Quanto aos revezes portugueses em África , não procedem , no caso de Guiné Bissau , sim , mas como já disse o PT , era um território de pouco valor estratégico e pobre e não justificava manter um exército e uma guerra dispendiosa por lá. Em Angola a situação militar estava sob controle , se era a custosa a manutenção militar e governamental por lá , por favor , o petróleo que começava a ser explorado pagaria isso e sobraria. Faltou sintonia com os EUA , a ditadura portuguesa não soube fazer a transição para uma independência que mantivesse o status quo econômico e social mais próximo do que já existia . Os EUA também erraram ao confiar demais na CIA e na África do Sul e desdenhar o interesse da URSS e a capacidade militar dos soldados cubanos.


Só um adendo, Diócenes, até um pouco off topic, c/o perdão dos debatedores, mas que gostaria de salientar:

A mesma história: 'É um país comunista, os Estados Unidos estão subsidiando a revolução contra o governo de Angola, e nós somos solidários com os Estados Unidos!' "Respondi: 'Não, nesse ponto eu não sou solidário. Acho que os Estados Unidos não têm o direito de fomentar a revolução em outro país. Não concordo com esse posicionamento.


O texto citado pelo Clermont ilustra bem o pensamento militar brasileiro, que é de cunho nacionalista, naturalmente. Somos aliados dos americanos sim, mas não de forma incondicional (vide Iraque,etc). E é isso que o pessoal as vezes confunde aqui...

Abs!

Enviado: Ter Jun 12, 2007 11:26 am
por pt
Por favor, PT não seja panfletário.

Uma guerra ganha-se ou perde-se politicamente antes de o se miliatarmente.

Os EUA perderam o Vietname, porque o perderam politicamente, ou acredita que o perderam só militarmente?


Rui Elias ->
a guerra está perdida quado o inimigo demonstra que tem mais capacidade e determinação para matar os seus que você tem capacidade e determinação para matar os dele.

= = =

O assunto do tema tem a ver com a posição brasileira nos anos 60, e o apoio ou não apoio do Brasil ao regime português.

Discute-se a possibilidade de ter havido uma sugestão de independência para Angola por parte do Brasil, que levou o antigo embaixador a afirmar que o Brasil tinha ideias "imperialistas".

É isso que se discute e não se a guerra estava perdida, ganha ou assim-assim.

As minhas posições quanto a esse assunto são conhecidas e estão explicitas noutros tópicos de discussão.

Enviado: Ter Jun 12, 2007 11:27 am
por P44
Sintra escreveu:
Dieneces escreveu:Clermont , pelo sucesso e progresso atingido por Angola , desde 1975 , vemos que a dupla Geisel-Golbery , se estava bem informada e tenho minhas dúvidas , parodiou Pilatus...Quanto aos revezes portugueses em África , não procedem , no caso de Guiné Bissau , sim , mas como já disse o PT , era um território de pouco valor estratégico e pobre e não justificava manter um exército e uma guerra dispendiosa por lá. Em Angola a situação militar estava sob controle , se era a custosa a manutenção militar e governamental por lá , por favor , o petróleo que começava a ser explorado pagaria isso e sobraria. Faltou sintonia com os EUA , a ditadura portuguesa não soube fazer a transição para uma independência que mantivesse o status quo econômico e social mais próximo do que já existia . Os EUA também erraram ao confiar demais na CIA e na África do Sul e desdenhar o interesse da URSS e a capacidade militar dos soldados cubanos.


Dieneces

Dizer que o caso da Guiné era uma questão "de um território de pouco valor estratégico e pobre e que não justificava manter um exercito e uma guerra dispendiosa por lá" é incorrecto...
Nós levámos uma "coça à boa e velha maneira" nos pântanos da Guiné. Em Maio de 1973 o exército Português estava em retirada de uma boa parte do território debaixo de ataques constantes. As batalhas de Guidaje, Guileje, Gadamael foram um inferno. Estamos a falar de batalhões cercados, debaixo de fogo de armas de 120 mm, foguetes e com a FAP a perder aviões para misseis SA-7 "Strella" de uma forma continua.
Eu tive a oportunidade de falar com vários elementos, tanto do exército como da FAP (nenhum deles é comunista, antes pelo contrário :twisted: ) que participaram em operações como a "Ametista Real" e eles corroboram o que vem nos livros de história, alguns deles pintam um quadro extremamente negro.

Abraços :wink:



Ainda bem que és TU que o dizes, Sintra, se fosse eu a escrever isto começava já o chorrilho de insultos!!!

[009] Grato (Muito!) pelas tuas intervenções!




(ao Rui não agradeço pois ele está na "lista negra" dos "traidores") :wink: :oops: :roll: