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Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Seg Fev 15, 2010 1:43 pm
por kurgan
15/02/2010 - 13h21
Irã desafia críticas do Ocidente sobre direitos humanos

Por Robert Evans

GENEBRA (Reuters) - O Irã disse a um organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira que respeita plenamente os direitos humanos, tachando as preocupações nesse sentido expressas pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França de gestos políticos em meio a um impasse nuclear mais amplo.

Em sua primeira revisão pelo Conselho de Direitos Humanos, que analisa o histórico de todos os países membros da ONU, um a um, o enviado de Teerã, Mohammad Javad Larijani, disse que o Irã "cumpre plenamente todos os compromissos internacionais relevantes que assumiu na abordagem genuína e de longo prazo de proteção dos direitos humanos."

Secretário-geral do Alto Conselho de Direitos Humanos do Irã, Larijani sugeriu que as críticas feitas ao Irã representam tentativas de colocar pressão adicional sobre o Estado islâmico, que os EUA e outros países temem que esteja avançando no sentido de se dotar de armas nucleares. Teerã afirma que seu programa nuclear tem finalidades civis.

Larijani disse à sessão do Conselho que os países ocidentais têm constantemente utilizado a questão dos direitos humanos "como instrumento político para aplicar pressão sobre nós e promover certas motivações políticas ulteriores."

As declarações foram feitas um dia depois de a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ter afirmado que os EUA veem poucas alternativas à aplicação de mais sanções contra o Irã. "O Irã está deixando à comunidade internacional pouca escolha senão lhe impor custos mais altos por suas medidas provocadoras", disse Clinton em conferência no Catar.

Na semana passada, a Prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi pediu sanções políticas em resposta à repressão violenta movida pelo Irã contra protestos pacíficos, mas avisou que sanções econômicas adicionais apenas prejudicarão a população iraniana.

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse na semana passada que o Irã já possui capacidade de enriquecer urânio em mais de 80 por cento de pureza, perto do grau que, segundo especialistas, seria necessário para a produção de uma bomba nuclear. Mas ele negou que o Irã tenha qualquer intenção de fabricar uma bomba.

Falando ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, que tem 47 membros, Michael Posner, o mais alto representante do Departamento de Estado norte-americano para a democracia e os direitos humanos, disse que desde a eleição de junho passado o governo iraniano reprimiu protestos envolvendo milhões de pessoas.

Posner condenou "as restrições crescentes à liberdade de expressão e à liberdade religiosa" no Irã e pediu que o país "tome medidas imediatas para acabar com a prática da tortura em suas prisões."

(Reportagem adicional de Stephanie Nebehay)

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noti ... manos.jhtm

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Seg Fev 15, 2010 1:48 pm
por Rock n Roll
Parece não haver mais diferenças entre o regime do Xá e o dos Aitolás. A Sawak eliminava os opositores em nome do Xá. Os aitolás o fazem nome de Allah... [004]

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Seg Fev 15, 2010 1:55 pm
por Bourne
Loki escreveu:O nosso maior cliente e parceiro comercial hoje é a China!
Seguido de perto pelos EUA. :mrgreen:

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Seg Fev 15, 2010 3:53 pm
por 1maluquinho
Oh magnifica e explendorosa nação que tudo que aqui se planta se da,mas creio que Deus em sua obra quisera fugir a perfeição e nela deixou habitar um povinho que mais merece é ser nomade no Saara Ocidental...Essas atuais posições Brasilienses revelam que a ideologia esta para eles acima do bem estar...Compreensivel a um povo que é sub-cultura...Mas o que vira depois disso???Sera o NG Politico??? FHC NEW GENERATION??? Buscar uma neutralidade aliando-se a França para fugir da orbita Yankee e Russa é aceitavel mas compactuar com radicais (Chavez e Ahmadinejad) é inadimicivel pra uma nação que se diz neutra a conflitos,que ama a liberdade e a paz...Moedas estao em evidencia e papeis tambem mas são perenes!!!Preparem-se para o gigante amarelo que ja domina o comercio,cresce desvairadamente e vai devorar o que estiver pela frante...Quem é o verdadeiro anti-cristo???O Arabe que cre em um unico Deus ou o Budismo Chines que não cre em Deus,nem no espirito??? :mrgreen: :D

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 1:39 pm
por Francoorp
marcelo l. escreveu:Só lembrando quando o Dório Ferman trouxe o DD para o Opportunity era para cuidar das contas de judeus ligadas ao mesmo, depois o operador DD ficou famoso por outras cosas :twisted: , hoje ele é dono da Isto É...estranho que fala-se mais que o Brasil poderá ter problemas sérios pela falta (frouxa) legislação contra lavagem de dinheiro dos bancos de investimentos...a Isto É não citou isso, por quê 8-] ?

Porque todas estas "noticias de analise" do "caso Iran" feitas pela revista sao parciais e pouco patrioticas, pois todos sabem que sem a bomba H nao tem salvaçao, seremos sempre servos do mais potente!!!!

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 1:41 pm
por Francoorp
1maluquinho escreveu:Oh magnifica e explendorosa nação que tudo que aqui se planta se da,mas creio que Deus em sua obra quisera fugir a perfeição e nela deixou habitar um povinho que mais mereci é ser nomade no Saara Ocidental...Essas atuais posições Brasilienses revelam que a ideologia esta para eles acima do bem estar...Compreensivel a um povo que é sub-cultura...Mas o que vira depois disso???Sera o NG Politico??? FHC NEW GENERATION??? Busca uma neutralidade aliando-se a França para fugir da orbita Yankee e Russa é aceitavel mas compactuar com radicais (Chavez e Ahmadinejad) é inadimicivel pra uma nação que se diz neutra a conflitos,que ama a liberdade e a paz...Moedas estao em evidencia e papeis tambem mas são perenes!!!Preparem-se para o gigante amarelo que ja domina o comercio,cresce desvairadamente e vai devorar o que estiver pela frante...Quem é o verdadeiro anti-cristo???O Arabe que cre em um unico Deus ou o Budismo Chines que não cre em Deus,nem no espirito??? :mrgreen: :D

Gosto muito de salada mista tambem 1maluquinho!! :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 1:51 pm
por FOXTROT
1maluquinho escreveu:Oh magnifica e explendorosa nação que tudo que aqui se planta se da,mas creio que Deus em sua obra quisera fugir a perfeição e nela deixou habitar um povinho que mais mereci é ser nomade no Saara Ocidental...Essas atuais posições Brasilienses revelam que a ideologia esta para eles acima do bem estar...Compreensivel a um povo que é sub-cultura...Mas o que vira depois disso???Sera o NG Politico??? FHC NEW GENERATION??? Busca uma neutralidade aliando-se a França para fugir da orbita Yankee e Russa é aceitavel mas compactuar com radicais (Chavez e Ahmadinejad) é inadimicivel pra uma nação que se diz neutra a conflitos,que ama a liberdade e a paz...Moedas estao em evidencia e papeis tambem mas são perenes!!!Preparem-se para o gigante amarelo que ja domina o comercio,cresce desvairadamente e vai devorar o que estiver pela frante...Quem é o verdadeiro anti-cristo???O Arabe que cre em um unico Deus ou o Budismo Chines que não cre em Deus,nem no espirito??? :mrgreen: :D

O Irã até agora não fez ataque algum a seus vizinhos, apesar de sua retórica de economia interna, já outras nações não tão radicais e belos exemplos de democracia (ou seria demagogia :mrgreen: ) ano sim e no outro também, estão a invadir países com o único intuito de usurpar a riqueza alheia.

Deixe o Brasil tomar sua posição, alguém vai ter que comercializar com o Irã, então que sejamos nós, não é isso que prega o capitalismo?

Saudações

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 1:53 pm
por Francoorp
não é isso que prega o capitalismo?


Exato FOXTROT!!!Livre comercio!!!

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 9:43 pm
por Viktor Reznov
kurgan escreveu:15/02/2010 - 13h21
Irã desafia críticas do Ocidente sobre direitos humanos

Por Robert Evans

GENEBRA (Reuters) - O Irã disse a um organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira que respeita plenamente os direitos humanos, tachando as preocupações nesse sentido expressas pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França de gestos políticos em meio a um impasse nuclear mais amplo.

Em sua primeira revisão pelo Conselho de Direitos Humanos, que analisa o histórico de todos os países membros da ONU, um a um, o enviado de Teerã, Mohammad Javad Larijani, disse que o Irã "cumpre plenamente todos os compromissos internacionais relevantes que assumiu na abordagem genuína e de longo prazo de proteção dos direitos humanos."
Mas é muita falta de veronha na cara mesmo. E o pior disso é ver certos esquerdistas aqui no fórum criticando Israel ardorosamente mas ficando completamente silenciosos antes às violações de direitos humanos em países como Irã e Cuba. E muita falta de veronha na cara mesmo.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Fev 16, 2010 9:58 pm
por FOXTROT
Os EUA só criticam o Irã porque esse país não é um de seus vassalos no Oriente Médio, visto que nada vejo sobre a grande democracia chamada Arábia Saudita ou o Egito.

A ONU não tem moral para criticar ninguém, perdeu quando nada fez para impedir a invasão do Iraque, nada faz quando Israel massacra os Palestinos com armas proibidas...

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Fev 17, 2010 8:38 am
por Penguin
FSP, São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


Rússia adere a cerco do Ocidente ao Irã
Em carta do dia 12 à AIEA, assinada ainda por EUA e França, país condena a "escalada" nuclear recente do aliado persa

Moscou afirma também não descartar novas sanções no Conselho de Segurança da ONU, onde a China ainda resiste em aprovar punições

Raheb Homavandi/Reuters

DA REDAÇÃO

Em carta enviada à AIEA (agência nuclear ligada à ONU) no último dia 12, mas só revelada ontem, a Rússia oficializou enfim a adesão ao Ocidente na condenação à suposta "escalada" nuclear do Irã, reforçando o cerco diplomático ao país pela aplicação de novas sanções no Conselho de Segurança (CS).
No texto de uma página assinado ainda por EUA e França, as potências qualificam de "totalmente injustificado" o anúncio de Teerã, no último dia 7, de passar a enriquecer urânio em suas instalações a 20% -grau apropriado para fim medicinal.
"Se o Irã continuar com essa escalada, provocará ainda mais preocupação quanto às suas intenções", afirmam. "[A decisão] contraria resoluções do CS e representa novo passo na direção da capacidade de produzir urânio altamente enriquecido."
Atualmente, o Irã enriquece urânio a apenas 3,5% -baixo grau, apropriado para a produção de energia-, e um avanço até 20% seria, segundo especialistas, passo fundamental para a capacidade de produção de urânio altamente enriquecido.
O aumento a esse nível é permitido pelo TNP (o Tratado de Não Proliferação), do qual Teerã é signatário, mas as potências ocidentais temem que a decisão sirva para a posterior produção do material ao grau próprio para ser utilizado em bombas atômicas -de mais de 90%.
O Irã nega ter essa intenção, alegando que seu programa nuclear possui fim exclusivamente pacífico. No último dia 11, no entanto, véspera do envio da carta das potências à AIEA, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, declarou o país "Estado nuclear" e disse que o Irã seria capaz, caso quisesse, de produzir urânio enriquecido a 80% -o que violaria o TNP.
A decisão da Rússia confirma indícios, que se acumulavam nos últimos dias, de que Moscou apoia a movimentação das potências ocidentais para endurecer o tratamento dispensado ao país persa em virtude do esgotamento da diplomacia.
Segundo a agência russa RIA Novosti, o presidente Dmitri Medvedev garantiu ao premiê israelense, Binyamin Netanyahu, em reunião anteontem, que Moscou apoiaria novas sanções na ONU -o que foi reiterado ontem pela porta-voz do russo.
Com a adesão russa à posição defendida pelos membros ocidentais do CS com poder de veto -EUA, França e Reino Unido-, falta apenas convencer a China, que mantém fortes laços econômicos com Teerã, a aplicar as punições contra o aliado.

EUA
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu ontem na Arábia Saudita a aplicação de sanções ao Irã, alegando não haver provas de que o país não busca a bomba atômica e que essa possibilidade pode desatar uma corrida armamentista no Oriente Médio. Hillary realiza um giro pela região para buscar apoio à medida no CS.
Segundo pesquisa do instituto Gallup, 61% dos americanos veem o aumento de poder militar iraniano como uma ameaça grave à segurança dos EUA.

Com agências internacionais

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Fev 17, 2010 9:49 am
por Emilio Carlos
Aé hoje nenhum país que desenvolveu a bomba A, H ou de Neutrons, jamais teve coragem de usar, simplesmente porque o troco nuclear do inimigo invalida os ganhos do ataque. A única vantagem de ter as bombas é que os inimigos ficam imobilizados, sem poder atacar o país que tem a bomba, por medo de ter um troco devastador. Ou seja a bomba cria um impasse que mantém o "status quo".
O medo do Irã ter suas bombas é que ele deixa de ser vulnerável a chantagens militares e pode ocorrer desvio em materiais contaminados que podem ser usados para fazer bombas sujas e usa-las em atos terroristas. Já pensou se um homem bomba sobe até uma torre como a Eiffel e se detona lá em cima espalhando 1 kg de cinzas radioativas originadas em um reator?
O risco da manipulação descuidada gerar acidentes em seu próprio território é que impede certos paises de colaborar com malucos que querem criar esse tipo de bombas, e é claro o descontrole total, porque depois que material "sujo" cair nas mãos de malucos, ninguém sabe o que são capazes de fazer. Os idiotas podem ter uma idéia genial de envenenar a água de Israel e contaminar todo o lençol freático da Palestina, criando sem querer uma solução Salomônica para o problema, ou seja, ninguém, nem judeus e nem árabes poderão viver lá... Portanto, o risco do descontrole por fanáticos é muito grande.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Fev 17, 2010 10:03 am
por FOXTROT
terra.com.br

Ahmadinejad diz que Irã e Turquia podem favorecer paz regional
17 de fevereiro de 2010

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou hoje que as boas relações bilaterais podem fazer com que seu país e a Turquia dêem grandes passos em prol da paz e da segurança na região.
"O fortalecimento das relações de irmandade entre Irã e Turquia pode se transformar em um importante fator em favor da paz e da segurança na região", disse o presidente depois de se reunir com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, em Teerã.

Segundo Ahmadinejad, citado pela agência oficial de notícias local "Irna", o Irã observa com bons olhos o aumento progressivo das relações entre os dois países.

Já o chefe da diplomacia turca assegurou que o Irã tem um papel de destaque e determinante na região e exigiu que seja acelerado o início de projetos e acordos bilaterais.

"A Turquia dá especial importância ao crescimento e ao fortalecimento de suas relações com o Irã e deseja aumentar suas relações em todos os âmbitos", acrescentou.

A Turquia tenta há meses desempenhar um papel de mediadora no conflito que o Irã mantém com a comunidade internacional dentro da polêmica nuclear.
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Esse Ahmadinejad antes de qualquer coisa, é um grande jogador, aproveita cada oportunidade que surge em prol da sua causa, evidente que a Turquia tem se afastado de Israel e EUA, automaticamente Ahmadinejad á atrai para sua esfera de influência.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Fev 17, 2010 11:38 am
por Marino
O Brasil e a globalização no pós-crise

Pedro da Motta Veiga



O Brasil acelerava sua trajetória de crescimento quando a crise internacional irrompeu, no último trimestre de 2008, interrompendo um círculo virtuoso de crescimento do produto, do investimento e do emprego, reduzindo os fluxos de comércio exterior e de investimentos externos de e para o País.

Pouco mais de um ano após a eclosão da crise, a importância global do Brasil parece ter aumentado. Isso se deve certamente ao fato de que, contraposto ao abalo monumental sofrido pelas economias desenvolvidas e por algumas das grandes economias emergentes (Rússia e México), o desempenho brasileiro em 2009 gera a percepção de um upgrading da posição brasileira no cenário internacional. Mas também contribuem para essa percepção de importância aumentada do País no mundo as perspectivas positivas da economia brasileira no pós-crise e alguns movimentos importantes feitos pelo Brasil em diferentes arenas de negociação econômica.

Especificamente ao longo de 2009, três evoluções nas posições negociadoras do Brasil merecem destaque:o compromisso com uma meta voluntária, mas quantificada e monitorável, de redução de emissões de gases de efeito estufa nas negociações de mudança climática;o deslocamento da prioridade brasileira, no G-20, de temas relacionados ao comércio internacional (crédito para as exportações e protecionismo) para questões relacionadas aos desequilíbrios macroeconômicos internacionais, a partir da Cúpula de Pittsburgh, em setembro;e a decisão de fornecer crédito ao Fundo Monetário Internacional (FMI), por meio da compra de US$ 10 bilhões em títulos emitidos pelo fundo.

Esses três movimentos do Brasil nas arenas de negociação econômica global chamam a atenção, em primeiro lugar, por serem tipicamente "individuais". Ou seja, traduzem iniciativas do Brasil como ator individual e autônomo na cena internacional, distanciando-se de movimentos feitos em conjunto com outros países, como os Brics ou os "países em desenvolvimento". A posição brasileira de apoio ao "pacote Lamy" na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), em julho de 2008, já apresentara essa característica: ao assumir explicitamente sua posição, o Brasil se distanciou de posturas de coalizão e de fidelidade retórica a blocos, sejam eles os "países em desenvolvimento" ou o Mercosul.

Os dois primeiros movimentos distanciaram o Brasil da posição negociadora chinesa em duas áreas-chave da agenda internacional. No caso da mudança climática, o presidente Lula criticou explicitamente a hipótese de um entendimento bilateral entre China e EUA às vésperas de Copenhague. No caso da agenda do G-20, a China tentou minimizar a importância das questões relacionadas aos desequilíbrios macroeconômicos internacionais e evitar que o tema da avaliação pelo FMI das políticas nacionais de saída de crise ganhasse prioridade, enquanto o Brasil pôs crescente ênfase nessa questão.

Em segundo lugar, esses movimentos apontam para um maior envolvimento do Brasil com temas de governança global. Historicamente, na matriz brasileira de formulação de políticas e posições negociadoras, não há tradicionalmente espaço para agendas de governança global. A concessão de crédito ao FMI e a evolução da postura brasileira diante da negociação da mudança climática indicam que há algo de novo aí.

Essas considerações nos levam à seguinte questão: as evoluções ocorridas em 2009 prenunciam mudança mais ampla em benefício dos interesses domésticos ofensivos nas negociações internacionais e na direção da integração de objetivos sistêmicos (relacionados à governança global) à agenda brasileira?

No cenário pós-crise vigente no Brasil, esse tipo de evolução tende a ganhar novo impulso. Isso não significa que as posições brasileiras nas arenas de negociação econômica global seguirão trajetória linear e definível ex ante. Sua evolução dependerá principalmente das percepções domésticas dos impactos e implicações da "globalização", bem como do ambiente político internacional no pós-crise.

Do lado doméstico, há fatores que fortalecem percepções otimistas em relação às oportunidades que se abrem para o Brasil no cenário global. Entre esses fatores se destacam o bom posicionamento brasileiro nos ciclos de investimentos internacionais pós-crise, em que a atratividade da economia brasileira cresce. Além disso, a posição do Brasil como supridor mundial de alimentos e matérias-primas deve se fortalecer e, passados os efeitos da crise, os investimentos externos das empresas brasileiras voltam a crescer.

Por outro lado, porém, a competição chinesa afeta a produção de um número crescente de setores industriais no Brasil. Preocupações com a globalização tendem a se concentrar no efeito China e esse efeito deixa de ser um problema de poucos setores industriais para preocupar um grande número de interesses solidamente estabelecidos no Brasil. Portanto, a percepção dos riscos associados à globalização e à interdependência também tende a se intensificar, mas não a ponto de comprometer uma "aposta" brasileira nas oportunidades da crescente integração ao mundo.

No que diz respeito ao cenário externo, a viabilidade de evolução da posição brasileira ao longo de trajetória ofensiva e de assunção de responsabilidades globais estará condicionada pela continuidade dos esforços internacionais de cooperação e negociação nas diferentes agendas globais. Na falta desse estímulo e em cenário internacional marcado pela fragmentação e por conflitos econômicos e políticos, é difícil imaginar que as percepções brasileiras da globalização não venham a ser negativamente afetadas.

Moral da história: um retrocesso (ou mesmo uma interrupção) no movimento de integração crescente da economia brasileira ao mundo nos próximos anos somente parece plausível se - como ocorreu nos anos 30 do século 20 - o ambiente político em que se dão as relações e negociações econômicas internacionais se deteriorar sob o impacto conjugado das muitas variantes de nacionalismos em circulação hoje no mundo.

Pedro da Motta Veiga é diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes)

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Fev 17, 2010 12:00 pm
por rogertfs
Guerra da Geórgia, implosão do Líbano e derrota de Israel
Leia o artigo de Ramez Philippe Maalouf, que discute o conflito que envolveu a Geórgia e a Rússia e as consequencias desse conflito.
16/12/08

Por Ramez Philippe Maalouf*

Tal como as grandes invasões israelenses do Líbano (1982 e 2006) e de Gaza (2006), ocorridas durante as disputas de Copas do Mundo da Espanha e da Alemanha, a Geórgia (aliado de Israel) também aproveitou os holofotes da mídia apontados para a abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing (Pequim) para invadir a Ossétia do Sul e a Abkházia, exterminando mais de duas mil pessoas, para impor seu poder. Desde o início da década de 1990, com a implosão da URSS, quando a Geórgia proclamou sua independência, as duas províncias de maioria russa também proclamaram independência e a união com a Rússia, o que não foi aceito pelo governo de Tbilisi (capital georgiana) e nem reconhecido pelas potências ocidentais. Em face disto, as forças georgianas atacaram as províncias “rebeldes” e provocaram um genocídio. Mais de 100 mil ossétios buscaram refúgio na Federação Russa. Para pôr um fim ao conflito, em julho de 1992, um acordo foi firmado estabelecendo a criação de uma força de paz, da qual o exército russo faria parte.

Em 2004, Mikheil Saakashvili, de extrema-direita, pró-ocidental, foi eleito presidente da Geórgia e procurou recuperar o domínio sobre a Ossétia do Sul e da Abkházia, contando com o apoio tácito dos EUA, de Israel e da Inglaterra. A situação das duas províncias se degradou nos dois últimos anos com o acirramento do conflito, onde as forças georgianas mantiveram a ofensiva, massacrando inúmeros civis. Os constantes ataques do governo de Tbilisi não encontraram nenhuma oposição efetiva do Ocidente, o que pode ter sido entendido por Saakashvili como um sinal verde para a grande ofensiva no início de agosto de 2008, para resolver seus problemas territoriais, obtendo, assim, os pré-requisitos necessários para o ingresso na OTAN. Por outro lado, o presidente georgiano enfrentava, contudo, uma impopularidade crescente devido à crise econômica, o autoritarismo e a corrupção generalizada, com isto, a invasão da Ossétia do Sul e a limpeza étnica de sua população russa devem ter-lhe parecido a melhor saída para a permanência no poder. Suas tropas, treinadas por Israel e EUA, assassinaram mais de 2 mil ossétios, em poucas horas do dia 8 de agosto de 2008, e puseram em fuga outros 35 mil para a Rússia.

A resposta russa à ofensiva georgiana foi imediata e dura. Ainda no estádio olímpico, acenando ao público em Pequim, o todo-poderoso primeiro-ministro russo Vladimir Putin declarou “a guerra começou”. Milhares de tanques e caças de guerra e mais de 100 mil soldados se juntaram às tropas russas já estacionadas na Geórgia como força de paz desde 1992, em nome do “restabelecimento da ordem”, o mesmo pretexto usado para a destruição da Iugoslávia, em 1999, pelos EUA e OTAN.

O contra-ataque de Moscou demonstra uma clara mensagem ao cerco que os EUA promovem à Rússia nestes últimos anos de governo W. Bush. Em 2004, no mesmo ano da eleição de Saakashvili, a Ucrânia elegeu um presidente pró-ocidental em meio a manifestações populares (a Revolução Laranja, a semelhança do que ocorreria em 2005, no Líbano, a Revolução dos Cedros), além disto, as três ex-repúblicas soviéticas bálticas, Letônia, Estônia e Lituânia, assediadas pelos EUA, ingressaram no sistema atlantista (OTAN e CEE), ao mesmo tempo em que os americanos prevêem a instalação de um escudo antimísseis nos demais países fronteiriços com a Federação Russa, dando prosseguimento à estratégia americana de dominar a Eurásia. Esta estratégia foi o real motivo do ataque e invasão do Afeganistão (país sem capacidade de se defender), em 2001. Àquela altura, russos, então sob a presidência de Putin, e chineses não censuraram o extermínio de milhares de afegãos (sunitas e xiitas, mas sempre muçulmanos) pelos americanos, tendo em vista o inimigo em comum, o “terror islâmico” liderado por Bin Laden e sua Al-Qaeda. Putin chegou a receber a visita de W. Bush com tapete vermelho, quando o líder americano retesava a musculatura militar na Ásia. Moscou calculou que a “Guerra ao Terror” proclamada por Washington após o 11 de Setembro era a mesma que se desdobrava na Chechênia (majoritariamente muçulmana sunita), onde as tropas russas foram derrotadas na guerra separatista de 1994, sob o governo de Boris Yeltsin. Ao assumir a presidência no Kremlin, em 1999, o ex-agente da KGB, Vladimir Putin, ordenou uma nova ofensiva contra os separatistas chechenos, exterminando 50 mil pessoas. Contudo, a invasão e destruição do Iraque pelos EUA, em 2003, contrariaram os interesses russos e chineses e distanciaram a política de Washington de Moscou e Pequim.

É possível afirmar que a atual ofensiva georgiana é o mais claro sinal emitido por Washington de que a Guerra Fria não acabou, como era de se esperar com a queda dos regimes “comunistas”. O objetivo principal de Moscou na guerra no Cáucaso não trata apenas de impedir o ingresso da Geórgia na OTAN, mas, sim, também quebrar o arco pró-ocidental (Azerbaijão, Geórgia e Turquia) no Cáucaso, que já estava desestabilizando a Armênia (aliado da Rússia), em crise política desde o início de 2008, dividida entre pró-ocidentais e pró-Moscou, assim como enfraquecer o Ocidente, através do controle do oleoduto BTC (Baku, capital azeri – Tbilisi – Ceyhan, porto turco).

Geórgia foi uma das ex-repúblicas emancipadas com a queda da URSS, com uma população majoritariamente cristã ortodoxa e expressivas minorias judias e muçulmanas. Sua importância estratégica, entre os Mares Cáucaso e Negro, não foi desconsiderada pelos ocidentais, que não sonegaram apoio aos massacres perpetrados pelo governo de Tbilisi contra a autodeterminação da Ossétia do Sul e da Abkházia. Abria-se, com isto, uma dupla oportunidade ao poder americano: primeiro, a formação de uma coalizão pró-ocidental no Cáucaso, nas fronteiras russa e iraniana; e segundo, a possibilidade de construção de um oleoduto transportando petróleo de produtores confiáveis (do vizinho, Azerbaijão, também pró-ocidental).

Em 1999, iniciou-se a construção do oleoduto BTC, com capitais ingleses, americanos e israelenses, a ser conectado, através de oleodutos submarinos, com Israel, com quem formaria um novo eixo energético, BTC-Ashklelon-Eilat. O patrocinador do oleoduto é ninguém menos que Zbigniew Brzezisnki, ex-assessor americano de Segurança Nacional do governo Carter (1977-81), discípulo de Henry Kissinger. Foi Brzezisnki responsável pela retomada da corrida armamentista em fins da década de 1970, dando início da chamada Segunda Guerra Fria (1977-89). Ele também defendeu, na política externa americana, as teses de Nicholas Spykman, que apregoava a necessidade de manutenção da hegemonia americana sobre as Américas e o domínio das “franjas” eurasiáticas, cercando o Heartland (leia-se Rússia), para o controle do poder mundial. Entretanto, o ex-assessor americano tem sido um duro opositor a um ataque ao Irã, afirmando que seria uma ameaça à seguridade energética dos EUA. Todavia, para os EUA e Israel, o novo oleoduto representa a consolidação de uma aliança (Azerbaijão, Geórgia, Turquia e Israel) para minar, cercar e enfraquecer o eixo Moscou-Teerã-Pequim no mercado de energia inter-asiatico. Os investimentos israelenses neste empreendimento visam também levar água, gás natural e eletricidade, através de dutos submarinos, para Israel. O oleoduto foi inaugurado dia 13 de julho de 2006, um dia após o início da segunda grande invasão israelense ao Líbano.

A coincidência das datas não é mero acaso. A operacionalidade do oleoduto implica na militarização linha costeira do Mediterrâneo Oriental. Neste sentido, a invasão do Líbano em 2006 para anexação do sul do Líbano e a imposição de um governo pró-sionista em Beirute atende às geoestratégias israelenses. Assim, como a necessidade de mudança de regime na Síria. Desde a primeira metade de 2008, Turquia (um dos beneficiados pelo BTC) tem mediado um acordo de paz entre Síria e Israel. Os turcos mantêm tropas no Líbano (como “força de paz”) e no Iraque, onde combatem os curdos, porém, visando controlar o Mossul, norte do Iraque, região rica em petróleo, sob controle curdo. As conversações, segundo a imprensa, nos levam a acreditar na devolução das colinas do Golã por Israel à Síria, em favor da paz. Entretanto, o prosseguimento da guerra civil em pequena escala no Líbano, iniciada em maio de 2008, cuja principal zona de enfrentamentos, que ganham contornos de guerra sectária (sunitas vs. alauítas), é a cidade de Trípoli, onde se encontra um oleoduto proveniente do Iraque, nos indicam a possibilidade de restabelecimento dos acordos das Linhas Vermelhas entre Síria e Israel para uma nova divisão do País dos Cedros, tal como ocorrera a partir de 1976, durante a Guerra Civil Libanesa (1975-90), quando as tropas sírias invadiram o território libanês para impedir a derrota da extrema-direita libanesa. Segundo estes acordos, o sul do Líbano ficaria sob controle de Israel, enquanto o Norte (Akkar) e o Leste (Vale do Bekaa), sob o domínio sírio. A invasão israelense do Líbano em 1982 visava romper com estas Linhas, expulsando os sírios do território libanês. Damasco respondeu liberando a ação do Hizbollah no Bekaa e no sul do Líbano, com os resultados mais que conhecidos. O ataque israelense ao Líbano, em 2006, a guerra civil dele decorrente, a ocupação do sul do país pelas tropas da OTAN sob a capa de "forças de paz", os recentes assassinatos (entre fevereiro e julho de 2008) de agentes do Hizbollah na Síria, a guerra dos campos em 2007, assim como as conversações diretas entre Jerusalém e Damasco, em Ancara, nos revelam as intenções de divisão do País dos Cedros entre os dois inimigos e eventuais aliados. Por outro lado, Israel continua isolando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia do resto do mundo, exterminando a população palestina, com a cumplicidade da Jordânia e do Egito. Os constantes bombardeios à Faixa de Gaza também visam neutralizar a resistência palestina, cujos contra-ataques dos mísseis qassams têm capacidade de atingirem Ashkelon, porto que deve ser ligado por via submarina ao BTC.

Assegurando a paz com a Síria, com a implosão do Líbano e o isolamento dos Territórios Ocupados palestinos, Israel já vislumbrava um bombardeio às instalações que supostamente fabricam armas nucleares no Irã. Ressalta-se que 1/4 da população iraniana é de origem azeri, cujo país natal, o Azerbaijão, é um novo aliado de Jerusalém. Por outro lado, o governo de Teerã programa desde o início de 2008 um ambicioso plano de privatizações (sem privilegiar os capitais americanos e israelenses), o que certamente aprofundará a crise social, abrindo a possibilidade de conflitos étnicos, onde a presença azeri pode significar um novo elemento desestabilizador no país persa, a ser capitalizado em favor das estratégias americanas e israelenses, para uma futura implosão do Irã. Entretanto, a intervenção russa na Geórgia e o virtual controle sobre o BTC põem em xeque a estratégia de Israel para a região e pode fortalecer a Síria numa negociação com Jerusalém e Ancara (que ocupa o distrito sírio, de maioria árabe, de Alexandreta, região onde o cristianismo emergiu como religião, rico em água). Os laços entre Síria e Rússia se estreitaram desde a segunda invasão do Iraque (2003) pelos EUA.

Ainda como estratégia ofensiva ao eixo Moscou-Teerã-Pequim, a deflagração de uma onda separatista na China – no Tibet e na província muçulmana de etnia uigar, Xinjiang, rica em petróleo – nos oferecem a perspectiva balcanizadora da Ásia Central. Por outro lado, o acordo nuclear entre EUA e Índia, as guerras civis no Sudão, no Zimbábue e na Somália, a ocupação do Timor Leste (rico em petróleo) pela Austrália, que atua como "força de paz", a balcanização da Bolívia e o golpe militar na Mauritânia (agosto de 2008) são os sinais da nova Guerra Fria que emerge em escala mundial. O revide russo freou (momentaneamente?) tais intentos ocidentais.

O ataque georgiano à Ossétia do Sul e à Abkházia, considerado como irresponsável e suicida pelos seus aliados ocidentais, os mesmos que incentivaram as atrocidades perpetradas pelo governo de Tbilisi nas duas regiões litigiosas nas últimas décadas, coincide também com a publicação no New York Times do artigo do historiador revisionista israelense Benny Morris – que ao contrário de seus colegas profissionais da mesma vertente historiográfica, sempre apoiou o extermínio e a expulsão dos palestinos de Israel – no qual defende o ataque (de Israel) convencional ao Irã, com conseqüências imprevisíveis, no que até analistas israelenses denominam, segundo Noam Chomsky, de “complexo de Sansão”, ou seja, uma ofensiva militar ao Irã de envergadura liderada por Israel livraria os americanos das possíveis retaliações, mas não os israelenses, desta forma, tanto judeus quanto iranianos poderiam ser aniquilados, tal como Sansão ao demolir o templo sobre si e os seus inimigos, os filisteus. De fato, os EUA incentivaram os ataques da Geórgia, mas nada fizeram para conter a (esperada) retaliação russa. Tal como em dezembro de 2007, Washington enviara sua aliada Benazir Bhutto para a morte certa no Paquistão, apostando na política do "quanto pior, melhor".

Geórgia e Israel sabiam e sabem as conseqüências de um ataque a uma grande potência terrestre. É Israel um dos principais derrotados na guerra no Cáucaso, mas a derrota da Geórgia pode servir de lição a ambições que podem se revelar suicidas?

*Especialista em História das Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestrando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.

Referências

BHADRAKUMAR, M. K. O fim da era pós Guerra Fria. Disponível em: <http://www.resistir.info/russia/bhadrak ... ago08.html>. Acesso em: 13/08/2008.

CHOMSKY, Noam. Irán: todas las opciones están sobre la mesa. Disponível em: <http://www.rebelion.org/noticia.php?id=71285>. Acesso em: 10/08/2008.

CHOSSUDOVSKY, Michel. Irán: ¿Guerra o privatización: Guerra total o “conquista económica”?. Disponível em: <http://www.rebelion.org/noticia.php?id=70100>. Acesso em: 10/07/2008.

______________. A "Frente Norte" do teatro de Guerra do Irão: O Azerbaijão e a guerra ao Irão promovida pelos EUA. Disponível: <http://www.resistir.info/chossudovsky/f ... abr07.html>. Acesso em: 10/04/2007.

______________. A guerra ao Líbano e a batalha pelo petróleo. Disponível em: <http://www.resistir.info/chossudovsky/pipeline_btc.html>. Acesso em: 28/07/2006.

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Haaretz Staff. Georgian minister tells Israel Radio: Thanks to Israeli training, we're fending off Russian military . Disponível em: <http://www.haaretz.com/hasen/spages/1010225.html>. Acesso em: 12/08/2008.

MAALOUF, Ramez Philippe. A Segunda Guerra do Líbano: estratégias israelenses revisitadas. Revista CADE / Faculdades Moraes Júnior – Mackenzie Rio, nº 7, vol. 13, julho-dezembro 2007.

MORRIS, Benny. Using bombs to stave off war. The New York Times. 18/07/2008. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2008/07/18/opini ... ted=1&_r=3> . Acesso em: 18/07/2008.

REKONDO, Txente. El polvorín del Cáucaso: balance de cinco días de guerra. Disponível em: <http://www.rebelion.org/noticia.php?id=71439>. Acesso em: 14/08/2008.

Guerra da Geórgia, implosão do Líbano e derrota de Israel
Leia o artigo de Ramez Philippe Maalouf, que discute o conflito que envolveu a Geórgia e a Rússia e as consequencias desse conflito.
16/12/08

Por Ramez Philippe Maalouf*

Tal como as grandes invasões israelenses do Líbano (1982 e 2006) e de Gaza (2006), ocorridas durante as disputas de Copas do Mundo da Espanha e da Alemanha, a Geórgia (aliado de Israel) também aproveitou os holofotes da mídia apontados para a abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing (Pequim) para invadir a Ossétia do Sul e a Abkházia, exterminando mais de duas mil pessoas, para impor seu poder. Desde o início da década de 1990, com a implosão da URSS, quando a Geórgia proclamou sua independência, as duas províncias de maioria russa também proclamaram independência e a união com a Rússia, o que não foi aceito pelo governo de Tbilisi (capital georgiana) e nem reconhecido pelas potências ocidentais. Em face disto, as forças georgianas atacaram as províncias “rebeldes” e provocaram um genocídio. Mais de 100 mil ossétios buscaram refúgio na Federação Russa. Para pôr um fim ao conflito, em julho de 1992, um acordo foi firmado estabelecendo a criação de uma força de paz, da qual o exército russo faria parte.

Em 2004, Mikheil Saakashvili, de extrema-direita, pró-ocidental, foi eleito presidente da Geórgia e procurou recuperar o domínio sobre a Ossétia do Sul e da Abkházia, contando com o apoio tácito dos EUA, de Israel e da Inglaterra. A situação das duas províncias se degradou nos dois últimos anos com o acirramento do conflito, onde as forças georgianas mantiveram a ofensiva, massacrando inúmeros civis. Os constantes ataques do governo de Tbilisi não encontraram nenhuma oposição efetiva do Ocidente, o que pode ter sido entendido por Saakashvili como um sinal verde para a grande ofensiva no início de agosto de 2008, para resolver seus problemas territoriais, obtendo, assim, os pré-requisitos necessários para o ingresso na OTAN. Por outro lado, o presidente georgiano enfrentava, contudo, uma impopularidade crescente devido à crise econômica, o autoritarismo e a corrupção generalizada, com isto, a invasão da Ossétia do Sul e a limpeza étnica de sua população russa devem ter-lhe parecido a melhor saída para a permanência no poder. Suas tropas, treinadas por Israel e EUA, assassinaram mais de 2 mil ossétios, em poucas horas do dia 8 de agosto de 2008, e puseram em fuga outros 35 mil para a Rússia.

A resposta russa à ofensiva georgiana foi imediata e dura. Ainda no estádio olímpico, acenando ao público em Pequim, o todo-poderoso primeiro-ministro russo Vladimir Putin declarou “a guerra começou”. Milhares de tanques e caças de guerra e mais de 100 mil soldados se juntaram às tropas russas já estacionadas na Geórgia como força de paz desde 1992, em nome do “restabelecimento da ordem”, o mesmo pretexto usado para a destruição da Iugoslávia, em 1999, pelos EUA e OTAN.

O contra-ataque de Moscou demonstra uma clara mensagem ao cerco que os EUA promovem à Rússia nestes últimos anos de governo W. Bush. Em 2004, no mesmo ano da eleição de Saakashvili, a Ucrânia elegeu um presidente pró-ocidental em meio a manifestações populares (a Revolução Laranja, a semelhança do que ocorreria em 2005, no Líbano, a Revolução dos Cedros), além disto, as três ex-repúblicas soviéticas bálticas, Letônia, Estônia e Lituânia, assediadas pelos EUA, ingressaram no sistema atlantista (OTAN e CEE), ao mesmo tempo em que os americanos prevêem a instalação de um escudo antimísseis nos demais países fronteiriços com a Federação Russa, dando prosseguimento à estratégia americana de dominar a Eurásia. Esta estratégia foi o real motivo do ataque e invasão do Afeganistão (país sem capacidade de se defender), em 2001. Àquela altura, russos, então sob a presidência de Putin, e chineses não censuraram o extermínio de milhares de afegãos (sunitas e xiitas, mas sempre muçulmanos) pelos americanos, tendo em vista o inimigo em comum, o “terror islâmico” liderado por Bin Laden e sua Al-Qaeda. Putin chegou a receber a visita de W. Bush com tapete vermelho, quando o líder americano retesava a musculatura militar na Ásia. Moscou calculou que a “Guerra ao Terror” proclamada por Washington após o 11 de Setembro era a mesma que se desdobrava na Chechênia (majoritariamente muçulmana sunita), onde as tropas russas foram derrotadas na guerra separatista de 1994, sob o governo de Boris Yeltsin. Ao assumir a presidência no Kremlin, em 1999, o ex-agente da KGB, Vladimir Putin, ordenou uma nova ofensiva contra os separatistas chechenos, exterminando 50 mil pessoas. Contudo, a invasão e destruição do Iraque pelos EUA, em 2003, contrariaram os interesses russos e chineses e distanciaram a política de Washington de Moscou e Pequim.

É possível afirmar que a atual ofensiva georgiana é o mais claro sinal emitido por Washington de que a Guerra Fria não acabou, como era de se esperar com a queda dos regimes “comunistas”. O objetivo principal de Moscou na guerra no Cáucaso não trata apenas de impedir o ingresso da Geórgia na OTAN, mas, sim, também quebrar o arco pró-ocidental (Azerbaijão, Geórgia e Turquia) no Cáucaso, que já estava desestabilizando a Armênia (aliado da Rússia), em crise política desde o início de 2008, dividida entre pró-ocidentais e pró-Moscou, assim como enfraquecer o Ocidente, através do controle do oleoduto BTC (Baku, capital azeri – Tbilisi – Ceyhan, porto turco).

Geórgia foi uma das ex-repúblicas emancipadas com a queda da URSS, com uma população majoritariamente cristã ortodoxa e expressivas minorias judias e muçulmanas. Sua importância estratégica, entre os Mares Cáucaso e Negro, não foi desconsiderada pelos ocidentais, que não sonegaram apoio aos massacres perpetrados pelo governo de Tbilisi contra a autodeterminação da Ossétia do Sul e da Abkházia. Abria-se, com isto, uma dupla oportunidade ao poder americano: primeiro, a formação de uma coalizão pró-ocidental no Cáucaso, nas fronteiras russa e iraniana; e segundo, a possibilidade de construção de um oleoduto transportando petróleo de produtores confiáveis (do vizinho, Azerbaijão, também pró-ocidental).

Em 1999, iniciou-se a construção do oleoduto BTC, com capitais ingleses, americanos e israelenses, a ser conectado, através de oleodutos submarinos, com Israel, com quem formaria um novo eixo energético, BTC-Ashklelon-Eilat. O patrocinador do oleoduto é ninguém menos que Zbigniew Brzezisnki, ex-assessor americano de Segurança Nacional do governo Carter (1977-81), discípulo de Henry Kissinger. Foi Brzezisnki responsável pela retomada da corrida armamentista em fins da década de 1970, dando início da chamada Segunda Guerra Fria (1977-89). Ele também defendeu, na política externa americana, as teses de Nicholas Spykman, que apregoava a necessidade de manutenção da hegemonia americana sobre as Américas e o domínio das “franjas” eurasiáticas, cercando o Heartland (leia-se Rússia), para o controle do poder mundial. Entretanto, o ex-assessor americano tem sido um duro opositor a um ataque ao Irã, afirmando que seria uma ameaça à seguridade energética dos EUA. Todavia, para os EUA e Israel, o novo oleoduto representa a consolidação de uma aliança (Azerbaijão, Geórgia, Turquia e Israel) para minar, cercar e enfraquecer o eixo Moscou-Teerã-Pequim no mercado de energia inter-asiatico. Os investimentos israelenses neste empreendimento visam também levar água, gás natural e eletricidade, através de dutos submarinos, para Israel. O oleoduto foi inaugurado dia 13 de julho de 2006, um dia após o início da segunda grande invasão israelense ao Líbano.

A coincidência das datas não é mero acaso. A operacionalidade do oleoduto implica na militarização linha costeira do Mediterrâneo Oriental. Neste sentido, a invasão do Líbano em 2006 para anexação do sul do Líbano e a imposição de um governo pró-sionista em Beirute atende às geoestratégias israelenses. Assim, como a necessidade de mudança de regime na Síria. Desde a primeira metade de 2008, Turquia (um dos beneficiados pelo BTC) tem mediado um acordo de paz entre Síria e Israel. Os turcos mantêm tropas no Líbano (como “força de paz”) e no Iraque, onde combatem os curdos, porém, visando controlar o Mossul, norte do Iraque, região rica em petróleo, sob controle curdo. As conversações, segundo a imprensa, nos levam a acreditar na devolução das colinas do Golã por Israel à Síria, em favor da paz. Entretanto, o prosseguimento da guerra civil em pequena escala no Líbano, iniciada em maio de 2008, cuja principal zona de enfrentamentos, que ganham contornos de guerra sectária (sunitas vs. alauítas), é a cidade de Trípoli, onde se encontra um oleoduto proveniente do Iraque, nos indicam a possibilidade de restabelecimento dos acordos das Linhas Vermelhas entre Síria e Israel para uma nova divisão do País dos Cedros, tal como ocorrera a partir de 1976, durante a Guerra Civil Libanesa (1975-90), quando as tropas sírias invadiram o território libanês para impedir a derrota da extrema-direita libanesa. Segundo estes acordos, o sul do Líbano ficaria sob controle de Israel, enquanto o Norte (Akkar) e o Leste (Vale do Bekaa), sob o domínio sírio. A invasão israelense do Líbano em 1982 visava romper com estas Linhas, expulsando os sírios do território libanês. Damasco respondeu liberando a ação do Hizbollah no Bekaa e no sul do Líbano, com os resultados mais que conhecidos. O ataque israelense ao Líbano, em 2006, a guerra civil dele decorrente, a ocupação do sul do país pelas tropas da OTAN sob a capa de "forças de paz", os recentes assassinatos (entre fevereiro e julho de 2008) de agentes do Hizbollah na Síria, a guerra dos campos em 2007, assim como as conversações diretas entre Jerusalém e Damasco, em Ancara, nos revelam as intenções de divisão do País dos Cedros entre os dois inimigos e eventuais aliados. Por outro lado, Israel continua isolando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia do resto do mundo, exterminando a população palestina, com a cumplicidade da Jordânia e do Egito. Os constantes bombardeios à Faixa de Gaza também visam neutralizar a resistência palestina, cujos contra-ataques dos mísseis qassams têm capacidade de atingirem Ashkelon, porto que deve ser ligado por via submarina ao BTC.

Assegurando a paz com a Síria, com a implosão do Líbano e o isolamento dos Territórios Ocupados palestinos, Israel já vislumbrava um bombardeio às instalações que supostamente fabricam armas nucleares no Irã. Ressalta-se que 1/4 da população iraniana é de origem azeri, cujo país natal, o Azerbaijão, é um novo aliado de Jerusalém. Por outro lado, o governo de Teerã programa desde o início de 2008 um ambicioso plano de privatizações (sem privilegiar os capitais americanos e israelenses), o que certamente aprofundará a crise social, abrindo a possibilidade de conflitos étnicos, onde a presença azeri pode significar um novo elemento desestabilizador no país persa, a ser capitalizado em favor das estratégias americanas e israelenses, para uma futura implosão do Irã. Entretanto, a intervenção russa na Geórgia e o virtual controle sobre o BTC põem em xeque a estratégia de Israel para a região e pode fortalecer a Síria numa negociação com Jerusalém e Ancara (que ocupa o distrito sírio, de maioria árabe, de Alexandreta, região onde o cristianismo emergiu como religião, rico em água). Os laços entre Síria e Rússia se estreitaram desde a segunda invasão do Iraque (2003) pelos EUA.

Ainda como estratégia ofensiva ao eixo Moscou-Teerã-Pequim, a deflagração de uma onda separatista na China – no Tibet e na província muçulmana de etnia uigar, Xinjiang, rica em petróleo – nos oferecem a perspectiva balcanizadora da Ásia Central. Por outro lado, o acordo nuclear entre EUA e Índia, as guerras civis no Sudão, no Zimbábue e na Somália, a ocupação do Timor Leste (rico em petróleo) pela Austrália, que atua como "força de paz", a balcanização da Bolívia e o golpe militar na Mauritânia (agosto de 2008) são os sinais da nova Guerra Fria que emerge em escala mundial. O revide russo freou (momentaneamente?) tais intentos ocidentais.

O ataque georgiano à Ossétia do Sul e à Abkházia, considerado como irresponsável e suicida pelos seus aliados ocidentais, os mesmos que incentivaram as atrocidades perpetradas pelo governo de Tbilisi nas duas regiões litigiosas nas últimas décadas, coincide também com a publicação no New York Times do artigo do historiador revisionista israelense Benny Morris – que ao contrário de seus colegas profissionais da mesma vertente historiográfica, sempre apoiou o extermínio e a expulsão dos palestinos de Israel – no qual defende o ataque (de Israel) convencional ao Irã, com conseqüências imprevisíveis, no que até analistas israelenses denominam, segundo Noam Chomsky, de “complexo de Sansão”, ou seja, uma ofensiva militar ao Irã de envergadura liderada por Israel livraria os americanos das possíveis retaliações, mas não os israelenses, desta forma, tanto judeus quanto iranianos poderiam ser aniquilados, tal como Sansão ao demolir o templo sobre si e os seus inimigos, os filisteus. De fato, os EUA incentivaram os ataques da Geórgia, mas nada fizeram para conter a (esperada) retaliação russa. Tal como em dezembro de 2007, Washington enviara sua aliada Benazir Bhutto para a morte certa no Paquistão, apostando na política do "quanto pior, melhor".

Geórgia e Israel sabiam e sabem as conseqüências de um ataque a uma grande potência terrestre. É Israel um dos principais derrotados na guerra no Cáucaso, mas a derrota da Geórgia pode servir de lição a ambições que podem se revelar suicidas?

*Especialista em História das Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestrando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.

Referências

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______________. A "Frente Norte" do teatro de Guerra do Irão: O Azerbaijão e a guerra ao Irão promovida pelos EUA. Disponível: <http://www.resistir.info/chossudovsky/f ... abr07.html>. Acesso em: 10/04/2007.

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MAALOUF, Ramez Philippe. A Segunda Guerra do Líbano: estratégias israelenses revisitadas. Revista CADE / Faculdades Moraes Júnior – Mackenzie Rio, nº 7, vol. 13, julho-dezembro 2007.

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REKONDO, Txente. El polvorín del Cáucaso: balance de cinco días de guerra. Disponível em: <http://www.rebelion.org/noticia.php?id=71439>. Acesso em: 14/08/2008.