OS COMANDOS – DE 1980 A 2006
Da Brigada de Forças Especiais à extinção do Regimento de Comandos
Dos Pára-Comandos e Brigada Aerotransportada à constituição do Centro de Tropas Comandos
ANTECEDENTES
Já em Fevereiro de 1974 o Estado Maior do Exército ~ (EME) estava preocupado com a problemática das tropas Comandos com vista à sua continuidade e face à dispersão da sua formação na Guiné, Angola e Moçambique, sendo parecer do, então, Director-Adjunto de Instrução, General Silvino Silvério Marques, que fosse constituído um grupo de trabalho para que "com total abertura de espírito fossem estudadas a problemática de recrutamento, a instrução e a organização das tropas Comandos" e apresentadas propostas com as grandes linhas de actuação a seguir.
Na sequência natural desta decisão e de acordo com o ambiente militar e político a missão do Regimento de Comandos foi evoluindo como tive oportunidade de deixar escrito no artigo "1975 -1980 - Os Primeiros Anos do Regimento de Comandos", na Revista nO.72.
Neste caminho difícil em que para além do Estado Maior do Exército, também o Estado Maior General das Forças Armadas (EMGFA) e a outros níveis, o Governo Militar de Lisboa (GML) e a Direcção da Arma de Infantaria quiseram dar a sua opinião, exercer a sua influência e marcar a sua posição relativamente à missão a dar ao Regimento de Comandos (RCmds), ficando a sensação que todos pretendiam ter sob o seu comando ou sob a sua direcção. Por outro lado, era por demais evidente que todos eram de opinião que a Unidade tinha demasiada autonomia, em especial no que respeitava ao aspecto logístico e de instrução, já que no aspecto operacional dependia do EME, directamente do EME ou através do GML e posteriormente do EMGFA.
Recordamos que em fins de 1974 na missão do Regimento podia ler-se:
"- Preparar moral, física e tecnicamente as tropas Comandos;
- Incorporar, mobilizar, instruir, organizar e recompletar as Unidades de Comandos;
- À ordem, actuar com as suas Unidades Operacionais, onde e quando julgado necessário;
- Manter o nível de instrução das Unidades de Comandos;
- Efectuar o estudo e experimentação dos processos e mé- todos de emprego das Unidades de Comandos, bem como novos equipamentos, fornecendo ao EME os dados experimentais colhidos para actualização da respectiva doutrina e organização."
O que denotava bem a autonomia da Unidade em todos os aspectos, excepto o do emprego operacional, destacando-se a instrução bem como a sua própria evolução, funcionando ao mesmo tempo como centro de estudo e experimentação, não só em proveito próprio mas no de todo o Exército. A contrariar esta aparente autonomia constava a da atribuição ao GML.
Mas logo após o 25 de Novembro de 1975 o próprio Comandante do RCmds vinha propor uma clarificação da Missão da Unidade, propondo a seguinte missão:
" - Na dependência directa do CEME, organizar e preparar sub-unidades, com elevado grau de prontidão para actuar em defesa terrestre do Território Nacional, em acções de contra-guerrilha e contra-subversão bem como em acções móveis e profundas na rectaguarda do lN. - Experimentar novas técnicas de materiais para actualizara doutrina táctica do Exército sobre Forças Especiais".
Destaca-se desta proposta a necessidade da dependência directa do CEME e a alusão à contra-guerrilha e contra-subversão, uma espécie de continuação do Centro de Instrução de Comandos (ele) de Angola, para além de uma alusão à urgência do estudo e definição de "Forças Especiais".
PARAQUEDISMO E OPERAÇÕES ESPECIAIS, "ACTIVIDADES IRREGULARES" E PÁRA-COMANDOS
Em fins de 1976 o CEME promoveu uma reunião dos quadros do Remds com vários Oficiais Comandos que se encontravam fora da Unidade a fim de obter um parecer sobre a atribuição de novas missões ao RCmds, a saber:
"Missão I - Criação de uma força anti-pirataria aérea, anti-sequestradores e anti-terrorismo internacional;
Missão II - Segurança a altas entidades quer nacionais quer estrangeiras;
Missão III - Combate de ruas - guerrilha interna;
Missão IV - Intervenção no estrangeiro - ONU;
Missão V - Desorganização de áreas vitais do lN situadas na sua rectaguarda que impliquem infiltrações profundas e técnicas especiais, quer para o cumprimento de missões, quer para a sobrevivência em zonas adversas."
Tal proposta que evidenciava a procura de missões para uma Unidade com tropa altamente prestigiada e com forte espírito de corpo, obteve como resposta do grupo reunido, uma rejeição às missões II e III já que uma é da área das forças de segurança e a outra deveria ser atribuída a todas as FA, concluindo ainda relativamente às restantes missões o seguinte:
':4 atribuição destas missões ao RCmds iria obrigar a uma reestruturação profunda da instrução actual, bem como, à "introdução de outras matérias, entre as quais sobressaem a instrução de natação e escafandrismo, instrução de paraquedismo, instrução de informação e contra-informação, instrução de línguas estrangeiras, etc. ."
Seria ainda necessário equipar estas forças com "materiais de transporte que permitam o transporte por terra, água e ar. Fardamento, armamento, equipamento e explosivos, minas e armadilhas e transmissões".
Terminava a proposta apontando para "a nomeação de uma comissão que analise e estude a reestruturação das tropas Comando", comissão essa que, entre outros, deveria estudar os seguintes pontos:
.. - A inserção dos Comandos (ou das Forças Especiais) no sistema de Forças e no conceito do seu emprego;
- Estudo, planeamento, organização e preparação de infraestruturas de guerrilha;"
Ainda em fins de 1976, dentro do espírito da reunião anterior, o RCmds vinha propor "o estabelecimento de um Centro de Instrução no Centro de Instrução Militar de Santa Margarida, com carácter permanente." Verifica-se assim que no caminho evolutivo do RCmds surgem as ideias da guerrilha e estruturação das Forças Especiais no Exército e da necessidade de um diferente rumo para a programação da instrução, de novo armamento e equipamento, também pela primeira vez surge a proposta de instruções novas, como natação, paraquedismo e línguas, mantendo, no entanto, sempre o mesmo espírito.
Em 1977 - Continuou o EME preocupado com o assunto de operações especiais, sendo o mesmo alvo de vários estudos e propostas que envolviam também o Instituto de Altos Estudos Militares (IA EM) como centro de estudos e o Regimento de Comandos e a Escola de Formação de Sargentos (EFS), antigo e futuro Centro de Instrução de Instrução de Operações Especiais (CIOE) como unidades onde o resultado dos estudos e decisões do EME seriam aplicados. Relacionado também com este tema surge o problema, já atrás focado da defesa operacional do Território, se necessário, através das "actividades irregulares", desenvolvidas por forças regulares.
Ouando se procurava uma nova especialidade do Exército que fosse formada para cumprir este objectivos o Director do Departamento de Operações emitia um parecer na nota 586/ OP-136/77 de 29Abr. da qual se transcreve .....mas sim, a de formar quadros e praças de uma especialidade, actualmente não existente, que se designasse de "operações especiais" (OE), à semelhança dos "Ranqers" americanos ou dos "Comandos" ingleses e que se aproximará ou será idêntica à de "Comandos" nO. 959 da lista de especialidades do nosso Exército."
De notar que nesta altura a especialidade de OE já tinha sido extinta e o CIOE substituído pela EFS, ficando aberta a "guerra" entre Comandos e Operações Especiais. O IAEM, solicitado sobre o assunto em sua nota 202/RT de 23Mai77 considerava que:
.. - A nível Exército, a instrução e controlo das forças irregulares poderá ser confiada a destacamentos do Regimento de Comandos.
- A defesa por processos irregulares exige um treino especial das forças regulares que fazem parte do Corpo Territorial.
Sendo assim, teria o maior interesse que, no caso de ser aprovada a defesa por processos irregulares, o Exército mantivesse em funcionamento um Centro de Instrução com a responsabilidade de regulamentar uma doutrina nacional de processos irregulares e de treinar tropas ou quadros na técnica da referida doutrina."
No âmbito do estudo deste assunto, o então Comandante da EFS, Coronel Cava "Cmd" Almeida Bruno, afirmava em nota 114/3 de 28Jun77: "parece-nos que se deveria distinguir, face à sua preparação específica, as forças especiais tipo Pára-Comandos das destinadas ao enquadramento da GUERRILHA (unicamente quadros)."Continuando a expor a sua opinião diria ainda que um dos Centros de Instrução Especial a organizar destinado à preparação para a guerrilha deveria situar-se no Norte do país e que o quartel de Lamego seria o mais indicado para tal fim, pois "reúne todas as condições para tal efeito", destacando entre outras qualidades de ..... única unidade do Exército que foi Centro de Instrução de Forças Especiais (Comandos e Rangers; ..."
Parece pois, que no espírito deste comando uma solução poderia passar pela existência de dois Centros de Instrução versus duas unidades, uma no âmbito das "operações especiais" guarnecido por pára-comandos (seria o RCmds?) e outro no âmbito da preparação de quadros para guerra de guerrilhas que seria em Lamego.
Fonte:
http://associacaocomandos.pt/_warehouse ... -2011c.pdf