Conheça os cinco hospitais públicos mais eficientes, dois têm gestão privada
Caso as unidades do Serviço Nacional de Saúde reduzissem o custo por doente padrão ao valor mais eficiente, o Serviço Nacional de Saúde podia poupar 727 milhões de euros, por ano
Hospital de Vila Franca de Xira, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Hospital de Braga, Centro Hospitalar Universitário de São João e Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto foram as unidades de saúde mais eficientes do Serviço Nacional de Saúde, em 2017, segundo dados da ACSS – Administração Central dos Sistema de Saúde. Ou seja, dentro das suas categorias são os hospitais com um menor custo por tratamento de doente padrão. Se os outros hospitais que lhes comparam conseguissem gastar o mesmo, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) pouparia 727 milhões de euros, por ano.
Dois destes hospitais têm gestão privada: o Hospital de Braga e o Hospital de Vila Franca de Xira que estão nas mãos da José de Mello Saúde, ao abrigo de um contrato regido pelo modelo de parceria público-privado (PPP). No caso de Braga, foram gastos 2143 euros a tratar cada doente padrão, o valor mais eficiente de todas as 31 unidades analisadas - embora esta comparação só deva ser feita entre organizações semelhantes porque este universo inclui realidades muito distintas.
A ACSS faz este comparativo agrupando os hospitais com características idênticas, seguindo o método de ward para a clusterização dos hospitais em grupos (a informação disponível é usada para criar grupos tão semelhantes quanto possível e sempre mais idênticos aos elementos do mesmo grupo do que a elementos dos restantes grupos). Assim, Braga é o melhor posicionado entre as unidades do SNS que lhe são mais idênticas e é seguido, com uma diferença assinalável, pelo Hospital Garcia de Orta, cujo custo por doente padrão se situou nos 2772 euros.
Se todos os hospitais no grupo de oito unidades onde se inclui Braga, conseguissem tratar os seus doentes padrão ao mesmo valor desta unidade, a poupança somaria quase 320 milhões de euros.
No caso de Braga, cujo contrato de gestão termina em 2019, não podemos ignorar os problemas financeiros que o hospital atravessou e não será de estranhar que esta unidade se tenha esforçado por ter um custo por doente padrão muito reduzido.
Estado ganha nas PPP
Já o Hospital de Vila Franca de Xira teve um custo por doente padrão de 2653 euros, suplantando, dentro do seu grupo, o Hospital Santa Maria Maior (2.740 euros), em segundo lugar. O Centro Hospitalar Tâmega e Sousa desembolsou 2.781 euros (em segundo ficou o Centro Hospitalar de Leiria, com 2828 euros), o Centro Hospitalar Universitário de São João registou 2.740 euros (seguindo-se o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, com 3006 euros) e o IPO do Porto gastou 217 euros (à frente do IPO de Coimbra, com 2334 euros).
Para as outras PPP, Hospital Beatriz Ângelo, gerido pela Luz Saúde, e Hospital de Cascais, nas mãos da Amil, não existem dados. A razão, segundo o presidente da Associação de Administradores Hospitalares e ex-vogal da direção da ACSS (onde participou na montagem deste sistema de benchmarking), Alexandre Lourenço, decorre do facto de as entidades gestoras não disponibilizam os dados que permitem calcular este tipo de indicadores.
“Foi pedido aos privados para darem os dados para a definição do doente padrão, e Vila Franca de Xira e Braga enviam a informação, Loures e Cascais, não. Mas não são obrigados a comunicar esses dados, porém, os elementos que têm que fornecer [no âmbito das regras do contrato de PPP] não são suficientes para fazer este cálculo”, explica o responsável.
A este respeito, Artur Vaz, administrador executivo do Hospital Beatriz Ângelo, refere que, a cada três meses, enviam toda a informação que lhes é solicitada por obrigação do contrato que têm com o Estado. “Além disso têm acesso aos nossos sistemas de informação em tempo real”, acrescenta. Sobre o custo por doente padrão, o administrador garante que têm o menor encargo de todas as unidades de Lisboa e Vale do Tejo, cerca de 20% mais baixo da média.
Por sua vez, Alexandre Lourenço, faz notar que este custo por doente padrão nas PPP de Braga e de Vila Franca de Xira não é o valor que o Estado efetivamente paga, aliás, o encargo para o SNS é menor. “Sabendo que estas PPP têm resultados negativos, sabemos que o Estado ainda gasta menos do que aquele custo que ali está. Ou seja, o Estado ainda está a poupar mais. Os privados são, de facto, mais eficientes do que os hospitais com gestão pública, mas o Estado ainda gasta menos do que aquilo”.
Sobre a qualidade dos serviços prestados por estas unidades, já que os custos por doente padrão não mostram essa dimensão, Alexandre Lourenço não tem dúvidas de que estão dentro daquilo que é usual nos hospitais do SNS. “Os inquéritos de satisfação dos doentes vão nesse sentido”. Já Artur Vaz lembra que os hospitais PPP são obrigados a estarem acreditados pela Joint Commission International (cujo selo é uma garantia de excelência na prestação de cuidados de saúde), o que não acontece com os restantes hospitais públicos.
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