Re: Georgia X Rússia
Enviado: Qui Nov 13, 2008 10:50 am
O fim da mentira sobre a Geórgia*
Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/
Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/
Em agosto reproduzi nesta coluna a advertência indignada de Mikhail Gorbachev contra a versão fantasiosa dos patos mancos Bush e Cheney, em apoio ao títere deles, Mikhail Saakashvili. Segundo declaração de Gorbachev à rede CNN, não tinha havido invasão russa e sim "um assalto bárbaro perpetrado pela Geórgia na Ossétia do Sul". "Quem começou isso foi a Geórgia", enfatizou ele.
Nos EUA, no entanto, nem os críticos do governo pato-manco e nem mesmo o então candidato presidencial democrata Barack Obama deram qualquer atenção a Gorbachev - aquele que, no passado recente, tinha encantado Ronald Reagan ao desmantelar o império soviético, tornando-se herói nos EUA. Agora, no entanto, dois correspondentes do "New York Times" reconheceram que era verdade.
A reportagem saiu quinta-feira passada, dois dias depois da eleição vencida por Obama. Nela os jornalistas C.J. Chivers e Ellen Barry escreveram no "Times" que novos relatos de observadores militares independentes sobre o início da guerra entre a Geórgia e a Rússia questionam a alegação de Saakashvili segundo a qual ele tinha agido "para se defender de agressão russa separatista".
A versão que Bush abraçou
Ao contrário disso, afirmou o jornal, os relatos sugerem que os militares da Geórgia "atacaram a isolada capital separatista de Tskhinvali no dia 7 de agosto com fogo indiscriminado de artilharia e foguetes, ameaçando as vidas de civis, soldados da força russa de manutenção da paz e monitores desarmados". Ficou clara a mentira de que a Geórgia agira contra uma invasão e para restabelecer a ordem.
Os novos relatos independentes, assim, confirmam também o que tinha afirmado o primeiro-ministro russo Vladimir Putin. Ainda que não haja razões especiais para se morrer de amores por tal personagem, a verdade é que nesse episódio ele foi demonizado injustamente pelos EUA - inclusive o conjunto da mídia americana - a partir das palavras enganosas do dirigente georgiano.
Em relação à dupla Bush-Cheney, tal leviandade na política externa não chega a ser novidade. Mas vale a pena lembrar, como fez o jornalista Robert Scheer, que na época o candidato republicano John McCain, que tinha como conselheiros lobistas profissionais remunerados pelo governo da Geórgia, estava especialmente ansioso para botar lenha na fogueira contra os russos.
Verdade ocultada nos EUA
Segundo Scheer, a Casa Branca já sabia então - e escondeu deliberadamente do público - certos fatos sobre a provocação feita pelas forças da Geórgia, treinadas pelos EUA. Elas mataram civis na capital da Ossétia do Sul a pretexto de que estava havendo uma "invasão russa". Só que atacaram muito antes de terem as tropas russas atravessado a fronteira - como tinha afirmado Gorbachev na CNN.
A provocação da Geórgia foi documentada também pela BBC, a rede britânica de televisão, através de uma reportagem de investigação, e ainda por um consenso crescente de fontes consideradas confiáveis. O pior, claro, é toda aquela mentirada ter sido bancada cinicamente pela dupla Bush-Cheney - que continua no poder (será que antes de 20 de janeiro ainda tentará encenar mais espetáculos irresponsáveis?).
Como qualquer pessoa minimamente sensata, Robert Scheer manifesta sua preocupação com a facção nos EUA dos nostálgicos da guerra fria - já que são muitos os que sonham com uma volta breve àquele tempo do confronto com os russos, donos de mais da metade das armas nucleares existentes fora dos EUA. O senador Obama podia ter sido mais cauteloso antes de alinhar sua posição à do governo Bush. Agora seria saúdavel ao menos uma reavaliação.
O que fazer com a Colômbia?
Está bem claro que não houve a tal agressão russa - a Rússia não atacou sem ter havido provocação antes. A equipe do presidente eleito dos EUA está bem consciente de que a postura belicista unilateral do governo Bush-Cheney não é menos ofensiva do que se pensava - é pior. E o mundo inteiro, que contava com a mudança em Washington, acredita que o escorregão não prevalecerá na futura política externa.
Nesse quadro de final de governo, ainda há riscos. A mídia sugeriu que, na visita a Bush, Obama defendeu nova ajuda à indústria automobilística, que já obteve algumas dezenas de bilhões. E que Bush teria condicionado sua iniciativa ao apoio dos democratas no Congresso ao acordo de livre comércio com a Colômbia. Desmentiu-se apenas o qüiproquó, não que se tenha falado das duas questões.
A América Latina precisa saber mais sobre o acordo comercial, parte do sonho uribista de virar Israel no continente. Os EUA continuarão a sustentar a aventura de Alvaro Uribe na Colômbia, a um custo superior a US$ 1 bi por ano, de olho no petróleo da Venezuela e com provocações à Bolívia, Equador e outros vizinhos? Interessa também ao Brasil saber mais, já que Uribe tem contado com o apoio de Bush para seu terceiro mandato.
*Argemiro Ferreira