Túlio escreveu: ↑Qui Jan 16, 2020 10:21 pm
Cupincha véio, podes arrazoar à vontade, estás no teu direito e, aqui nas Seções-Fulcro, até dá pra engrossar um pouco, como já falei várias vezes (mas não é SMEoS, claro). Meu ponto de vista e razões estão aqui, nesta mesma página, o post é curto mas não o vi ser desafiado:
viewtopic.php?p=5552721#p5552721
De resto, boa sorte desenvolvendo e comprando 8 x 8 a preço de MBT e mais caro que IFV. Lembrar, o 6 x 6 aquele é feito aqui mas até a rebimboca da parafuseta é cotada em USD/EUR, não BRL, além do que quase tudo que o compõe é importado da Europa.
Olá Túlio, vamos por partes.
Primeiro, quanto à sua pergunta, bem, eu só posso emitir uma opinião pessoal, e ela foi em parte respondida ao Gabriel em termos práticos. Conquanto é bom que se diga: ambos os VBC, o CC e o VBR são necessários, e diria mais, impositivos na atual recomposição e modernização das forças bldas e mec de cavalaria, dado que tanto o Leopard 1A5 como os EE-9 Cascavel já ultrapassaram há tempos todas as possibilidades de apresentar-se com valor militar efetivo em qualquer TO sério, com ou sem modernização. Assim também os M-113 que hora passam por mais uma atualização a fim de serem mantidos por alguns anos até que se consiga recursos para substituí-los definitivamente, o que hora não tem prazo para acontecer.
Mas, qual deles é mais prioritário? Para o EB hoje, na minha opinião, as VBR MR, tanto em termos quantitativos como organizacionais, pois as BgdasCavMec e EsqCavMec a serem mantidas e modernizadas é bem maior do que a cav blda. E como não temos neste momento e nem em futuro previsível ameaça blindada relevante em nossas fronteiras, e também levando em consideração que a modernização da cav mec embute em si a modernização doutrinária e operacional advindas da família Guarani 6x6 e/ou 8x8, percebe-se que estas OM compõe na prática a frente de choque primária e mais importante em termos de resposta a qualquer ameaça na vizinhança, não podendo assim ser disposta a um segundo plano em qualquer concepção de modernização do exército.
Hoje temos na família Guarani a melhor chance, senão a única, de modernizar por completo e numa tacada só, a Cav Mec, e por tabela, mecanizar a infantaria. E isso a partir, até agora, de um único veículo base e suas VBE. Começamos com os VBTP 6x6. Podemos evoluir para uma VBTP/VBCI 8X8 e posteriormente para uma VBR MR can 105/120 no longo prazo. Tudo dentro de um mesmo planejamento econômico e organizacional que já vem sendo mantido à duras penas faz anos. Não dá para trocar as prioridades simplesmente no meio do caminho porque sim. Ou fechamos o ciclo com os Guarani e depois vemos o que é possível fazer com a cav blda, ou corremos o sério risco de ficar com uma solução meia boca no meio do caminho em uma, e sem solução definitiva na outra. As duas juntas não têm como. E o EB fez a sua opção a duas décadas atrás por começar essa modernização pelos bldos SR e a cav e inf mecanizada.
Vai sair caro esse processo? Já está saindo há muito tempo, e todo mundo sabe disso desde o começo. Como eu tenho dito por aqui, Defesa custa caro. Somente países com governos e sociedades medíocres, patéticos, ineptos e mesquinhos, como o Brasil, acham que tem de ser o contrário.
Não vou colocar aqui a quantidade de OM da cav mec e nem da infantaria que se pretendia ou ainda pretende-se modernizar e mecanizar, pois seria um exercício de repetência cansativo do que já sabemos. Fato é que para reequiparmos todas as bgdas e OM com a família Guarani, incluindo todas as versões 6x6, hoje o EB tem como objetivo a obtenção 2044 bldos, salvo engano. Este número já foi maior como bem sabes em planos anteriores, e foram sendo diminuídos a cada ano por força das restrições orçamentárias. Mas sabemos que para equipar toda a cav e inf mec como deve ser, vamos precisar de muito mais do que isso. Mas esta é uma conta de longo prazo, pois ela irá evoluir de acordo mais com a disponibilidade de recursos do que de qualquer planejamento que o comando do exército faça.
Supondo que estes dois milhares digam respeito somente a mecanização da infantaria, com o Guarani 6x6 saindo, pelado, na casa dos R$ 3,6 milhões a unidade (2018), pode-se inferir que qualquer VBE, ou até um IFV nele baseado, pode facilmente até dobrar de preço se mantido o atual ritmo de encomendas, na casa de apenas 60 unidades anuais. Muito longe do que a fábrica da Iveco pode conseguir fazer em termos de recursos disponíveis lá implementados.
Aliás, é bom lembrar que os valores do Guarani e o nível de nacionalização de cada VBTP foram objeto de negociação no início do projeto. E o EB logo constatou, e lamentou junto, que a BID e a indústria nacional dificilmente conseguiriam alcançar os objetivos firmados naquelas negociações, onde, salvo melhor juízo, até 75% do bldo deveria ao longo do tempo ser nacionalizado. Isto não somente não ocorreu até hoje, como está cada vez mais longe de se tornar possível, dada a inviabilidade de investimentos nos insumos nacionais previstos por força da insegurança do retorno financeiro para o empresariado local, já que as encomendas colocadas pelo exército sequer cobrem as despesas do investimento em P&D, maquinário, linhas de produção, etc. Ou seja, a economicidade do projeto Guarani é literalmente inviável para a indústria nacional. Consequência? Preços nas alturas, importações a perder de vista e dependência logística, comercial e financeira da fabricante e de outros prestadores de serviços e insumos estrangeiros. Isso tem como ser consertado? Tem, mas o EB não possui os instrumentos necessários para mudar tal quadro. Não pelo menos em prazo conhecido.
Assim, me parece inequívoco o acerto da ação que o exército vem fazendo nos últimos anos de, aos poucos, ir dispondo a VBTP 6X6 à maioria das undes de cav e inf mec que devem ter a mesma. Ainda que a versão distribuída seja apenas um “tapa buraco” a fim de oferecer o contato necessário e a melhoria da doutrina e operacionalidade daquelas mesmas OM. Obviamente não é o melhor caminho, mas é o possível. Paralelamente vem se buscando tirar algumas das VBE do papel, e dentro do possível inseri-las na realidade da cav/inf mec da força. Acredito que este passo, junto ao início da introdução do Guarani 6x6 II, deve ser a linha mestra para as ações de modernização desta década.
Eu tenho cá comigo que o EB ainda não lançou mão de um modelo 8x8, como disse no post anterior, por pura e simples incapacidade de financiar o mesmo. Pronto no papel, tenho certeza ele já está há tempos. Isso não é nenhum problema mirabolante para os italianos da Iveco. Estava previsto desde o início do programa. Conquanto, creio que o lançamento (finalmente) da versão melhorada do Guarani talvez seja uma luz no final do túnel que possa representar uma possibilidade de antes desta década terminar, vermos um Guarani naquele modelo. E não estou falando de VBCI, IFV ou coisa que o valha, estou falando de VBTP/VBE 8X8 mesmo. De começar pelo mínimo básico necessário, como nos 6x6, e de acordo com que o dinheiro for aparecendo, vamos evoluindo o veículo até chegar ao ponto em ele esteja pronto, e nós também, para dispor de uma nova VBR MR. Coloca primeiro uma Reman ou Remax, e faz o trabalho de evolução doutrinária. Depois, com o tempo, as modernizações podem ir chegando aos poucos, e coloca torres aqui e ali, sempre que possível e viável no orçamento, e vai fazendo o trabalho de formiguinha necessário. Mais do que simplesmente modernizar os bldos, o que é relativamente fácil, o problema é modernizar o pensamento e a doutrina dos militares que irão operar estes veículos ao longo das décadas. Fazer isso é bem mais difícil do que colocar uma TORC 30 em cima de um Guarani 8x8 e chamar ele de meu bem. Para isto basta ter dinheiro e culhão.
Mas se a tripulação não souber o que fazer com ele, e bem, de que nos adianta enfiar 4, 5, 6 ou 7 milhões de dólares em um bldo 8x8 pica das galáxias made in BR ou em Saturno? Para não falar do nosso eterno calcanhar de Aquiles... a logística.
A mesma coisa vale para um MBT qualquer e seus VBCI.
obs: vou morrer preto, chato e fuleiro, mas vou continuar repetindo: o EB fez uma puta cagada, monstruosa mesmo, ao querer começar a casa pelo telhado e escolher um 8x8 como base para a futura VBR MR, ao invés de tentar fazer o básico, simples e mais fácil e ir de 6x6 com uma torre CMI can 90 que todo mundo já conhece aqui para substituir os Cascavel. Agora pode ter de aguentar a trozoba do Centauro B1 no rabicho e os milhões que serão desperdiçados para comprar e colocá-los para funcionar, e de lambuja enricar os italianos e a Iveco mais ainda, enquanto a indústria nacional chupa o dedo...
Abs.