OPERAÇÕES ESPECIAIS

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#901 Mensagem por Bolovo » Qui Fev 01, 2018 12:29 am

FCarvalho escreveu:
Bolovo escreveu:No Brasil, os Comandos fazem um trabalho parecido com os Rangers.
E qual seria a diferença entre ambos?

abs
Para responder isso, precisamos responder primeiro a uma pergunta: o que é uma tropa de infantaria leve? Infantaria leve é uma tropa otimizada para missões de curta duração em que se exijam rapidez, surpresa, mobilidade para manobrar de qualquer direção e um cunho altamente ofensivo, ainda que a ação venha a ser defensiva. Para preencher esses requisitos (rapidez, surpresa, mobilidade), é necessário ser uma que carregue armamento e equipamento leve, isto é, que carregue a pé seus próprios equipamentos, em contraste a "infantaria pesada" que depende de veículos blindados e outras coisas. Tanto a Aeromóvel, com o PQD e os Comandos são exemplos de tropas de infantaria leve. O que difere um do outro é o nível de treinamento, equipamento e a missão.

Voltemos aos EUA. Os Rangers americanos foram criados em 1942 a semelhança dos Commandos britânicos, uma tropa de infantaria leve altamente treinada, especializada em "raids", ataques mortais de curta duração contra alvos inimigos bem defendidos. Ou seja, especializados em ação direta. Eles foram usados, por exemplo, no desembarque do Dia-D. Perceba que se trata de uma tropa operações especiais, mas com enfoque em guerra convencional, ou seja, de uma guerra entre um exército de país contra outro exército de outro país.

Terminada a Segunda Guerra, começa a Guerra Fria, a disputa ideológica entre o ocidente capitalista e o oriente comunista. Aparecem nesse momento as primeiras guerrilhas comunistas revolucionárias pelo mundo. Percebendo isso, os EUA decidem criar uma tropa especializada em guerra não-convencional, em guerra assimétrica etc (o que podemos chamar basicamente de "guerra de guerrilha") e criam os Special Forces (Boinas Verdes) em 1952. Diferente dos Rangers/Comandos, esses são focados em ação indireta (apesar de poderem realizar ação direta também se for o caso) e missões de longa duração. Uma característica dessa tropa é a atuação em conjunto com a população local.

Após os atentados de Munique em 1972, o mundo começa a se preocupar com a ameaça terrorista. Não havendo uma tropa especializada em ação contra-terror, os EUA criam a Delta Force em 1980 por influência de um Boina Verde que fez intercâmbio com o SAS britânico durante a insurgência na Malásia nos anos 60. Diferente dos Special Forces que são "professores" (ação indireta, trato com população local), os SAS são "fazedores" (ação direta em excelência, foco em anti-terror). Desde então o Delta Force é a principal tropa de ação direta dos EUA. Diferente dos Rangers, que tem como missão de ação direta objetivos como tomar um aeroporto, destruir uma instalação bem protegida, missões atrás das linhas inimigas etc, o Delta Force tem prioridade em contra-terror e alvos de altíssimo valor. São muito provavelmente a tropa de elite mais bem treinada e equipada do mundo. Em 1987 surgiu o Seal Team 6 da Marinha Americana que faz basicamente a mesma coisa (mataram o Bin Laden por sinal).

Voltando ao Brasil. Diferente da maioria dos países que criou suas Forças Especiais a semelhança do SAS britânico, as nossas foram criadas em semelhança doutrinaria aos Special Forces (Boinas verdes) americanos (somos a exceção na América Latina). Junto aos nossos Comandos que foram criadas em semelhança aos Rangers, formam as tropas de operações especiais do EB. Relembrando então, nossos Forças Especiais são especializados em guerra não-convencional, assimétrica, e os Comandos são especializados em ação direta (porém também podendo atuar em guerra não-convencional ou assimétrica se necessário). Em resposta a ameaça do terrorismo, criamos o DCT - Destacamento Contra-Terror, uma força-tarefa composta por membros das duas unidades, sendo, por assim dizer, o nosso análogo ao Delta Force. Respondendo a sua pergunta, os nossos Comandos se encontrariam em algum lugar entre os Rangers e o Delta Force. Não são tão limitados quanto os primeiros, porém também não são tão especializados quanto os segundos.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#902 Mensagem por FCarvalho » Qui Fev 01, 2018 1:00 am

Muito obrigado pela resposta Bolovo. Bastante esclarecedora.

Me pergunto então se não seria interessante para nós - com todas as limitações que temos para disponibilizar de FE's na quantidade e qualidade necessárias - partindo do fato que existe aqui uma bgda infantaria leve (aeromóvel), no caso a 12a Bgda Inf, em treinar essa bgda como Rangers, e integrar os comandos ao Btl FE's, dando-lhes claro a formação necessária para isso.

Acho que tal investimento nos permitira aumentar exponencialmente as capacidades de nossas forças especiais e ainda prover-nos de condições de lançar operações de maior envergadura onde e quando necessário for sem com isso descobrir outras áreas e/ou missões que surjam ao mesmo tempo.

Com algum investimento, e considerando as boas relações que temos com os primos do norte, provavelmente não haveria tantas dificuldades assim de se obter tal capacidade para a 12a Bgda Inf. Até porque ela faria um tipo de trabalho que eles entendem ser necessário por aqui, no caso de combate ao narcotráfico, segurança interna e de fronteiras, além de atuar também em favor de missões da ONU onde os interesses americanos sejam coincidentes, como na África e em nosso entorno estratégico.

Penso que seria algo interessante de a se pensar. Principalmente nesses tempos em que operações de inteligencia e consciência situacional são tão ou mais importantes quanto a obtenção de poder de choque das tropas envolvidas em combate direto.

Neste sentido, não temos aqui reunidas as condições ideais para fazer isso sem sofrer muito em função de nossas próprias limitações auto-impostas quanto a formação e disposição de FE's.

Não temos muito, mas o que temos é bastante bom. Se é o suficiente e o necessário, penso que seja uma questão discutível. E opções deveriam ser objeto de reflexão tanto pela comunidade de operadores nacionais quando do Estado.

abs.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#903 Mensagem por Bolovo » Qui Fev 01, 2018 3:01 am

FCarvalho escreveu:Muito obrigado pela resposta Bolovo. Bastante esclarecedora.

Me pergunto então se não seria interessante para nós - com todas as limitações que temos para disponibilizar de FE's na quantidade e qualidade necessárias - partindo do fato que existe aqui uma bgda infantaria leve (aeromóvel), no caso a 12a Bgda Inf, em treinar essa bgda como Rangers, e integrar os comandos ao Btl FE's, dando-lhes claro a formação necessária para isso.

Acho que tal investimento nos permitira aumentar exponencialmente as capacidades de nossas forças especiais e ainda prover-nos de condições de lançar operações de maior envergadura onde e quando necessário for sem com isso descobrir outras áreas e/ou missões que surjam ao mesmo tempo.

Com algum investimento, e considerando as boas relações que temos com os primos do norte, provavelmente não haveria tantas dificuldades assim de se obter tal capacidade para a 12a Bgda Inf. Até porque ela faria um tipo de trabalho que eles entendem ser necessário por aqui, no caso de combate ao narcotráfico, segurança interna e de fronteiras, além de atuar também em favor de missões da ONU onde os interesses americanos sejam coincidentes, como na África e em nosso entorno estratégico.

Penso que seria algo interessante de a se pensar. Principalmente nesses tempos em que operações de inteligencia e consciência situacional são tão ou mais importantes quanto a obtenção de poder de choque das tropas envolvidas em combate direto.

Neste sentido, não temos aqui reunidas as condições ideais para fazer isso sem sofrer muito em função de nossas próprias limitações auto-impostas quanto a formação e disposição de FE's.

Não temos muito, mas o que temos é bastante bom. Se é o suficiente e o necessário, penso que seja uma questão discutível. E opções deveriam ser objeto de reflexão tanto pela comunidade de operadores nacionais quando do Estado.

abs.
Isso é bobagem, FCarvalho. Isso que você propôs é impossível.

Há um mundo de diferença entre um soldado como um PQD ou um Aeromóvel a um Comando. Um Ranger ou um Comando é quase como se fosse de outra Força Armada. É como comparar um policial do BOPE com um policial comum. Pra começar, os Comandos são voluntários oriundos de todas as OM do país e todos precisam concluir o Curso de Ações Comandos (12 semanas) que tem uma taxa de aprovação baixíssima, menos das metades das turmas concluem os cursos (estou falando algo como dos 70 candidatos, uns 20 concluem). É um soldado altamente especializado e dedicado. E mesmo assim, mal conseguimos suprir as 3 companhias do Batalhão de Comandos (não chega a uns 400 homens se não me engano). Já a 12ª Brigada Aeromóvel é a análoga brasileira a 101st Airborne Division americana. É a unidade do EB com vocação para o assalto aéreo, uma necessidade da guerra convencional moderna. É uma brigada com todos os batalhões necessários (são quase 5 mil homens) sendo a maioria dos homens oriunda do alistamento obrigatório das cidades da região.

Já o FE é um soldado ainda mais especializado. Ele necessariamente tem que ter concluído o Curso de Ações Comandos para se tornar pelo menos apto a se candidatar ao Curso de Forças Especiais (23 semanas). E obviamente, todos são voluntários, e também há uma taxa de aprovação baixa (em 2016, dos 17 que tentaram apenas 11 concluíram - lembrar que inclusive os desistentes já são Comandos formados). Ter um batalhão de FE e um de Comandos pode parecer pouco, mas está dentro da média mundial, está de bom tamanho se forem unidades completas. Por exemplo, a Austrália não é muito diferente, é um batalhão FE e dois batalhões de Comandos. Os EUA tem esse monte de unidades de operações especiais pois são um país de projeção global (é praticamente um império) com interesses em todos os continentes, o que não é o nosso caso. Lembra daqueles 7 mil Special Forces que falei? Pois bem, são tantos pois há uma necessidade de um grupo especializado para cada área de influência global:

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Os EUA são a exceção, não a regra quando o tema é defesa.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#904 Mensagem por FCarvalho » Qui Fev 01, 2018 2:13 pm

Olá Bolovo.

Foi só uma ideia. Uma reflexão para se pensar. Nada sério.
Conheço os ditames e condições das nossas FE's e sua formação e características.
Apenas quis fazer um exercício intelectual desses que se deve fazer, e se faz, acho, nas nossas escolas de estado maior.
No mais, eu já ficaria muito satisfeito se o treinamento e formação do pessoal das nossas ditas FAR-E - supostamente melhor e mais amplo que as tropas convencionais - fosse o prescrito nos manuais. Porque nem estas hoje, salvo melhor juízo, escapam da miserabilidade orçamentária e material em que estamos metidos há tempos.
E sem nenhuma previsão de melhoras em qualquer prazo.
Enfim, temos missões aí a favor da ONU que irão quebrar o nosso galho em termos materiais, treinamento e doutrinal. E tudo bem real. Claro, em pequena escala, mas real. Não vejo nada melhor para a nossa realidade.
Se sair algo de bom além disso, já estamos no lucro.

abs.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#905 Mensagem por Bolovo » Qui Fev 01, 2018 3:54 pm

FCarvalho escreveu:Olá Bolovo.

Foi só uma ideia. Uma reflexão para se pensar. Nada sério.
Conheço os ditames e condições das nossas FE's e sua formação e características.
Apenas quis fazer um exercício intelectual desses que se deve fazer, e se faz, acho, nas nossas escolas de estado maior.
No mais, eu já ficaria muito satisfeito se o treinamento e formação do pessoal das nossas ditas FAR-E - supostamente melhor e mais amplo que as tropas convencionais - fosse o prescrito nos manuais. Porque nem estas hoje, salvo melhor juízo, escapam da miserabilidade orçamentária e material em que estamos metidos há tempos.
E sem nenhuma previsão de melhoras em qualquer prazo.
Enfim, temos missões aí a favor da ONU que irão quebrar o nosso galho em termos materiais, treinamento e doutrinal. E tudo bem real. Claro, em pequena escala, mas real. Não vejo nada melhor para a nossa realidade.
Se sair algo de bom além disso, já estamos no lucro.

abs.
Sem problemas, FCarvalho!
Eu compartilho de seus pensamentos. Eu sou da opinião que o EB precisa diminuir quase que pela metade. Hoje são quase 220 mil homens. Adianta nada se a maioria desses são conscritos de FAL e pouco treinamento e pouco tempo de carreira. Acredito que o caminho seja pela profissionalização da força, sem ser necessário abolir o alistamento militar, coisa que a Rússia por exemplo está fazendo agora. Imagino eu que uma força de uns 100~120 mil homens realmente equipados e treinados e com planos de carreiras mais racionais, seria muito melhor do que o quadro atual. É de foder ver as tropas brasileiras ditas de elite com equipamento de 20 anos atrás.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#906 Mensagem por Frederico Vitor » Qui Fev 01, 2018 4:11 pm

Parabéns, caro Bolovo, pela oportuna explicação.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#907 Mensagem por Cabral » Qui Fev 01, 2018 4:13 pm

Bolovo escreveu: Para responder isso, precisamos responder primeiro a uma pergunta: o que é uma tropa de infantaria leve? Infantaria leve é uma tropa otimizada para missões de curta duração em que se exijam rapidez, surpresa, mobilidade para manobrar de qualquer direção e um cunho altamente ofensivo, ainda que a ação venha a ser defensiva. Para preencher esses requisitos (rapidez, surpresa, mobilidade), é necessário ser uma que carregue armamento e equipamento leve, isto é, que carregue a pé seus próprios equipamentos, em contraste a "infantaria pesada" que depende de veículos blindados e outras coisas. Tanto a Aeromóvel, com o PQD e os Comandos são exemplos de tropas de infantaria leve. O que difere um do outro é o nível de treinamento, equipamento e a missão.

Voltemos aos EUA. Os Rangers americanos foram criados em 1942 a semelhança dos Commandos britânicos, uma tropa de infantaria leve altamente treinada, especializada em "raids", ataques mortais de curta duração contra alvos inimigos bem defendidos. Ou seja, especializados em ação direta. Eles foram usados, por exemplo, no desembarque do Dia-D. Perceba que se trata de uma tropa operações especiais, mas com enfoque em guerra convencional, ou seja, de uma guerra entre um exército de país contra outro exército de outro país.

Terminada a Segunda Guerra, começa a Guerra Fria, a disputa ideológica entre o ocidente capitalista e o oriente comunista. Aparecem nesse momento as primeiras guerrilhas comunistas revolucionárias pelo mundo. Percebendo isso, os EUA decidem criar uma tropa especializada em guerra não-convencional, em guerra assimétrica etc (o que podemos chamar basicamente de "guerra de guerrilha") e criam os Special Forces (Boinas Verdes) em 1952. Diferente dos Rangers/Comandos, esses são focados em ação indireta (apesar de poderem realizar ação direta também se for o caso) e missões de longa duração. Uma característica dessa tropa é a atuação em conjunto com a população local.

Após os atentados de Munique em 1972, o mundo começa a se preocupar com a ameaça terrorista. Não havendo uma tropa especializada em ação contra-terror, os EUA criam a Delta Force em 1980 por influência de um Boina Verde que fez intercâmbio com o SAS britânico durante a insurgência na Malásia nos anos 60. Diferente dos Special Forces que são "professores" (ação indireta, trato com população local), os SAS são "fazedores" (ação direta em excelência, foco em anti-terror). Desde então o Delta Force é a principal tropa de ação direta dos EUA. Diferente dos Rangers, que tem como missão de ação direta objetivos como tomar um aeroporto, destruir uma instalação bem protegida, missões atrás das linhas inimigas etc, o Delta Force tem prioridade em contra-terror e alvos de altíssimo valor. São muito provavelmente a tropa de elite mais bem treinada e equipada do mundo. Em 1987 surgiu o Seal Team 6 da Marinha Americana que faz basicamente a mesma coisa (mataram o Bin Laden por sinal).

Voltando ao Brasil. Diferente da maioria dos países que criou suas Forças Especiais a semelhança do SAS britânico, as nossas foram criadas em semelhança doutrinaria aos Special Forces (Boinas verdes) americanos (somos a exceção na América Latina). Junto aos nossos Comandos que foram criadas em semelhança aos Rangers, formam as tropas de operações especiais do EB. Relembrando então, nossos Forças Especiais são especializados em guerra não-convencional, assimétrica, e os Comandos são especializados em ação direta (porém também podendo atuar em guerra não-convencional ou assimétrica se necessário). Em resposta a ameaça do terrorismo, criamos o DCT - Destacamento Contra-Terror, uma força-tarefa composta por membros das duas unidades, sendo, por assim dizer, o nosso análogo ao Delta Force. Respondendo a sua pergunta, os nossos Comandos se encontrariam em algum lugar entre os Rangers e o Delta Force. Não são tão limitados quanto os primeiros, porém também não são tão especializados quanto os segundos.
Parabéns pela ótima exposição! Explicação extremamente didática, finalmente entendi a diferença entre as tropas.

Abraço




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#908 Mensagem por FCarvalho » Qui Fev 01, 2018 10:53 pm

Bolovo escreveu:
FCarvalho escreveu:Olá Bolovo.
Foi só uma ideia. Uma reflexão para se pensar. Nada sério...
Sem problemas, FCarvalho!
Eu compartilho de seus pensamentos. Eu sou da opinião que o EB precisa diminuir quase que pela metade. Hoje são quase 220 mil homens. Adianta nada se a maioria desses são conscritos de FAL e pouco treinamento e pouco tempo de carreira. Acredito que o caminho seja pela profissionalização da força, sem ser necessário abolir o alistamento militar, coisa que a Rússia por exemplo está fazendo agora. Imagino eu que uma força de uns 100~120 mil homens realmente equipados e treinados e com planos de carreiras mais racionais, seria muito melhor do que o quadro atual. É de foder ver as tropas brasileiras ditas de elite com equipamento de 20 anos atrás.
Bem, isso é algo que convivemos há tantos anos que parece que virou a regra, e a modernidade é a exceção. E honestamente não sei como vamos mudar isso.
Como digo por aqui, quanto aos nossos militares, é mais fácil mudar doutrinas do que mentalidades.
Quem sabe um dia a gente chega lá.

abs.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#909 Mensagem por Pablo Maica » Qui Fev 01, 2018 11:25 pm

Bolovo escreveu:É de foder ver as tropas brasileiras ditas de elite com equipamento de 20 anos atrás.
Não apenas isso como em alguns casos, parece que eles nem possuem equipamento realmente individual, é capacete mal ajustado, colete maior do que o necessário, arma então parece ser padrão pelos acessórios todos iguais.


Um abraço e t+ :)




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#910 Mensagem por FCarvalho » Sex Fev 02, 2018 12:40 am

Eu não duvido de nada. Como estamos longe de tudo e de todos em termos de realidade da guerra, por aqui as coisas sempre vão muito mais devagar do que em qualquer outro exército mais afeto a sua operacionalidade.

A preocupação parece ser sempre mais em ajustar a realidade ao que está no papel e nos planos do que o contrário. Essa escrotice toda que está acontecendo agora em relação ao nosso preparo para a RCA é um ótimo exemplo disso. Muitos planos para tentar adequar a realidade a nossa falta de atualidade. E quando aquela bate na porta, é um Deus nos acuda em compras de oportunidade travestidas de investimento.

Aliás, o Chinvunk, falando em material para FE's, talvez com alguma sorte tenha as suas 40 undes adquiridas ainda este ano, e com algo a mais, quem sabe até o vejamos em TO real na África. Lá provavelmente seremos lembrados que apenas duas ALAC e uma Mag 7,62 e operadores com fuzis, podem não ser o suficiente para o tipo de missão a que ele se prestará. Tem outras coisas legais aí que se pode obter e operar. Mas acho que isso vai precisar, obviamente, de uma nova e boa desculpa para poder "gastar" o dinheiro público neste tipo de coisa nem um pouco politicamente correta, não é mesmo? :roll:

abs.




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#911 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Fev 02, 2018 9:38 am

Calma aí, é impossível falar em Operações Indirectas sem pensarmos no 22º SAS na Malásia, Borneu, etc.

É claro que enquanto que as SF estão estruturadas de propósito para esse tipo de missões, o 22º SAS está organizado e treinado para cumprir toda uma série de missões incluindo essa. Enquanto que uma está especializada a outra vê apenas como mais uma função a cumprir.

Por exemplo o Curso de Operações Especiais para militares do QP tem uma duração de 21 semanas e a sua formação encontra-se dividida em 2 fases fundamentais. A 1ª fase é composta por um total de 15 semanas, em são treinados ações diretas, no entanto existe ainda inicialmente uma fase de seleção composta por 5 semanas. As restantes 6 semanas visam abordar as ações indiretas, entre outras a Subversão e Guerrilha, Contras-subversão e Contra-guerrilha, e ainda a Assistência militar.

Ou seja, qualquer militar do QP é capaz de realizar estas operações, mas obviamente a forma de as cumprir será algo diferente da SF Norte-Americana e mais parecida ao modelo Britânico.
O comando e estado-maior da unidade, actua sobre uma área de Apoio, a companhia de comando e serviços, uma dedicada à Formação e tem uma componente Operacional, materializada na Força de Operações Especiais (FOpEsp), articulando-se esta em comando e estado-maior e 5 Special Operation Task Units: Alfa; Alfa 1; Bravo; Charlie; Delta. Estes articulam-se por sua vez em comando e pelotões de operações especiais. Para uma operação real usualmente é constituído um “Special Operation Task Group” (SOTG) quase e sempre modular, ou seja, de acordo com a missão concreta adaptamos a organização desta força com as valências que temos treinadas. Sendo certo que, em linhas muito gerais sem particularizar tudo, no “Delta” temos o apoio logístico e a estação radio-base, no “Charlie” o reconhecimento, no Bravo a acção directa e pelotão sniper e o Alfa é a unidade que temos em maior prontidão. Um SOTGroup ou uma SOTUnit modular pode integrar militares de todas estas origens. Neste momento por exemplo, em termos nacionais, a Força de Reacção Imediata (FRI) do Estado-Maior General das Forças Armadas, dispõe de um SOTG conjunto – FOpEsp do CTOE e Destacamento de Acções Especiais do Corpo de Fuzileiros da Marinha – que no corrente ano está sob comando de um oficial do CTOE».
O Special Operation Task Units Alfa e Alfa 1 são aquelas mais capacitadas para as Operações Indirectas.

Tipologia de Operações das FOEsp.

Ação Direta - Golpes de mão e emboscadas ; Sniping ; Guiamento terminal ; Recuperação ; Resgate de reféns (deliberado ou In Extremis) ; Operações de destruição precisa.

Reconhecimento Especial - Avaliação de objetivos ; Avaliação da ameaça ; Reconhecimento pós-ataque ; Reconhecimento ambiental.

Assistência Militar - Treino ; Aconselhamento ; Mentoria/Parceria.

Ação Indireta - Organizar, equipar, treinar, assessorar, apoiar e se necessário dirigir forças de resistência ; Treinar, assessorar, equipar e apoiar Firreg; Treinar, equipar e apoiar o estabelecimento de
redes de fuga e evasão.

Outra - Proteção de altas entidades em zonas de conflito ; Ligação com fações.

Fonte: Adaptado de (EME, 2014, p. 2- 1).




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#912 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Fev 27, 2018 7:52 am



Participação da Força de Operações Especiais do Exército Português no exercicio Real Thaw 2018. As viaturas MRZR2 e MV850 da Polaris foram aerotransportadas pela Força Aérea Portuguesa




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#913 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Mar 13, 2018 7:27 am

Novos brinquedos para as FOE.
The Portuguese Army’s Special Operations Force (FOE) has received an undisclosed quantity of new small arms and accessories.

Deliveries mainly comprised Barret M107A1 .50 cal and Accuracy AXMC .338 precision rifles, Heckler & Koch HK417 7.62x51 mm assault rifles, FABARM STF/12 Compact FE 12-gauge shotguns, and Heckler & Koch HK269 40x46 mm grenade launchers, as well as several associated PM II series scopes from Schmidt & Bender.

The FOE, which is based in Lamego and is a sub-unit of the Special Operations Troops Centre (which itself is integrated within the Portuguese Army’s Rapid Reaction Brigade), has also received an initial batch of MRZR2 MT and Sportsman MV850 MT all-terrain vehicles.

janes




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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#914 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Mar 24, 2018 8:57 am

OS COMANDOS – DE 1980 A 2006

Da Brigada de Forças Especiais à extinção do Regimento de Comandos
Dos Pára-Comandos e Brigada Aerotransportada à constituição do Centro de Tropas Comandos


ANTECEDENTES

Já em Fevereiro de 1974 o Estado Maior do Exército ~ (EME) estava preocupado com a problemática das tropas Comandos com vista à sua continuidade e face à dispersão da sua formação na Guiné, Angola e Moçambique, sendo parecer do, então, Director-Adjunto de Instrução, General Silvino Silvério Marques, que fosse constituído um grupo de trabalho para que "com total abertura de espírito fossem estudadas a problemática de recrutamento, a instrução e a organização das tropas Comandos" e apresentadas propostas com as grandes linhas de actuação a seguir.

Na sequência natural desta decisão e de acordo com o ambiente militar e político a missão do Regimento de Comandos foi evoluindo como tive oportunidade de deixar escrito no artigo "1975 -1980 - Os Primeiros Anos do Regimento de Comandos", na Revista nO.72.

Neste caminho difícil em que para além do Estado Maior do Exército, também o Estado Maior General das Forças Armadas (EMGFA) e a outros níveis, o Governo Militar de Lisboa (GML) e a Direcção da Arma de Infantaria quiseram dar a sua opinião, exercer a sua influência e marcar a sua posição relativamente à missão a dar ao Regimento de Comandos (RCmds), ficando a sensação que todos pretendiam ter sob o seu comando ou sob a sua direcção. Por outro lado, era por demais evidente que todos eram de opinião que a Unidade tinha demasiada autonomia, em especial no que respeitava ao aspecto logístico e de instrução, já que no aspecto operacional dependia do EME, directamente do EME ou através do GML e posteriormente do EMGFA.

Recordamos que em fins de 1974 na missão do Regimento podia ler-se:

"- Preparar moral, física e tecnicamente as tropas Comandos;
- Incorporar, mobilizar, instruir, organizar e recompletar as Unidades de Comandos;
- À ordem, actuar com as suas Unidades Operacionais, onde e quando julgado necessário;
- Manter o nível de instrução das Unidades de Comandos;
- Efectuar o estudo e experimentação dos processos e mé- todos de emprego das Unidades de Comandos, bem como novos equipamentos, fornecendo ao EME os dados experimentais colhidos para actualização da respectiva doutrina e organização."

O que denotava bem a autonomia da Unidade em todos os aspectos, excepto o do emprego operacional, destacando-se a instrução bem como a sua própria evolução, funcionando ao mesmo tempo como centro de estudo e experimentação, não só em proveito próprio mas no de todo o Exército. A contrariar esta aparente autonomia constava a da atribuição ao GML.
Mas logo após o 25 de Novembro de 1975 o próprio Comandante do RCmds vinha propor uma clarificação da Missão da Unidade, propondo a seguinte missão:
" - Na dependência directa do CEME, organizar e preparar sub-unidades, com elevado grau de prontidão para actuar em defesa terrestre do Território Nacional, em acções de contra-guerrilha e contra-subversão bem como em acções móveis e profundas na rectaguarda do lN. - Experimentar novas técnicas de materiais para actualizara doutrina táctica do Exército sobre Forças Especiais".

Destaca-se desta proposta a necessidade da dependência directa do CEME e a alusão à contra-guerrilha e contra-subversão, uma espécie de continuação do Centro de Instrução de Comandos (ele) de Angola, para além de uma alusão à urgência do estudo e definição de "Forças Especiais".

PARAQUEDISMO E OPERAÇÕES ESPECIAIS, "ACTIVIDADES IRREGULARES" E PÁRA-COMANDOS

Em fins de 1976 o CEME promoveu uma reunião dos quadros do Remds com vários Oficiais Comandos que se encontravam fora da Unidade a fim de obter um parecer sobre a atribuição de novas missões ao RCmds, a saber:

"Missão I - Criação de uma força anti-pirataria aérea, anti-sequestradores e anti-terrorismo internacional;
Missão II - Segurança a altas entidades quer nacionais quer estrangeiras;
Missão III - Combate de ruas - guerrilha interna;
Missão IV - Intervenção no estrangeiro - ONU;
Missão V - Desorganização de áreas vitais do lN situadas na sua rectaguarda que impliquem infiltrações profundas e técnicas especiais, quer para o cumprimento de missões, quer para a sobrevivência em zonas adversas."

Tal proposta que evidenciava a procura de missões para uma Unidade com tropa altamente prestigiada e com forte espírito de corpo, obteve como resposta do grupo reunido, uma rejeição às missões II e III já que uma é da área das forças de segurança e a outra deveria ser atribuída a todas as FA, concluindo ainda relativamente às restantes missões o seguinte:
':4 atribuição destas missões ao RCmds iria obrigar a uma reestruturação profunda da instrução actual, bem como, à "introdução de outras matérias, entre as quais sobressaem a instrução de natação e escafandrismo, instrução de paraquedismo, instrução de informação e contra-informação, instrução de línguas estrangeiras, etc. ."
Seria ainda necessário equipar estas forças com "materiais de transporte que permitam o transporte por terra, água e ar. Fardamento, armamento, equipamento e explosivos, minas e armadilhas e transmissões".

Terminava a proposta apontando para "a nomeação de uma comissão que analise e estude a reestruturação das tropas Comando", comissão essa que, entre outros, deveria estudar os seguintes pontos:
.. - A inserção dos Comandos (ou das Forças Especiais) no sistema de Forças e no conceito do seu emprego;
- Estudo, planeamento, organização e preparação de infraestruturas de guerrilha;"

Ainda em fins de 1976, dentro do espírito da reunião anterior, o RCmds vinha propor "o estabelecimento de um Centro de Instrução no Centro de Instrução Militar de Santa Margarida, com carácter permanente." Verifica-se assim que no caminho evolutivo do RCmds surgem as ideias da guerrilha e estruturação das Forças Especiais no Exército e da necessidade de um diferente rumo para a programação da instrução, de novo armamento e equipamento, também pela primeira vez surge a proposta de instruções novas, como natação, paraquedismo e línguas, mantendo, no entanto, sempre o mesmo espírito.

Em 1977 - Continuou o EME preocupado com o assunto de operações especiais, sendo o mesmo alvo de vários estudos e propostas que envolviam também o Instituto de Altos Estudos Militares (IA EM) como centro de estudos e o Regimento de Comandos e a Escola de Formação de Sargentos (EFS), antigo e futuro Centro de Instrução de Instrução de Operações Especiais (CIOE) como unidades onde o resultado dos estudos e decisões do EME seriam aplicados. Relacionado também com este tema surge o problema, já atrás focado da defesa operacional do Território, se necessário, através das "actividades irregulares", desenvolvidas por forças regulares.

Ouando se procurava uma nova especialidade do Exército que fosse formada para cumprir este objectivos o Director do Departamento de Operações emitia um parecer na nota 586/ OP-136/77 de 29Abr. da qual se transcreve .....mas sim, a de formar quadros e praças de uma especialidade, actualmente não existente, que se designasse de "operações especiais" (OE), à semelhança dos "Ranqers" americanos ou dos "Comandos" ingleses e que se aproximará ou será idêntica à de "Comandos" nO. 959 da lista de especialidades do nosso Exército."

De notar que nesta altura a especialidade de OE já tinha sido extinta e o CIOE substituído pela EFS, ficando aberta a "guerra" entre Comandos e Operações Especiais. O IAEM, solicitado sobre o assunto em sua nota 202/RT de 23Mai77 considerava que:

.. - A nível Exército, a instrução e controlo das forças irregulares poderá ser confiada a destacamentos do Regimento de Comandos.
- A defesa por processos irregulares exige um treino especial das forças regulares que fazem parte do Corpo Territorial.

Sendo assim, teria o maior interesse que, no caso de ser aprovada a defesa por processos irregulares, o Exército mantivesse em funcionamento um Centro de Instrução com a responsabilidade de regulamentar uma doutrina nacional de processos irregulares e de treinar tropas ou quadros na técnica da referida doutrina."

No âmbito do estudo deste assunto, o então Comandante da EFS, Coronel Cava "Cmd" Almeida Bruno, afirmava em nota 114/3 de 28Jun77: "parece-nos que se deveria distinguir, face à sua preparação específica, as forças especiais tipo Pára-Comandos das destinadas ao enquadramento da GUERRILHA (unicamente quadros)."Continuando a expor a sua opinião diria ainda que um dos Centros de Instrução Especial a organizar destinado à preparação para a guerrilha deveria situar-se no Norte do país e que o quartel de Lamego seria o mais indicado para tal fim, pois "reúne todas as condições para tal efeito", destacando entre outras qualidades de ..... única unidade do Exército que foi Centro de Instrução de Forças Especiais (Comandos e Rangers; ..."

Parece pois, que no espírito deste comando uma solução poderia passar pela existência de dois Centros de Instrução versus duas unidades, uma no âmbito das "operações especiais" guarnecido por pára-comandos (seria o RCmds?) e outro no âmbito da preparação de quadros para guerra de guerrilhas que seria em Lamego.

Fonte: http://associacaocomandos.pt/_warehouse ... -2011c.pdf




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: OPERAÇÕES ESPECIAIS

#915 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Mar 24, 2018 9:08 am

Continuação:

CONTRA-GUERRILHA E TROPAS AEROTRANSPORTADAS

Em 02Dez79 num memorando sobre a utilização de forças irregulares na defesa do território da autoria do, então, Brigadeiro Salazar Braga, pode ler-se no seu número 5: "com vista à futura implementação desta doutrina de defesa foi atribuída ao Regimento de Comandos a seguinte tarefa, dentro da missão geral que recebeu em Abr79: ...organiza e treina subunidades com elevado grau de prontidão para ... acções de guerrilha e outras actividades irregulares de defesa do território nacional".

" Em seguimento e com data de 29Fev80, o mesmo oficial general, Director do departamento de Operações, elabora uma proposta sobre o assunto onde consta, para além da missão atrás indicada, o dispositivo necessário para a cumprir e segundo o qual o RCmds deveria ter orientadas CCmds para cada Região ou Zona Militar com vista à eventual organização de uma guerrilha regional. Tal, exigiria contactos e reconhecimentos, e antes de mais, obrigaria à definição de uma doutrina que, naturalmente, influenciaria o dispositivo e a instrução, especialmente, no respeitante a "operações especiais" a ministrar em Lamego.

Terminava esta proposta acrescentando que "o estudo das acções de guerrilha e as actividades irregulares para defesa territorial deveriam ser desenvolvido pelo IAEM e RCmds". De notar que esta proposta envolve num único projecto de atribuição de missão e preparação da instrução o RCmds e a unidade de Lamego, o que estabelecia, desde logo, uma certa confusão.

No entanto, esta proposta teve eco no EME e o estudo continuou ao longo de mais de dois anos com a intervenção dos Departamentos de Operações e de Instrução, do RCmds, da EFS, da Direcção da Arma de Infantaria (DAI) e do IAEM.

Para ilustrar o que se passou durante estes anos vou transcrever alguns passos que considero importantes e que evidenciam qual a ideia e decisão do Exército sobre a doutrina de operações especiais e defesa do território por guerrilha e quais as missões a conferir ao RCmds e ao CIOE, surgindo muitas vezes ao longo do estudo a necessidade de juntar especialidades e centros de instrução, designadamente a figura de pára-comandos, quando e se os paraquedistas viessem para o Exército.

Em 06Jul80 num memorando do Brigadeiro DDO cujo assunto era "Problemas relacionados com o Regimento de Comandos (RCmds)" consta que a missão da unidade estava ultrapassada face à missão do Exército (DL 943/76): "Considerava-se então, como ainda hoje muita gente considera, que o RCmds era uma tropa de lealdade indiscutível e alto nível de preparação militar para missões de manutenção ou restabelecimento de ordem democrática, uma espécie de "guarda pretoriana" da nova Democracia".

Recordava que a missão do RCmds, por despacho do General CEME de 04Abr79 era do seguinte teor "o RCmds, na dependência directa do CEME:
- Incorpora, prepara e mobiliza os oficiais, sargentos e praças Comandos;
- Organiza e treina subunidades com elevado grau de prontidão para:
- Acções móveis e profundas na rectaguarda do inimigo;
- Acções de contra-guerrilha e outras de contra-subversão;
- Acções de guerrilha e outras actividades irregulares de defesa terrestre do território nacional; - Planeia e conduz intervenção das suas subunidades, quando não atribuídas a outros comandos operacionais;
- Participa, com forças especiais dos outros ramos, em operações conjuntas;
- Experimenta novas técnicas e materiais para actualização da doutrina táctica do Exército sobre forças especiais .:."

Enquanto que no planeamento do EMGFA se admitia "o reforço das guarnições dos Açores e Madeira com forças especiais aerotransportadas", acrescentando ainda "No que diz respeito ao Exército, o RCmds está encarregado de ter preparado subunidades para tal, o que está perfeitamente de acordo com a missão desta Unidade."

Também o General CEME na sua directiva 24/A/79 para o biénio 1980/81 indicava como segunda prioridade a necessidade de ..... estudar. com base especialmente no RCmds, o recurso a actividades e forças irregulares como processos de defesa do território nacional", o que estava perfeitamente integrado na missão do RCmds atrás transcrita.

Curiosamente, cinco anos após o CIOE e a especialidade de "operações especiais" ter sido extinta, já, neste mesmo memorando, se podia ler "Parece-me ser altura do EME fixar normas de instrução para o RCmds, tal como as existentes para outras unidades, pois já foi determinada uma missão concreta ao Regimento", mencionando-se também "a criação oficiosa do Centro de Operações Especiais em Lamego, coincidindo com a Escola de Formação de Sargentos admitindo-se a existência da especialidade de "operações especiais" é absolutamente necessário definir a ligação desta especialidade com a de "Comando".

E, aumentando ainda a confusão nesta diatribe, afirmava-se "Parece-me que um "Comando" deve ser considerado como um militar habilitado com a especialidade de "operações especiais" mas que recebeu posteriormente um treino especial para poder levar a cabo, fundamentalmente, operações de determinado tipo."

Embora analise de seguida, por um lado, a dificuldade da relação entre as duas especialidades e por outro não achava possível a centralização da instrução dos três corpos de forças especiais, ou seja, "Comandos", "Fuzileiros" e "Paraquedistas" .

Este memorando assinado pelo General DOO, Salazar Braga, e datado de Julho de 1980 adiantava que "o grupo de trabalho é de opinião que se devem manter os Fuzileiros e que os Comandos e Paraquedistas devem ser inteqrados num único corpo, organizado e mantido pelo Exército com a cooperação estreita dos outros ramos."

Acrescentava ainda que seria formado um Regimento de Pára-Comandos, cujo dispositivo incluiria: um núcleo operacional junto de uma base aérea de Lisboa (Sintra, Montijo ou Ota); um núcleo operacional no Norte (S. Jacinto ou Cortegaça); um núcleo operacional no Sul (Beja); para além de um comando, núcleo de instrução e unidades de demonstração em Tancos e Lamego.

Mas, terminava afirmando: "Parece-me não ser de aceitar esta evolução da tropa "Comando"." Efectivamente, catorze anos depois uma solução semelhante foi finalmente tentada e como todos sabemos não resultou.

Era evidente que em 1980 se pretendia que a instrução e treino do RCmds fosse orientado directamente pelo CEME para operações constantes do volume II do Regulamento de Campanha - Operações, tais como: operações de noite, em áreas edificadas, em áreas arborizadas e na montanha; golpes de mão; cobertura e decepção tácticas; etc., para além de operações irregulares, podendo ainda organizar e manter uma pequena subunidade para eventual apoio às Forças de Segurança nas acções de combate ao terrorismo.

É interessante verificar que, eu próprio, como Chefe da 6a. Repartição do EME levantava em 07 de Agosto de 1981 os seguintes "Problemas urgentes de ordem geral e relativos ao RCmds: - Sistemas de recrutamento; Definição da missão, atendendo à aparição das OE; Reestruturação da Instrução-Boxe, Terra, Água e Ar - cada um com o seu Centro de Instrução; Reestruturação orgânica; Actualização de Armamento e Equipamento e Fardamento.

E logo em 16 de Setembro do mesmo ano, agora como Comandante do RCmds na nota nO. 322/0P/C, dentro das ideias que foram surgindo e das quais algumas ficam atrás resumidas, propunha que fossem criados três Centros de Instrução: um no Norte do país onde fossem ministrados suo-cursos de dureza, escalada, sobrevivência, entre outros; um outro no Centro no sul destinado aos suo-cursos relacionados com o meio aquático e ainda um terceiro Centro, de preferência no centro do país e a indicar pela Força Aérea, onde fossem ministrados os suo-cursos de adaptação ao meio de transporte aéreo, incluindo o paraquedismo.

Esta proposta só parcial e pontualmente foi aceite, mas no que diz respeito ao paraquedismo, o RCmds fez especializar um oficial e um sargento que seria o início da capacidade de ministrar essa instrução, já que um razoável número de oficiais e sargentos dos Quadros Permanentes da Unidade tirava o brevet em escolas civis.

O efectivo do RCmds nesta altura rondaria os 1.000 militares o que correspondia a cerca de 10% do efectivo operacional do Exército e a 3,3% do efectivo total na época (29.500).

Fonte: http://associacaocomandos.pt/_warehouse ... -2011c.pdf




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