Quantos sexos biológicos existem? Dois…existem dois…
Começa a ser confrangedor assistir ao que se passa na área da biologia, invadida pelo politicamente correto, pelo Wokismo e "pessoas de bem" das ciências sociais, que decidiram que existem mais do que dois sexos biológicos por questões de "inclusão". Que o sexo biológico é representado por um "espectro", que existem múltiplos sexos, que homens podem engravidar e menstruar entre outros exemplos "cringe". E quem diz o contrário é um transfóbico, machista, nazi, fascista e apoiante do Trump ou Bolsonaro. É a típica polarização das políticas identitárias, do tribalismo que abunda nessa área, do "us versus them". Não estás connosco, não concordas com a nossa posição, então estás contra nós e és um fascista. Não há outra explicação possível como, por exemplo, ser uma pessoa minimamente racional que não se deixa influenciar por manadas.
Reparem...neste artigo não vamos falar de géneros ou orientações sexuais. Vamos falar de biologia pura e dura. E é apenas sobre esse tema que me vou debruçar.
Quem somos?
Primeiro, somos animais, produtos da evolução natural como qualquer outro ser vivo. Não temos nada de especial nesse sentido. Mas o Wokismo é um dos grupos que nos tenta destacar deste ecossistema, achando que os conceitos básicos da biologia não se aplicam à nossa espécie. Porque só negando a biologia podem afirmar o que afirmam.
A realidade é que somos animais, somos da família dos primatas, o único primata bípede ainda vivo. Temos uma maior complexidade cultural que outras espécies mas não deixamos de ser macaquinhos, não deixamos de ser produtos orgânicos à base de carbono e não deixamos de ser "escravos" de vários comportamentos inatos pré-programados no nosso cérebro ao longo de biliões de anos.
Somos uma espécie dimórfica, o que significa que existem diferenças de morfologia entre os dois sexos biológicos. O nosso dimorfismo não é muito acentuado, ronda os 15%. Por exemplo, a força muscular dos membros superiores é dos traços mais dimórficos existentes na nossa espécie, produto da evolução devido à competição entre "machos" pelas fêmeas (1). E isso era relevante no passado, como se vê nas tribos de caçadores-recolectores, em que a força muscular dos membros superiores consegue prever a reputação de um caçador e o seu sucesso reprodutivo na tribo Hadza. Continua a ser relevante nos dias de hoje, em que a força muscular superior é um dos grandes preditores de atratividade e sucesso reprodutivo de um homem (1, 2). Pelos vistos isto causa celeuma na sociedade hoje dia. Se disser que os chimpanzés são uma espécie dimórfica, tudo bem. Mas nós? Não...nós somos "especiais".
Quantos sexos biológicos existem na espécie? Dois....DOIS.
Em baixo temos uma simplificação da representação dos sexos biológicos no ser humano. Temos dois sexos, duas categorias: macho e fêmea. Essas categorias têm características próprias que se distribuem numa curva de distribuição normal. Essas características apresentam alguma sobreposição, o que não é nada de anormal. Dentro desta sobreposição, temos o grupo Intersexo, a amarelo.
O que é o grupo Intersexo? Representa um ou vários sexos biológicos? Não. São uma agregação de várias perturbações físicas, fisiológicas, hormonais e genéticas que não podem ser classificados no grupo do Macho ou Fêmea mas que não representam um novo sexo. No passado o grupo Intersexo era designado por "Perturbações do desenvolvimento sexual". Mas como era "ofensivo", então optou-se pela designação Intersexo. Dizer que um hermafrodita ou alguém que nasceu com três pénis tem uma perturbação do desenvolvimento sexual é uma clara falta de sensibilidade por parte da comunidade científica para com estas pessoas.
Agora, o Wokismo decidiu que dado que estas pessoas não podem ser classificadas como Macho ou Fêmea, então só podem representar um ou vários sexos diferentes, defendendo desta forma a variável "sexo biológico" como contínua em vez de categórica. Obviamente que esta extrapolação abusiva é facilmente desmontada se aplicada a outras características do ser humano.
Por exemplo, se me perguntarem quantos olhos tem o ser humano, direi que tem dois. Parece-me uma resposta óbvia. Mas segundo o Wokismo aplicado à biologia, estou errado. O número de olhos do ser humano tem uma distribuição normal. É um espectro contínuo que pode ir de zero a múltiplos olhos (e quem sabe meios olhos), já que teoricamente é possível nascer sem olhos ou com mais que dois. Logo, por uma questão de inclusão, a espécie humana não tem dois olhos mas um espectro contínuo de olhos. Já tive esta discussão numa página de "ciência" com mais de 150 mil seguidores. Isto é real...Claro que este tipo de argumentação tornaria qualquer estudo, qualquer caracterização da espécie humana impossível. Não seria possível dizer que o ser humano é bípede porque, na realidade, tem um espectro contínuo de pernas e não apenas duas. Tem um coração e dois pulmões? Nem pensar...espectro contínuo de corações e pulmões. Um cirurgião antes de uma cirurgia não poderia assumir absolutamente nada sobre a anatomia do corpo humano porque, vá-se lá saber, ao abrir a cavidade torácica correria o risco de encontrar 3.5 corações e 5.8 pulmões e teria que assumir isso como "normal", dentro de um espectro contínuo de normalidade biológica.
Qual é a composição genética do ser humano? A resposta óbvia seria 46 cromossomas sendo que dois deles são os cromossomas sexuais (XX ou XY), que determinam o sexo biológico da pessoa. Mas estou errado. O ser humano tem um espectro contínuo de cromossomas, não podendo ser representado dessa forma porque discrimina todas as pessoas que nasceram com menos que 46 cromossomas ou mais do que 46 cromossomas. Estas pessoas não têm perturbações genéticas, mas representam o espectro de normalidade da espécie humana...é assim que devem ser classificados, a bem da inclusão. Pouco interessa se uma pessoa com trissomia 21 tem vários problemas de saúde associados a essa perturbação genética. Aliás, seria um erro, uma tentativa de eugenia tentar arranjar soluções para estas pessoas que, segundo o Wokismo, vivem apenas dentro do espectro contínuo da normalidade. E não...não estou a exagerar. Podem ler o livro Cynical Theories que explica bem isto.
Também podemos ver isto de outro prisma...se existem outros sexos, que gâmetas os representam? Que eu saiba só estão descritos dois tipos de gâmetas na espécie humana: o óvulo e o espermatozoide. Que outros gâmetas foram descobertos recentemente que nos levem a repensar a espécie humana como tendo apenas dois sexos biológicos? Ou qual é o órgão ou órgãos sexuais que foram recentemente descobertos que representam estes novos sexos? Só conheço pénis/testículos/próstata/vesículas seminais e vagina/útero/ovários. Sim...pode haver variação dentro destes órgãos. Pode haver homens sem testículos ou micro-pénis. Pode haver mulheres sem vagina, sem útero ou sem ovários. Até pode haver mulheres com clitóris gigante ou pessoas com um pénis e duas vaginas. Isso tudo é possível. Mas isto representam novos sexos ou perturbações do desenvolvimento sexual?
Conclusão
O problema é a introdução de uma nova moralidade na descrição e categorização da espécie humana. Como queremos ser "inclusivos" e "tolerantes" então tentamos subverter todos os conhecimentos de biologia básica para tentar encaixar o que são claramente perturbações do desenvolvimento sexual numa nova realidade, dizendo que estas perturbações são na realidade um espectro contínuo dos sexos biológicos.
Isto tem vários problemas mas o principal é que, levando isto a sério (que ninguém bom da cabeça leva), então significaria que não vale a pena investigar estas perturbações e tentar ajudar estas pessoas no que diz respeito a estas perturbações do desenvolvimento sexual. O que podemos fazer por elas é apenas dizer-lhes: "olhe...você nasceu com três pénis mas isso é perfeitamente normal. Você é um entre milhares de sexos num espectro contínuo do sexo biológico. É aceitar...não vale a pena ser operado, retirar dois pénis e manter um. As pessoas têm é que ser tolerantes com o facto de ter três pénis...é a sociedade que se tem que adaptar a si e não é você que tem que se adaptar ao que se considera os padrões de normalidade da sociedade. Logo, mesmo que queira ser operado, não aconselho. Seria renegar a sua "normalidade" e ceder às pressões da sociedade sobre aquilo que eles ditam como "normal"."
Isto é levar a tolerância ao extremo...uma coisa é ser humanista e tratar todas as pessoas como iguais e tendo mesmo valor. O que é ótimo. Outra coisa é normalizar a patologia e desistir de tentar dar a estar pessoas o que se poderá designar por uma "vida normal". Este pensamento da tolerância levada ao extremo tornaria inútil as intervenções que são desenvolvidas para dar qualidade de vida a uma série de patologias. Aliás, tais intervenções seriam até vistas como intolerantes, uma tentativa de "normalização" de alguém que supostamente já é normal. Paradoxalmente, são estas mesmas pessoas que pedem todo o tipo de intervenções e o mais precocemente possível para disforias de género...tema a ser abordado noutra altura.
https://www.scimed.pt/geral/quantos-sex ... cimedpt%27