xandov escreveu:Só não entendo porque a FAB, se fosse o caso, não colaborou com a MB, que já tem capacitação em EW!
Conheci um Cap. de Fragata que me disse "se a MB tivesse um centro de pesquisas como o CTA, já estaríamos anos na frente." Eu digo que se a MB e a FAB conversassem mais sobre Guerra Eletrônica, ambas estariam já adquirindo independência tecnológica no assunto. Estrutura de pesquisa já existe, falta é o Ministério da Defesa ser gerido por alguém mais técnico e menos político, que entenda do assunto e queira o progresso das nossas FAs.
Segue uma alguns artirgos sobre este assuntos na FAB :
Despistamento contra radares monopulso
1 - Introdução
O radar monopulso é um tipo de radar que naturalmente oferece uma grande dificuldade para aplicações de contramedidas eletrônicas eficientes. O bloqueio eletrônico, técnica bastante eficaz contra os mais variados sistemas radar, não obtém um bom resultado contra este radar. Várias são as técnicas e equipamentos utilizados com o intuito de iludir este sistema, porém ainda são poucas as comprovações de resultados eficazes que apontem para a melhor técnica ou o melhor equipamento. Em contrapartida, os armamentos associados a esse sistema estão proliferando rapidamente, ao passo que não visualizo uma mobilização correspondente no desenvolvimento de sistemas capazes de se contrapor com eficiência a este sistema de detecção. A situação se agrava ainda mais quando se fala de Força Aérea Brasileira, já que o pouco que possuímos em termos de despistamento é representado pelo equipamento de contramedidas instalado na aeronave A-1 e, até mesmo ele, deixa uma lacuna no que diz respeito a radar monopulso.
2 - O Radar Monopulso
Para o entendimento do motivo pelo qual o radar monopulso possui uma capacidade inerente de proteção frente a contramedidas eletrônicas faz-se necessário analisar o seu funcionamento. Considerando um sistema típico de quatro cornetas, a transmissão de um sinal através dessas cornetas, gera um único pulso constituído por quatro feixes que serão recebidos independentemente em sua respectiva corneta. Durante a recepção é feita uma comparação de fases ou de amplitude do eco radar recebidos em cada corneta, e, através dela é obtida informação de azimute e de elevação do alvo. A informação de distância é obtida pelo tempo de retorno do pulso. A grande vantagem deste sistema reside no fato de o mesmo não depender de qualquer tipo de varredura para obter as informações que necessita para realizar o acompanhamento do alvo. Com a resposta de um único pulso o sistema já é capaz de atualizar seus computadores de forma a reposicionar o armamento, enquanto que radares que realizam varredura precisam de vários pulsos para isto. Outra grande vantagem proporcionada por este radar se encontra na possibilidade de utilização deste sistema em equipamentos que não dispõem de espaço para a consecução de algum tipo de varredura, como no caso de mísseis, onde antenas fixas são a solução para este problema.
3 - Bloqueio eletrônico
O bloqueio eletrônico é uma medida genericamente simples de ser implementada, porém o efeito desta forma de contramedidas contra este sistema é bastante característico. Ao direcionar um sinal de bloqueio convencional a um radar monopulso pode-se obter um resultado inverso ao que se deseja, uma vez que as antenas reconhecem diferenças de fase ou de amplitude do sinal de bloqueio e conseguem se guiar por este sinal, posicionando assim o armamento na direção do interferidor, aeronave esta que podia não ter sido detectada se não estivesse emitindo um sinal de grande potência como o de bloqueio. Cabe aqui ressaltar que este radar, quando é bloqueado, fica sem informação de distância real do alvo, pois o retorno radar da aeronave bloqueadora fica mascarado pelo sinal de bloqueio, o que não significa uma vantagem para a aeronave bloqueadora, já que um míssil só irá detonar se a sua espoleta de proximidade for sensibilizada, e um sistema diretor de tiro, que estará direcionando um armamento com trajetória tensa, terá o alcance limitado apenas pela capacidade do canhão. Por este motivo qualificamos este sistema como ''home on jamming'', isto é, que tem a capacidade de se guiar pelo bloqueio.
3 - Despistamento
Segundo Skolnik ( Radar handbook, 1990, p.9.5 ), o despistamento é uma intencional e deliberativa transmissão ou retransmissão de amplitude, freqüência, fase, ou outra modulação de um sinal intermitente ou contínuo com o propósito de confundir a interpretação ou de uso da informação por um sistema eletrônico.
3.1 - Despistadores mecânicos Alguns despistadores mecânicos podem oferecer uma boa eficácia no despistamento contra o radares monopulso. Os ''decoys'', como são conhecidos esses dispositivos, são plataformas projetadas para se assemelharem a um alvo real, com o objetivo de quebrar o ''lock on'' do radar . O ''decoy'' deve possuir uma seção reta radar e uma performance em velocidade similar a do alvo verdadeiro e, por este motivo, normalmente utilizam-se ''decoys'' rebocáveis. O ''decoy'' pode apenas simular a aeronave despistadora ou ser também uma fonte transmissora autônoma ou controlada pela aeronave através do seu cabo, onde normalmente se utiliza fibra ótica, revestida com kevlar, para a transmissão dos dados. Os ''decoys'' ativos podem ser considerados um despistador mecânico e eletrônico ao mesmo tempo, devido a sua capacidade de produzir contramedidas eletrônicas capazes de seduzir o armamento na sua direção. Um ''decoy'' ativo rebocável utilizado em larga escala, o
AN/ALE-50 AAED, equipa o
F-16 e o B-1B americanos. Este dispositivo, de acordo com os americanos, garante a sobrevivência destas aeronaves contra mísseis com guiamento radar, mísseis esses quase em sua totalidade associados a radares monopulso. A posição de um ''decoy'' rebocável, quando distendido, deve ser a uma distância segura da aeronave, pois freqüentemente este despistamento induz o míssil a aproar o meio do caminho entre a aeronave e o ''decoy''. O despistamento utilizando este dispositivo é mais efetivo quando se usa uma seqüência de ''chaff'' antes de sua distensão, com o intuito de causar uma confusão temporária no ''seeker'' do míssil e, quando o míssil for readquirir o alvo, será induzido a ''trackear'' o ''decoy''.
3.2 - Despistamento eletrônico
No âmbito dos despistamentos eletrônicos, as técnicas empregadas podem ser divididas em duas classes. A utilização de uma antena auxiliar, associada ao sistema, com polarização ortogonal a da antena principal poderia anular a recepção de sinais com polarização cruzada. A utilização de antenas planares também anula esse efeito. A Marinha do Brasil, através do
IPQM (Instituto de Pesquisa da Marinha), desenvolveu um equipamento de contramedidas eletrônicas para navios que utiliza a técnica da polarização cruzada para radares monopulso. O equipamento
MAE ET/SLQ-2 realiza um despistamento em distância (RGPO) antes de entrar com um sinal de alta potência de polarização cruzada para efetivar o despistamento em ângulo.
As técnicas que exploram as deficiências de concepção de um sistema monopulso se dividem em quatro classes: o despistamento em formação, o despistamento alternado em formação, o despistamento cruzado em fase ou ''cross-eye'' e o despistamento por reflexão do solo.
O despistamento em formação consiste na utilização de dois ou mais bloqueadores, necessariamente posicionados na mesma célula de resolução em distância do radar e dentro do feixe da antena, realizando um bloqueio de mesma potência ao mesmo tempo. O radar vítima será induzido a apontar para uma posição média entre os bloqueadores, pois o somatório do sinal recebido possui um aparente ângulo de chegada que o direciona para este ponto.
O despistamento por reflexão do solo é uma técnica utilizada contra mísseis semi-ativos onde o bloqueio é direcionado para baixo em ângulo raso com a terra com o objetivo de induzir o míssil a seguir o sinal refletido do solo, abandonando o acompanhamento da aeronave.
Dos tipos de despistamentos que se utilizam deficiências de concepção dos radares monopulso vistos, tem-se que quase todos dependem de condições nem sempre fáceis de se obter, exceção feita à técnica de ''cross-eye'', onde as dificuldades maiores são de ordem tecnológica.
4 - Os despistadores na FAB
No atual contexto mundial, a auto-proteção eletrônica é uma condição imprescindível para a sobrevivência de uma aeronave realizando qualquer missão em um teatro de operações moderno. A preocupação da Força Aérea Brasileira com esta necessidade, embora recente, é grande, porém esbarra nas grandes dificuldades financeiras pelas quais o país atravessa. A realidade da força está bem aquém da desejada, sendo necessário uma razoável disponibilização de recursos para modernização da força. Sem considerar essa problemática financeira, a capacitação eletrônica da FAB deve raciocinar com a utilização de despistadores mecânicos e eletrônicos de última geração com o objetivo de fazer frente as ameaças encontradas no espectro eletromagnético. O programa
AMX, embora já não tão recente, já pensou em dotar esta aeronave com uma boa capacidade de auto-proteção eletrônica. O
A-1 possui um despistador eletrônico que é capaz de realizar vários tipos de despistamento.
O ''Active Eletronic Countermeasures'', AECM ELT 553 MK I, que equipa a aeronave atua contra vários tipos de radares e, pode-se dizer que o que atualmente temos de melhor na força para a essa finalidade, porém mesmo esse equipamento ainda possui algumas restrições.
5 - Conclusão
Os radares monopulso são os sistemas mais perigosos para as aeronaves, haja vista sua peculiar proteção a contramedidas eletrônicas. A maior parte das técnicas de despistamento contra este sistema existentes hoje em dia possuem eficiência duvidosa, porém não se pode imaginar um conflito em que não se necessite uma proteção contra ele, por isso, é justificável uma grande preocupação com este problema. A Marinha, talvez por se encontrar num estágio de desenvolvimento na área da guerra eletrônica acima da FAB, já reconhece a importância e é capaz de se proteger contra esses radares e, logicamente, acredito que não seja difícil a transmissão dessa tecnologia. Apesar de ser o A-1 a aeronave citada como exemplo, a importância em se capacitar eletronicamente uma aeronave deve ser igualmente dividida por toda a força, pois cada uma terá um papel relevante caso seja necessária a sua utilização real num conflito e, apesar de muitos hoje condenarem a necessidade de se ter uma Força Aérea moderna num país de paz, muitos serão também os que cobrarão eficiência no caso de uma guerra.
http://www.ele.ita.cta.br/~correa/pagina8.htm