'Dono do futebol brasileiro', réu confesso J. Hawilla terá de devolver US$ 151 mi
27 maio 2015
José Hawilla, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, é réu confesso no escândalo de corrupção no futebol
Além do ex-presidente da CBF José Maria Marin, de 83 anos, outros dois brasileiros são citados pela Justiça norte-americana no escândalo de corrupção entre a Fifa e empresas de marketing e transmissão esportiva.
O mais conhecido deles é o réu confesso José Hawilla, de 71 anos, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil.
O departamento de Justiça revelou que J. Hawilla, como prefere ser chamado, teria confessado culpa, em dezembro do ano passado, por acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça - ele é o único brasileiro entre os réus confessos declarados culpados pela Justiça dos EUA.
O caso envolvendo Hawilla, uma das figuras mais proeminentes do futebol nacional, só veio a público na manhã desta quarta-feira, com a divulgação da nota do departamento de Justiça, onde aparece com destaque.
Segundo a nota do governo dos EUA, o executivo teria concordado com o confisco de US$ 151 milhões de seu patrimônio - US$ 25 milhões deste total já teriam sido pagos no momento da confissão. O mandatário da Traffic já foi classificado diversas vezes pela imprensa nacional como "dono do futebol brasileiro".
De acordo com reportagens publicadas pela imprensa brasileira nos últimos 10 anos, estima-se que o faturamento anual da empresa de J. Hawilla, que começou a carreira profissional como vendedor de cachorros-quentes, gire em torno de US$ 500 milhões.
Negócios lucrativos
O Departamento de Justiça americano indiciou 14 pessoas por fraude, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha: nove dirigentes da Fifa e cinco executivos de empresas ligadas ao futebol.
O grupo é acusado de armar um esquema de corrupção com propinas de pelo menos US$ 150 milhões de dólares (mais de R$ 470 milhões), que existe há pelo menos 24 anos.
AFP
Foram indiciadas 14 pessoas por fraude, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha: nove dirigentes da Fifa e cinco executivos de empresas ligadas ao futebol.
"O indiciamento sugere que a corrupção é desenfreada, sistêmica e tem raízes profundas tanto no exterior como aqui nos Estados Unidos”, disse a procuradora-geral Loretta Lynch. "Essa corrupção começou há pelo menos duas gerações de executivos do futebol que, supostamente, abusaram de suas posições de confiança para obter milhões de dólares em subornos e propina."
A nota divulgada pela Justiça americana afirma ainda que investiga suposto pagamento e recebimento de suborno e propina em um acordo de patrocínio "da CBF com uma grande fabricantes de roupas esportivas dos EUA", na seleção do país anfitrião da Copa do Mundo de 2010 e nas eleições presidenciais da FIFA em 2011.
“Que fique claro: este não é o último capítulo na nossa investigação”, disse o procurador americano Kelly T. Currie, durante o anúncio dos envolvidos no esquema de corrupção.
A empresa de J. Hawilla é a atual responsável pelos direitos de torneios como a Copa Libertadores, passes de jogadores como o argentino Conca e o brasileiro Hernanes, dona de times como o Estoril Praia, de Portugal, e pelas vendas de camarotes do Allianz Parque, estádio do Palmeiras, em São Paulo.
A Traffic teve exclusividade na comercialização de direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em 2014. O empresário brasileiro também foi o responsável pelo contrato celebrado em 1996 entre a Nike e a seleção brasileira - alvo de uma CPI, encerrada em junho de 2001 sem desdobramentos práticos.
Em 2008, J. Hawilla foi eleito o 56º homem mais influente do futebol mundial pela revista britânica World Soccer.
Marin e Margulies
José Maria Marin, presidente da CBF até o mês passado, é outro brasileiro entre os detidos pela polícia americana. Aos 83 anos, tem fama de ter subido na carreira por ser "o homem certo no lugar certo".
Marin já foi governador biônico de São Paulo durante a Ditadura Militar, deputado estadual paulista e vereador paulistano. Atualmente, ele é filiado ao PTB.
Assumiu o governo de São Paulo em 1982, quando o então governador Paulo Maluf foi disputar o cargo de deputado federal.
Também chegou à Presidência da CBF com uma renúncia, quando Ricardo Teixeira deixou o cargo por problemas de saúde e pressionado por denúncias de irregularidades à frente da entidade. Conforme estatuto da CBF, como Marin era o vice mais velho, ele assumiu a presidência da federação, integrando também a chefia do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014.
Logo que assumiu o cargo, Marin já foi reconhecido por gafes: já confundiu Ronaldo com Romário e, em 2012, foi flagrado colocando no bolso uma das medalhas da Copa São Paulo de Futebol Júnior durante a premiação aos jogadores vencedores do torneio.
O terceiro brasileiro investigado pelo FBI é José Margulies, de 75 anos, proprietário das empresas Valente Corp. e Somerton Ltd., ambas ligadas a transmissões esportivas.
Segundo o departamento de Justiça, Margulies supostamente atuou como intermediário para facilitar pagamentos ilegais entre executivos de marketing esportivo e autoridades do futebol.
Margulies aparece na lista dos acusados pela Justiça americana - que inclui outras nove pessoas, mas não traz mais informações sobre os desdobramentos práticos das acusações.
Uma representante da Traffic Sports disse à BBC Brasil que não havia ninguém disponível para comentar o teor da nota, até a publicação desta reportagem.
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