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Mensagem
por Marcelo Ponciano » Ter Out 24, 2023 11:27 pm
Nem os palestinos e nem os judeus constituíam nações propriamente independentes (no sentido mais exato do termo) antes da partição da ONU em 1949.
A bem da verdade, considerando os elementos históricos da narrativa bíblica (abstraindo questões religiosas), antes de 1949 a última vez que aquela região possuiu uma nação independente foi há uns 3 mil anos.
O antigo Reino de Israel se dividiu em dois, Israel ao norte (cuja capital era Samaria) e Judá mais ao sul (com capital em Jerusalém). Ambos os reinos se tornaram estados tributários de outras nações. O Reino de Israel desapareceu pouco tempo depois e a própria Bíblia narra que o povo se misturou com outros povos e a cultura hebraica deles desapareceu. O Reino de Judá continuou existindo com unidade cultural do povo (dando origem ao povo Judeu, último ramo da cultura hebraica), mas que sempre era tributário das potencias de cada era (Babilônia, Assíria, Macedônia e por fim Roma).
Depois do império romano ocorreram as cruzadas entre o Catolicismo e o Islã. Com a vitória islâmica nas Cruzadas a região passou a ser de domínio do Império Otomano, que por sua vez foi derrotado na 1° Guerra Mundial, passando o território a ser ocupado pela Inglaterra até a partição pela ONU.
Por isso que, até onde me recordo, desde a divisão do antigo Israel em Israel "do norte" x Judá (há uns 3 mil anos), até a partição da palestina em 1949, não havia ali uma nação propriamente independente.
O que não impede que existissem povos que ali viviam. Povos diversos que seguiam as três religiões e culturas. Inclusive, em algum momento da história o Império Otomano permitiu a prática das três religiões na região.
Já no final do Império Otomano surgem os primeiros Kibutz, comunidades judaicas socialmente organizadas, que conviviam com os palestinos pacificamente, e que faziam um papel de estado.
Enfim, o ponto é que sempre viveram muitos judeus ali, juntos com muitos palestinos e muitos cristãos. Todos tributários de alguma potência do momento. Essa história de que os judeus só chegaram depois da partição não é verdade. É verdade que a região passou a ser densamente povoada por judeus de toda parte do mundo após a partição, mas antes existia a presença relevante de judeus lá sim.
Por tudo isso que digo: não existe solução que não seja a famigerada "Solução dos Dois Estados". A partição não criou só o país Israel, também criou o país chamado Palestina. E dentro do direito internacional Israel precisa sim respeitar os limites territoriais da Palestina (principalmente na Cisjordânia, onde existem assentamentos israelenses condenados expressamente pela ONU).
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar. (MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Livro XI, Cap. VI)