Noticias de Portugal

Área para discussão de Assuntos Gerais e off-topics.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 37823
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceram: 2602 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12811 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Mar 28, 2024 2:54 pm

Já aqui falado várias vezes:

PRR: Costa deixa a Montenegro cinco compromissos por cumprir para pedir novo cheque
Novo Governo herda cinco marcos e metas por cumprir antes de poder solicitar o desembolso integral da quinta tranche a que o país tem direito do Plano de Recuperação e Resiliência. Além da reforma do Estado e os incentivos ao mercado de capitais, há mais três medidas que ficaram por realizar.

Imagem

Joana Almeida JoanaAlmeida@negocios.pt


O Governo cessante deixa ao novo Executivo cinco compromissos por cumprir para que possa ser solicitado o quinto pedido de pagamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), no valor de cerca de 2,7 mil milhões de euros. O balanço da execução foi divulgado esta quinta-feira pela estrutura de missão Recuperar Portugal, que contratualiza e monitoriza a execução do PRR.

A entidade liderada por Fernando Alfaiate refere, na comunicação de balanço da execução, que está a recolher, junto do Governo e das entidades públicas responsáveis pela execução da chamada "bazuca" europeia, "todas as evidências necessárias relativas aos marcos e metas estabelecidos" com Bruxelas. Só depois de concluída essa avaliação informal, o novo Governo poderá submeter o quinto pedido de desembolso do PRR.

Acontece que, caso decida avançar com o quinto pedido de desembolso assim que estiver concluída essa avaliação, Portugal não terá acesso, pelo menos para já, à totalidade das verbas previstas. Isso acontece porque ainda não foram completadas todas as metas e marcos que dizem respeito ao novo pedido de desembolso, que pode ser formalmente solicitado à Comissão Europeia no arranque de abril.

Em vez disso, Portugal está apenas em condições de avançar com um pedido de desembolso parcial, como aconteceu quando o Governo que agora cessa funções avançou com o terceiro e quarto pedidos de pagamento em simultâneo. Em alternativa, se tiver disposto a esperar, o novo Governo terá de cumprir primeiro os compromissos que o Executivo de António Costa não conseguiu fechar a tempo.

Para o pedido integral da quinta tranche do PRR, Portugal comprometeu-se a implementar 42 marcos e metas, referentes a 13 reformas e 29 investimentos. Desses 42 marcos e metas, apenas 13 contam já com validação informal concluída junto da Comissão Europeia. Por outro lado, 24 estão ainda na fase de "recolha e/ou envio de evidências, para posterior submissão" a Bruxelas, "embora com validações informais já parcialmente concretizadas, mas ainda não fechadas".

Os restantes marcos e metas (cinco) estão incompletos, o que não permite, por enquanto, avançar com um pedido de desembolso integral das verbas a que Portugal tem direito nem aumentar a execução, que assenta numa lógica de compromisso, para 32%.

O que está por cumprir?

Por cumprir está a reforma do modelo de funcionamento do Estado e da administração pública, cujo decreto-lei foi aprovado, na generalidade, esta segunda-feira no último Conselho de Ministros liderado por António Costa. Nesse mesmo Conselho de Ministros, foi também aprovada uma proposta de lei com vista ao desenvolvimento do mercado de capitais.

Alegando que o "trabalho de casa está feito", António Costa defendeu, no final do último Conselho de Ministros, que, por ser tratar de uma proposta de lei, "não é possível" o desenvolvimento do mercado de capitais por a Assembleia da República ter sido dissolvida. Já no caso da reforma do Estado, defendeu que "não seria cordial condicionar a organização dos órgãos de apoio ao Governo" quando o anterior se preparar para cessar funções.

Mas, além desses dois dossiers que António Costa diz já ter deixado prontos a aprovar pelo novo Executivo assim que tomar posse, há outras duas medidas que a estrutura de missão Recuperar Portugal diz que não estão completas: o lançamento do primeiro leilão para a compra centralizada de biometano sustentável e atribuição da licença, por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), relativa ao Regime Unificado dos Fluxos Específicos de Resíduos (UNILEX), cujo diploma foi promulgado a 11 de março.

Já no que toca aos investimentos, a Recuperar Portugal dá conta de que falta ainda apresentar a conclusão do processo sobre a verificação da conformidade ambiental do aproveitamento hidráulico de fins múltiplos do Crato, para que este investimento possa arrancar. Este investimento inclui a "adoção da conceção atualizada da barragem (DCAPE) e a entrada em funcionamento da barragem", num custo total de 141 milhões de euros.

https://www.jornaldenegocios.pt/economi ... ovo-cheque




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 37823
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceram: 2602 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12812 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Mar 28, 2024 5:51 pm

Nuno Melo, o novo ministro da Defesa: antigo Polícia Militar, colecionador de armas, deputado “brigão”

O líder do CDS apanha um momento crítico na Defesa Nacional, com problemas que não se resolvem por decreto de um dia para o outro: é impossível reverter a sangria das fileiras sem tempo e medidas caras, conter a desmotivação e garantir que os militares não ficam atrás das forças de segurança na atribuição de subsídios de risco. Será sempre comparado com Paulo Portas, 20 anos depois.

Vítor Matos
Jornalista

Nuno Melo tem um conjunto de características que, à partida, podem agradar aos militares: cumpriu o Serviço Militar Obrigatório e foi comandante de pelotão, deu instrução como alferes e exerceu como Polícia Militar, sabe manejar vários tipos de armas - aliás, coleciona armas de caça e armas antigas - é líder de um partido e tem esse peso político (apesar de não ser ministro de Estado e de o CDS ser hoje mais júnior do que no tempo de Paulo Portas, depois de ter recuperado dois deputados na barriga de aluguer do PSD).

No campo da linguagem, não terá de se adaptar para compreender e falar o jargão militar. Tem larga experiência internacional no plano europeu, foi eurodeputado durante 15 anos, e poderá ter a sensibilidade para tentar convencer o primeiro-ministro a atingir mais cedo os 2% de investimento em Defesa comprometidos com a NATO e que o Governo de António Costa adiou deste ano para 2030. Em tempo de guerra na Europa, essa será uma das questões a avaliar, uma vez que Luís Montenegro não se comprometeu em acelerar os novos prazos na campanha eleitoral.

https://expresso.pt/politica/governo/20 ... o-2e37ee5d




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12813 Mensagem por P44 » Sex Mar 29, 2024 8:07 am

Estou muito esperançoso. ::)




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60588
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6341 vezes
Contato:

Re: Noticias de Portugal

#12814 Mensagem por Túlio » Sex Mar 29, 2024 3:06 pm

P44 escreveu: Sex Mar 29, 2024 8:07 am Estou muito esperançoso. ::)

Vai dar tudo certo, fiques tranquilo... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

Mas e o que andam os ministros a fazeire?




(((deviam ter usado a viatura do Cabrita, não derretia neve alguma :twisted: )))


[018] [018] [018] [018]




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12815 Mensagem por P44 » Sáb Mar 30, 2024 6:05 am

OBSERVADOR (Premium)
E agora?

Imagem

A segregação irracional do Chega deixa-o livre para acentuar a sua pulsão de cavalgar todo o descontentamento.

Touradas parlamentares nada têm de inédito, a não ser que nunca se tivessem visto no Parlamento Britânico ou na Câmara de Representantes americana, duas instituições indiscutivelmente democráticas. Cá por casa era melhor evitá-las, que a população já tem, sobre políticos, opinião suficientemente negativa.

Que se passou? Nesta altura já é possível concluir que: i) Terá havido um entendimento entre o ainda líder da bancada do PSD e o líder da do Chega, segundo o qual um apoiava Pacheco de Amorim para vice-presidente da Assembleia da República e o outro Aguiar-Branco para presidente; ii) Semelhante entendimento terá sido percebido pelo Chega como um acordo exclusivo, quando outros partidos terão sido abordados; iii) André Ventura trombeteou o resultado (a distinção entre “entendimento” e “acordo” é inteiramente irrelevante); iv) Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, Nuno Melo, vice-líder da AD, e outros da área da AD, vieram desmentir a existência do tal entendimento; v) Nem Montenegro nem Miranda informaram Melo e Rangel dos contornos da situação, ou informaram e estes concluíram que o que houve foram apenas conversas sem carácter de exclusividade; vi) É possível que tudo isto não passe de erros de percepção mútua, como disse Mário Centeno em 2017 a propósito de uma trapalhada olvidável com a Caixa Geral de Depósitos; vii) Tratar Ventura assim talvez resultasse com outros, imaginar que engoliria o destrate é tolice ou cegueira; viii) A solução a que se chegou, mesmo que nas circunstâncias de impasse tivesse sido a melhor, reforça o capital de queixa do Chega, que este vai explorar até ao enjoo.

Nada disto, que tem um carácter incidental e será esquecido, altera o pano de fundo. Qual é ele?

É melhor não ouvir muito alguns eleitos do Chega, que eles foram recrutados fora do aquário político e ainda não tiveram tempo para uma esfregadela com polirina retórica, entregando-se às vezes a uma toada colérica (ver aqui, p. ex., ao minuto 14,40). Os da frente da bancada, digo, que os de trás são como os outros dos grandes partidos: estão ali umas cabeças mas para entre a família, que o eleitorado nem os conhece, e num ou noutro caso graças a Deus.

Nas ideias é igual: Castração química? Prisão perpétua? Reforço dos poderes das polícias? Reforma da Justiça com diminuição das garantias (com confisco, p. ex., dos bens dos acusados de corrupção, isto é, com penas antes das sentenças)? Baixa de impostos conjugada com aumento permanente das despesas do Estado com salários de grupos vociferantes, num pano de fundo de aumento de receitas fiscais delirante? Etc.?

Isto, uma visão estreita estrategicamente errada dos interesses de sobrevivência dos partidos de direita e um condicionamento geral da opinião publicada pela suposta infrequentabilidade do Chega levaram ao “não é não”.

Sobre o “não” disse antes das eleições o que (me) convinha. Ao que acrescento agora que quem julga que a ascensão entre nós, ecoando o que já antes vinha sucedendo lá fora, de um partido inequivocamente de direita é um fenómeno passageiro do tipo do partido eanista de há umas décadas, está enfiando um dedo num olho até ao cotovelo.

Uma parte do eleitorado cansou-se dos serviços públicos que o são cada vez menos; do mundo oficial que soterra em cansado e impotente paleio a percepção de que os filhos vão viver, se ficarem cá, pior do que os pais; da Justiça de faz-de-conta; dos imigrantes que surdem de debaixo das pedras como se fosse uma fatalidade sem remédio os filhos que as portuguesas não têm, e os das que os têm mas fogem daqui, serem substituídos por filhos de estrangeiras que, em muitos casos, dificilmente deixarão de constituir guetos inassimiláveis; e da difusa percepção geral de que, numa Europa que perde lugares no mundo, Portugal perde-os na Europa.

Tudo isto e mais é o resultado de décadas de governos de esquerda. E até mesmo a saudade do tempo cavaquista do crescimento convergente assenta no equívoco de que o que então foi feito, isto é, a simples liquidação de uma parte do PREC económico, que Cavaco operou com mérito, pode hoje ser reproduzido.

O cavaquismo, a saber, um módico de liberalização da economia combinado com afluxo de fundos e a integração europeia, funcionou porque era um choque positivo com a realidade de então, que agora inexiste. E essa mesma integração vem criando mal-estar por toda a parte, ainda que aqui menos por não sermos o pobre da má-resposta, porque as populações vêm-se lembrando que as identidades nacionais não são bem uma antiqualha que a classe política europeia pode pontapear por ser depositária de uma procuração que ninguém lhe passou.

A direita veio para ficar, o resultado das eleições diz, para quem o souber ler, isso. Que venha com exageros está na ordem natural das coisas. Limar esses exageros, e integrar o Chega num novo xadrez em que o país da opinião, dos costumes, dos poderes, da legislação, das instituições, da alternância, deixe de ser uma coutada de mundividências de esquerda (isto é, estatismo, engenharia social completa com doutrinação de crianças, impostagem sufocante da iniciativa privada, criação de grupos sociais permanentes dependentes das migalhas orçamentais, genuflexão perante delírios woke e igualitaristas importados de universidades americanas, e um longo etc.), deveria ser o norte das novas atitudes políticas.Vai ser assim?

(continuação do resto do artigo):
Spoiler!

Ninguém sabe, e eu menos ainda, se o Governo AD é para durar dois meses ou dois anos; e também não se adivinha a jigajoga parlamentar, se para fazer passar leis se encosta preferencialmente à direita ou à esquerda, ou se tem dias. Não se adivinha mas vai-se desenhando a tese de que as famosas reformas, que Luís Aguiar-Conraria acha que não se devem fazer porque, com Ventura e o Chega, seriam naturalmente um desastre, são desejáveis desde que, como diz António Barreto, com “coligação das forças políticas centrais e moderadas”.

Tradução, necessária para a correcta interpretação dos dialectos destes dois magistrados da opinião: Fazer melhor do que os socialistas é viável apenas no caso de os socialistas serem outros, coisa que não é possível porque perderam as eleições, e ademais é só nuvens negras no horizonte, diz um; e lá que perderam perderam, diz o outro, mas o melhor então é fazer uma aliança com eles para reformarem agora o que não reformaram nos últimos oito anos, no governo minoritário porque tinham as mãos atadas e no maioritário por falta de vagar, supõe-se. “Coligação das forças políticas centrais e moderadas? Está nas cartas. Mas há quem não queira ver”, diz Barreto, com duas fundas rugas de preocupação cavadas na fronte inspirada.

Ambos respeito, e de um sou amigo, mas convém ter claro que não há reformas que valha a pena fazer para as quais o PS seja útil (salvo a revisão da Constituição, que não é urgente e, talvez, a da Justiça), pela muito boa razão de que reformar é demolir o Estado socialista na sua floresta de “serviços” públicos, na sua diarreia legislativa e regulamentar, na sua vénia ao modernismo acéfalo de inspiração progressista, no seu patrocínio de uma Autoridade Tributária omnipotente e mafiosa, no seu permanente vezo de identificação entre propriedade pública e serviço público, na sua pretensão de escolher as empresas com futuro e em muito mais – no seu intervencionismo, em suma.

Não se sabe se o Chega está à altura desse papel reformista, apenas que o PS não está. E sabe-se também que a direita, isto é, a vontade de mudança, ganhou esmagadoramente as eleições. Não fazer nada para além do simples pagamento de promessas (em si mesmas muito perigosas e que deverão ser caldeadas por medidas de racionalização e poupança – mas disso não se trata aqui) será uma denegação da esperança.

Só isto? Não, há mais e de índole prática: Governar é escolher e escolher é desagradar a alguns no imediato. Ou, se não for assim, desagradar à maioria a prazo. A segregação irracional do Chega deixa-o livre para acentuar a sua pulsão de cavalgar todo o descontentamento, resolver todo o imbróglio, ultrapassar toda a dificuldade a golpes de simplismo – e crescer. Crescer: precisamente o principal motivo pelo qual os partidos tradicionais de direita, incluindo o meu, o olham de viés. Dos outros nem falo, que ou são associações folclóricas, como o Livre e o PAN, ou comunistas na versão fóssil, como o PCP, ou na milenarista como o Bloco.

Vamos ver, como dizia o ceguinho. Para já, porém, parece haver um número excessivo de estrábicos.




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60588
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6341 vezes
Contato:

Re: Noticias de Portugal

#12816 Mensagem por Túlio » Sáb Mar 30, 2024 8:41 am

P44 escreveu: Sáb Mar 30, 2024 6:05 am OBSERVADOR (Premium)
E agora?

Imagem

A segregação irracional do Chega deixa-o livre para acentuar a sua pulsão de cavalgar todo o descontentamento.

Touradas parlamentares nada têm de inédito, a não ser que nunca se tivessem visto no Parlamento Britânico ou na Câmara de Representantes americana, duas instituições indiscutivelmente democráticas. Cá por casa era melhor evitá-las, que a população já tem, sobre políticos, opinião suficientemente negativa.

Que se passou? Nesta altura já é possível concluir que: i) Terá havido um entendimento entre o ainda líder da bancada do PSD e o líder da do Chega, segundo o qual um apoiava Pacheco de Amorim para vice-presidente da Assembleia da República e o outro Aguiar-Branco para presidente; ii) Semelhante entendimento terá sido percebido pelo Chega como um acordo exclusivo, quando outros partidos terão sido abordados; iii) André Ventura trombeteou o resultado (a distinção entre “entendimento” e “acordo” é inteiramente irrelevante); iv) Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, Nuno Melo, vice-líder da AD, e outros da área da AD, vieram desmentir a existência do tal entendimento; v) Nem Montenegro nem Miranda informaram Melo e Rangel dos contornos da situação, ou informaram e estes concluíram que o que houve foram apenas conversas sem carácter de exclusividade; vi) É possível que tudo isto não passe de erros de percepção mútua, como disse Mário Centeno em 2017 a propósito de uma trapalhada olvidável com a Caixa Geral de Depósitos; vii) Tratar Ventura assim talvez resultasse com outros, imaginar que engoliria o destrate é tolice ou cegueira; viii) A solução a que se chegou, mesmo que nas circunstâncias de impasse tivesse sido a melhor, reforça o capital de queixa do Chega, que este vai explorar até ao enjoo.

Nada disto, que tem um carácter incidental e será esquecido, altera o pano de fundo. Qual é ele?

É melhor não ouvir muito alguns eleitos do Chega, que eles foram recrutados fora do aquário político e ainda não tiveram tempo para uma esfregadela com polirina retórica, entregando-se às vezes a uma toada colérica (ver aqui, p. ex., ao minuto 14,40). Os da frente da bancada, digo, que os de trás são como os outros dos grandes partidos: estão ali umas cabeças mas para entre a família, que o eleitorado nem os conhece, e num ou noutro caso graças a Deus.

Nas ideias é igual: Castração química? Prisão perpétua? Reforço dos poderes das polícias? Reforma da Justiça com diminuição das garantias (com confisco, p. ex., dos bens dos acusados de corrupção, isto é, com penas antes das sentenças)? Baixa de impostos conjugada com aumento permanente das despesas do Estado com salários de grupos vociferantes, num pano de fundo de aumento de receitas fiscais delirante? Etc.?

Isto, uma visão estreita estrategicamente errada dos interesses de sobrevivência dos partidos de direita e um condicionamento geral da opinião publicada pela suposta infrequentabilidade do Chega levaram ao “não é não”.

Sobre o “não” disse antes das eleições o que (me) convinha. Ao que acrescento agora que quem julga que a ascensão entre nós, ecoando o que já antes vinha sucedendo lá fora, de um partido inequivocamente de direita é um fenómeno passageiro do tipo do partido eanista de há umas décadas, está enfiando um dedo num olho até ao cotovelo.

Uma parte do eleitorado cansou-se dos serviços públicos que o são cada vez menos; do mundo oficial que soterra em cansado e impotente paleio a percepção de que os filhos vão viver, se ficarem cá, pior do que os pais; da Justiça de faz-de-conta; dos imigrantes que surdem de debaixo das pedras como se fosse uma fatalidade sem remédio os filhos que as portuguesas não têm, e os das que os têm mas fogem daqui, serem substituídos por filhos de estrangeiras que, em muitos casos, dificilmente deixarão de constituir guetos inassimiláveis; e da difusa percepção geral de que, numa Europa que perde lugares no mundo, Portugal perde-os na Europa.

Tudo isto e mais é o resultado de décadas de governos de esquerda. E até mesmo a saudade do tempo cavaquista do crescimento convergente assenta no equívoco de que o que então foi feito, isto é, a simples liquidação de uma parte do PREC económico, que Cavaco operou com mérito, pode hoje ser reproduzido.

O cavaquismo, a saber, um módico de liberalização da economia combinado com afluxo de fundos e a integração europeia, funcionou porque era um choque positivo com a realidade de então, que agora inexiste. E essa mesma integração vem criando mal-estar por toda a parte, ainda que aqui menos por não sermos o pobre da má-resposta, porque as populações vêm-se lembrando que as identidades nacionais não são bem uma antiqualha que a classe política europeia pode pontapear por ser depositária de uma procuração que ninguém lhe passou.

A direita veio para ficar, o resultado das eleições diz, para quem o souber ler, isso. Que venha com exageros está na ordem natural das coisas. Limar esses exageros, e integrar o Chega num novo xadrez em que o país da opinião, dos costumes, dos poderes, da legislação, das instituições, da alternância, deixe de ser uma coutada de mundividências de esquerda (isto é, estatismo, engenharia social completa com doutrinação de crianças, impostagem sufocante da iniciativa privada, criação de grupos sociais permanentes dependentes das migalhas orçamentais, genuflexão perante delírios woke e igualitaristas importados de universidades americanas, e um longo etc.), deveria ser o norte das novas atitudes políticas.Vai ser assim?

(continuação do resto do artigo):
Spoiler!

Ninguém sabe, e eu menos ainda, se o Governo AD é para durar dois meses ou dois anos; e também não se adivinha a jigajoga parlamentar, se para fazer passar leis se encosta preferencialmente à direita ou à esquerda, ou se tem dias. Não se adivinha mas vai-se desenhando a tese de que as famosas reformas, que Luís Aguiar-Conraria acha que não se devem fazer porque, com Ventura e o Chega, seriam naturalmente um desastre, são desejáveis desde que, como diz António Barreto, com “coligação das forças políticas centrais e moderadas”.

Tradução, necessária para a correcta interpretação dos dialectos destes dois magistrados da opinião: Fazer melhor do que os socialistas é viável apenas no caso de os socialistas serem outros, coisa que não é possível porque perderam as eleições, e ademais é só nuvens negras no horizonte, diz um; e lá que perderam perderam, diz o outro, mas o melhor então é fazer uma aliança com eles para reformarem agora o que não reformaram nos últimos oito anos, no governo minoritário porque tinham as mãos atadas e no maioritário por falta de vagar, supõe-se. “Coligação das forças políticas centrais e moderadas? Está nas cartas. Mas há quem não queira ver”, diz Barreto, com duas fundas rugas de preocupação cavadas na fronte inspirada.

Ambos respeito, e de um sou amigo, mas convém ter claro que não há reformas que valha a pena fazer para as quais o PS seja útil (salvo a revisão da Constituição, que não é urgente e, talvez, a da Justiça), pela muito boa razão de que reformar é demolir o Estado socialista na sua floresta de “serviços” públicos, na sua diarreia legislativa e regulamentar, na sua vénia ao modernismo acéfalo de inspiração progressista, no seu patrocínio de uma Autoridade Tributária omnipotente e mafiosa, no seu permanente vezo de identificação entre propriedade pública e serviço público, na sua pretensão de escolher as empresas com futuro e em muito mais – no seu intervencionismo, em suma.

Não se sabe se o Chega está à altura desse papel reformista, apenas que o PS não está. E sabe-se também que a direita, isto é, a vontade de mudança, ganhou esmagadoramente as eleições. Não fazer nada para além do simples pagamento de promessas (em si mesmas muito perigosas e que deverão ser caldeadas por medidas de racionalização e poupança – mas disso não se trata aqui) será uma denegação da esperança.

Só isto? Não, há mais e de índole prática: Governar é escolher e escolher é desagradar a alguns no imediato. Ou, se não for assim, desagradar à maioria a prazo. A segregação irracional do Chega deixa-o livre para acentuar a sua pulsão de cavalgar todo o descontentamento, resolver todo o imbróglio, ultrapassar toda a dificuldade a golpes de simplismo – e crescer. Crescer: precisamente o principal motivo pelo qual os partidos tradicionais de direita, incluindo o meu, o olham de viés. Dos outros nem falo, que ou são associações folclóricas, como o Livre e o PAN, ou comunistas na versão fóssil, como o PCP, ou na milenarista como o Bloco.

Vamos ver, como dizia o ceguinho. Para já, porém, parece haver um número excessivo de estrábicos.
Certos brazucas como este que vos fala têm ojeriza por pagar por aquilo que pode ser obtido de graça, e artigos "de opinião" estão sempre no topo da lista, eis que focados em influenciar o vulgo para determinados pontos de vista, assim, uns poucos cliques nos entregam pelo preço ideal, zero reais, o que a outros custa euros. Afinal, qual a razão para pagar pela opinião de alguém quando temos (ou podemos ter) a nossa própria?

Mas foi uma grata surpresa conhecer as ideias deste "gaijo", então ofereço outro artigo de sua lavra, mesmo sabendo que incorrerei na terrível ira eco-xiita antifa BLM do nosso ganda WOKEHEAD e suas ideias de "direita da esquerda" pré-formatadas pelos meRdia pagos pelo (ainda vigente) regime:

O novo pântano

José Meireles Graça, 12.03.24

Li algures, mas não fui conferir, que se a AD se tivesse coligado com a IL teria ganho não os 8 deputados que esta conseguiu, mas 9; a absurda confusão de siglas com a ADN terá custado 2 ou 3; e não é preciso dizer que se tivesse havido uma coligação pré-eleitoral com o Chega seria preciso o novo governo ser verdadeiramente desastrado, ou deixar-se minar por contradições internas, para não durar uma legislatura, para além de poder fazer as celebradas reformas de que toda a gente fala, tal seria a esmagadora maioria.

Essas reformas não se farão senão em versões edulcoradas e tíbias. E isto apenas se a pulverização partidária, a tenaz oposição do PS, desapossado do lugar que julga lhe pertence como estando na ordem natural das coisas, o berreiro tradicional do Bloco, agora acrescentado pela nova coqueluche do Livre, que se distingue daquele por razões que só intelectuais de fino recorte esquerdoso entendem, mais a agitação sindical e das ruas promovida pelo PCP no estertor da agonia, não tornarem a estabilidade política numa distante memória.

Só isto? Não, não seria suficiente. Mas há o Chega. E aqui temos definitivamente a burra nas couves porque o resultado da AD e o da IL nem sequer permitem aprovar orçamentos, mesmo com a abstenção daquele partido. Contando com dois mandatos que virão provavelmente do exterior para a AD o total de votos da direita é 89, contra os 91 da esquerda. Não seria impossível talvez comprar o PAN oferecendo, por exemplo, alcatifas para os canis municipais, mas mesmo assim ainda seriam precisos uns queijos limianos para uns desalinhados ou, hipótese horrenda e improvável, os votos do Livre.

Não dá. Em devido tempo, adiantei por que razão (na minha opinião, que naturalmente respeito), a cerca sanitária em torno do Chega era um claríssimo erro; e igualmente expliquei mais tarde os motivos por que, apesar disso, iria votar AD.

E durante a campanha fechei a matraca, por autoimposta disciplina. Não que interessasse: o único ser vivo que estou absolutamente seguro influencio é o meu fiel Cacau, que infelizmente não vota.

Sucede que agora há a ideia peregrina de que é possível garantir o apoio do Chega oferecendo-lhe em sinceras declarações um grande respeito pelos mais de 1 milhão e 100.000 votos que obteve, e mais coisa nenhuma, salvo possivelmente uma vice-presidência da AR – a mesma que lhe foi negada no tempo em que se julgava que, por os deputados daquele partido serem tidos por sarnentos, o eleitor não quereria o contágio da doença.

E isto apostando no precedente firmemente estabelecido desde os longínquos tempos do partido de inspiração eanista: quem deite abaixo um governo paga por isso, nas eleições seguintes, um pesado preço. Que o Chega não terá o atrevimento de querer pagar.

Ahem, se há coisa em que Ventura se distingue, entre outras, é na capacidade de vitimização. E como o vasto ramalhete de ofertas para todos os grupos que reivindicam alguma coisa, e de uma impressionante quantidade de bens públicos (reformas milagrosas na Justiça, no SNS, na Educação e no mais que está um caco), mais a promessa de redução de impostos, só poderia ser podado de contradições, e reduzido na ambição, se o Chega fosse obrigado a pôr as mãos na massa, resulta que ostracizá-lo lhe mantém intacto o capital, e aumenta-o com a lamúria de que não o deixam fazer nada. O gambito de que esse capital será muito enfraquecido no caso de a casa ruir porque o Chega não a amparou é isso – um gambito. E mesmo que alguma penalização sobreviesse o problema, provavelmente, manter-se-ia.

Pessoas prudentes como eu não sou não preveem o futuro porque este só vai acontecer de uma maneira e há muitas de o imaginar.
E decerto apreciaria que não me viesse a ser dada, pelos factos, razão.

Mas países ricos podem dar-se ao luxo de viver em estado de indecisão e entreterem-se numa quantidade de geometrias de poder por os eleitorados estarem pulverizados. Enquanto isso a economia marcha e até pode dar-se bem porque não são precisos grandes voos legislativos nem reformadores.

Entre nós são. A menos que achemos que uma população que envelhece e encolhe porque os jovens fogem e não nascem suficientemente outros, sendo substituídos por trabalhadores de arribação de outras paragens, com menos formação, enquanto na ladeira do desenvolvimento vamos deslizando para o fundo, é um destino fatal.

Desejo que por entre os pingos da chuva o governo AD consiga reformar alguma coisa e dure tempo suficiente para o fazer. Se porém assim não acontecer já era mais do que tempo de se perceber que o país mudou: a gesta esquerdista e lendária do 25 de Abril vive na memória dos que a viveram, mas estes são cada vez menos; a AD não é a direita, é o novo centro; e o melhor serviço que o PS pode prestar é ficar acantonado no papel de oposição porque a democracia precisa dele para isso – mas para mais coisa nenhuma.

https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/o ... o-16781988
PS.: o artigo Premium pode ser encontrado inteiro no mesmo blog.




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12817 Mensagem por P44 » Sáb Mar 30, 2024 1:42 pm

Vai ficar tudo igual visto que o PSD decidiu abrir as pernas para o PS

Basicamente teremos um bloco central não oficial

Imagem




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60588
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6341 vezes
Contato:

Re: Noticias de Portugal

#12818 Mensagem por Túlio » Sáb Mar 30, 2024 2:01 pm

P44 escreveu: Sáb Mar 30, 2024 1:42 pm Vai ficar tudo igual visto que o PSD decidiu abrir as pernas para o PS

Basicamente teremos um bloco central não oficial

Imagem
Pode até ser, me caiu as pataca da guaiaca com essa de repartirem a presidência da AR com o PS, mas acho que nem vão passar dois anos para haverem novas eleições, e quem ganha com isto - o crescente descontentamento com geringonças deste tipo - é o CHEGA.

Por falar em CHEGA, olha o Ventura!!! [003] [003] [003] [003]





[018] [018] [018] [018]




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12819 Mensagem por P44 » Dom Mar 31, 2024 3:45 pm

Esse gajo é mesmo o filho do chefe do Comando Vermelho?




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60588
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6341 vezes
Contato:

Re: Noticias de Portugal

#12820 Mensagem por Túlio » Dom Mar 31, 2024 6:12 pm

P44 escreveu: Dom Mar 31, 2024 3:45 pm Esse gajo é mesmo o filho do chefe do Comando Vermelho?
O próprio; a concorrência (PCC), que já se instalou por aí e até já anda a "baptizar" bandidos tugas, não deve ter sabido a tempo que ele por aí andava, presumivelmente sem os bandidos pesadamente armados que ele usa como "seguranças" aqui, senão pelo menos um "sustinho" lhe davam. :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12821 Mensagem por P44 » Seg Abr 01, 2024 10:18 am

Túlio escreveu: Dom Mar 31, 2024 6:12 pm
P44 escreveu: Dom Mar 31, 2024 3:45 pm Esse gajo é mesmo o filho do chefe do Comando Vermelho?
O próprio; a concorrência (PCC), que já se instalou por aí e até já anda a "baptizar" bandidos tugas, não deve ter sabido a tempo que ele por aí andava, presumivelmente sem os bandidos pesadamente armados que ele usa como "seguranças" aqui, senão pelo menos um "sustinho" lhe davam. :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
Calma que lá chegaremos...

Imagem




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 37823
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceram: 2602 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12822 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Abr 02, 2024 6:54 am

Túlio escreveu: Dom Mar 31, 2024 6:12 pm
P44 escreveu: Dom Mar 31, 2024 3:45 pm Esse gajo é mesmo o filho do chefe do Comando Vermelho?
O próprio; a concorrência (PCC), que já se instalou por aí e até já anda a "baptizar" bandidos tugas, não deve ter sabido a tempo que ele por aí andava, presumivelmente sem os bandidos pesadamente armados que ele usa como "seguranças" aqui, senão pelo menos um "sustinho" lhe davam. :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
Ele não está cá, depois de disto já armou confusão num hotel na Suíça.

Vídeo dedicado aos @Túlio e ao @P44





"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 37823
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceram: 2602 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12823 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Abr 02, 2024 8:43 am

Serviço Militar Obrigatório? Não, obrigado
É um facto que são necessárias soluções para aumentar a quantidade e competências dos nossos militares, mas soluções que não passem por reativar o vetusto serviço militar obrigatório.

Há determinadas ideias que regularmente voltam à sociedade portuguesa. O método é sempre o mesmo: aparecem num artigo de opinião de um notável, fazem o seu caminho e acabam esquecidas, seja pela sua impraticabilidade ou por serem inaceitáveis. Mas passado um tempo, ei-las de volta, promovidas pelos mesmos que as veem como excelentes para rapidamente resolver problemas complexos. É assim com a ideia do regresso do serviço militar obrigatório (SMO).

O SMO terminou em 2004 e seguindo as tendências europeias, transformou por completo a forma como passaram a ser geridos os recursos humanos ao serviço das forças armadas (FFAA). Transitámos de um modelo de serviço militar baseado na conscrição para um modelo assente no voluntariado.

Mas o mundo mudou. A guerra na Ucrânia estimulou os Estados europeus a aumentarem os seus orçamentos de defesa. Os países europeus anunciaram um aumento total com o investimento em Defesa e a UE deu passos importantes no apoio aos ucranianos, fornecendo apoio financeiros em assistência militar, provando que está disposta a suportar ampla assistência aos seus parceiros. Caso disso é a apresentação no início deste mês da primeira estratégia industrial de defesa da União Europeia.

Esta mudança de atitude não apaga, no entanto, o longo período de desinteresse dos Estados-membros após a crise económica e financeira de 2007-2008. Ter novamente a guerra “à porta” levou a uma reorientação na estratégia de investimento dos países europeus no capítulo da defesa e segurança.

Um dos desafios é que, para acomodar esta reorientação estratégica, são necessários militares, algo que o continuado desinvestimento nas forças armadas desincentivou, estagnando os modelos de recrutamento e retenção de militares e diminuindo significativamente o seu contingente nos países europeus. Portugal não foi exceção.

Mas não é só um problema de quantidade. É também de competências, de especialização. A guerra também mudou. Os conflitos modernos envolvem cada vez mais operações ciber, incluindo ataques cibernéticos aos sistemas de defesa, às infraestruturas críticas e às redes de comunicação. Os drones e os veículos terrestres autónomos desempenham um papel crescente em operações militares, bem como a robótica militar e a Inteligência Artificial. Os sistemas de armas são cada vez mais complexos e intensivos em eletrónica, comunicações e computação. Formar e manter os militares que operam estes sistemas e que têm estas capacidades é muitíssimo oneroso e leva tempo, muito tempo.

É neste contexto de exigências que devemos debater como aumentar o contingente das nossas FFAA, valorizar a carreira militar, capacitar e reter indivíduos altamente especializados. Servir os ramos não pode ser visto unicamente como um serviço à Nação, mas também como uma opção profissional atrativa.

Ação absolutamente necessária é a valorização das carreiras e dos vencimentos dos militares. Olhar às necessidades materiais é crucial para aumentar a atratividade e a retenção dos elementos das FFAA. De que serve ter os meios, cada vez mais exigentes na sua operação, se não tivermos homens e mulheres motivados para os operar? Se não tivermos quem esteja capacitado para o fazer, devidamente remunerado e valorizado?

É um facto que são necessárias soluções para aumentar a quantidade e competências dos nossos militares, mas soluções que não passem por reativar o vetusto serviço militar obrigatório.

Não temos qualquer capacidade logística e financeira de integrar, capacitar, dar condições de alojamento e alimentação no espaço de quatro meses ou um ano à quantidade de mancebos necessários a um rácio razoável de oficiais, sargentos e praças. Já se pensou no impacto na economia que tal medida teria para Portugal? Muitos quartéis teriam de ser renovados, ampliados ou mesmo construídos de raiz, seriam necessários mais formadores militares, mais equipamento militar de treino e simulação, milhares de jovens atrasariam a sua entrada no mercado de trabalho com reflexos nas suas vidas e na economia nacional. A reintrodução do serviço militar obrigatório seria muitíssimo cara e só teria (duvidosos) resultados a longo prazo.

Deixo para o fim o mais importante e que vai além destes aspetos operacionais. Em 2024, numa democracia consolidada com a portuguesa, é eticamente inaceitável que por meio da coerção estatal se obrigue a que jovens abdiquem da sua autonomia e liberdade individual e sirvam o estado nas condições e valores que esse mesmo estado entenda como as adequadas. Duvido muito que obrigar alguém a fazer o que não quer seja o melhor caminho para aumentar a coesão entre portugueses, preparando-os para promover os valores de partilha, cooperação e solidariedade entre todos. A entrada nas FFAA ou é voluntária ou é inaceitável.

A solução, reafirmo, estará sempre na valorização das carreiras e dos vencimentos dos militares, em conjunto com outras medidas como; o aumento da idade máxima de candidatura para as FFAA ou mesmo a sua eliminação (como nos Estados Unidos da América); a equiparação da FFAA às forças de segurança, mitigando a drenagem de recursos devido aos desequilíbrios de rendimento; a aposta na reativação dos cursos técnico/profissionais das Forças Armadas, capazes de dar competências profissionais na vida civil pós militar; o incentivo à entrada de mais mulheres nas FFAA, com políticas de licença de maternidade e paternidade que permitam que mulheres e homens equilibrem as responsabilidades familiares com a carreira militar ou o recrutamento de não nacionais para as nossas Forças Armadas. Este será necessariamente o caminho.

Em síntese, o debate sobre uma enésima nova versão do serviço militar obrigatório é contraproducente. Afasta mais do que atrai. Em vez disso, devemos investir em reformas estruturais a fim de fortalecer a defesa nacional com um exército totalmente profissional, bem capacitado e equipado, valorizado e voluntário.

https://observador.pt/opiniao/servico-m ... -obrigado/




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 37823
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceram: 2602 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12824 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Abr 02, 2024 11:38 am

Partilho aqui o link para o artigo do Diário Insular sobre a pretensão dos Estados Unidos de utilizar a BA4 - Base das Lajes para apoio das missões dos P8 e utilização do Porto da Praia da Vitória pela Sexta Esquadra.

https://www.mediafire.com/file/7zggtvovl96r9lx/Base_das_Lajes_DI_12-01-2024.pdf/file




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Noticias de Portugal

#12825 Mensagem por P44 » Ter Abr 02, 2024 1:06 pm

cabeça de martelo escreveu: Ter Abr 02, 2024 11:38 am Partilho aqui o link para o artigo do Diário Insular sobre a pretensão dos Estados Unidos de utilizar a BA4 - Base das Lajes para apoio das missões dos P8 e utilização do Porto da Praia da Vitória pela Sexta Esquadra.

https://www.mediafire.com/file/7zggtvovl96r9lx/Base_das_Lajes_DI_12-01-2024.pdf/file
Haja alguém que defenda os Açores porque no que depender de nós estão desgraçados 8-]




Triste sina ter nascido português 👎
Responder