Re: Programa de Reaparelhamento da Marinha
Enviado: Ter Nov 25, 2014 8:06 pm
Leandro, é como eu sempre disse aqui, a nossa esquadra tem ser ser/estar balanceada. É neste sentido que escrevo. Eu mais do que qualquer um aqui sabe e entende do sentido e da necessidades dos NaPaFlu na amazônia. E a importância que a atuação da MB tem para nós. Da mesma forma para quem vive no pantanal.LeandroGCard escreveu:FCarvalho escreveu:Vou resumir a minha opinião.
O problema é que você está pensando no emprego dos NaPaFlu's e do Parnaíba de uma forma totalmente diferente do que eles realmente são empregados no dia-a-dia de suas missões na região.
Estes navios não tem nem porte (boca/calado) para chegar à maior parte das áreas que você considerou, nem desempenho (velocidade/manobralidade) para realmente alcançar ou sequer acompanhar as lanchas que eventuais bandidos/guerrilheiros vão usar na região, pois não são estas as missões que a MB imagina que eles devam cumprir. Mas eles possuem espaço interno, estabilidade, recursos e até armamento para receberem salas de cirurgia, de comando, de comunicações e quaisquer outras facilidades que sejam necessárias para:
1- Atender as necessidades mais prementes das populações ribeirinhas em termos de saúde, recursos sanitários, construção de infra-estrutura e etc.... . Este é o trabalho a que eles são chamados praticamente 365 dias por ano em tempos de paz, que é o estado normal de nosso país.
2- Servir como hospitais de campanha avançados, levando os muito necessários centros de cirurgia destinados a salvar combatentes feridos para o mais próximo possível de qualquer teatro importante nas bacias dos rios onde atuam, podendo inclusive receber pessoal evacuado por meio de helicópteros.
3-Em caso de extrema necessidade bloquear um braço de rio impedindo o tráfego indesejado para áreas que se queira proteger. E o Parnaíba especificamente, com seu canhão de 76mm, pode até interditar áreas um pouco mais distantes da margem dos rios, impedindo que grupos hostis se concentrem nelas
Estas (e algumas outras correlatas) são as missões dos nossos NaPaFlu's e do Parnaíba, aquelas que mais do que justificar exigem a presença da MB em nossas águas interiores, e que eles foram projetados para cumprir, as quais tem atendido muito bem ao longo de todo o seu tempo de serviço e que continuarão atendendo no futuro. Você pode até achar que outras entidades governamentais poderiam estar cumprindo pelo menos parte destas missões (principalmente a primeira), mas a verdade é que estas entidades não existem, e a MB sempre assumiu estas missões com um desempenho tal que dificilmente outro órgão qualquer conseguiria.
Agora o que você está falando é de embarcações para outro tipo de missão, a de busca e enfrentamento direto de elementos hostis, que vai exigir barcos e lanchas menores e mais rápidos, mas que por outro lado não precisam possuir o tamanho nem todos os recursos disponíveis aos NaPaFlu's/Parnaíba (por exemplo salas médicas e pista para helicópteros). Como eu já mencionei, podemos discutir este tipo de embarcação, suas características, as quantidades que poderiam ser necessárias e até quem deveria operá-las, se a MB, o EB, a PF, o Ibama, polícias locais e etc... . Mas isso não implica em prejuízo para a existência e o uso dos navios maiores, que na situação atual do país são até mais úteis do que estas embarcações eminentemente "bélicas" que você está propondo.
Leandro G. Card
E concordo com você que o trabalho dos NaPaFLu tem sido os que tão bem apontastes, não há a anos, mas há décadas. E se não temos uma perspetiva diferente, se deve única e exclusivamente à pura omissão/negligência do poder político nacional, como também da própria sociedade brasileira, que hora nos ignora, hora nos toma por ignorantes.
Como disse acima, o que o PAEMB prevê para a amazônia toda, deveria estar sendo disposto para as 4 bases que citei. E neste sentido, os projetos em gestão destes navios comporta, salvo engano, dois tipos de tonelagens diferentes, sendo ambos menores que a atual Classe Pedro Teixeira. Mas contarão com todas as facilidades que este possuem, fruto da própria experiência da MB na região. Será que é pedir muito a produção de 24 navios que não ultrapassarão míseras 340 tons? E que inclusive poderiam ser construídos em estaleiros no norte, tal como se quer fazer no litoral? Qual opção traz mais vantagem? A insistência na manutenção do pouco que se tem, ou o necessário investimento no que poderá vir a se ter?
Ressalto que nem só de NaPaFlu vive a Flotilha do Amazonas. Como aludi, o que podemos e devemos procurar é um misto de combinações entre capacidades e flexibilidade de usos para o cumprimento integral da missão. Tanto no pantanal como na amazônia, caberão tranquilamente, convivendo lado a lado, navios de 340t, 200t, lanchas rápidas e pneumáticos. Todos eles capazes de realizar com qualidade e parcimônia a missão que lhes apetece. Nenhum deles incapacita a operação do outro. O que não se pode mais admitir, penso, é que continuemos na condição de pensar o nosso planejamento com quem eternamente decide entre cobrir os pés e descobrir a cabeça, e vice e versa.
Volto a lembrar que a MB vem realizando investimentos na área de saúde e apoio logístico para a flotilha do amazonas e mato grosso há bastante tempo, e notícias sobre isso é o que não falta aqui.
No mais, temos que parar de pensar na composição(planejamento) de nossa frota fluvial, como e também a naval, como se missão subsidiária fosse a missão principal.
Existem mazelas sociais neste país desde sempre. E apesar de todos os esforços das ffaa's em toda a história brasileira, estas foram no máximo capazes de atenuar, nunca resolver, tais problemas. E a continuidade deste pensamento tem levado gerações de políticos a usar e desmandar nossas ffaa's em usos que sequer lhe são primários, não só desvirtuando como deturpando-lhes o ser, enquanto forças militares.
Não estou dizendo com isso que devamos simplesmente abandonar as ACISO e MMI, e bater pé para não mais realizá-las, Isso é impossível ante a legislação atual relativa ao emprego das ffaa's. Mas em algum momento, o que nos sobra hoje em facilidades de investimento em navios hospitais, logísticos, dentre outros, além de missões de apoio de cunho social, irá fatalmente nos faltar em capacidades, qualidades e competências para o pleno exercício da missão primária e real que nos convém preparar, sempre, nossas ffaa's.
Ajudar o próximo na necessidade é sempre bom e faz parte do nosso caráter nacional. Mas forças militares não devem, e nem deveriam, ter isso como princípio de seu preparo e função. A não ser que estejamos providos de uma falsa consciência de paz e harmonia mundial que nunca existiu um dia sequer na história da humanidade.
Será que queremos, mais uma vez, pagar para ver?
Eu acho que não. Já basta o que passamos.
abs