Dívida pública: daqui a um ano Portugal estará no 'clube' das economias do euro com juros mais baixos
Os juros da dívida pública portuguesa a 10 anos deverão cair para menos de 3% em junho de 2025, colocando Portugal no grupo das sete economias da zona euro que menos pagam pelos empréstimos, segundo as projeções do portal World Government Bonds. Pior estarão Bélgica, Espanha, França, Grécia, Itália e mais outras cinco economias do euro
24 julho 2024 07:15
Jorge Nascimento Rodrigues
Jornalista
Nos próximos doze meses, Portugal vai consolidar a sua posição entre as economias da zona euro com juros mais baixos da dívida pública no prazo de referência a 10 anos. Segundo as projeções do algoritmo do portal World Government Bonds (WGB) para junho de 2025, serão sete as economias com juros mais baixos, incluindo Portugal no sétimo lugar.
Os juros das obrigações portuguesas naquele prazo deverão cair para 2,98%, já muito perto da Irlanda, e abaixo dos da Bélgica e França, economias consideradas do ‘centro’ e com rating mais elevado.
A previsão de défices orçamentais acima de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2029 nos casos da Bélgica e da França contrastam com excedentes em Portugal. Desde a crise política recente em França, que os juros a 10 anos das obrigações francesas ultrapassaram os portugueses.
As projeções do WGB referidas foram geradas na abertura da sessão desta terça-feira.
Segundo as projeções do WGB, o ‘clube’ das sete economias do euro com juros mais baixos daqui a um ano integrará a Alemanha, Áustria, Chipre, Finlândia, Irlanda, Países Baixos e Portugal.
Nas 20 economias do euro, Chipre e Portugal são os dois casos em destaque na aproximação ao ‘centro’ e de claro distanciamento do grupo dos ‘periféricos’ em matéria de contas públicas. Resgatados durante a crise das dívidas soberanas na zona euro, os dois países conseguiram sair da zona vermelha dos défices e diminuir significativamente o peso da dívida pública.
No caso de Portugal, as contas públicas registaram os primeiros excedentes desde o 25 de abril em 2019 e 2023 e o peso da dívida pública caiu de mais de 131% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 e 2016 para menos de 100% no ano passado, durante os governos chefiados por António Costa. Em relação à economia cipriota, registou-se um excedente de 3,1% do PIB em 2023 e a dívida caiu para 77,3% do PIB. Chipre deverá manter excedentes acima de 2% até 2026, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional, e o rácio da dívida deverá cair abaixo de 60% (o teto das regras na zona euro) em 2027. Entre janeiro e maio de 2024, o excedente nas contas cipriotas foi de 1,9%.
Em sentido contrário, distanciando-se do ‘centro’ e caindo para a esfera dos ‘periféricos’, destacam-se Bélgica e, sobretudo, França. Nas projeções do WGP, a economia francesa cairá para o penúltimo lugar nos ‘periféricos’, só com juros mais baixos do que Itália, que continuará a ser o país com o custo mais elevado de endividamento público no espaço do euro.
As projeções do WGB para Portugal têm como pressupostos que a trajetória de excedentes orçamentais e de redução do peso da dívida se vão manter no Orçamento do Estado para 2025 que será apreciado em outubro e novembro próximos na Assembleia da República, passando antes pelo filtro da Comissão Europeia.
Depois de uma melhoria de ratings em 2023 e em março de 2024, subindo a notação de crédito de Portugal para o patamar A de qualidade média superior de investimento em dívida, a agência DBRS, a 19 de julho, melhorou a tendência (o equivalente ao outlook nas outras agências) de estável para positiva, o que pode indiciar uma subida futura da notação no próximo ano. A 26 deste mês será a vez da agência europeia Scope avaliar o rating. A S&P avalia a 30 de agosto e a Fitch a 20 de setembro. Já depois do OE para 2025 ter sido aprovado ou reprovado, a Moody's analisará a 15 de novembro a notação portuguesa.
Portugal tem um novo governo chefiado por Luís Montenegro desde 2 de abril depois da coligação Aliança Democrática ter ganho as eleições legislativas antecipadas de 10 de março, sem conseguir uma maioria absoluta de sustentação. Segundo o Expresso já adiantou, os vários pacotes de medidas apresentadas pelo Governo somam quase 2,9 mil milhões de euros, com um impacto orçamental de cerca de 1,1% do PIB.
Em relação a dezembro de 2023, a dívida direta do Estado emagreceu 2275 milhões de euros até final do primeiro semestre de 2024, segundo a avaliação da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), que avança ainda que o custo médio da nova dívida emitida por Portugal desceu de 3,5% em 2023 para 3,4% entre janeiro e junho de 2024.
https://expresso.pt/economia/contas-pub ... s-b00597a9