Enviado: Sáb Mai 19, 2007 10:18 pm
16/05/2007
EUA atacam tráfico de droga afegão, que ignoraram por anos
James Risen
De Cabul, Afeganistão
Em uma instalação murada fora de Cabul, dois membros da força policial antinarcóticos da Colômbia estão tentando ensinar recrutas afegãos inexperientes a travar combate em espaço restrito. Usando rifles de assalto AK-47 de mentira, o tenente John Castaneda e o cabo John Orejuela demonstram táticas de comando para cerca de 20 novos membros daquela que será uma força de elite de combate às drogas afegãs. Os recrutas -que as autoridades americanas dizem carecer até mesmo de treinamento policial básico- observam de olhos arregalados.
Membros de elite da divisão anti-narcóticos da polícia colombiana treinam recrutas
"Isto é o jardim de infância", disse Vincent Balbo, chefe da Drug Enforcement Administration (DEA, a agência de combate às drogas) americana em Cabul, cujo escritório está supervisionando o treinamento. "É um curso básico de Narcóticos."
Outro agente da DEA acrescentou: "Nós estamos no momento no estágio de dizer a estes recrutas: 'Isto é uma arma de mão, isto é uma bala'". É uma medida do virulento comércio de ópio neste país, que ajudou a reviver o Taleban e ao mesmo tempo corroer a credibilidade do governo afegão, as autoridades americanas acharem que algum dia ele poderá se tornar tão grave quanto na Colômbia.
Enquanto o país latino-americano continua sendo a capital mundial da cocaína e ainda é atormentado pela violência ligada às drogas, as autoridades americanas argumentam que décadas de esforços americanos no combate aos narcóticos ali pelo menos conseguiram ajudar a estabilizar o país.
"Eu queria que os colombianos viessem aqui para dar aos afegãos algo para almejar", disse Balbo. "Para transmitir o fato de que estão fazendo isto há anos e tem funcionado."
Para combater a insurreição do Taleban alimentada pelo dinheiro das drogas, usado para recrutas e armas, o governo Bush agora reconhece que deve também combater o narcotráfico que praticamente ignorou por anos. Mas os planos para limpar os campos de papoula e perseguir figuras importantes das drogas têm sido frustrados pela corrupção no governo afegão e atacados por críticos como sendo meias medidas tardias ou erros que dificilmente terão grande impacto.
"Há muitas coisas que poderíamos ter feito antes, mas a esta altura, eu acho que há um número relativamente limitado de boas opções", disse James F. Dobbins, um ex-funcionário do Departamento de Estado que serviu como representante especial do governo no Afeganistão.
Comércio ilegal ignorado
O cultivo de papoula é endêmico no interior e o Afeganistão atualmente produz 92% do ópio do mundo. Mas até recentemente, as autoridades americanas reconheceram, o combate às drogas era considerado uma distração ao combate aos terroristas.
Campos de papoula são destruídos na província de Nangarhar, no extremo leste
O Departamento de Estado e o Pentágono entraram repetidamente em choque em torno da política de combate às drogas, segundo atuais e ex-funcionários que foram entrevistados. Os líderes do Pentágono se recusavam a bombardear os laboratórios de drogas e freqüentemente deixavam de ajudar outras agências e o governo afegão a destruir os campos de papoula, interromper o transporte do ópio ou capturar os principais traficantes, disseram os funcionários.
O ex-secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e os líderes militares também atenuaram ou ignoraram os crescentes sinais de que o dinheiro das drogas estava sendo canalizado para o Taleban, disseram os funcionários. E a CIA e as forças armadas fizeram vista grossa às atividades ligadas às drogas por parte de senhores da guerra e políticos proeminentes que elas colocaram no poder, disseram funcionários americanos e afegãos.
Há não muito tempo, o Afeganistão era apresentado como um sucesso, um país libertado da tirania e da Al Qaeda. Mas à medida que aumenta o controle do Taleban sobre o país, ameaçando o futuro do Afeganistão e a luta contra o terrorismo, americanos e afegãos cada vez mais se perguntam sobre o que saiu errado. Para isto, algumas autoridades americanas dizem que a não interrupção do narcotráfico foi um erro estratégico chave.
"Este é o equivalente afegão ao fracasso em lidar com os saques em Bagdá", disse Andre D. Hollis, um ex-vice-secretário assistente de Defesa para o narcotráfico. "Se você não lidar com aqueles que são ameaçados pela segurança e que minam a segurança, no caso os narcotraficantes, todos os demais planos grandiosos não darão em nada."
Funcionários do governo disseram que acreditavam que podiam eliminar primeiro a insurreição, depois o narcotráfico. "Agora as pessoas reconhecem que está tudo relacionado, que é uma única
questão", disse Thomas Schweich, o coordenador do Departamento de Estado para combate às drogas no Afeganistão. "Não é mais apenas um problema de drogas, é um problema econômico, um problema político, um problema de segurança."
Para aumentar os esforços, no ano passado Bush pressionou privativamente o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, a coibir a produção de ópio, então prometeu publicamente em fevereiro fornecer mais ajuda.
Alto escalão
Enquanto o DEA leva instrutores colombianos a Cabul, funcionários do
Departamento de Justiça americano estão ajudando a construir do nada um
sistema judicial afegão para lidar com os casos de drogas. Enquanto isso, funcionários do Departamento de Estado ajudam a fundar uma Força Afegã de Erradicação para eliminar as plantações de ópio. As forças armadas americanas estão fornecendo apoio logístico para as ações do DEA e erradicações.
O coração simbólico dos esforços do governo Bush está na construção de uma instalação em meio aos barracos de zinco e ferros-velhos perto do Aeroporto de Cabul -um novo Centro de Justiça Antinarcóticos de US$ 8 milhões. Após sua inauguração prevista para julho, o centro será uma parada única para os casos de drogas, com dois tribunais, gabinetes para 70 promotores e investigadores e celas para 56 suspeitos.
Mas enquanto os novos promotores afegãos estão processando centenas de
mensageiros e caminhoneiros por crimes ligados às drogas, os grandes
traficantes, freqüentemente com laços tanto com autoridades do governo
quanto com o Taleban, operam virtualmente à vontade.
Uma autoridade americana de combate ao narcotráfico, em Washington, disse que uma lista confidencial, elaborada no final do ano passado por várias agências americanas, identificou mais de 30 importantes figuras do tráfico afegão, incluindo pelo menos cinco autoridades do governo. Mas dificilmente eles serão perseguidos tão cedo, alertaram várias autoridades americanas.
Em parte, isto se deve ao fato de apesar dos promotores afegãos serem
dedicados, sua capacidade legal ainda é deficiente. "Você olha para os
indiciamentos e parece que um aluno da 6ª série os redigiu", disse Rob
Lunnen, um promotor federal de Salt Lake City que está auxiliando a força tarefa afegã para combate às drogas.
Outro promotor americano disse: "Se tentarmos ir atrás de casos de corrupção no alto escalão ou segundo escalão do governo, não encontraremos um sistema que seja capaz de lidar com os casos e eles apenas serão liberados".
Histórico
O governo Bush relutava em tratar da questão das drogas desde o início da guerra. Logo após os ataques de 11 de Setembro, analistas militares e da inteligência entregaram ao Pentágono uma lista de alvos ligados à Al Qaeda -e seus anfitriões do Taleban- dentro do Afeganistão. Ela incluía alvos militares, assim como laboratórios de drogas e depósitos, onde supostamente o Taleban estocava ópio após proibir o cultivo da papoula em 2001. A destruição da principal fonte de renda do regime ajudaria a tirar o Taleban de circulação, imaginaram os analistas.
Mas quando teve início a campanha aérea no Afeganistão, os altos oficias militares removeram todos os alvos ligados às drogas, segundo um analista que participou das reuniões nas quais os bombardeios foram discutidos.
Após o colapso do Taleban no final de 2001, os agricultores começaram a
plantar ópio por todo o interior. Alguns senhores da guerra e comandantes que a CIA e as forças armadas ajudaram a colocar no poder -incluindo figuras tribais que estavam exiladas no Paquistão e outros que faziam parte da Aliança do Norte apoiada pelos americanos- rapidamente começaram a enriquecer por meio do tráfico de drogas, disseram várias autoridades americanas.
"Na época de nossa intervenção, não havia um comércio ativo de drogas",
disse Dobbins. "Mas algumas das pessoas que apoiamos se envolveram e se
tornaram ativas à medida que o comércio de drogas se estabelecia."
Autoridades americanas disseram que o caos pós-guerra as deixou sem opção a não ser trabalhar com os líderes milicianos envolvidos no narcotráfico.
Mas, posteriormente, funcionários americanos de várias agências pediram por medidas para coibição do cultivo e tráfico de ópio -e se tornaram cada vez mais frustrados quando nada acontecia.
Rumsfeld era contrário a qualquer envolvimento militar em operações de
combate às drogas, disseram vários funcionários americanos. Além da
preocupação em não querer provocar o ressentimento entre os camponeses e nem alienar as autoridades afegãs, o Pentágono via o combate às drogas como uma distração perigosa ao combate ao terrorismo. E com a guerra no Iraque já discretamente em discussão, Rumsfeld e seus comandantes não queriam dedicar mais forças ao Afeganistão.
O Pentágono também argumentou que o combate às drogas sempre foi uma missão policial, não militar. Mas no Afeganistão devastado pela guerra, sem a assistência das tropas americanas era virtualmente impossível para outras agências trabalharem de forma eficaz.
O próprio escritório de combate às drogas do Pentágono estava ávido em
entrar na luta. Logo após a invasão liderada pelos Estados Unidos, Hollis, o funcionário da Defesa para combate às drogas, levantou o assunto junto a altos oficiais militares.
"Os comandantes disseram que drogas não eram da nossa conta. Estávamos apenas matando terroristas", disse Hollis. "Isto demonstrou uma falta de entendimento da ameaça. Eu me preocupava em ir atrás das rotas das drogas. Se é possível contrabandear drogas, é possível contrabandear armas e terroristas. Eu me preocupava com o fato de que se não enfrentássemos o narcotráfico, nós perderíamos uma oportunidade de ouro."
Posteriormente, quando pediu para a Agência de Inteligência da Defesa para avaliar a ligação entre as drogas e o Taleban, a agência se recusou a fazê-lo, disse Hollis.
Apenas no final de 2004, quando tanto a ONU quanto a CIA emitiram
estimativas atordoantes do cultivo de ópio no Afeganistão, é que a Casa
Branca expressou alarme com o assunto.
Tradução: George El Khouri Andolfato
EUA atacam tráfico de droga afegão, que ignoraram por anos
James Risen
De Cabul, Afeganistão
Em uma instalação murada fora de Cabul, dois membros da força policial antinarcóticos da Colômbia estão tentando ensinar recrutas afegãos inexperientes a travar combate em espaço restrito. Usando rifles de assalto AK-47 de mentira, o tenente John Castaneda e o cabo John Orejuela demonstram táticas de comando para cerca de 20 novos membros daquela que será uma força de elite de combate às drogas afegãs. Os recrutas -que as autoridades americanas dizem carecer até mesmo de treinamento policial básico- observam de olhos arregalados.
Membros de elite da divisão anti-narcóticos da polícia colombiana treinam recrutas
"Isto é o jardim de infância", disse Vincent Balbo, chefe da Drug Enforcement Administration (DEA, a agência de combate às drogas) americana em Cabul, cujo escritório está supervisionando o treinamento. "É um curso básico de Narcóticos."
Outro agente da DEA acrescentou: "Nós estamos no momento no estágio de dizer a estes recrutas: 'Isto é uma arma de mão, isto é uma bala'". É uma medida do virulento comércio de ópio neste país, que ajudou a reviver o Taleban e ao mesmo tempo corroer a credibilidade do governo afegão, as autoridades americanas acharem que algum dia ele poderá se tornar tão grave quanto na Colômbia.
Enquanto o país latino-americano continua sendo a capital mundial da cocaína e ainda é atormentado pela violência ligada às drogas, as autoridades americanas argumentam que décadas de esforços americanos no combate aos narcóticos ali pelo menos conseguiram ajudar a estabilizar o país.
"Eu queria que os colombianos viessem aqui para dar aos afegãos algo para almejar", disse Balbo. "Para transmitir o fato de que estão fazendo isto há anos e tem funcionado."
Para combater a insurreição do Taleban alimentada pelo dinheiro das drogas, usado para recrutas e armas, o governo Bush agora reconhece que deve também combater o narcotráfico que praticamente ignorou por anos. Mas os planos para limpar os campos de papoula e perseguir figuras importantes das drogas têm sido frustrados pela corrupção no governo afegão e atacados por críticos como sendo meias medidas tardias ou erros que dificilmente terão grande impacto.
"Há muitas coisas que poderíamos ter feito antes, mas a esta altura, eu acho que há um número relativamente limitado de boas opções", disse James F. Dobbins, um ex-funcionário do Departamento de Estado que serviu como representante especial do governo no Afeganistão.
Comércio ilegal ignorado
O cultivo de papoula é endêmico no interior e o Afeganistão atualmente produz 92% do ópio do mundo. Mas até recentemente, as autoridades americanas reconheceram, o combate às drogas era considerado uma distração ao combate aos terroristas.
Campos de papoula são destruídos na província de Nangarhar, no extremo leste
O Departamento de Estado e o Pentágono entraram repetidamente em choque em torno da política de combate às drogas, segundo atuais e ex-funcionários que foram entrevistados. Os líderes do Pentágono se recusavam a bombardear os laboratórios de drogas e freqüentemente deixavam de ajudar outras agências e o governo afegão a destruir os campos de papoula, interromper o transporte do ópio ou capturar os principais traficantes, disseram os funcionários.
O ex-secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e os líderes militares também atenuaram ou ignoraram os crescentes sinais de que o dinheiro das drogas estava sendo canalizado para o Taleban, disseram os funcionários. E a CIA e as forças armadas fizeram vista grossa às atividades ligadas às drogas por parte de senhores da guerra e políticos proeminentes que elas colocaram no poder, disseram funcionários americanos e afegãos.
Há não muito tempo, o Afeganistão era apresentado como um sucesso, um país libertado da tirania e da Al Qaeda. Mas à medida que aumenta o controle do Taleban sobre o país, ameaçando o futuro do Afeganistão e a luta contra o terrorismo, americanos e afegãos cada vez mais se perguntam sobre o que saiu errado. Para isto, algumas autoridades americanas dizem que a não interrupção do narcotráfico foi um erro estratégico chave.
"Este é o equivalente afegão ao fracasso em lidar com os saques em Bagdá", disse Andre D. Hollis, um ex-vice-secretário assistente de Defesa para o narcotráfico. "Se você não lidar com aqueles que são ameaçados pela segurança e que minam a segurança, no caso os narcotraficantes, todos os demais planos grandiosos não darão em nada."
Funcionários do governo disseram que acreditavam que podiam eliminar primeiro a insurreição, depois o narcotráfico. "Agora as pessoas reconhecem que está tudo relacionado, que é uma única
questão", disse Thomas Schweich, o coordenador do Departamento de Estado para combate às drogas no Afeganistão. "Não é mais apenas um problema de drogas, é um problema econômico, um problema político, um problema de segurança."
Para aumentar os esforços, no ano passado Bush pressionou privativamente o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, a coibir a produção de ópio, então prometeu publicamente em fevereiro fornecer mais ajuda.
Alto escalão
Enquanto o DEA leva instrutores colombianos a Cabul, funcionários do
Departamento de Justiça americano estão ajudando a construir do nada um
sistema judicial afegão para lidar com os casos de drogas. Enquanto isso, funcionários do Departamento de Estado ajudam a fundar uma Força Afegã de Erradicação para eliminar as plantações de ópio. As forças armadas americanas estão fornecendo apoio logístico para as ações do DEA e erradicações.
O coração simbólico dos esforços do governo Bush está na construção de uma instalação em meio aos barracos de zinco e ferros-velhos perto do Aeroporto de Cabul -um novo Centro de Justiça Antinarcóticos de US$ 8 milhões. Após sua inauguração prevista para julho, o centro será uma parada única para os casos de drogas, com dois tribunais, gabinetes para 70 promotores e investigadores e celas para 56 suspeitos.
Mas enquanto os novos promotores afegãos estão processando centenas de
mensageiros e caminhoneiros por crimes ligados às drogas, os grandes
traficantes, freqüentemente com laços tanto com autoridades do governo
quanto com o Taleban, operam virtualmente à vontade.
Uma autoridade americana de combate ao narcotráfico, em Washington, disse que uma lista confidencial, elaborada no final do ano passado por várias agências americanas, identificou mais de 30 importantes figuras do tráfico afegão, incluindo pelo menos cinco autoridades do governo. Mas dificilmente eles serão perseguidos tão cedo, alertaram várias autoridades americanas.
Em parte, isto se deve ao fato de apesar dos promotores afegãos serem
dedicados, sua capacidade legal ainda é deficiente. "Você olha para os
indiciamentos e parece que um aluno da 6ª série os redigiu", disse Rob
Lunnen, um promotor federal de Salt Lake City que está auxiliando a força tarefa afegã para combate às drogas.
Outro promotor americano disse: "Se tentarmos ir atrás de casos de corrupção no alto escalão ou segundo escalão do governo, não encontraremos um sistema que seja capaz de lidar com os casos e eles apenas serão liberados".
Histórico
O governo Bush relutava em tratar da questão das drogas desde o início da guerra. Logo após os ataques de 11 de Setembro, analistas militares e da inteligência entregaram ao Pentágono uma lista de alvos ligados à Al Qaeda -e seus anfitriões do Taleban- dentro do Afeganistão. Ela incluía alvos militares, assim como laboratórios de drogas e depósitos, onde supostamente o Taleban estocava ópio após proibir o cultivo da papoula em 2001. A destruição da principal fonte de renda do regime ajudaria a tirar o Taleban de circulação, imaginaram os analistas.
Mas quando teve início a campanha aérea no Afeganistão, os altos oficias militares removeram todos os alvos ligados às drogas, segundo um analista que participou das reuniões nas quais os bombardeios foram discutidos.
Após o colapso do Taleban no final de 2001, os agricultores começaram a
plantar ópio por todo o interior. Alguns senhores da guerra e comandantes que a CIA e as forças armadas ajudaram a colocar no poder -incluindo figuras tribais que estavam exiladas no Paquistão e outros que faziam parte da Aliança do Norte apoiada pelos americanos- rapidamente começaram a enriquecer por meio do tráfico de drogas, disseram várias autoridades americanas.
"Na época de nossa intervenção, não havia um comércio ativo de drogas",
disse Dobbins. "Mas algumas das pessoas que apoiamos se envolveram e se
tornaram ativas à medida que o comércio de drogas se estabelecia."
Autoridades americanas disseram que o caos pós-guerra as deixou sem opção a não ser trabalhar com os líderes milicianos envolvidos no narcotráfico.
Mas, posteriormente, funcionários americanos de várias agências pediram por medidas para coibição do cultivo e tráfico de ópio -e se tornaram cada vez mais frustrados quando nada acontecia.
Rumsfeld era contrário a qualquer envolvimento militar em operações de
combate às drogas, disseram vários funcionários americanos. Além da
preocupação em não querer provocar o ressentimento entre os camponeses e nem alienar as autoridades afegãs, o Pentágono via o combate às drogas como uma distração perigosa ao combate ao terrorismo. E com a guerra no Iraque já discretamente em discussão, Rumsfeld e seus comandantes não queriam dedicar mais forças ao Afeganistão.
O Pentágono também argumentou que o combate às drogas sempre foi uma missão policial, não militar. Mas no Afeganistão devastado pela guerra, sem a assistência das tropas americanas era virtualmente impossível para outras agências trabalharem de forma eficaz.
O próprio escritório de combate às drogas do Pentágono estava ávido em
entrar na luta. Logo após a invasão liderada pelos Estados Unidos, Hollis, o funcionário da Defesa para combate às drogas, levantou o assunto junto a altos oficiais militares.
"Os comandantes disseram que drogas não eram da nossa conta. Estávamos apenas matando terroristas", disse Hollis. "Isto demonstrou uma falta de entendimento da ameaça. Eu me preocupava em ir atrás das rotas das drogas. Se é possível contrabandear drogas, é possível contrabandear armas e terroristas. Eu me preocupava com o fato de que se não enfrentássemos o narcotráfico, nós perderíamos uma oportunidade de ouro."
Posteriormente, quando pediu para a Agência de Inteligência da Defesa para avaliar a ligação entre as drogas e o Taleban, a agência se recusou a fazê-lo, disse Hollis.
Apenas no final de 2004, quando tanto a ONU quanto a CIA emitiram
estimativas atordoantes do cultivo de ópio no Afeganistão, é que a Casa
Branca expressou alarme com o assunto.
Tradução: George El Khouri Andolfato