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Mensagem
por gabriel219 » Ter Jul 05, 2022 5:53 am
Certa vez eu vim aqui e trouxe o orçamento militar Turco, que é semelhante ao nosso, porém eles possuem uma quantidade de armamento e também qualidade que não há comparativos com o Brasileiro e uma quantidade de tropas ativas ainda maior que a nossa, isso para justificar o quão nosso orçamento de Defesa é pessimamente administrado, mas vieram falar "ain, mas eles tem benefícios por ser da OTAN e sobre o dólar". Apesar de eu achar esse tipo de argumento extremamente falho, trago outros dois exemplos: Argélia e Marrocos.
Argélia tem uma força em números semelhante a atual nossa e o Marrocos um pouco menor, porém o orçamento deles este ano será de USD 13.9 milhões e USD 6.8 milhões, respectivamente. O melhor a usar de comparação é a Argélia, que hoje possui inúmeros programas Militares, fabrica sob licença o Boxer, que chegará na sua unidade número 500, é reconhecidamente o APC mais caro do planeta e ainda sim um país como a Argélia consegue sustentar um programa desse tipo e outros; uma quantidade enorme de T-90SA e está negociando T-90MS, que deverá substituir os T-72M1 e T-72M1M, além de outros diversos programas; como também está adquirindo BMPT-72 e modernizará seus T-62 para algo semelhante ao BMPT; e ainda possuem dezenas de S-400, Iskander-E, S-300...
O Exército Popular Argeliano - equivalente a Forças Armadas Brasileiras, o Exército "Exército" deles mesmo é chamado de Forças Terrestres da Argélia ou Algerian Land Forces - possui quantidade e qualidade superior a tudo o que temos aqui, em todos os níveis, com um orçamento equivalente a menos de 2/3 do nosso, que está orçado em aproximadamente USD 21 Bilhões esse ano.
Então não adianta ficar aqui chorando pra ter 1.8% ou 2% do PIB se nós gastamos extremamente mal tudo o que temos, haja vista programas recentes como EE-9M e futuramente Leo 1A5M, cujo programas estão longe de serem baratos. O custo de um protótipo do EE-9M será maior do que o Marrocos pagou nos seus M1A1SA e estamos falando de uma viatura infinitamente mais simples e que pesa muito menos. Aliás, para proporções ainda piores, um protótipo do EE-9M será pouco mais que duas vezes mais caro que um VBTP Guarani de fábrica, que chegou a ser orçado em pouco mais de R$ 5.5 milhões cada a um tempo atrás. Além de outros programas milionários que simplesmente já começam fadados ao fracasso, como modernização do M113, MSS 1.2AC, MANSUP e entre outros, que seriam perfeitamente contornados na escolha melhor de outros programas, como aquisição de outros meios ou mesmo compra de licença ou desenvolvimento em conjunto de outros, sendo esses dois algo demonstrado com maestria pela Turquia e Índia, que aproveitou esses tipos de manobras para aquisição de MEM e agora possuem industrias de Defesa robustas com o aprendizado adquirido na compra de licença de fabricação ou desenvolvimento em conjunto.
Outro país que eu poderia citar é a Polônia, que apesar de ser OTAN, não é da UE, pagando tudo em Zloti Polaco, uma moeda mais fraca do que a Brasileira, tendo uma economia mais fraca que a Brasileira, tendo um gasto militar anual semelhante ao da Algéria (USD 14 Bilhões esse ano), mas a qualidade de material e programas desenvolvidos é algo jamais pensado aqui pro Brasil, apesar da Polônia atualmente ter uma tropa bem menor que a do Brasil, porém estará aumentando seu efetivo para ser maior que o nosso e o aumento previsto em comparação ao PIB tornará o orçamento Polonês praticamente igual ou pouco inferior ao nosso.
Então, antes de qualquer aumento no orçamento de defesa, precisa haver uma reforma séria no Ministério da Defesa, com este centralizando as compras em uma Secretaria Especial tal qual é feita em vários países por ai. Hoje temos a Secretaria de Produtos de Defesa que simplesmente é uma gerenciadora da BID por parte do GF, em que nada interfere nas compras de MEM que ficam exclusivamente por parte das Forças, apesar de hoje a Força Aérea ter o melhor sistema de escolha de MEM que é o COPAC; o Exército costuma meio que fraudar licitação colocando ROB/RFI com requisitos que somente um ou dois concorrentes podem preencher e muitas vezes esse segundo só existe para fingir concorrência, como é o caso agora do VBC-SR 8x8, em que o LAV 700 tem chances remotíssimas, só podendo ser salvo pelo poder do FMS com total incompetência na oferta de negócio por parte da CIO (Consórcio da Iveco Defense e Oto Melara); e a Marinha, nem precisamos dizer como é, já que seus programas começam de um jeito e no meio deles, mesmo após escolhido o vencedor, vão mudando os requisitos como se não houvess amanhã, como é o caso das FCTs, além dos sonhos do Almirantado se sobressair às verdadeiras necessidades da Força, como ter a pachorra de querer sonhar com Aviação de Caça enquanto não conseguem patrulhar de forma minimamente aceitável a ZEE Brasileira, o que por si só não seria o suficiente.