Como diz um camarada que faz consultoria de investimento, os fundos de previdência privada e públicos são frias. Eles remuneram pouco e te amarram por décadas. Porque o administrador pensa neles mesmos e o banco força que os gerentes vendam esse produto. Se for fundo de estatal ou funcionalismo público, piora. O motivo que fica refém da interferência política. Assim remunera menos que o mercado e corre o risco de ter que pagar as barbeiragens dos administradores.
O CDI é o que a Nubank remunera na conta corrente. É o investimento mais básico e seguro disponível no mercado.
Os dez maiores fundos de previdência do Brasil rendem abaixo do CDI
Oferecidos por Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, todos são compostos integralmente por renda fixa, o que joga contra investimentos de longo prazo
A crise da Previdência Social tem servido ao menos para uma coisa: lembrar os brasileiros do quão é importante, durante a juventude, se planejar para a velhice. Com as manchetes nada animadoras dando conta de como será difícil se aposentar nos próximos anos, é bastante tentador aceitar o primeiro plano de previdência privada oferecido pelo gerente do banco.
Má notícia. Se você caiu nessa tentação e contratou um dos dez maiores fundos de previdência do Brasil – oferecidos por Banco do Brasil (BrasilPrev), Bradesco e Itaú –, seu patrimônio acumulado será menor do que poderia ser.
Levantamento feito pela plataforma de investimentos Magnetis mostra que todos esses fundos têm rendimento abaixo do CDI. Por acompanhar a Selic, essa taxa é considerada “livre de risco” pelo mercado. Ou seja, é o piso aceitável de retorno para qualquer aplicação.
Você vê abaixo a simulação do rendimento de R$ 100 mil aplicados em cada um desses grandes fundos, por 1, 5 e 10 anos. Estão aí também as projeções, nos mesmos prazos, para um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que paga 100% do CDI; e uma carteira diversificada, com 80% em renda fixa e 20% em fundos multimercados.
Investimento inicial = R$ 100 mil
Fundo 1 ano 5 anos Acima de 10 anos
BRASILPREV RT FIX VI FICFI RF 104.053,08 136.604,03 221.801,41
BRASIL PREV RT FIX II FICFI RF 103.894,14 135.168,58 217.024,89
BRASILPREV RT FIX VII FICFI RF 104.342,59 139.218,60 230.501,51
BRADESCO FIC RF VGBL F10 103.851,56 134.784,08 215.745,46
BRASILPREV RT FIX C FICFI RF 104.214,86 138.065,12 226.663,23
ITAÚ FLEXPREV EXCELLENCE RF FICFI 104.172,29 137.680,62 225.383,81
BRAD PRIV FIC RI RF PGBL VGBL ATIVO 103.993,48 136.065,74 220.010,22
BRAD PRIV FIC FI RF PGBL VGBL ATIVO F0 104.163,77 137.603,72 225.127,92
BRASILPREV RT FIX VIII FIC FI RF 104.407,87 139.808,16 232.463,30
BRASILPREV RI FIX X FIC FI RF 103.701,13 133.332,20 211.224,82
CARTEIRA DIVERSIFICADA (80% RF + 20% MULTIMERCADOS) 104.798,08 143.332,20 244.189,67
CDB 100% DO CDI 106.532,44 151.129,44 241.779,42
Fonte: Magnetis, com dados da Anbima (16/4/19)
Mas por que esses são os fundos de previdência mais contratados, se os rendimentos oferecidos deixam a desejar? “Muito se deve à comodidade do cliente e do poder de convencimento dos gerentes, que precisam bater metas”, diz Daniel Jannuzzi, profissional CFP® e consultor da Magnetis.
Para ele, o medo de depender do governo e não conseguir se aposentar, somado ao desconhecimento, colabora para que as pessoas aceitem rendimentos baixos nos bancos onde já têm conta.
“A gente não tem nenhuma aula de finanças no colégio e isso acaba trazendo esses efeitos indesejados”, diz Jannuzzi.
Fora render abaixo das operações mais básicas oferecidas no mercado, existe outra característica que une todos esses dez fundos. Eles aplicam o dinheiro de seus clientes integralmente em renda fixa.
Esse fato vai na contramão de uma lição básica do mundo dos investimentos: quanto maior o prazo da aplicação, mais risco você pode tomar no meio do caminho para construir seu patrimônio. E, em tese, investimentos de previdência são (ou deveriam ser) para o longo prazo.
“Vemos hoje uma concentração muito grande dos investidores na renda fixa”, diz Jannuzzi. Ele explica que, se um cliente tem um longo prazo para investir pela frente, o ideal é fazer aportes em fundos com alguma parcela de renda variável em suas carteiras – diferentemente dos dez maiores fundos de previdência do Brasil.
O que dizem os bancos?
De acordo com todas as três instituições - Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco - não há recomendação aos seus gerentes para que ofereçam preferencialmente esses planos de previdência. Tampouco, segundo eles, há programa de metas e pagamentos de bônus atrelados à oferta desses fundos.
O diretor financeiro da BrasilPrev, Marcelo Wagner, alega que os fundos que o banco administra e estão entre os dez maiores do Brasil foram lançados entre 2000 e 2003, “num cenário completamente diferente do atual”.
V“Muitos clientes preferem permanecer em planos que acessam esses fundos pois têm um viés de proteção do patrimônio, com faixa etária superior a 60 anos”, diz Wagner. De acordo com ele, esses investidores são “orientados a diversificar os investimentos” para planos “tanto de renda fixa quanto multimercado”.
Por meio de sua assessoria, o Bradesco informa que oferece fundos de previdência com base no “momento de vida do cliente”. E frisa que “os produtos de previdência são de longo prazo, portanto, espelham captações de médio e longo prazo, normalmente acima de 2 anos”.
O Itaú Unibanco alega que, a depender da janela observada, o fundo do banco supera, sim, o CDI. Por e-mail, informou que “a janela de 12 meses foi prejudicada pela volatilidade no mercado de juros que aconteceu em maio de 2018. O mercado como um todo sofreu e isso carregou o histórico nos últimos 12 meses”.
De acordo com Claudio Sanches, diretor de produtos de investimentos e previdência do Itaú Unibanco, o banco sempre oferece a seus clientes “o melhor produto possível, considerando o perfil de risco e as taxas”.
No ano passado, diz, dos R$ 160 bilhões administrados pelos fundos de previdência do Itaú, R$ 40 bilhões passaram por realocação dos clientes em busca de melhores rendimentos.
Sanches destaca ainda a preocupação do banco com o eventual desconhecimento do cliente sobre investimentos em todos os níveis de renda. E diz que os processos internos do banco garantem a investidores de diferentes perfis a alocação ideal em previdência, respeitando regras básicas da educação financeira, como montar uma reserva de emergência antes de correr atrás de rentabilidade.
Contratei um desses planos, o que eu faço?
Primeiro, lamente.
Segundo, acalme-se.
A portabilidade da previdência privada permite a você trocar, sem custos, seu plano atual por outro mais vantajoso da mesma ou de outra instituição financeira. Nesse caso, basta solicitar ao banco em que você tem o plano e ele ficará responsável por entrar em contato com a instituição financeira que passará a gerir seu patrimônio.
A carência mínima para migração exigida por planos de previdência privada abertos, caso dos oferecidos pelos bancos, é de 60 dias. E todo o processo de transição deve ser finalizado em até 5 dias úteis.
A portabilidade permite também que a tabela de cobrança de imposto de renda (IR) progressiva seja trocada pela regressiva – mas não o contrário. E a troca só pode ser feita entre planos da mesma modalidade. Quem tem PGBL só pode mudar para outro PGBL, e o mesmo vale para quem tem um plano VGBL - se você não entende lhufas sobre a sopa de letrinhas da previdência privada, convido a clicar aqui.
Agora, se for sua vontade trocar de modalidade de qualquer jeito, sem problemas. Mas aí não é portabilidade – e você pode pagar caro por isso. Será necessário sacar a quantia e reaplicá-la em outro plano. E aí você paga IR, o que pode acabar de vez com a vantagem oferecida pelo plano para o qual você quer migrar.
Atenção: a única cobrança permitida no momento de fazer a portabilidade do seu dinheiro de um plano a outro é a taxa de carregamento – se houver, porque vários planos oferecidos no mercado isentam você dessa taxa.
Logo, vale prestar atenção nesse ponto antes de escolher o seu novo fundo previdenciário.
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