Os jornais e a crise
"Wall Street nunca viu nada assim"
Medo e ganância são o material de que Wall Street é feita. Mas dentro das grandes casas bancárias, esses grandes templos do capitalismo, o medo esteve na frente neste fim-de-semana . É assim que Jenny Anderson, do New York Times, introduz a sua crónica sobre os acontecimentos negros deste fim-de-semana.
Jornal de Negócios Online
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“Medo e ganância são o material de que Wall Street é feita. Mas dentro das grandes casas bancárias, esses grandes templos do capitalismo, o medo esteve na frente neste fim-de-semana”. É assim que Jenny Anderson, do New York Times, introduz a sua crónica sobre os acontecimentos negros deste fim-de-semana.
A Lehman Brothers, uma das mais antigas firmas de Wall Street, pediu falência. A Merrill Lynch, a maior corretora, foi salva da guilhotina pelo Bank of America, que a comprou.
“Foi, em todos os sentido, um dia diferente de tudo o que Wall Street alguma vez viu”, prossegue Jenny Anderson. No fim-de-semana, “os jantares festivos foram cancelados, as ‘escapadelas’ de fim-de-semana foram adiadas, toda Wall Street ficou em alerta máximo. Nos arranha-céus de Manhattan, os banqueiros ficaram nos seus quartéis-generais, dentro de casulos de tapetes macios e paredes revestidas de painéis de madeira, tentando desesperadamente avaliar a exposição das suas firmas à queda da Lehman”.
Os jornais financeiros e norte-americanos estão repletos de noticiário e análise à queda da Lehman Brothers, pouco mais de um ano depois da revelação da crise financeira do “subprime”.
“A mão de todas as segundas-feiras”, titula o “Wall Street Journal”, que diz que poucas vezes saíram os investidores de todo o mundo das suas camas para enfrentar uma manhã de segunda-feira como esta.
“Será este o Dia do Julgamento para Wall Street?”, questiona Heidi N. Moore, do mesmo jornal. Isso seria uma sorte para a indústria financeira, acrescenta.
“Na verdade, Wall Street ainda enfrenta um mundo de dor e será necessário mais do que um dia para que volte a ficar tudo bem, O que aconteceu à Lehman e à Merrill vai ecoar por meses, se não por anos, através da indústria da banca de investimento. Entretanto, as demais firmas de Wall Street terão de reagir depressa para assegurar que têm o capital adequado e, também importante, a confiança no mercado”.
O "Financial Times" fechou a sua edição quando ainda não era certo que a Lehman Brothers pedisse falência. O fim-de-semana decorreu na expectativa de que o banco pudesse ser salvo (como aconteceu à Merrill Lynch"), embora ontem à noite já poucas esperanças restassem.
Em causa estava não uma intervenção directa do Estado mas uma aquisição da Lehman. Mas os potenciais compradores só o fariam se houvesse cobertura ou garantias governamentais do risco da operação, garantias essas que não aconteceram. A Lehman caiu.
"A certeza de que o Governo norte-americano já não estava preparado para suportar instituições com problemas aumentaria a pressão em bancos como o Washington Mutual e seguradoras como a AIG, que já estão na mira dos mercados", escreve o FT. "Talvez ainda mais preocupante é contemplar as inevitáveis surpresas a partir das consequências imprevisíveis da queda da Lehman".