operações reais

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

Moderadores: J.Ricardo, Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Dusek
Júnior
Júnior
Mensagens: 104
Registrado em: Qua Abr 12, 2017 7:10 pm
Agradeceram: 25 vezes

operações reais

#1 Mensagem por Dusek » Seg Set 10, 2018 8:48 am

Este tópico é destinado a operações reais, de preferencia feita por equipes de operações especiais, tanto das forças armadas, policia militar, civil ou federal.
Eu tentei postar no operações especiais mas estava dando um erro então decidi criar este tópico para assuntos mais especificos.

Irei começar com uma missão envolvendo o GRUMEC e COMANF:

Imagem
No dia 10 de outubro de 2016 estávamos no aeroporto internacional do Rio de Janeiro embarcando no C-105 (aeronave de transporte de carga e tropa da Força Aérea Brasileira). Éramos um destacamento de operações especiais da Marinha do Brasil composto por doze Comandos Anfíbios e seis Mergulhadores de Combate. Nossa missão era participar de uma operação conjunta de operações especiais com as demais forças.
Destino: Manaus-AM.
Área de operação: Selva Amazônica.
Chegando em Manaus fomos recepcionados pelo saudoso Exército Brasileiro ficando alojados na FORÇA-3 (Terceira Companhia de Forças Especiais). Este local foi destinado para o planejamento da missão que estava por vir. E logo, o planejamento teve que se mostrar bastante flexível, contínuo e cíclico. O escalão superior, pela complexidade da missão, determinou que nosso grupo se dividisse em dois. Uma dessas equipes composta por seis operadores especiais se infiltraria em D-4 para chegar antes na área do objetivo para o reconhecer o alvo e munir a equipe de assalto, que se infiltraria em D-2, de informações sobre o mesmo.
Talvez não seja de conhecimento de todos, mas a selva se demonstra um ambiente bastante inóspito e hostil e nós temos plena consciência disso. É de suma importância, embora todos os operadores estejam aptos a realizar os primeiros socorros, a presença de um operador especialista em saúde. Foi assim que começou nossos problemas. Tínhamos somente um especialista e duas equipes se infiltrando. A decisão foi solicitar apoio de um enfermeiro especializado do Batalhão de Operações Ribeirinhas de Manaus para incorporar na equipe de assalto infiltrando em D-2. Em D-4, com o apoio do UH-60 Black Hawk da FAB, a equipe de reconhecimento se infiltrou em uma clareira da selva e chegou até o local do objetivo dois dias depois. O desafio dessa equipe era se aproximar para obter os informes sem ser vista. Na tarde do dia D-1 aconteceu algo estranho.
Imagem
Uma explosão ecoou na selva no sentido oposto ao azimute de infiltração da equipe recon. Algo tinha dado errado Elementos da primeira equipe a se infiltrar que já estavam no esquema de revezamento no PO (posto de observação) já sabiam do que se tratava. Uma EvAM (Evacuação Aeromédica). A selva tinha cobrado um preço caro, a única dúvida dos elementos da equipe recon era quem da equipe? de assalto tinha pagado esse preço.
A alguns quilômetros do objetivo, a equipe de assalto estava numa situação difícil. Um elemento tinha se desidratado e sua situação se agravou de tal maneira que não havia outra opção senão acionar a evacuação prevista em caso de emergência. E como se não tivéssemos problemas o suficiente, o militar que até então estava desfalecido no coração da selva amazônica era exatamente o enfermeiro que fora solicitado para apoiar. Sem ordens para tal, como se já tivéssemos ensaiado, cada operador se encarregou de uma tarefa. Enquanto era feita a comunicação com o esquadrão responsável pela EvAM e a vítima estabilizada, cargas explosivas eram colocadas em algumas árvores para que se pudesse abrir uma clareira onde a vítima pudesse ser içada pelo helicóptero. Todos estavam bem, inclusive o enfermeiro que fora evacuado.
A missão tinha que prosseguir. A noite caíra sobre a selva e os guerreiros muito mais fadigados e exaustos devido o resgate deviam seguir em frente se quisessem cumprir o quadro-horário e obter êxito no cumprimento da missão que antecedia o início do crepúsculo matutino náutico do dia seguinte. Pouco tempo antes do horário determinado para cumprir a ação no objetivo, uma vez que já não mais tínhamos contato rádio, a primeira equipe que estava no local já estudava a possibilidade de cumprir a missão no lugar da equipe de assalto. Mais eis que de repente surge a equipe de assalto no local e hora previstos. No PRO (Ponto de reunião do objetivo), com a equipe recon, foram feitas todas as retificações e ratificações inerentes à ação no objetivo e com alguns elementos desta equipe incorporados a missão foi cumprida. Posteriormente fomos retirados por dois UH-60 Black Hawk e retornamos à FORÇA-3.




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

Re: operações reais

#2 Mensagem por Clermont » Seg Set 10, 2018 10:34 am

Dusek escreveu: Seg Set 10, 2018 8:48 amIrei começar com uma missão envolvendo o GRUMEC e COMANF

(...)

um destacamento de operações especiais da Marinha do Brasil composto por doze Comandos Anfíbios e seis Mergulhadores de Combate.
Não seria uma boa idéia que o GRUMEC fosse incorporado ao Batalhão Tonelero?




Avatar do usuário
FCarvalho
Sênior
Sênior
Mensagens: 36256
Registrado em: Sex Mai 02, 2003 6:55 pm
Localização: Manaus
Agradeceram: 3134 vezes

Re: operações reais

#3 Mensagem por FCarvalho » Seg Set 10, 2018 2:00 pm

Clermont escreveu: Seg Set 10, 2018 10:34 amNão seria uma boa idéia que o GRUMEC fosse incorporado ao Batalhão Tonelero?
Grumec e Tonelero tem missões e características diferentes de missão, embora ambas unidades possuam competencias semelhantes para efetuar operações especiais.
Digamos que o Grumec está mais voltado ao apoio a Esquadra, enquanto o Tonelero apoia mais diretamente o CFN.
São unidades complementares, mas cada uma no seu quadrado.

abs




Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
A. Sapkowski
Avatar do usuário
jeanscofield
Avançado
Avançado
Mensagens: 390
Registrado em: Sáb Mar 03, 2012 9:00 am
Agradeceram: 36 vezes

Re: operações reais

#4 Mensagem por jeanscofield » Ter Set 11, 2018 10:56 am

Ótimo tópico, acompanhando. Espero que os nobres colegas compartilhem suas histórias.




Imagem
Avatar do usuário
Fab-Wan
Intermediário
Intermediário
Mensagens: 156
Registrado em: Seg Mar 09, 2009 11:17 pm
Agradeceram: 26 vezes

Re: operações reais

#5 Mensagem por Fab-Wan » Ter Set 11, 2018 12:08 pm

Dusek parabéns pela iniciativa.

No aguardo das próximas e obrigado pelo seu serviço!




Avatar do usuário
Dusek
Júnior
Júnior
Mensagens: 104
Registrado em: Qua Abr 12, 2017 7:10 pm
Agradeceram: 25 vezes

Re: operações reais

#6 Mensagem por Dusek » Ter Set 11, 2018 5:14 pm

Achei umas fotos interessantes de operadores do 3° e 5° DOFESP que pertencem ao Destacamento Contra-Terrorismo (fração de nivel subunidade) em uma missão durante a intervenção federal do tipo "undercover". Talvez o DCT seja unica unidade tier 1 do EB.

As fotos estão em péssima qualidade e borradas, talvez para preservar a identidade dos operadores mas da pra ter uma noção que esta unidade esta em constante emprego e dos tipos da missão em que ela é empregada.

Imagem
Imagem

Imagem
Esta é uma das fotos que foi tirada em 2016 durante um intercambio entre uma unidade do USASOC e o DCT, pelo equipamento dos militares na foto suspeito que sejam americanos e pelo ambiente em volta deles provavelmente é uma favela.




Avatar do usuário
Dusek
Júnior
Júnior
Mensagens: 104
Registrado em: Qua Abr 12, 2017 7:10 pm
Agradeceram: 25 vezes

Re: operações reais

#7 Mensagem por Dusek » Qui Set 13, 2018 2:16 pm

Imagem

Seis meses longe de casa, divididos em períodos de quatro a cinco semanas ao longo de 2004, não me impediram de ser escolhido naquele dia. Novembro, imaginava que entraria de férias naquele sábado até descobrir, através das palavras de meu Comandante, que ficaria um mês e meio a mais na Costa do Marfim.

Eu integrava o 3º Destacamento Operacional de Forças Especiais (3º DOFEsp) do 1º Batalhão de Forças Especiais, estrategicamente localizado em Goiânia, desde fins de 2003. O 3º DOFEsp, voltado para as ações contraterroristas, foi a base para a montagem do destacamento que cruzaria o Atlântico horas depois da notícia por mim recebida para ficar, não mês e meio como me havia sido informado, mas sete meses em solo marfinense, seis dos quais sem ter a mínima noção de quando ou se retornaria.

A missão: “salvaguardar interesses brasileiros no exterior” que, traduzida em miúdos, nesse caso, seria extrair os brasileiros da zona de conflito em que o país havia se transformado há alguns dias e proteger nossa embaixada e seu representante maior, o embaixador do Brasil em Abidjan, capital da Costa do Marfim.

Poucos goianos sabem, mas partiu daqui, de Goiânia, o C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira, que nos conduziu para essa missão. O contexto vivido incluía mortes e estupros de estrangeiros, embaixadas estrangeiras sendo fechadas, distúrbios civis generalizados, destruição de prédios e comércios pertencentes a pessoas oriundas de outros países, desabastecimento, enfim, toda uma gama de problemas que enfrentaríamos horas depois de receber a missão.

A Costa do Marfim ficara independente em 1960 da França, mas não havia conseguido romper definitivamente os laços com a ex-metrópole. Uma guerra fratricida havia sido deflagrada anos antes desde que um presidente incauto criara um conceito de nacionalidade, de “marfinidade”, extremamente exclusivo, o que dividiu sul e norte; nacionais e estrangeiros; cristãos e muçulmanos; governistas e opositores, numa manobra semelhante à que os esquerdistas, hoje, tentam fazer com nosso País: algo extremamente perigoso e explosivo, como pude testemunhar ao vivo e a cores.

Naqueles primeiros dias de novembro de 2004, uma missão área malsucedida marfinense bombardeara base francesa no limite entre o norte guerrilheiro mulçumano e o sul governista cristão. O alvo era a guerrilha, mas a França, aliada do governo, foi atacada por engano e revidou, imediatamente, destruindo, em solo, toda a força aérea da Costa do Marfim, quatro aeronaves de caça de origem russa. Foi o estopim para que os cidadãos marfinenses da capital irrompessem ataques indiscriminados a quaisquer pessoas que tivessem tonalidade de pele e sotaque que indicassem serem estrangeiros, a incluir os brasileiros.

O embaixador do Brasil, assessorado por um oficial do Exército Brasileiro servindo na missão da Organização das Nações Unidas (ONU) naquele País, solicitou ao presidente da República o envio de tropas das Forças Especiais.

Em pouco mais de 24 horas do meu acionamento, lá estava eu cruzando o Atlântico num C-130 Hércules, ladeado por outros Comandos e Forças Especiais, realizando o planejamento durante o voo. Minutos antes do pouso na Costa do Marfim, ainda não tínhamos a confirmação do real estado de segurança da pista e também dos brasileiros que deveríamos salvar. Ao baixar a rampa do Hércules, descobrimos que os brasileiros estavam reunidos, em segurança, na pista do aeroporto e, após retirarmos toneladas de material e munição que utilizaríamos durante a missão, embarcamos nossos patriotas com destino ao Brasil.

Muitos cumprimentos e agradecimentos da parte dos evacuados, até perceberem que nós ficaríamos. Então, começaram súplicas para que retornássemos também, porque, segundo afirmavam, o país estava sem controle e não havia segurança para que permanecêssemos lá.

Ocorreu, porém, que o embaixador brasileiro, ao contrário de muitos outros de origem estrangeira, quis manter nossa representação diplomática aberta, inclusive para apoiar os demais brasileiros que, por quaisquer circunstancias, não se encontravam ali naquele momento para a evacuação.

O Hércules decolou em direção ao Brasil. Nós permanecemos por sete meses em missão. Estruturamos a segurança da embaixada e uma rede de apoio capaz de garantir, caso necessário, a exfiltração dos brasileiros que quisessem voltar, caso a situação do país recrudescesse. Só recebemos a notícia de que voltaríamos para casa aos seis meses de missão. Até esse dia feliz, não tínhamos noção do tempo que permaneceríamos na Costa do Marfim. Nos dizeres de um dos coordenadores de nossa estada na África, mais ou menos aos dois meses de missão: “não perguntem mais quando retornarão para o Brasil; vocês podem ficar seis meses, um ano ou até mais; quando possível, faremos o revezamento”.

Foi uma excelente missão, porém. Chegamos na Costa do Marfim em meados de novembro. Fui promovido ao posto de capitão em dezembro e retornamos para o Brasil em fins de maio do ano seguinte, sendo rendidos por outro destacamento que assumiu a tarefa do ponto em que a deixamos. Eu não sabia quando de nossa partida para o Brasil, contudo três anos depois de deixar Abidjan, para lá retornaria em 2008, para ficar um ano, não mais numa missão das Forças Especiais, mas como observador militar da ONU. Entretanto, essa é outra história.

Nem toda a trajetória de nossas Forças Especiais está escrita. Deveria. Os goianos se orgulhariam mais de ter, no seio de sua comunidade, a tropa de elite do Exército Brasileiro, cerne de suas Operações Especiais, os Combatentes Comandos e os Operadores de Forças Especiais, muitos dos quais, hoje, são nascidos em Goiás ou aqui radicados. O tempo se encarregará de os revelar. Tenho certeza. Comandos! Força! Brasil!




Avatar do usuário
FCarvalho
Sênior
Sênior
Mensagens: 36256
Registrado em: Sex Mai 02, 2003 6:55 pm
Localização: Manaus
Agradeceram: 3134 vezes

Re: operações reais

#8 Mensagem por FCarvalho » Qui Set 13, 2018 5:25 pm

Quando eu digo que temos de investir mais em formação, treinamento, materiais e recursos bélicos e financeiros, e claro o apronto de unidades de OpEsp no Brasil, parece infelizmente que estou falando de cosias hollywodianas...
Mas toca o barco, um dia a gente aprende.

abs.




Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
A. Sapkowski
Avatar do usuário
nemesis
Avançado
Avançado
Mensagens: 610
Registrado em: Sáb Jan 29, 2005 7:57 pm
Localização: palotina-pr
Contato:

Re: operações reais

#9 Mensagem por nemesis » Dom Set 16, 2018 10:18 pm

excelente tópico




sempre em busca da batida perfeita
Outro Lado Rock:
Avatar do usuário
Hermes
Sênior
Sênior
Mensagens: 890
Registrado em: Qui Mar 20, 2008 9:18 pm
Localização: Barra Mansa/RJ
Agradeceram: 132 vezes

Re: operações reais

#10 Mensagem por Hermes » Seg Set 02, 2019 4:51 am

Clermont escreveu: Seg Set 10, 2018 10:34 am
Dusek escreveu: Seg Set 10, 2018 8:48 amIrei começar com uma missão envolvendo o GRUMEC e COMANF

(...)

um destacamento de operações especiais da Marinha do Brasil composto por doze Comandos Anfíbios e seis Mergulhadores de Combate.
Não seria uma boa idéia que o GRUMEC fosse incorporado ao Batalhão Tonelero?
Não é uma incorporação, mas uma aproximação benéfica a ambos.
Criação do Comando Naval de Operações Especiais (CoNavOpEsp)

https://www.naval.com.br/blog/2019/08/2 ... onavopesp/




...
Responder