Não sei como é no Brasil, mas ao nível da OTAN, muitas vezes as "Divisões" são um mero Estado-maior onde se concentra muito do trabalho administrativo e pouco mais.
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Re: UM MBT NACIONAL
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Re: UM MBT NACIONAL
Ao menos nos EUA e Rússia as divisões ainda são uma referência para seus exércitos. No resto da Europa devido a grande diminuição de efetivos deixou de ser necessário.
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Re: UM MBT NACIONAL
Deixem-me pegar uma carona sobre este assunto (Divisões) a título de curiosidade.
Como leigo, uso a leitura de divisões para mensurar o tamanho das forças de cada país e tentar excluir unidades que não teriam atuação direta em campo. Não sei se isto é uma boa perspectiva, mas é a forma mais fácil que eu tenho para mesurar e por isto gostaria de validar minha interprestação a respeito das dimensões (tamanho) de nossas forças, que seria:
# 4 divisões de exército, como mencionado pelo Robson
# Brigadas independentes: Li alguma coisa sobre 30-35 mil homens na Amazônia, e poderíamos aqui considerar uma ou duas divisões a mais
# Corpo de Fuzileiros Navais: Não sei se estou correto, mas exergo neles uma divisão especial
Se minha interpretação e informações estão corretas, podemos então interpretar que teríamos pelo menos algo do tamanho de 6 ou 7 divisões. Correto?
Abraços.
Como leigo, uso a leitura de divisões para mensurar o tamanho das forças de cada país e tentar excluir unidades que não teriam atuação direta em campo. Não sei se isto é uma boa perspectiva, mas é a forma mais fácil que eu tenho para mesurar e por isto gostaria de validar minha interprestação a respeito das dimensões (tamanho) de nossas forças, que seria:
# 4 divisões de exército, como mencionado pelo Robson
# Brigadas independentes: Li alguma coisa sobre 30-35 mil homens na Amazônia, e poderíamos aqui considerar uma ou duas divisões a mais
# Corpo de Fuzileiros Navais: Não sei se estou correto, mas exergo neles uma divisão especial
Se minha interpretação e informações estão corretas, podemos então interpretar que teríamos pelo menos algo do tamanho de 6 ou 7 divisões. Correto?
Abraços.
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Re: UM MBT NACIONAL
DB é estrutura dos anos 50/60 do século passado. Mas a título de recordação era formada por Regimentos de Cavalaria Blindados e Regimentos de Infantaria Motorizados.
Atualmente só DE que são formadas com 03 a 05 Brigadas de Arma Base.
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Re: UM MBT NACIONAL
Divisão Encouraçada é nome fantasia da 3ª DE (Sta Maria), por possuir na sua organização atual 01 BdaInfBld e 03 BdaCavMec.FCarvalho escreveu: ↑Qui Jun 14, 2018 3:15 pmHá muito tempo atrás eu ouvi falar de uma divisão chamada de "a encouraçada" no exército. Só não sei dizer se tinha alguma coisa haver com cavalaria.Marechal-do-ar escreveu: ↑Qui Jun 14, 2018 2:38 pm
Não sei se o EB tem o conceito de "divisão blindada", então, se o conceito não existir, fica dificil falar em "ideal".
Já em relação as divisões, o conceito existe no EB, mas me parece estar longe do ideal.
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Re: UM MBT NACIONAL
É bom complementar que as DB conviveram com as DI e DC. que eram Organizações com estruturas "engessadas" como são hoje as Bda.
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Re: UM MBT NACIONAL
Anos 60.RobsonBCruz escreveu: ↑Sex Jun 15, 2018 9:13 am Fala-se tanto que temos que evoluir, saindo das doutrinas da IIGM, mas continuamos pensando em estrutura como se fossemos participar de um novo Dia D ou operação Barbarosa.
Até os anos 80 as divisões eram o grande comando padrão das maioria dos exércitos. A partir daí, a brigada assumiu esse papel, ficando as divisões como comandos operacionais flexíveis, ou seja, que podem reunir, conforme a necessidade, brigadas e unidades independentes de diversos tipos.
No EB, foram mantidas 4 divisões: 1ªDE (RJ), 2ª DE (SP), 3ª DE (RS) e 5ª DE (PR)
Embora na estrutura de paz essas divisões tenham brigadas vinculadas, essa é uma estrutura administrativa voltada principalmente para o preparo da força terrestre. Em caso de emprego de grande contingente (FT Divisão), esses comandos operacionais são reorganizados com a ajudicação de unidades, conforme cada necessidade.
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Re: UM MBT NACIONAL
Grandes contingentes podem se dar ao luxo de ter Divisões vinculadas às Armas.
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Re: UM MBT NACIONAL
Só tem que acrescentar que meio que subjetivo as brigadas americanas pois as mesmas possuem um efetivo quase do tamanho de divisões. Não da para comparar nenhum Exército do mundo com o americano pois sua Divisão tem o tamnho de um corpo de Exército.cabeça de martelo escreveu: ↑Qui Jun 14, 2018 11:49 am Uma Divisão são por norma apenas um Estado Maior que gere/coordena três Brigadas, podendo ter outras sub-unidades de apoio a essas Brigadas como por exemplo uma unidade de aviação (helicopteros).
Exemplos:
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Re: UM MBT NACIONAL
Estudando um pouco mais de perto o projeto do K-1A1, pude ver que o mesmo se trata de um Abrams com alma de Leo II.
Segundo notícias da mídia, o seu custo estaria em torno de 4,5 milhões de dólares. Tirando o T-90, é o CC de fábrica mais barato do mercado.
Aí me surge a pergunta: ele seria uma boa opção para o EB, já que praticamente quase tudo nele em termos de de eletrônica, mecânica e optronicos são de origem alemã?
Diz-se que o canhão de 120mm pode ser o mesmo do Leo II.
Como temos a kmw aqui, e uma farta rede de empresas alemães.
O cito bldo coreano está dentro da faixa de peso estimada para o novo CC, ou seja, entre 50-55 toneladas e já possui derivados como versões de engenharia, resgate e artilharia AP.
Uma eventual negociação com os coreanos poderia render vantagens para a montagem deste modelo aqui em terras tupiniquins?
Opiniões?
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Segundo notícias da mídia, o seu custo estaria em torno de 4,5 milhões de dólares. Tirando o T-90, é o CC de fábrica mais barato do mercado.
Aí me surge a pergunta: ele seria uma boa opção para o EB, já que praticamente quase tudo nele em termos de de eletrônica, mecânica e optronicos são de origem alemã?
Diz-se que o canhão de 120mm pode ser o mesmo do Leo II.
Como temos a kmw aqui, e uma farta rede de empresas alemães.
O cito bldo coreano está dentro da faixa de peso estimada para o novo CC, ou seja, entre 50-55 toneladas e já possui derivados como versões de engenharia, resgate e artilharia AP.
Uma eventual negociação com os coreanos poderia render vantagens para a montagem deste modelo aqui em terras tupiniquins?
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Re: UM MBT NACIONAL
Não seria uma boa opção para o EB, simplesmente porque é uma merda.
Custando essa pechincha, se fosse bom, venderia que nem água no deserto, ou ao menos, venderia que nem o Leo 2, mas não é o caso, tirando o "pai", ninguém mais comprou esse tanque.
Ele realmente é baseado no M1, mas bem mais leve, acontece que essa leveza não veio de graça, tiveram que sacrificar a blindagem para conseguir isso, e os sistemas "alemães" também não são os mais recentes, alguém que compre Leo 2A4 não estará muito atrás.
Resumindo, é o orgulho da indústria coreana, quer dizer, pode não ser muito bom, mas foi feito na Coréia e os coreanos estão orgulhosos disso, e os coreanos ao invés de ficarem chorando que o tanque deles não é tão bom e sair pelo mundo procurando por ToTs ou "parcerias" para ter um tanque decente usaram tudo o que aprenderam e projetaram o K2, que talvez ainda não seja o melhor tanque do mundo e nem uma boa opção para um cliente extrangeiro como o Brasil, mas que os coreanos vão usar como aprendizado para o futuro K-3.
Custando essa pechincha, se fosse bom, venderia que nem água no deserto, ou ao menos, venderia que nem o Leo 2, mas não é o caso, tirando o "pai", ninguém mais comprou esse tanque.
Ele realmente é baseado no M1, mas bem mais leve, acontece que essa leveza não veio de graça, tiveram que sacrificar a blindagem para conseguir isso, e os sistemas "alemães" também não são os mais recentes, alguém que compre Leo 2A4 não estará muito atrás.
Resumindo, é o orgulho da indústria coreana, quer dizer, pode não ser muito bom, mas foi feito na Coréia e os coreanos estão orgulhosos disso, e os coreanos ao invés de ficarem chorando que o tanque deles não é tão bom e sair pelo mundo procurando por ToTs ou "parcerias" para ter um tanque decente usaram tudo o que aprenderam e projetaram o K2, que talvez ainda não seja o melhor tanque do mundo e nem uma boa opção para um cliente extrangeiro como o Brasil, mas que os coreanos vão usar como aprendizado para o futuro K-3.
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Re: UM MBT NACIONAL
O projeto do K1a1 salvo engano é dos anos 1990. Então ele ainda possui uma certa atualidade, com algum espaço para modernização.Marechal-do-ar escreveu: ↑Qua Set 05, 2018 1:11 am Não seria uma boa opção para o EB, simplesmente porque é uma merda.
Custando essa pechincha, se fosse bom, venderia que nem água no deserto, ou ao menos, venderia que nem o Leo 2, mas não é o caso, tirando o "pai", ninguém mais comprou esse tanque.
Ele realmente é baseado no M1, mas bem mais leve, acontece que essa leveza não veio de graça, tiveram que sacrificar a blindagem para conseguir isso, e os sistemas "alemães" também não são os mais recentes, alguém que compre Leo 2A4 não estará muito atrás.
Resumindo, é o orgulho da indústria coreana, quer dizer, pode não ser muito bom, mas foi feito na Coréia e os coreanos estão orgulhosos disso, e os coreanos ao invés de ficarem chorando que o tanque deles não é tão bom e sair pelo mundo procurando por ToTs ou "parcerias" para ter um tanque decente usaram tudo o que aprenderam e projetaram o K2, que talvez ainda não seja o melhor tanque do mundo e nem uma boa opção para um cliente extrangeiro como o Brasil, mas que os coreanos vão usar como aprendizado para o futuro K-3.
Concordo que ele não é assim uma Brastemp dos tanques, mas possui características e qualidades que interessam ao EB.
Penso que podemos utilizar ele como um ponto de partida para veículos melhores no medio e logo prazo dentro de um processo construtivo nacional. O mesmo esquema utilizado pelos coreanos.
Digo isso olhando a nossa BID que hoje praticamente não tem como apoiar nenhum tipo de CC, usado ou novo.
E como não estamos em condições de sermos muito exigentes com coisa alguma, creio que começar pelo básico, pelo mais simples e fácil de fazer seja o caminho viável de se dispor no país, antes de mais nada, de uma indústria capaz de dar suporte a um CC. O K1a1 poderia ser esta referência de base.
Talvez seja possível montar ele aqui em forma de CKD.
O recheio pode ser preenchido por indústrias locais, assim como a parte de sistemas e armazenamento pode ser feita uma peneira por aí a fim de selecionar as melhores opções conforme o objetivo principal que seria capacitar a indústria nacional a prover de forma qualitativa a vida operacional de um CC.
Creio que alemães e italianos teriam interesse em fazer parte do grupo de empresas apoiadoras do ciclo de vida de um K1a1 BR. Para não falar do resto do pessoal disfarçado de nacional no vale do paraibas.
Não seria o melhor CC do mundo, mas já seria muito melhor do que estamos agora.
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Re: UM MBT NACIONAL
Caro, boa noite!
Sempre imaginei que a 3a DE tivesse herdado esta denominação historica devido ao fato da 3a DE ter sido oriunda da 3 Div. Inf. em 1971.
"...Em 1971, a 3ª Divisão de Infantaria foi extinta para dar lugar à 3ª Divisão de Exército..."
http://www.eb.mil.br/web/noticias/notic ... niversario
E que a denominação historia "Encouraçada" teve origem na Guerra do Paraguai quando comandada pelo Brigadeiro Antônio de Sampaio a 3ª Divisão foi a Vanguarda na invasão do Paraguai pelo Passo da Pátria. Alem disse teve papel destacado na batalha de Tuiuti, com o proprio Brigadeiro Antônio de Sampaio tendo falecido em virtude dos ferimentos advindos desta batalha.
http://www.ahimtb.org.br/bsampaio_tripliceali.htm
"... Em 7 de março de 1979, o Ministro do Exército, considerando que a 3ª DE, por sua destinação básica e funcional, por sua numeração e por enquadrar entre suas organizações militares subordinadas, unidades que combateram na campanha da tríplice aliança, apresentando afinidades com a 3ª Divisão do Exército Imperial, do Brigadeiro Antônio de Sampaio, concedeu-lhe a denominação de “Divisão Encouraçada” que, orgulhosamente, apresenta em seu estandarte histórico..."
https://missioneiroantigos.wordpress.co ... 01/page/9/
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Re: UM MBT NACIONAL
16 de Outubro, 2018 - 10:30 ( Brasília )
Considerações sobre a eventual compra de carros de combate em substituição ao Leopard 1 A5 BR
Major Daniel Longhi Canéppele
A aquisição da família de blindados Leopard 1, com as viatura blindada de combate carro de combate (VBCCC) Leopard 1 A5 BR e as viaturas blindadas de apoio de Engenharia e manutenção proporcionou uma revitalização momentânea da tropa blindada brasileira.
O maior ganho, contudo, não foi a disponibilização de materiais mais novos à tropa, mas sim a significativa mudança cultural na gestão dos blindados, na filosofia de manutenção, nos processos de ensino e no desenvolvimento de uma metodologia eficiente de formação e adestramento de guarnições, incluindo o uso de simuladores, sobretudo dos carros de combate.
Todavia, em 2027 está previsto o término da vida útil destes blindados, momento em que o Brasil, em tese, deveria estar iniciando a substituição da frota por outra mais moderna, seja ela de fabricação nacional ou aquisição no estrangeiro.
O fato é que a opção pelo desenvolvimento de uma VBCCC nacional, caso seja adotada, provavelmente não seria capaz de cumprir o prazo até 2027, sobretudo com a histórica instabilidade econômica nacional, que tem aplicado, reiteradamente, contingenciamentos aos recursos destinados à defesa.
Por outro lado, a compra de oportunidade tem sido ferramenta utilizada pelo Exército Brasileiro (EB) para aquisição de plataformas blindadas ao longo de sua história, o que, somado à questão econômica brasileira reforça a hipótese de que esta linha de ação seja a mais provável.
O presente ensaio teve por objetivo analisar alguns aspectos relevantes que devem ser considerados para a aquisição de um carro de combate no mercado internacional, em substituição à frota Leopard 1 A5 BR, tecendo comentários sobre impactos que as opções disponíveis no mercado poderão acarretar.
INTRODUÇÃO
No início do século XXI, o Governo Brasileiro empreendeu um projeto de restruturação de suas forças de defesa em busca da adequação às exigências do combate moderno. Uma série de documentos foi normatizada, com reflexos para todo o setor, inclusive para as tropas blindadas.
Nesse escopo foi implementado o Projeto Leopard, contemplando a aquisição de viaturas blindadas (VB), simuladores, obras de infraestrutura nas Unidades, suporte logístico integrado (SLI), a tradução de manuais e a qualificação dos recursos humanos (RIBEIRO, 2012).
O Projeto Leopard trouxe um rol de novas capacidades à cavalaria brasileira e desencadeou uma significativa mudança cultural na gestão dos blindados no âmbito do EB.
Trouxe ainda uma perspectiva da continuidade do fluxo de peças sobressalentes, suporte técnico e logístico até 2027, quando está previsto o fim do contrato com a fabricante (BRASIL, 2017).
O final do contrato de SLI marca, em tese, o fim da era Leopard 1 A5 BR no Brasil e o início de uma nova fase, onde outro carro de combate (CC), mais moderno e com capacidades superiores, deverá substituí-lo.
Para tanto, o EB deverá ou desenvolver um projeto de CC nacional, seja ele com ou sem a parceria de empresas estrangeiras; ou comprar um produto pronto, buscando no mercado internacional uma opção viável e que atenda às necessidades nacionais de defesa.
Nesse contexto, diversos aspectos relevantes e, muitas vezes, desconhecidos por parte daqueles que não são especialistas no assunto se tornam cruciais para que se faça uma opção acertada.
O objetivo final é solucionar as atuais demandas e evitar o surgimento de óbices gerados pela seleção de uma plataforma deixando de sequer considerar certos aspectos ou fazendo considerações equivocadas a respeito deles.
Esse estudo buscou, dessa maneira, analisar alguns aspectos fundamentais que devem ser levados em conta no estudo das opções de compra de oportunidade bem como elencar alguns impactos visualizados que poderão repercutir favorável ou desfavoravelmente no EB.
PODER DE PENETRAÇÃO
Um dos principais aspectos a serem considerados na aquisição de uma nova VBCCC é o poder de penetração de seu armamento principal. Esse quesito, embora pareça ser eminentemente técnico, deve também ser analisado sob o viés estratégico.
Em rápida análise do continente sul-americano, observa-se que o Leopard 1 A5 BR, dotado de canhão L7A3 de 105mm, principal VBCCC da força terrestre, está em desvantagem em relação ao Leopard 2 A4 chileno e ao T-72 B1 venezuelano.
A Colômbia, histórico parceiro militar dos EUA, é forte candidato à aquisição dos M1A1 ou A2 Abrams, e certamente essa seria uma linha de ação plausível face à ameaça blindada de um país vizinho. Além disso, o Peru, em 2013, testou o T-90 S, de origem russa, para substituir sua frota de T-55, o que em caso de confirmação de compra, também o colocaria em situação favorável em relação aos CC brasileiros.
Tecnicamente, portanto, os CC do EB não teriam poder de penetração suficiente para vencer com um tiro a blindagem dos CC de quatro países sul-americanos, o que traz grandes prejuízos à capacidade dissuasória das forças blindadas nacionais.
Desse modo, a aquisição de um novo CC com maior poder de penetração é fundamental. O calibre a ser adotado deve, portanto, ser superior ao atual 105mm. No mercado internacional, existem basicamente os calibres 120mm, mais comuns nos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e 125mm, mais comum nos países integrantes da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Tabela 1: Relação de MBT e seu armamento principal. Fonte: o autor
É pertinente salientar que os países listados na tabela 1 também possuem plataformas blindadas com canhões 105mm, porém, seus Main Battle Tanks (MBT), destinados ao enfrentamento de outros MBT modernos, possuem calibres 120 ou 125mm pois, do contrário, não seriam capazes de sobrepujar a blindagem inimiga.
A respeito do canhão fabricado pela Rheinmetall que equipa o Leopard 2, existe uma diferença relevante entre os modelos L44 e L55. O canhão L44 foi desenvolvido primeiro e equipou as primeiras versões desse carro.
Com o tempo, o incremento nas blindagens fez com que fosse necessário aumentar o poder de penetração do canhão, uma solução adotada foi o aumento do comprimento do canhão em 1,30 metros, surgiu assim o L55 em 1991.
A mudança propiciou maior pressão dos gases, gerando mais energia para perfurar as blindagens e aumentando o alcance em cerca de 1500 metros. A partir da versão 2 A6, todos os carros passaram a receber o canhão L55.
Cumpre destacar que os atuais fabricantes de munições 120mm tem direcionado sua produção para canhões L55 e não mais L44. Assim, caso o Brasil opte por adquirir um CC com canhão 120mm, é importante que não faça a opção por versões obsoletas como o L44.
Comprar o modelo L44 pode parecer vantajoso e, provavelmente, ele será oferecido pois estará estocado e fora de uso no país ofertante. Provavelmente também, haverá estoques de munições para esse canhão e o fator preço será, em primeira impressão, atrativo.
Há que se alertar que, por outro lado, existem aspectos que não são mencionados pelo vendedor. O primeiro deles é que os fabricantes de munição não produzem, regularmente, munições para canhões obsoletos, o que torna mais cara a aquisição desse produto.
Uma solução seria comprar os estoques de outros exércitos, porém essa linha de ação traz graves prejuízos. O primeiro deles é a compra de lotes distintos, impedindo a inserção dos valores médios no computador de tiro, prejudicando a precisão.
A segunda é a compra de munições amassadas, com estojos inchados, com indícios de exsudação, etc, em função de más condições ou longo tempo de armazenamento. A terceira é a compra apenas de munições de guerra, obrigando sua utilização para atividades de ensino e adestramento, uma vez que os estoques são para hipótese de conflito, portanto não são munições de treino.
Esse último prejuízo traz riscos para a segurança, uma vez que ainda não possuímos polígonos de tiro com manga de segurança para munições de guerra onde haja estruturas adequadas de treinamento e impede a utilização de alvos móveis sensorizados pelo risco de sua destruição.
O Brasil já vivenciou essa situação com a VBCCC Leopard 1 A5 BR.Salienta-se ainda que a Rheinmetall apresentou um novo canhão, de 130mm como resposta a fabricação do CC russo T-14 Armata, cuja forte blindagem (900mm na parte frontal), em tese, seria capaz de impedir a penetração dos impactos de 120mm (FLORES, 2018).
Desse modo, a adoção de uma VBCCC dotada de canhão 120mm, com capacidades similares ao modelo L55, apresenta-se como uma opção mais viável, considerando que esse calibre seria suficiente para o enfrentamento de qualquer ameaça blindada no entorno estratégico brasileiro.
STANDOFF
Uma das maiores vantagens fornecidas pela superioridade de uma VBCCC em relação à outra é o maior alcance do armamento principal, que confere a possibilidade de engajar alvos blindados inimigos sem estar dentro do alcance útil deles. Essa situação se denomina “Standoff”. O computador de tiro, o EMES18 e o canhão 105mm do Leopard 1 A5 BR são capazes de engajar e destruir alvos a um alcance máximo de 4000m.
Esse alcance, contudo, possui uma baixa perspectiva de impacto, sobretudo se o alvo estiver em movimento e as condições climáticas forem adversas. A maior probabilidade de impacto ocorre em distâncias de até 3000m, o que nos dias atuais não é considerada uma grande distância.
Sistemas de armas mais modernos, utilizando canhão 120mm ou 125mm, possuem o alcance máximo de cerca de 5500m e uma maior probabilidade de impacto até 4000m. Ou seja, além da dificuldade imposta pelo poder de penetração da munição 105mm, face à blindagens mais pesadas, ainda há a desvantagem de se ter que vencer uma distância de cerca de 1000m, onde o Leopard 1 A5 BR sequer consegue engajar eficientemente um blindado mais moderno e já está suscetível a ser destruído por esse inimigo.
Figura 1: T-72 iraquiano destruído durante Op Tempestade do Deserto. Fonte: Ztrashbuckle.
Essa situação ocorreu durante a Operação Tempestade do Deserto, em 1991, quando as forças blindadas norte-americanas, constituídas pelos MBT M1A1 Abrams praticamente destruíram toda a frota iraquiana de tanques T-62, T-55 e T-54, antes mesmo de entrarem no alcance do armamento iraquiano, uma vez que o único modelo que estava à altura de enfrentamento eram os T-72 (SCHUBERT,1998).
Dessa maneira, análogo ao poder de penetração, o Leopard 1 A5 BR se encontra aquém em termos de alcance útil de seu canhão, em comparação com os Leopard 2 A4 Chilenos, os T-72 venezuelanos e os possíveis M1A2 colombianos e T-90S peruanos.
PESO DA VBCCC x PROTEÇÃO BLINDADA
O peso das VBCCC tem sido evocado como um fator limitador na escolha de plataformas blindadas para compra ou desenvolvimento. De fato, o Brasil possui uma limitação estrutural em suas pontes, o que, embora não seja insolucionável face à capacidade de engenharia nacional, é um óbice que deve ser levado em consideração pelos reflexos que traria para o planejamento das operações militares.
O constante aumento da proteção blindada dos CC ao longo da história foi consequência natural da evolução do armamento e das munições, cujo poder de penetração também crescia. A proteção blindada obviamente impacta o peso total dos blindados, que passaram a adotar chapas mais espessas e mais pesadas.
Na atualidade, é consenso que a tonelagem máxima, próxima das 70 toneladas, foi atingida. As limitações logísticas para o transporte, sobretudo aéreo, e os danos causados por onde trafega inviabilizam o acréscimo de mais cargas.
Tem sido observada a tendência no desenvolvimento de CC mais leves, em tordo de 45 toneladas, com maior agilidade, perfil baixo e furtividade. É o caso do T-14 Armata, de fabricação russa, de 48 toneladas e outros projetos como o PL-01 polonês.
Não se deve, contudo, se deixar enganar, acreditando que os CC mais pesados deixarão de existir no curto prazo, pois o que tem ocorrido é uma ampliação do rol de opções que países como a Rússia desejam dispor, lançando mão do material mais adequado face à situação que se apresentar no combate. Assim, os T-90 continuarão a fazer parte do arsenal russo e, certamente serão empregados onde e quando for taticamente mais vantajoso.
ATUAÇÃO NO ESTRANGEIRO E EM COALIZÃO
O Governo Brasileiro tem perseguido uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) há alguns anos. Além disso, com o fim da Missão da Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), vislumbra-se a assunção de uma nova missão com maior grau de complexidade e risco, onde se descortina o continente africano e, particularmente, países como o Congo.
Há quem possa julgar prematuro o planejamento do emprego de carros de combate em uma missão dessa natureza. Contudo, é desejável ter essa hipótese ao menos planejada, uma vez que a incerteza do combate ocasionalmente impõe situações inusitadas.
Sobre esse enfoque, o Brasil pode colher importantes ensinamentos angariados pelos canadenses no Afeganistão, que será abordado mais adiante.
Com relação à atuação do país como integrante de uma coalizão, isso pode parecer improvável na atual conjuntura mundial. Essa sensação de improbabilidade, todavia, foi a mesma que antecedeu a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado dos Aliados.
Esse valioso ensinamento deve sempre ser relembrado, sobretudo aos futuros líderes militares: não se pode atribuir ao “improvável” status de “impossível” quando o assunto for a segurança nacional.
Nesse sentido, ainda sobre a atuação em coalizão, na ocorrência dessa hipótese, espera-se que as tropas blindadas nacionais detenham capacidades próximas as das demais nações integrantes da coalizão, as quais a VBCCC Leopard 1 A5 BR tem se mostrado cada vez mais defasadas.
APROVEITAMENTO DA EXPERIÊNCIA JÁ ADQUIRIDA
A aquisição da VBCCC Leopard 1 A5 BR trouxe grande incremento na operacionalidade dos Regimentos de Carros de Combate (RCC) brasileiros. O material alemão é reconhecido por sua grande confiabilidade e, analisando sua doutrina de materiais, reconhece-se que a precisão de seus equipamentos e a boa manobrabilidade são aspectos privilegiados na concepção dos blindados.
Diferente dessa doutrina, a russa e a chinesa, por exemplo, privilegiam outros aspectos, como massa e o volume de fogos, o que influencia a maneira como seus blindados são idealizados.
A doutrina brasileira já lançou mão de materiais franceses, como o Renault FT-17, norte-americanos, como os CC Sherman, M41 e M60, e alemães como o Leopard 1 A1 e A5.
O material alemão, adotado mais recentemente, se mostrou muito bem adaptado às características do soldado brasileiro. Houve grande desenvolvimento tanto das habilidades operativas quanto as de manutenção.
A celebração de um contrato de Suporte Logístico Integrado (SLI) com a fabricante do Leopard 1 A5, a KMW, e a instalação de uma planta da empresa em Santa Maria-RS, permitiu a manutenção dos níveis de disponibilidade de viaturas e simuladores e o aprendizado com os mecânicos da empresa que durante um certo período permaneceram nos pelotões de manutenção dos RCC no contexto do On the Job Training.
Essa foi uma experiência valiosa para desenvolver a filosofia de manutenção de carros de combate vigente na atualidade no EB. Além desse fato, a compra do Leopard 1 A5 permitiu ao Brasil passar a integrar o grupo LEOBEN, composto pelos diversos exércitos que adotam o sistema Leopard no mundo, principalmente a família Leopard 2.
Dentre esses países, destacam-se: Alemanha, Áustria, Canadá, Turquia, Chile, Cingapura, Finlândia, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, etc. Esses países compartilham ensinamentos táticos do emprego em operações reais, propõem melhorias e buscam soluções e vantagens comerciais junto às empresas, sinergizando seus esforços e obtendo excelentes resultados.
Desse modo, acredita-se que a migração da plataforma Leopard 1 para Leopard 2 apresenta-se como possivelmente mais vantajosa, sob a perspectiva de que o Brasil manteria sua doutrina de material ordenada com a linha alemã atual, permitindo o aproveitamento do conhecimento já adquirido por seus quadros, havendo apenas a necessidade de poucas adaptações.
Possibilitaria ainda a manutenção da participação do Brasil na LEOBEN, com a vantagem de passar a dispor da mesma família que a maioria dos integrantes também dispõe, aumentando assim as potenciais interações.
E, por fim, permitiria a continuidade de um contrato de SLI semelhante ao celebrado com a KMW para a manutenção da frota de 1 A5, aproveitando inclusive a presença da planta de Santa Maria-RS (ANNES, 2012).
Considerando as demais plataformas, o Brasil nunca adotou carros de combate russos, chineses, japoneses, turcos, coreanos ou israelenses. Para aqueles que seguem a lógica da engenharia alemã, como o japonês Type 90, construído pela Mitsubishi ou o turco Altay, construídos em cooperação com a KMW, existe uma expectativa de que sua operação seja similar ao Leopard 2.
Contudo, acredita-se que a compra de uma das plataformas já listadas tornaria o país muito dependente da indústria de defesa do país fabricante, acentuado pelo fato de que nenhum desses, a exceção dos modelo “T” russos, possui grandes mercados compradores, nem foram largamente empregados em combates reais.
Figura 2: CC Type 90. Fonte: Military Today
O caso norte-americano merece consideração especial. Apesar de no passado o Brasil ter celebrado contrato de cooperação militar com os EUA e até os dias atuais utilizar o M60 A3 TTS no 20º Regimento de Cavalaria Blindado (RCB), essa versão da plataforma está bastante desatualizada.
Existem opções interessantes de pacotes de atualização, como o SABRA, da empresa israelense IMI, que poderiam recuperar em parte a capacidade de operação do M60 no complexo combate moderno, inclusive alterando o calibre para 120mm.
Ainda assim, seria investir em uma plataforma que já não está à altura do Abrams, Challenger, T-90, Leclerc ou Leopard 2 A6 (ROZA, 2017). No tocante ao M1A1 ou M1A2 Abrams, acredita- se que algumas peculiaridades desse CC contraindicam sua adoção pela realidade brasileira.
O primeiro motivo seria o fato da alta dependência gerada em relação à indústria bélica estadunidense.O segundo motivo é que, além dos EUA, somente a Austrália e países do Oriente Médio adotam esta plataforma, são eles: Arábia Saudita, Egito, Kwait e Iraque. O terceiro motivo é a tecnologia do conjunto de força, uma turbina multi-combustível Honeywell AGT-1500C que, além de ser mais complexa que um motor a diesel, gera muito mais calor, tornando quase impossível a presença de fuzileiros ao seu redor, o que afetaria drasticamente a doutrina brasileira de emprego de Forças-Tarefas blindadas.
Figura 3: M60 T Sabra. Fonte: Stratejikortak.
Os EUA possuem, na atualidade, cerca de 2400 M1 em serviço e 3500 em estoque. Já o Exército Alemão (Bundeswehr) pretende realizar um upgrade de 68 Leopard 2 A4, 16 Leopard 2 A6 e 20 Leopard 2 A7, para a última versão, a 2 A7V.
Esses CC irão atuar juntamente com 155 Leopard 2 A6 e 50 Leopard 2 A6M, o que pode indicar que, no futuro, estas versões poderão estar disponíveis para venda (KEMP, 2017).
APROVEITAMENTO DA EXPERIÊNCIA CANADENSE
No final da década de 1990, o Exército Canadense (EC) iniciou um processo de transformação, mudando sua estrutura, baseada em tropas blindadas pesadas destinadas ao combate convencional para uma base primariamente média de rodas.
Em 2004, o governo canadense anunciou que adquiriria a plataforma MGS (Main Gun System) da General Dynamics, uma viatura blindada (VB) sobre rodas dotada de canhão 105mm, a fim de substituir suas VBCCC Leopard 1 C2. Contudo, em abril de 2007, decidiu adquirir 120 VBCCC Leopard 2, contrariando os rumos estabelecidos da migração para tropas médias.
Entre 2006- 2007, os canadenses lutaram no Afeganistão com seus LAV III (20 tons), dotados de canhão Bushmaster 25mm e Mtr 7.62mm, contra os insurgentes talibãs.
Esta VB possuía poder muito superior às forças insurgentes, porém, a partir de 2006, em Kandahar, os talibãs mudaram suas estratégias de combate, adotando táticas de defesa a partir de posições fortificadas e trincheiras, empregando emboscadas e posicionando obstáculos e artefatos explosivos improvisados (AEI) (CANÉPPELE, 2016).
Como consequência, a efetividade do poder de fogo e a mobilidade do LAV III foi reduzida e o número de baixas canadenses aumentou. Decidiu-se, então, enviar 15 Leopard 1 C2 ao Afeganistão, aumentando a proteção das tropas, proporcionando a limpeza de rotas dos AEI e possibilitando acessar posições no terreno que seriam impossíveis de se chegar com os LAV III.
Essa VB, contudo, possuía tecnologia já obsoleta, falta de peças de reposição e não possuía ar-condicionado, o que tornava sua operação muito difícil dado o extremo calor daquela região (CANÉPPELE, 2016).
Os sistemas hidráulicos da torre aqueciam, o que intensificava os efeitos da alta temperatura ainda mais, além de se tornarem um fator de risco, uma vez que os fluidos pressurizados e quentes poderiam ocasionar queimaduras fatais quando a VB fosse atingida pela explosão de um AEI.
A VBCCC Leopard 1 C2 não proporcionava proteção blindada suficiente e, embora possuísse poder de fogo para fazer frente ao Talibã, o mesmo não ocorreria caso fosse necessário combater uma VBC mais moderna.
Esse foi o primeiro argumento para a aquisição de 100 VBCCC Leopard 2 A4 (Holanda) e 20 VBCCC Leopard 2 A6 (Alemanha) (CANÉPPELE, 2016). O segundo argumento diz respeito à mitigação dos riscos operacionais pela redução do número de baixas.
A tríade potência de fogo/proteção blindada/ mobilidade é significantemente maior nas VBC pesadas, o que possibilita melhores capacidades para se operar em um ambiente operacional contemporâneo, onde as ameaças variam dentro do amplo espectro dos conflitos (CANÉPPELE, 2016).
O terceiro argumento para a aquisição da frota de Leopard 2 foi a pressão política exercida pelo aumento do número de baixas em combate em 2006, em relação a 2005, o que levou a mídia e a sociedade canadense a exigir dos políticos providências (CANÉPPELE, 2016).
Esta guinada em direção de CC mais modernos mostrou-se acertada pois reduziu-se drasticamente o número de mortos em combate no Afeganistão e as guarnições canadenses têm demonstrado um excelente nível de operacionalidade em exercícios como a Worthington Challenge, além de uma participação destacada na LEOBEN.
Figura 4: Leopard 2 A6 Fonte: Krauss-Maffei Wegman GmbH & Co. KG.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não resta dúvida que todo integrante da tropa boina preta brasileira gostaria de ver os RCC e RCB dotados de modernos carros de combate nacionais, a exemplo do que representou a VBCCC EE-T1 Osório.
Esse objetivo não é utópico dada a magnitude do Brasil, mas também não se descortina no horizonte de curto ou médio prazo. Enquanto não se atinge esta meta ambiciosa, o EB não pode se olvidar de possuir uma frota condizente com sua importância geopolítica nem com a altura da posição que deseja ocupar tanto no seu entorno estratégico, quanto no nível mundial.
Sob esta perspectiva, avulta-se a probabilidade uma nova compra de oportunidade após 2027, para quando está programado o término da operação do Leopard 1 A5 BR. O tempo é curto e a análise das opções deve ser iniciada o quanto antes. Das opções vislumbradas neste estudo, aquela que se apresentou como mais viável, salvo melhor entendimento, é a VBCCC Leopard 2, preferencialmente na versão A6, porém suficientemente na versão A4.
Esta linha de ação se mostra como a menos impactante na atual doutrina militar terrestre, filosofia de manutenção de blindados, a que melhor aproveita os conhecimentos já adquiridos e a capacitação dos quadros. É primordial também lembrar que o EB já conta com um bom número de oficiais e sargentos com alto grau de especialização nos assuntos atinentes aos CC.
Militares que integram o projeto Leopard desde sua origem e que foram especializados pelo CI Bld, que possuem experiência em atividades no exterior como a participação na International Master Gunner Conference e na LEOBEN, cujo conhecimento alcança não somente aspectos técnicos, mas também aspectos peculiares do emprego de blindados por outros exércitos, suas dificuldades, experiências e consequências das decisões tomadas. Esses militares, mesmo que não se concentrem em sua totalidade no CI Bld, ainda mantêm um vínculo sólido com o centro e possuem plenas condições de prestar valiosos assessoramentos para qualquer decisão que deva ser tomada.
Desta maneira, independente da plataforma que venha a ser escolhida na confirmação da opção pela compra de oportunidade, é importante que o CI Bld seja incluído como órgão de assessoramento, desde o início do processo. Isto permitirá ao escalão decisório vislumbrar um cenário mais claro dos impactos das diversas linhas de ação, calcados em aspectos técnicos e na experiência construída por mais de 20 anos de existência.
Por fim, a adoção de uma nova plataforma de combate para substituir a VBCCC Leopard 1 A5 BR é um passo importante, complexo por envolver múltiplos aspectos a serem considerados e que, futuramente, terá que ser dado.
Resta ao EB se preparar da melhor maneira possível para que esse passo seja seguro e possa contribuir de modo eficiente para a construção de um exército mais moderno e à altura das expectativas e demandas que o Brasil imporá para a consecussão de seus objetivos nacionais.
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O autor:
Major de Cavalaria da turma de 2001 da AMAN. Foi oficial de operações do 1º RCC. É operador e instrutor avançado de tiro da VBCCC Leopard 1 A5 BR. Atualmente é instrutor do CI Bld.
Fonte:
CI Bld - Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires [Link] http://www.cibld.eb.mil.br/
REFERÊNCIAS:
ANNES, Daniel Bernardi. Análise comparativa entre as VBCCC Leopard 1 A5 BR e Leopard 2A4. Brasília, 2012. Disponível em: . Acesso em: 04 Jan. 2017.BRASIL. Diário Oficial da União. Termo de Contrato nº 024/2017-COLOG/DMAT, Brasília, 2017.
CANÉPPELE, Daniel Longhi. A Adoção do Leopard 2 pelo Exército Canadense e a Experiência no Afeganistão. Santa Maria, 2016. Disponível em: Acesso em: 21 Jun. 2018.
FLORES, Olmiro Patric Silva. T-14 ARMATA. Santa Maria, 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 Jun. 2018.
KEMP, Ian. Forewarned and forearmed. Revista Land Warfare International, Londres, vol. 8, 2017. MILITARY-TODAY. Top 10 Main Battle Tanks. Disponível em: . Acesso em: 21 Jun. 2018.
RIBEIRO, Marcelo Carvalho. Projetos Leopard e Guarani: Mudança Cultural na Operação e Manutenção de Blindados. In: Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, 4., Porto Alegre, 2012.
ROZA, José Lino Lopez da. Novas Atualizações da VBCCC M60. Santa Maria, 2017. Disponível em: . Acesso em: 19 Jun. 2018.
SCHUBERT, Frank N.; KRAUS, Thereza L. Tempestade do Deserto: operações da Guerra do Golfo. Tradução Luis Cesar Fonseca. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.
http://www.defesanet.com.br/leo/noticia ... d-1-A5-BR/
abs.
arcanjo
Considerações sobre a eventual compra de carros de combate em substituição ao Leopard 1 A5 BR
Major Daniel Longhi Canéppele
A aquisição da família de blindados Leopard 1, com as viatura blindada de combate carro de combate (VBCCC) Leopard 1 A5 BR e as viaturas blindadas de apoio de Engenharia e manutenção proporcionou uma revitalização momentânea da tropa blindada brasileira.
O maior ganho, contudo, não foi a disponibilização de materiais mais novos à tropa, mas sim a significativa mudança cultural na gestão dos blindados, na filosofia de manutenção, nos processos de ensino e no desenvolvimento de uma metodologia eficiente de formação e adestramento de guarnições, incluindo o uso de simuladores, sobretudo dos carros de combate.
Todavia, em 2027 está previsto o término da vida útil destes blindados, momento em que o Brasil, em tese, deveria estar iniciando a substituição da frota por outra mais moderna, seja ela de fabricação nacional ou aquisição no estrangeiro.
O fato é que a opção pelo desenvolvimento de uma VBCCC nacional, caso seja adotada, provavelmente não seria capaz de cumprir o prazo até 2027, sobretudo com a histórica instabilidade econômica nacional, que tem aplicado, reiteradamente, contingenciamentos aos recursos destinados à defesa.
Por outro lado, a compra de oportunidade tem sido ferramenta utilizada pelo Exército Brasileiro (EB) para aquisição de plataformas blindadas ao longo de sua história, o que, somado à questão econômica brasileira reforça a hipótese de que esta linha de ação seja a mais provável.
O presente ensaio teve por objetivo analisar alguns aspectos relevantes que devem ser considerados para a aquisição de um carro de combate no mercado internacional, em substituição à frota Leopard 1 A5 BR, tecendo comentários sobre impactos que as opções disponíveis no mercado poderão acarretar.
INTRODUÇÃO
No início do século XXI, o Governo Brasileiro empreendeu um projeto de restruturação de suas forças de defesa em busca da adequação às exigências do combate moderno. Uma série de documentos foi normatizada, com reflexos para todo o setor, inclusive para as tropas blindadas.
Nesse escopo foi implementado o Projeto Leopard, contemplando a aquisição de viaturas blindadas (VB), simuladores, obras de infraestrutura nas Unidades, suporte logístico integrado (SLI), a tradução de manuais e a qualificação dos recursos humanos (RIBEIRO, 2012).
O Projeto Leopard trouxe um rol de novas capacidades à cavalaria brasileira e desencadeou uma significativa mudança cultural na gestão dos blindados no âmbito do EB.
Trouxe ainda uma perspectiva da continuidade do fluxo de peças sobressalentes, suporte técnico e logístico até 2027, quando está previsto o fim do contrato com a fabricante (BRASIL, 2017).
O final do contrato de SLI marca, em tese, o fim da era Leopard 1 A5 BR no Brasil e o início de uma nova fase, onde outro carro de combate (CC), mais moderno e com capacidades superiores, deverá substituí-lo.
Para tanto, o EB deverá ou desenvolver um projeto de CC nacional, seja ele com ou sem a parceria de empresas estrangeiras; ou comprar um produto pronto, buscando no mercado internacional uma opção viável e que atenda às necessidades nacionais de defesa.
Nesse contexto, diversos aspectos relevantes e, muitas vezes, desconhecidos por parte daqueles que não são especialistas no assunto se tornam cruciais para que se faça uma opção acertada.
O objetivo final é solucionar as atuais demandas e evitar o surgimento de óbices gerados pela seleção de uma plataforma deixando de sequer considerar certos aspectos ou fazendo considerações equivocadas a respeito deles.
Esse estudo buscou, dessa maneira, analisar alguns aspectos fundamentais que devem ser levados em conta no estudo das opções de compra de oportunidade bem como elencar alguns impactos visualizados que poderão repercutir favorável ou desfavoravelmente no EB.
PODER DE PENETRAÇÃO
Um dos principais aspectos a serem considerados na aquisição de uma nova VBCCC é o poder de penetração de seu armamento principal. Esse quesito, embora pareça ser eminentemente técnico, deve também ser analisado sob o viés estratégico.
Em rápida análise do continente sul-americano, observa-se que o Leopard 1 A5 BR, dotado de canhão L7A3 de 105mm, principal VBCCC da força terrestre, está em desvantagem em relação ao Leopard 2 A4 chileno e ao T-72 B1 venezuelano.
A Colômbia, histórico parceiro militar dos EUA, é forte candidato à aquisição dos M1A1 ou A2 Abrams, e certamente essa seria uma linha de ação plausível face à ameaça blindada de um país vizinho. Além disso, o Peru, em 2013, testou o T-90 S, de origem russa, para substituir sua frota de T-55, o que em caso de confirmação de compra, também o colocaria em situação favorável em relação aos CC brasileiros.
Tecnicamente, portanto, os CC do EB não teriam poder de penetração suficiente para vencer com um tiro a blindagem dos CC de quatro países sul-americanos, o que traz grandes prejuízos à capacidade dissuasória das forças blindadas nacionais.
Desse modo, a aquisição de um novo CC com maior poder de penetração é fundamental. O calibre a ser adotado deve, portanto, ser superior ao atual 105mm. No mercado internacional, existem basicamente os calibres 120mm, mais comuns nos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e 125mm, mais comum nos países integrantes da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Tabela 1: Relação de MBT e seu armamento principal. Fonte: o autor
É pertinente salientar que os países listados na tabela 1 também possuem plataformas blindadas com canhões 105mm, porém, seus Main Battle Tanks (MBT), destinados ao enfrentamento de outros MBT modernos, possuem calibres 120 ou 125mm pois, do contrário, não seriam capazes de sobrepujar a blindagem inimiga.
A respeito do canhão fabricado pela Rheinmetall que equipa o Leopard 2, existe uma diferença relevante entre os modelos L44 e L55. O canhão L44 foi desenvolvido primeiro e equipou as primeiras versões desse carro.
Com o tempo, o incremento nas blindagens fez com que fosse necessário aumentar o poder de penetração do canhão, uma solução adotada foi o aumento do comprimento do canhão em 1,30 metros, surgiu assim o L55 em 1991.
A mudança propiciou maior pressão dos gases, gerando mais energia para perfurar as blindagens e aumentando o alcance em cerca de 1500 metros. A partir da versão 2 A6, todos os carros passaram a receber o canhão L55.
Cumpre destacar que os atuais fabricantes de munições 120mm tem direcionado sua produção para canhões L55 e não mais L44. Assim, caso o Brasil opte por adquirir um CC com canhão 120mm, é importante que não faça a opção por versões obsoletas como o L44.
Comprar o modelo L44 pode parecer vantajoso e, provavelmente, ele será oferecido pois estará estocado e fora de uso no país ofertante. Provavelmente também, haverá estoques de munições para esse canhão e o fator preço será, em primeira impressão, atrativo.
Há que se alertar que, por outro lado, existem aspectos que não são mencionados pelo vendedor. O primeiro deles é que os fabricantes de munição não produzem, regularmente, munições para canhões obsoletos, o que torna mais cara a aquisição desse produto.
Uma solução seria comprar os estoques de outros exércitos, porém essa linha de ação traz graves prejuízos. O primeiro deles é a compra de lotes distintos, impedindo a inserção dos valores médios no computador de tiro, prejudicando a precisão.
A segunda é a compra de munições amassadas, com estojos inchados, com indícios de exsudação, etc, em função de más condições ou longo tempo de armazenamento. A terceira é a compra apenas de munições de guerra, obrigando sua utilização para atividades de ensino e adestramento, uma vez que os estoques são para hipótese de conflito, portanto não são munições de treino.
Esse último prejuízo traz riscos para a segurança, uma vez que ainda não possuímos polígonos de tiro com manga de segurança para munições de guerra onde haja estruturas adequadas de treinamento e impede a utilização de alvos móveis sensorizados pelo risco de sua destruição.
O Brasil já vivenciou essa situação com a VBCCC Leopard 1 A5 BR.Salienta-se ainda que a Rheinmetall apresentou um novo canhão, de 130mm como resposta a fabricação do CC russo T-14 Armata, cuja forte blindagem (900mm na parte frontal), em tese, seria capaz de impedir a penetração dos impactos de 120mm (FLORES, 2018).
Desse modo, a adoção de uma VBCCC dotada de canhão 120mm, com capacidades similares ao modelo L55, apresenta-se como uma opção mais viável, considerando que esse calibre seria suficiente para o enfrentamento de qualquer ameaça blindada no entorno estratégico brasileiro.
STANDOFF
Uma das maiores vantagens fornecidas pela superioridade de uma VBCCC em relação à outra é o maior alcance do armamento principal, que confere a possibilidade de engajar alvos blindados inimigos sem estar dentro do alcance útil deles. Essa situação se denomina “Standoff”. O computador de tiro, o EMES18 e o canhão 105mm do Leopard 1 A5 BR são capazes de engajar e destruir alvos a um alcance máximo de 4000m.
Esse alcance, contudo, possui uma baixa perspectiva de impacto, sobretudo se o alvo estiver em movimento e as condições climáticas forem adversas. A maior probabilidade de impacto ocorre em distâncias de até 3000m, o que nos dias atuais não é considerada uma grande distância.
Sistemas de armas mais modernos, utilizando canhão 120mm ou 125mm, possuem o alcance máximo de cerca de 5500m e uma maior probabilidade de impacto até 4000m. Ou seja, além da dificuldade imposta pelo poder de penetração da munição 105mm, face à blindagens mais pesadas, ainda há a desvantagem de se ter que vencer uma distância de cerca de 1000m, onde o Leopard 1 A5 BR sequer consegue engajar eficientemente um blindado mais moderno e já está suscetível a ser destruído por esse inimigo.
Figura 1: T-72 iraquiano destruído durante Op Tempestade do Deserto. Fonte: Ztrashbuckle.
Essa situação ocorreu durante a Operação Tempestade do Deserto, em 1991, quando as forças blindadas norte-americanas, constituídas pelos MBT M1A1 Abrams praticamente destruíram toda a frota iraquiana de tanques T-62, T-55 e T-54, antes mesmo de entrarem no alcance do armamento iraquiano, uma vez que o único modelo que estava à altura de enfrentamento eram os T-72 (SCHUBERT,1998).
Dessa maneira, análogo ao poder de penetração, o Leopard 1 A5 BR se encontra aquém em termos de alcance útil de seu canhão, em comparação com os Leopard 2 A4 Chilenos, os T-72 venezuelanos e os possíveis M1A2 colombianos e T-90S peruanos.
PESO DA VBCCC x PROTEÇÃO BLINDADA
O peso das VBCCC tem sido evocado como um fator limitador na escolha de plataformas blindadas para compra ou desenvolvimento. De fato, o Brasil possui uma limitação estrutural em suas pontes, o que, embora não seja insolucionável face à capacidade de engenharia nacional, é um óbice que deve ser levado em consideração pelos reflexos que traria para o planejamento das operações militares.
O constante aumento da proteção blindada dos CC ao longo da história foi consequência natural da evolução do armamento e das munições, cujo poder de penetração também crescia. A proteção blindada obviamente impacta o peso total dos blindados, que passaram a adotar chapas mais espessas e mais pesadas.
Na atualidade, é consenso que a tonelagem máxima, próxima das 70 toneladas, foi atingida. As limitações logísticas para o transporte, sobretudo aéreo, e os danos causados por onde trafega inviabilizam o acréscimo de mais cargas.
Tem sido observada a tendência no desenvolvimento de CC mais leves, em tordo de 45 toneladas, com maior agilidade, perfil baixo e furtividade. É o caso do T-14 Armata, de fabricação russa, de 48 toneladas e outros projetos como o PL-01 polonês.
Não se deve, contudo, se deixar enganar, acreditando que os CC mais pesados deixarão de existir no curto prazo, pois o que tem ocorrido é uma ampliação do rol de opções que países como a Rússia desejam dispor, lançando mão do material mais adequado face à situação que se apresentar no combate. Assim, os T-90 continuarão a fazer parte do arsenal russo e, certamente serão empregados onde e quando for taticamente mais vantajoso.
ATUAÇÃO NO ESTRANGEIRO E EM COALIZÃO
O Governo Brasileiro tem perseguido uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) há alguns anos. Além disso, com o fim da Missão da Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), vislumbra-se a assunção de uma nova missão com maior grau de complexidade e risco, onde se descortina o continente africano e, particularmente, países como o Congo.
Há quem possa julgar prematuro o planejamento do emprego de carros de combate em uma missão dessa natureza. Contudo, é desejável ter essa hipótese ao menos planejada, uma vez que a incerteza do combate ocasionalmente impõe situações inusitadas.
Sobre esse enfoque, o Brasil pode colher importantes ensinamentos angariados pelos canadenses no Afeganistão, que será abordado mais adiante.
Com relação à atuação do país como integrante de uma coalizão, isso pode parecer improvável na atual conjuntura mundial. Essa sensação de improbabilidade, todavia, foi a mesma que antecedeu a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado dos Aliados.
Esse valioso ensinamento deve sempre ser relembrado, sobretudo aos futuros líderes militares: não se pode atribuir ao “improvável” status de “impossível” quando o assunto for a segurança nacional.
Nesse sentido, ainda sobre a atuação em coalizão, na ocorrência dessa hipótese, espera-se que as tropas blindadas nacionais detenham capacidades próximas as das demais nações integrantes da coalizão, as quais a VBCCC Leopard 1 A5 BR tem se mostrado cada vez mais defasadas.
APROVEITAMENTO DA EXPERIÊNCIA JÁ ADQUIRIDA
A aquisição da VBCCC Leopard 1 A5 BR trouxe grande incremento na operacionalidade dos Regimentos de Carros de Combate (RCC) brasileiros. O material alemão é reconhecido por sua grande confiabilidade e, analisando sua doutrina de materiais, reconhece-se que a precisão de seus equipamentos e a boa manobrabilidade são aspectos privilegiados na concepção dos blindados.
Diferente dessa doutrina, a russa e a chinesa, por exemplo, privilegiam outros aspectos, como massa e o volume de fogos, o que influencia a maneira como seus blindados são idealizados.
A doutrina brasileira já lançou mão de materiais franceses, como o Renault FT-17, norte-americanos, como os CC Sherman, M41 e M60, e alemães como o Leopard 1 A1 e A5.
O material alemão, adotado mais recentemente, se mostrou muito bem adaptado às características do soldado brasileiro. Houve grande desenvolvimento tanto das habilidades operativas quanto as de manutenção.
A celebração de um contrato de Suporte Logístico Integrado (SLI) com a fabricante do Leopard 1 A5, a KMW, e a instalação de uma planta da empresa em Santa Maria-RS, permitiu a manutenção dos níveis de disponibilidade de viaturas e simuladores e o aprendizado com os mecânicos da empresa que durante um certo período permaneceram nos pelotões de manutenção dos RCC no contexto do On the Job Training.
Essa foi uma experiência valiosa para desenvolver a filosofia de manutenção de carros de combate vigente na atualidade no EB. Além desse fato, a compra do Leopard 1 A5 permitiu ao Brasil passar a integrar o grupo LEOBEN, composto pelos diversos exércitos que adotam o sistema Leopard no mundo, principalmente a família Leopard 2.
Dentre esses países, destacam-se: Alemanha, Áustria, Canadá, Turquia, Chile, Cingapura, Finlândia, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, etc. Esses países compartilham ensinamentos táticos do emprego em operações reais, propõem melhorias e buscam soluções e vantagens comerciais junto às empresas, sinergizando seus esforços e obtendo excelentes resultados.
Desse modo, acredita-se que a migração da plataforma Leopard 1 para Leopard 2 apresenta-se como possivelmente mais vantajosa, sob a perspectiva de que o Brasil manteria sua doutrina de material ordenada com a linha alemã atual, permitindo o aproveitamento do conhecimento já adquirido por seus quadros, havendo apenas a necessidade de poucas adaptações.
Possibilitaria ainda a manutenção da participação do Brasil na LEOBEN, com a vantagem de passar a dispor da mesma família que a maioria dos integrantes também dispõe, aumentando assim as potenciais interações.
E, por fim, permitiria a continuidade de um contrato de SLI semelhante ao celebrado com a KMW para a manutenção da frota de 1 A5, aproveitando inclusive a presença da planta de Santa Maria-RS (ANNES, 2012).
Considerando as demais plataformas, o Brasil nunca adotou carros de combate russos, chineses, japoneses, turcos, coreanos ou israelenses. Para aqueles que seguem a lógica da engenharia alemã, como o japonês Type 90, construído pela Mitsubishi ou o turco Altay, construídos em cooperação com a KMW, existe uma expectativa de que sua operação seja similar ao Leopard 2.
Contudo, acredita-se que a compra de uma das plataformas já listadas tornaria o país muito dependente da indústria de defesa do país fabricante, acentuado pelo fato de que nenhum desses, a exceção dos modelo “T” russos, possui grandes mercados compradores, nem foram largamente empregados em combates reais.
Figura 2: CC Type 90. Fonte: Military Today
O caso norte-americano merece consideração especial. Apesar de no passado o Brasil ter celebrado contrato de cooperação militar com os EUA e até os dias atuais utilizar o M60 A3 TTS no 20º Regimento de Cavalaria Blindado (RCB), essa versão da plataforma está bastante desatualizada.
Existem opções interessantes de pacotes de atualização, como o SABRA, da empresa israelense IMI, que poderiam recuperar em parte a capacidade de operação do M60 no complexo combate moderno, inclusive alterando o calibre para 120mm.
Ainda assim, seria investir em uma plataforma que já não está à altura do Abrams, Challenger, T-90, Leclerc ou Leopard 2 A6 (ROZA, 2017). No tocante ao M1A1 ou M1A2 Abrams, acredita- se que algumas peculiaridades desse CC contraindicam sua adoção pela realidade brasileira.
O primeiro motivo seria o fato da alta dependência gerada em relação à indústria bélica estadunidense.O segundo motivo é que, além dos EUA, somente a Austrália e países do Oriente Médio adotam esta plataforma, são eles: Arábia Saudita, Egito, Kwait e Iraque. O terceiro motivo é a tecnologia do conjunto de força, uma turbina multi-combustível Honeywell AGT-1500C que, além de ser mais complexa que um motor a diesel, gera muito mais calor, tornando quase impossível a presença de fuzileiros ao seu redor, o que afetaria drasticamente a doutrina brasileira de emprego de Forças-Tarefas blindadas.
Figura 3: M60 T Sabra. Fonte: Stratejikortak.
Os EUA possuem, na atualidade, cerca de 2400 M1 em serviço e 3500 em estoque. Já o Exército Alemão (Bundeswehr) pretende realizar um upgrade de 68 Leopard 2 A4, 16 Leopard 2 A6 e 20 Leopard 2 A7, para a última versão, a 2 A7V.
Esses CC irão atuar juntamente com 155 Leopard 2 A6 e 50 Leopard 2 A6M, o que pode indicar que, no futuro, estas versões poderão estar disponíveis para venda (KEMP, 2017).
APROVEITAMENTO DA EXPERIÊNCIA CANADENSE
No final da década de 1990, o Exército Canadense (EC) iniciou um processo de transformação, mudando sua estrutura, baseada em tropas blindadas pesadas destinadas ao combate convencional para uma base primariamente média de rodas.
Em 2004, o governo canadense anunciou que adquiriria a plataforma MGS (Main Gun System) da General Dynamics, uma viatura blindada (VB) sobre rodas dotada de canhão 105mm, a fim de substituir suas VBCCC Leopard 1 C2. Contudo, em abril de 2007, decidiu adquirir 120 VBCCC Leopard 2, contrariando os rumos estabelecidos da migração para tropas médias.
Entre 2006- 2007, os canadenses lutaram no Afeganistão com seus LAV III (20 tons), dotados de canhão Bushmaster 25mm e Mtr 7.62mm, contra os insurgentes talibãs.
Esta VB possuía poder muito superior às forças insurgentes, porém, a partir de 2006, em Kandahar, os talibãs mudaram suas estratégias de combate, adotando táticas de defesa a partir de posições fortificadas e trincheiras, empregando emboscadas e posicionando obstáculos e artefatos explosivos improvisados (AEI) (CANÉPPELE, 2016).
Como consequência, a efetividade do poder de fogo e a mobilidade do LAV III foi reduzida e o número de baixas canadenses aumentou. Decidiu-se, então, enviar 15 Leopard 1 C2 ao Afeganistão, aumentando a proteção das tropas, proporcionando a limpeza de rotas dos AEI e possibilitando acessar posições no terreno que seriam impossíveis de se chegar com os LAV III.
Essa VB, contudo, possuía tecnologia já obsoleta, falta de peças de reposição e não possuía ar-condicionado, o que tornava sua operação muito difícil dado o extremo calor daquela região (CANÉPPELE, 2016).
Os sistemas hidráulicos da torre aqueciam, o que intensificava os efeitos da alta temperatura ainda mais, além de se tornarem um fator de risco, uma vez que os fluidos pressurizados e quentes poderiam ocasionar queimaduras fatais quando a VB fosse atingida pela explosão de um AEI.
A VBCCC Leopard 1 C2 não proporcionava proteção blindada suficiente e, embora possuísse poder de fogo para fazer frente ao Talibã, o mesmo não ocorreria caso fosse necessário combater uma VBC mais moderna.
Esse foi o primeiro argumento para a aquisição de 100 VBCCC Leopard 2 A4 (Holanda) e 20 VBCCC Leopard 2 A6 (Alemanha) (CANÉPPELE, 2016). O segundo argumento diz respeito à mitigação dos riscos operacionais pela redução do número de baixas.
A tríade potência de fogo/proteção blindada/ mobilidade é significantemente maior nas VBC pesadas, o que possibilita melhores capacidades para se operar em um ambiente operacional contemporâneo, onde as ameaças variam dentro do amplo espectro dos conflitos (CANÉPPELE, 2016).
O terceiro argumento para a aquisição da frota de Leopard 2 foi a pressão política exercida pelo aumento do número de baixas em combate em 2006, em relação a 2005, o que levou a mídia e a sociedade canadense a exigir dos políticos providências (CANÉPPELE, 2016).
Esta guinada em direção de CC mais modernos mostrou-se acertada pois reduziu-se drasticamente o número de mortos em combate no Afeganistão e as guarnições canadenses têm demonstrado um excelente nível de operacionalidade em exercícios como a Worthington Challenge, além de uma participação destacada na LEOBEN.
Figura 4: Leopard 2 A6 Fonte: Krauss-Maffei Wegman GmbH & Co. KG.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não resta dúvida que todo integrante da tropa boina preta brasileira gostaria de ver os RCC e RCB dotados de modernos carros de combate nacionais, a exemplo do que representou a VBCCC EE-T1 Osório.
Esse objetivo não é utópico dada a magnitude do Brasil, mas também não se descortina no horizonte de curto ou médio prazo. Enquanto não se atinge esta meta ambiciosa, o EB não pode se olvidar de possuir uma frota condizente com sua importância geopolítica nem com a altura da posição que deseja ocupar tanto no seu entorno estratégico, quanto no nível mundial.
Sob esta perspectiva, avulta-se a probabilidade uma nova compra de oportunidade após 2027, para quando está programado o término da operação do Leopard 1 A5 BR. O tempo é curto e a análise das opções deve ser iniciada o quanto antes. Das opções vislumbradas neste estudo, aquela que se apresentou como mais viável, salvo melhor entendimento, é a VBCCC Leopard 2, preferencialmente na versão A6, porém suficientemente na versão A4.
Esta linha de ação se mostra como a menos impactante na atual doutrina militar terrestre, filosofia de manutenção de blindados, a que melhor aproveita os conhecimentos já adquiridos e a capacitação dos quadros. É primordial também lembrar que o EB já conta com um bom número de oficiais e sargentos com alto grau de especialização nos assuntos atinentes aos CC.
Militares que integram o projeto Leopard desde sua origem e que foram especializados pelo CI Bld, que possuem experiência em atividades no exterior como a participação na International Master Gunner Conference e na LEOBEN, cujo conhecimento alcança não somente aspectos técnicos, mas também aspectos peculiares do emprego de blindados por outros exércitos, suas dificuldades, experiências e consequências das decisões tomadas. Esses militares, mesmo que não se concentrem em sua totalidade no CI Bld, ainda mantêm um vínculo sólido com o centro e possuem plenas condições de prestar valiosos assessoramentos para qualquer decisão que deva ser tomada.
Desta maneira, independente da plataforma que venha a ser escolhida na confirmação da opção pela compra de oportunidade, é importante que o CI Bld seja incluído como órgão de assessoramento, desde o início do processo. Isto permitirá ao escalão decisório vislumbrar um cenário mais claro dos impactos das diversas linhas de ação, calcados em aspectos técnicos e na experiência construída por mais de 20 anos de existência.
Por fim, a adoção de uma nova plataforma de combate para substituir a VBCCC Leopard 1 A5 BR é um passo importante, complexo por envolver múltiplos aspectos a serem considerados e que, futuramente, terá que ser dado.
Resta ao EB se preparar da melhor maneira possível para que esse passo seja seguro e possa contribuir de modo eficiente para a construção de um exército mais moderno e à altura das expectativas e demandas que o Brasil imporá para a consecussão de seus objetivos nacionais.
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O autor:
Major de Cavalaria da turma de 2001 da AMAN. Foi oficial de operações do 1º RCC. É operador e instrutor avançado de tiro da VBCCC Leopard 1 A5 BR. Atualmente é instrutor do CI Bld.
Fonte:
CI Bld - Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires [Link] http://www.cibld.eb.mil.br/
REFERÊNCIAS:
ANNES, Daniel Bernardi. Análise comparativa entre as VBCCC Leopard 1 A5 BR e Leopard 2A4. Brasília, 2012. Disponível em: . Acesso em: 04 Jan. 2017.BRASIL. Diário Oficial da União. Termo de Contrato nº 024/2017-COLOG/DMAT, Brasília, 2017.
CANÉPPELE, Daniel Longhi. A Adoção do Leopard 2 pelo Exército Canadense e a Experiência no Afeganistão. Santa Maria, 2016. Disponível em: Acesso em: 21 Jun. 2018.
FLORES, Olmiro Patric Silva. T-14 ARMATA. Santa Maria, 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 Jun. 2018.
KEMP, Ian. Forewarned and forearmed. Revista Land Warfare International, Londres, vol. 8, 2017. MILITARY-TODAY. Top 10 Main Battle Tanks. Disponível em: . Acesso em: 21 Jun. 2018.
RIBEIRO, Marcelo Carvalho. Projetos Leopard e Guarani: Mudança Cultural na Operação e Manutenção de Blindados. In: Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, 4., Porto Alegre, 2012.
ROZA, José Lino Lopez da. Novas Atualizações da VBCCC M60. Santa Maria, 2017. Disponível em: . Acesso em: 19 Jun. 2018.
SCHUBERT, Frank N.; KRAUS, Thereza L. Tempestade do Deserto: operações da Guerra do Golfo. Tradução Luis Cesar Fonseca. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.
http://www.defesanet.com.br/leo/noticia ... d-1-A5-BR/
abs.
arcanjo
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Re: UM MBT NACIONAL
Bom, via de regra, é mais um texto que corrobora a ideia de uma evolução paulatina do Leo I para o Leo II como solução de consenso na falta de perspectivas críveis para um CC nacional ou a aquisição de modelo novo.
A KMW já deu o seu recado quanto a temporalidade e complexidade do desenvolvimento de um CC novo nacional. E os custos.
Esta opção é a de menor credibilidade face a falta de tempo e a a penúria orçamentária que a defesa sofre anualmente.
Todavia eu não descarto uma meia solução, como o desenvolvimento em parceria com outro país, e mesmo a aquisição de um modelo já estabelecido mas mais novo como os citados Altay e Type-10. Não se pode descartar de todo essas opções.
Fato é que nossa base industrial hoje não tem condições de suportar um projeto de CC moderno. Então, a melhor saída, realmente é investir na continuidade da família Leopard por aqui.
Falta saber se existirão Leo II sobrando por aí em 2027 para aquiescer essa escolha.
abs.
A KMW já deu o seu recado quanto a temporalidade e complexidade do desenvolvimento de um CC novo nacional. E os custos.
Esta opção é a de menor credibilidade face a falta de tempo e a a penúria orçamentária que a defesa sofre anualmente.
Todavia eu não descarto uma meia solução, como o desenvolvimento em parceria com outro país, e mesmo a aquisição de um modelo já estabelecido mas mais novo como os citados Altay e Type-10. Não se pode descartar de todo essas opções.
Fato é que nossa base industrial hoje não tem condições de suportar um projeto de CC moderno. Então, a melhor saída, realmente é investir na continuidade da família Leopard por aqui.
Falta saber se existirão Leo II sobrando por aí em 2027 para aquiescer essa escolha.
abs.
Carpe Diem