Assim caminha o país do futuro!
O Brasil precisa ter governantes com vergonha na cara,
honestos e trabalhadores, refletindo assim a imagem do povo brasileiro
COSME DEGENAR DRUMOND
degenar@sti.com.br
Nunca imaginei que nessa altura da vida eu pudesse ver o Brasil tão vilipendiado como o de hoje. A miséria é dramática, sobretudo nos sertões. A polícia prende, mas se enrola no manto da desonestidade. A malha viária apodrece, a saúde agoniza, a educação está mal, a insegurança é pública e a previdência maltrata. Magistrados vendem decisões, invadem-se propriedade alheia, o salário-mínimo é humilhante e o desemprego é grande.
Enfim, chega a ser covardia a autoridade permitir tamanho quadro social lastimável.
Desde o governo Sarney (1985-1990), parlamentares, prefeitos, governadores e até presidente da República espoliaram os cofres públicos de tal maneira que deixaram o tecido social esgarçado. A corrupção é uma praga e tem dificultado a consecução dos grandes projetos de alcance social. As raízes desse mal estão no tempo em que Salvador Correia de Sá governou o Rio de Janeiro, na segunda metade do século XV e meteu a mão no bolso do contribuinte. De sobra, transmitiu o vírus da roubalheira para o filho, Salvador Correia de Sá e Benevides, que também governou o Rio, em três ocasiões distintas, até o ano de 1661.
Em 1725, o governador Luis Vaia Monteiro, o Onça (daí a origem de "no tempo do Onça"), assombrado com o assalto ao Tesouro, quis dar um basta à roubalheira. Mas sua ação contra os corruptos contrariou a Câmara, às ordens religiosas e a própria Provedoria da Fazenda. O governador passou a sofrer intrigas e acusações de adversários políticos e acabou afastado do governo, em 1732, enlouquecendo, tamanho foi o seu desgosto por ter enfrentado os desonestos. Outros governantes lutaram contra o assalto ao dinheiro público. Não acabaram com a corrupção, mas a sanha desonesta diminuiu. Com a chegada de d. João VI, a gatunagem cresceu de novo. O próprio regente limpou os cofres do Banco do Brasil em 1822, ao voltar para Portugal.
A corrupção causa as mazelas sociais e prospera nos três níveis da administração pública. É necessário eliminá-la de vez do cenário nacional. Ao drenar os cofres públicos, o político corrupto sabe que crianças vão morrer à mingua, que a escola não terá qualidade, que a saúde pública será deplorável, que a violência aumentará e por aí afora. Mas não se importa com isso. A corrupção facilita a luta por madeira ou por pedaço de terra. No final, a madeira vira esquife e a terra, sepultura.
É claro que existem homens públicos honestos, comprometidos com a melhoria da qualidade de vida da população. Todavia, pouco se destacam. O atual sistema está viciado demais. É preciso reverter a situação.
A corrupção asfixia o país. O desemprego passa ao largo dos políticos desonestos, cujos parentes não precisam ter canudo para justificar o alto cargo que ocupam e a gorda remuneração que embolsam. O cidadão comum, em especial o jovem que entra no mercado de trabalho, este, coitado, com ou sem título, sofre até encontrar emprego. Muitas vezes desvia-se de sua vocação original. O investimento aplicado na universidade se perde.
Para o político corrupto, o contribuinte tem duas vidas: a primeira, a que ele deveria cuidar bem, não vale nada; a segunda não é responsabilidade dele, pois a Deus pertence. A dele próprio, contudo, a primeira, claro, vale muito. Por isso ele avança no pirão alheio. Ao baixar à sepultura, seus pares discursam um monte de asneiras e elogios a respeito dele. Na morte, o canastrão vira herói, ainda que seja no tempo exato de duração do evento fúnebre.
A corrupção cresce como tiririca e imprime maior velocidade à miséria nos grandes centros urbanos e no interior esquecido pelo poder político, onde a pobreza é enorme. A calamidade no sertão é forte e visível. Não há saneamento básico nem hospital aparelhado ou escola decente. Meninas de dez, onze, doze anos vagueiam pelas ruas, em restaurantes, hotéis e na beira dos rios oferecendo o corpo em troca de cinco reais. Não se ouve falar em assalto a mão armada, pelo menos no nível que é praticado nas grandes cidades. Afinal, o sertanejo nada tem a dar ao assaltante, a não ser o seu título de eleitor. O delito que pratica é alavancado pela miséria. Dignidade e cidadania não são levadas a sério. E os discursos em favor do pobre continuam alimentando a corrupção na política.
Curiosamente, o que mais se vê nessas plagas são camisetas de propaganda política vestindo os humildes. E o nome do parlamentar está lá, na roupa miserável! O do partido dele também! Vi isso recentemente, quando acompanhei pelo interior do Amazonas uma missão do Correio Aéreo Nacional (CAN), em reportagem para Tecnologia & Defesa.
Registrei lixo hospitalar decorando entrada de hospital. Vi placenta sendo disputada por cães de rua, a poucos metros de uma fila de mães sofridas em busca de atendimento médico para suas crianças abatidas pela desnutrição. Não há profissionais de saúde em número suficiente nem medicamentos. Em muitas cidades, as Forças Armadas preenchem a lacuna e fazem a diferença entre a vida e a morte. As moradias são palafitas. O esgoto corre ao ar livre. Os urubus enegrecem o teto das comunidades abandonadas. O contraste é real entre quem tem, quem manipula e quem não tem. E o butim se consagra no poder político.
Nesses lugares também existem sonhos que poderiam se tornar realidade. Saber assinar o nome é importante, mas apenas isso não ajuda ninguém a sair da miséria. É preciso haver escola, escola e escola, e curso técnico também. A ciência e a tecnologia andam devagar no país e falta a interação indústria-universidade, coisa que o poder político deveria estimular.
Se não bastasse o quadro nacional degradante, agora vem o referendo sobre a proibição ou não do comércio de armas e munições no país. Retirar da população ordeira o direito de ter arma em casa para se defender da violência é um tiro na democracia, uma violência contra os direitos individuais e uma prova cabal da ineficiência do Estado em resolver a grave questão da insegurança. A prevalecer a proibição, mais uma vez será o pobre quem pagará a conta. Queira Deus que não seja com a própria vida!
Os especialistas acreditam que com o desarmamento o criminoso se tornará mais ousado. O que inibe o criminoso é a possibilidade que tem de vir a ser morto pela vítima ou pela polícia. Cadeia não o intimida. Aí estão os deputados envolvidos com o mensalão a provar que prisão não assusta nem mesmo o político corrupto.
Em recente discurso o presidente da República disse que nos últimos trinta anos não se prendeu tanto corrupto no Brasil como no seu governo. Isso é verdade, uma evidência de que ou a polícia federal nunca trabalhou antes ou a corrupção aumentou neste governo.
O Brasil tem um presidente cujos alguns aliados e assessores foram laçados pela corrupção. Na chefia da Suprema Corte, há um ministro que deixa a impressão de que ainda está no Parlamento. Na presidência da Câmara se encontra o último comunista brasileiro admirador de saci-pererê. À frente do Senado, um ex-aliado de mandatário corrupto que acabou na lixeira. O Brasil merece lideranças melhores.
Os países que adotaram o desarmamento deveriam servir de espelho aos que tendem a trilhar idêntico caminho no Brasil. Na União Soviética, Turquia, Guatemala, Uganda, Camboja, Austrália, Reino Unido e Austrália, os resultados foram desastrosos. Tudo porque os criminosos ignoraram a nova lei. No Reino Unido, a polícia andava desarmada. Pesquisa do Instituto Inter-regional de Estudos de Crime e Justiça da ONU revelou que Londres passou a ser a capital do crime na Europa. Com um ano de desarmamento, os índices de assaltos à mão armada cresceram na Inglaterra e País de Gales. A polícia britânica voltou a ser armada.
Há quase trinta anos atuo no setor de Defesa. Nesse período, eu tive conhecimento de que o comércio legal de armas é que abastece a criminalidade. Fiquei sabendo agora pela propaganda política. Pura balela! Quem compra arma legal são os cidadãos honrados, depois de cumprir rigorosa burocracia. Os rifles de bom calibre que são vistos nas mãos dos bandidos chegam ao Brasil trazidos pela incompetência do Estado em cuidar das fronteiras do país.
O Brasil é um país do futuro, certamente. Para isso é preciso que o próprio brasileiro tenha os seus direitos respeitados pelos governantes. E que não caia em contos do vigário!
Essa é de matar! Mesmo! Não consigo acreditar que alguém, lendo isso aí acima, ainda vote SIM e permita que essa gente nos desarme...