Bueno, fiquei curioso sobre essa charla de quatro belonaves da Classe Arleigh Burke virem para cá (se aqui fosse o Rio de Janeiro, claro
). Algumas considerações:
É um DDG. A letra G significa que lança (ou, mais precisamente,
pode lançar) mísseis de cruzeiro. Nem é questão de Trump miguxo ou inimiguxo, só essa letrinha traria pelo menos dois problemões:
1 - O Congresso dos EUA teria que aprovar, o que acho BEM brabo (fora o fato que a Navy está pedindo para comprar mais três AB novinhos, o que no mínimo levantaria a questão "se vocês precisam mais, por que querem vender os que já têm?"), eis que, bem informados, sabem que, mesmo nos negando os Tomahawks - coisa certa! - sempre poderemos adaptar o da Avibrás, cujos números (alcance, ogiva) são piada até para nós, uns meros entusiastas, imaginem para os Especialistas que eles têm à disposição;
2 - A gritaria da vizinhança seria insuportável e, claro, chegaria a Washington. Lembremos, bastou o então PR Lula anunciar o nosso SSN e
La Loquita (Nilza Garré, então MinDef de
La Loca, CK) botou a boca no trombone, dizendo as besteiras de sempre, como pegar aqueles pedaços enferrujados de TR-1700 que estão atirados em algum canto ferruginoso e empoeirado de Tandanor e botar dentro um reator do tamanho da Casa Rosada. Para não falar nos Europeus, cujo berreiro por certo iria ecoar na Colina do Capitólio.
Na remota possibilidade de superar coisas assim, resta ainda um "pequeno" ob$táculo ainda mais complicado: um só AB moderno e novo custa BEM mais de USD 2B. Lendo papéis desclassificados do Congresso dos EUA (posso botar PDF se quiserem, apenas aviso que são mais compridos que esperança de pobre e complicados como o inferno), notei uma coisa que a nossa Marinha já deveria ter aprendido: a USN está "vendendo" os novos AB aos Congressistas por - FY2020 - cerca de USD 1,82B mas, como já estão em uso dezenas destes navios e vários em processo de
update/upgrade, pelo que é dito (e especialmente
o que não é), é até fácil reduzir artificialmente o custo, já que armamento e munições são contratos à parte e sensores, outros eletrônicos e equipamentos diversos podem ser adquiridos nos modelos mais básicos e, como a belonave é comprada num FY mas só acaba suas provas de mar em outro, "deficiências" são relatadas após serem finalmente "notadas" e devem ser "corrigidas", deixando o navio sem incorporar em definitivo até que tudo seja "corrigido", ficando
up-to-date e sendo finalmente distribuído entre as Frotas. Lembremos, só a dotação completa de aeronaves (dois SeaHawks), mísseis e demais munições de um AB custa quase uma CV-3, senão mais.
OK, mas e se comprarmos usado?
Segundo a Doutrina da Marinha do Rio, a navios do tipo não basta a capacidade de operar helis, é necessário hangar fechado para protegê-los (bem como ao pessoal da Mntç) dos elementos. A primeira belonave desta Classe (Arleigh Burke Flight IIA) a ter hangar fechado foi o USS Oscar Austin (DDG-79), que entrou em serviço operacional vai fazer VINTE ANOS! Olhando novamente os documentos (especialmente um estudo da RAND para o Congresso dos EUA) que mencionei, a gente cai duro: um só AB com não vinte mas "apenas" QUINZE anos de operação tem custos de Mntç que chegam à estratosfera; se acrescentarmos os de operação, dá mais ou menos uma CV-3 por ano para cada AB. Lembrar, são não um mas QUATRO LM-2500 por navio (COGAG) e cada um com cerca de 50% a mais de potência do que os usados nas Inhaúma (até a energia nos AB é gerada por três motores a turbina de 2.500 KW). Haja dólar...
Seria excepcionalmente difícil convencer os EUA a venderem um só Flight IIA usado e pior ainda um Flight III, justamente por estarem pedindo mais unidades, isso por duas razões principais:
1 - O Programa DDX (Classe Zumwalt) está cada vez mais complicado, com as três unidades iniciais já custando juntas mais ou menos o preço de um CVN (!!!) completo, com aviões e tudo. Seu futuro é cada vez mais incerto;
2 - Os EUA, buscando reduzir custos, está com outro Programa chamado FF(X), que visa substituir parte (a mais antiga, claro) de seus Destróieres e Cruzadores por Fragatas, que são mais baratas, leves e econômicas (claro, levando em conta que entre os finalistas estão a FREMM e a A100 Espanhola, o termo "barato" quer dizer "para a USN", para nós é caro pra burro ou já teríamos comprado as 5 primeiras do PROSUPER original ao invés de ir para as 4 CV-3 do "prosuper" atual), em busca de um mix que mantenha a eficiência combativa das TFs nucleadas em CVN mas a custos substancialmente menores;
Assim, considerando que resolvam logo qual Fragata irão operar e já coloquem de uma vez as primeiras ordens de compra, é de se supor que lá pela metade da próxima década alguns AB serão descomissionados e talvez até liberados para venda/doação; lógico que serão as unidades mais antigas, tipo Flight I e II,
sem hangares, o que tornará salgadíssimo o preço de conversão para os parâmetros usados aqui. Mesmo que sejam DOADOS, só os
updates e
upgrades (obrigatoriamente feitos nos EUA por empresas de lá) já vão sair uma nota PRETA, tipo cada AB de uns 35/40 anos
doado vai provavelmente custar mais do que uma CV-3 comprada novinha e isso só para receber o navio; cada ano de operação da antiga e supersofisticada banheira custaria ao véio PAGADOR DE IMPOSTOS cerca de uma CV-3 nova mais o mesmo ano inteiro de operação da citada Corveta, com a diferença que, no melhor dos casos, o AB teria pela frente, e com muito remendo e poucos dias de mar, no máximo uns dez anos de uso.
Não me parece bom negócio.