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Mensagem
por Einsamkeit » Ter Jan 17, 2006 5:05 pm
Chocou-me naquele momento o pensamento de que mulheres e crianças estavam lá embaixo. Parecia que estávamos voando horas sobre um lençol de fogo – uma terrível fogueira vermelha com uma nevoeiro cinzento pairando sobre ela. Dei-me a comentar com a tripulação:"Oh Deus, esta pobre gente". Aquilo foi completamente desnecessário. Você não pode justificá-lo."
Roy Akehurst operador de bordo da RAF durante a destruição de Dresden, 13-14 de fevereiro de 1945
Foi então que, nos estertores da 2ª Guerra Mundial. tudo terminou numa só noite. Às 21h30m. de 13 de fevereiro de 1945, um barulho atrovoante tomou conta dos céus da cidade. Quase mil aviões Lancasters da RAF ( Real Força Aérea), a mando de sir Winston Churchill, tido até então como homem da cultura, começaram a descarregar a primeira leva de bombas sobre a cidade. Choveram lá do alto 1.478 bombas explosivas e mais 1.182 incendiárias. Em seguida foi a vez das fortalezas voadoras dos americanos, jogando uma carga de 1.800 bombas e outras tantas de magnésio para por fogo em tudo. Dresden, em poucas horas, viu-se transformada na maior fogueira do mundo. Um calor que ultrapassou a 800° incinerou ou asfixiou quase toda a população civil. Calcula-se que os mortos oscilaram de 35 a 135 mil vítimas , 80% delas eram mulheres, criança e idosos, visto que os homens estavam no fronte da guerra ( o número de mortos ultrapassou a todas as baixas civis inglesas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial, e foi quase equivalente aos de Hiroxima, abrasados em 6 de agosto daquele mesmo ano).
Nos dias seguintes, num arremate final do terror, aviões mosquitos da RAF, em vôos rasantes, varreram à metralha as estradas vizinhas, atulhadas com os sobreviventes em fuga, para mostrar-lhes que o inferno os perseguia também ali. No final de tudo, impressionantes pilhas de cadáveres retorcidos, com cem, com duzentos mortos cada uma, pirâmides humanas ainda fumegantes, espalhadas por toda a Dresden, disputavam em horror com os escombros de séculos de beleza e de história devoradas num par de horas.
Churchill, Cavaleiro da Rainha, Prêmio Nobel de literatura em 1953, que ordenou a dizimação da cidade, arrasou numa sentada só mais prédios e objetos de arte do que todos os bárbaros do passado, de Atila a Gengis Kã, justificou-se dizendo ao Marechal do Ar Arthur Harris, apelidado com todos os motivos de Harris Bombardeador, o executor da tétrica operação, que ele. Churchill, “ preferia a devastação total das cidades alemãs do que a perda de um só osso de um granadeiro inglês”. Pois não é que agora, mais de meio século depois daquela hecatombe, com Dresden quase toda recuperada, foi a vez das águas do Rio Elba virem a reclamar seus direitos de destruição?
Somos memórias de lobos que rasgam a pele
Lobos que foram homens e o tornarão a ser
ou talvez memórias de homens.
que insistem em não rasgar a pele
Homens que procuram ser lobos
mas que jamais o tornarão a ser...
Moonspell - Full Moon Madness