Notícias desde Espanha

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Re: Notícias desde Espanha

#1456 Mensagem por P44 » Ter Out 31, 2017 4:37 pm

Túlio escreveu:
P44 escreveu:
Nao estava falando de ti :mrgreen: :twisted:
Eu sei que não (e mesmo que o fizesses, que mal tem? No dia em que um de nós parar de zoar o outro, acaba o DB :lol: ), o "endereço" era outro e eu, tu e ele bem o sabemos.

Talvez até, se ele não se zangasse (pois é gente buena), se pudesse apelidá-lo de SANTIAGO DE ARAGÓN Y CASTELA! :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
A maior ironia no meio disto tudo é que o cabrao do Franco era...galego!!!!!!! :twisted:




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Re: Notícias desde Espanha

#1457 Mensagem por FCarvalho » Ter Out 31, 2017 11:49 pm

P44 escreveu:
EM DEFESA DA CATALUNHA
por Carlos Fino
Não entendo porque é que em Portugal há tanto azedume para com os independentistas catalães, por mais críticas que se possam fazer à maneira como o processo foi conduzido por Puigdemont.
Logo Portugal, um país que teve de lutar ao longo de séculos, de armas na mão, para obter, primeiro, e garantir, depois, a sua independência.
Já nos esquecemos de que o exercício de acesso ao generalato, em Espanha, era "Como conquistar Portugal"? E isto até ao 25 de Abril?
O direito à autodeterminação não existe, em democracia?
Porque é que a Escócia pôde votar livremente sobre a questão da independência e a Catalunha não o pode igualmente fazer?
Claro que hoje Castela já não fuzila, como o fez num passado não muito distante, os líderes catalães...
Mas 30 anos de cadeia e ameaça de processos em massa só porque se quis exercer um direito internacionalmente reconhecido? Algo vai mal no reino da Espanha...
Pode-se ou não apoiar a independência, o que não se pode é negar o direito de um povo a decidir livremente do seu próprio destino.
https://www.facebook.com/carlosfino1948 ... 5524059117
Deve ter sido por isso que Portugal cedeu o Brasil aos brasileiros numa boa. :mrgreen: :twisted:
Aliás, os ingleses também pouco contestaram a independência americana, assim como os espanhóis o seu lado da América.
E também os alemães, belgas, holandeses, franceses, italianos, russos, turcos e... por aí vai. :wink:

ps: se um índio, negro ou algum tupiniquim aportuguesado mais esquecido aqui quiser proclamar a independência da maloca dele e do seu respectivo quintal, vai ter que se haver primeiro com as leis do país, e com as suas barras, antes de ir pedir pinico a ONU e outros protetores da natureza. Lá ele também poderá decidir livremente o seu próprio destino. Se ainda estiver vivo, claro..

abs.




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Re: Notícias desde Espanha

#1458 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 10:08 am

O direito à autodeterminação não existe, em democracia?
Claro! Mas dentro das leis que regem a democracia e o Estado de direito.
Caso contrário, deixa de ser democracia, com uma minoria a tentar impor algo a uma maioria em nome da "autodeterminação". O nome disso passa a ser outra coisa.

Se o regime não é democrático a situação é diferente. Ver como os separatistas são tratados no Iraque, China, Rússia e até na Turquia...na bala.




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Re: Notícias desde Espanha

#1459 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 3:14 pm

Así arrancan las encuestas en Cataluña

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Los catalanes irán a las urnas el próximo 21 de diciembre. Lo anunció el presidente Mariano Rajoy en virtud del artículo 155. A menos de dos meses de esos comicios, esto es lo que dicen las encuestas.

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https://politica.elpais.com/politica/20 ... 67094.html




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Re: Notícias desde Espanha

#1460 Mensagem por J.Ricardo » Qua Nov 01, 2017 3:20 pm

Penguin escreveu:O direito à autodeterminação não existe, em democracia?
Claro! Mas dentro das leis que regem a democracia e o Estado de direito.
Caso contrário, deixa de ser democracia, com uma minoria a tentar impor algo a uma maioria em nome da "autodeterminação". O nome disso passa a ser outra coisa.

Se o regime não é democrático a situação é diferente. Ver como os separatistas são tratados no Iraque, China, Rússia e até na Turquia...na bala.
Na verdade esse direito a "autodeterminação" (na visão de muitos ocidentais) só vale para o Kosovo e para a Amazônia...




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Re: Notícias desde Espanha

#1461 Mensagem por Wingate » Qua Nov 01, 2017 3:34 pm

ps: se um índio, negro ou algum tupiniquim aportuguesado mais esquecido aqui quiser proclamar a independência da maloca dele e do seu respectivo quintal, vai ter que se haver primeiro com as leis do país, e com as suas barras, antes de ir pedir pinico a ONU e outros protetores da natureza. Lá ele também poderá decidir livremente o seu próprio destino. Se ainda estiver vivo, claro..
Com o devido respeito, acho que nesse caso não, nobre colega. Ele vai ter é que se haver com o TRAFICANTE CHEFE DA ÁREA, que na certa vai acabar com essa frescura de quem manda em quem ou decide isso e aquilo. Tá ligado?

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Re: Notícias desde Espanha

#1462 Mensagem por Túlio » Qua Nov 01, 2017 3:49 pm

Penguin escreveu:Así arrancan las encuestas en Cataluña

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Los catalanes irán a las urnas el próximo 21 de diciembre. Lo anunció el presidente Mariano Rajoy en virtud del artículo 155. A menos de dos meses de esos comicios, esto es lo que dicen las encuestas.

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https://politica.elpais.com/politica/20 ... 67094.html

CREDO, agora sim, eu já vi de tudo: um dos mais prestigiados jornais do mundo se valendo da Wikipedia para escrever matéria sobre pesquisa eleitoral, minha nossa, desespero bateu com tudo, até jornal DE CUBA pode falar sobre isenção com mais moral que El País, que no momento não vale mais do que um mero panfleto de propaganda!

Tem mais uns lances, cupincha: mencionaste antes que a eleição de dezembro iaclarear a coisa toda, era só os separatistas ganharem fim, alguma coisa se resolveria. SQN! Em 2015 os separatistas ganharam, e deu no quê? Cumpriram a palavra, declararam a independência - que, pessoalmente, acho um exagero e um tiro no pé, pois ao mesmo tempo em que os Catalães tomam BAN da UE/ZE, ficam com uma baita dívida em euros e sem acesso à moeda para pagar - e Espanha literalmente invadiu a Catalunha, primeiro baixando o porrete no Povo e a seguir depondo o governo eleito, com Parlamento e tudo, incluindo a desmoralização pública dos Mossos, e nomeando uma interventora.

É muita humilhação e mesmo deboche; podem pegar até estatística do fórum do PRick que não vai fazer diferença em dezembro, quem votar não o fará por amor à Espanha, bobear e, mesmo sabendo que estarão entrando na maior fria, votarão contra si próprios, só de raiva das estroinices del señor Rajoy, o Novo Chico Franco.




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Re: Notícias desde Espanha

#1463 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 5:09 pm

J.Ricardo escreveu:
Penguin escreveu:O direito à autodeterminação não existe, em democracia?
Claro! Mas dentro das leis que regem a democracia e o Estado de direito.
Caso contrário, deixa de ser democracia, com uma minoria a tentar impor algo a uma maioria em nome da "autodeterminação". O nome disso passa a ser outra coisa.

Se o regime não é democrático a situação é diferente. Ver como os separatistas são tratados no Iraque, China, Rússia e até na Turquia...na bala.
Na verdade esse direito a "autodeterminação" (na visão de muitos ocidentais) só vale para o Kosovo e para a Amazônia...
Kosovo...
Há 2 pontos
1) Intervenção
2) Independência
O ponto 1 era necessário para evitar um massacre contra a maioria mulçumana
O ponto 2 ainda hoje é complicado. Apenas 36 países reconheceram a independência do Kosovo.

Amazônia..
Vez ou outra algum "maluco" defende a autodeterminação de povos indígenas na Amazonia (no Brasil e em outros países da AL). Mas essa mesma lógica valeria para países com povos nativos como EUA, Rússia, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, Austrália, Nova Zelandia etc etc. Isso tem 0 chance de prosperar.




Editado pela última vez por Penguin em Qua Nov 01, 2017 5:29 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Notícias desde Espanha

#1464 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 5:28 pm

Túlio escreveu:
Penguin escreveu:Así arrancan las encuestas en Cataluña

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Los catalanes irán a las urnas el próximo 21 de diciembre. Lo anunció el presidente Mariano Rajoy en virtud del artículo 155. A menos de dos meses de esos comicios, esto es lo que dicen las encuestas.

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https://politica.elpais.com/politica/20 ... 67094.html

CREDO, agora sim, eu já vi de tudo: um dos mais prestigiados jornais do mundo se valendo da Wikipedia para escrever matéria sobre pesquisa eleitoral, minha nossa, desespero bateu com tudo, até jornal DE CUBA pode falar sobre isenção com mais moral que El País, que no momento não vale mais do que um mero panfleto de propaganda!

Tem mais uns lances, cupincha: mencionaste antes que a eleição de dezembro iaclarear a coisa toda, era só os separatistas ganharem fim, alguma coisa se resolveria. SQN! Em 2015 os separatistas ganharam, e deu no quê? Cumpriram a palavra, declararam a independência - que, pessoalmente, acho um exagero e um tiro no pé, pois ao mesmo tempo em que os Catalães tomam BAN da UE/ZE, ficam com uma baita dívida em euros e sem acesso à moeda para pagar - e Espanha literalmente invadiu a Catalunha, primeiro baixando o porrete no Povo e a seguir depondo o governo eleito, com Parlamento e tudo, incluindo a desmoralização pública dos Mossos, e nomeando uma interventora.

É muita humilhação e mesmo deboche; podem pegar até estatística do fórum do PRick que não vai fazer diferença em dezembro, quem votar não o fará por amor à Espanha, bobear e, mesmo sabendo que estarão entrando na maior fria, votarão contra si próprios, só de raiva das estroinices del señor Rajoy, o Novo Chico Franco.
Fuente. Los datos de las encuestas provienen de esta recopilación en Wikipedia y de los barómetros del CEO.
Foram dados apenas compilados pelo Wikipedia, os resultados de mais de 30 pesquisas eleitorais feitas na Catalunha por diferentes institutos, citando a fonte de cada uma delas, ou seja, não são dados inventados e são comprováveis.

https://en.wikipedia.org/wiki/Catalan_r ... tion,_2017

Na minha opinião são DADOS mais do que legítimos.

O que aconteceu na Catalunha era previsível. No final isso não iria terminar bem para os separatistas. Ainda bem que terminou sem violência.
Se eles tivessem maioria (e apoio empresarial) e apoio externo relevante, provavelmente teriam conseguido mais exito.




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Re: Notícias desde Espanha

#1465 Mensagem por Túlio » Qua Nov 01, 2017 5:39 pm

Penguin escreveu:
Fuente. Los datos de las encuestas provienen de esta recopilación en Wikipedia y de los barómetros del CEO.
Foram dados apenas compilados pelo Wikipedia, os resultados de mais de 30 pesquisas eleitorais feitas na Catalunha por diferentes institutos, citando a fonte de cada uma delas, ou seja, não são dados inventados e são comprováveis.

https://en.wikipedia.org/wiki/Catalan_r ... tion,_2017

Na minha opinião são DADOS mais do que legítimos.
E isso é o mais bonito da Democracia: na minha NÃO SÃO! Que josta de jornal é esse que vai catar seus dados na Wikipédia (lugar sabidamente eivado de baboseiras), demitiram os repórteres ou o quê?
Penguin escreveu:O que aconteceu na Catalunha era previsível. No final isso não iria terminar bem para os separatistas. Ainda bem que terminou sem violência.
Se eles tivessem maioria (e apoio empresarial) e apoio externo relevante, provavelmente teriam conseguido mais exito.
Como disse, separatismo tem tudo para acabar mal para os Catalães, principalmente se conseguirem mesmo!

De outra banda, nos dois cenários (separatismo vence/separatismo perde) acaba mal para Espanha. Humilhação pública sempre gera alguma vingança por parte de quem é humilhado, e quando se trata de um Povo inteiro, bueno...




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Re: Notícias desde Espanha

#1466 Mensagem por P44 » Qua Nov 01, 2017 6:37 pm

1640-2017. Guerras, estatutos, crise. Como a Catalunha chegou até aqui

O relacionamento da Catalunha com Espanha nunca foi simples. A região tentou a independência no fim do século XVII e novamente no século XVIII, mas sempre sem grande sucesso. O assunto permanece até hoje por resolver. O ímpeto independentista ganhou força, motivado pela crise e as divergências perante o Estatuto de Autonomia da Catalunha. A guerra militar de outrora deu lugar a uma guerrilha jurídica e política em que as duas partes se apresentam de corpo inteiro.

Christopher Marques - RTP 23 Set, 2017, 22:50 / atualizado em 25 Set, 2017, 09:00 | Mundo

Com as devidas diferenças, a história repete-se. No século XVII, o aumento de impostos e a presença de militares castelhanos na Catalunha contribuem para uma das muitas revoltas catalãs em prol da sua independência.

A revolta – apoiada pelo reino francês – fica conhecida como guerra dos Segadors, palavra catalã para designar os ceifeiros. São eles que dão início ao conflito. No Século XXI, são ainda eles que permanecem como inspiração do hino catalão, símbolo oficial do governo autonómico e uma das músicas entoadas nas manifestações independentistas que se multiplicaram e engrandeceram nos últimos anos.

Catalunha, triunfante,
voltará a ser rica e grande.
Atrás desta gente
tão ufana e tão soberba.
Bom golpe de foice!
Bom golpe de foice, defensores da terra!
Bom golpe de foice!
Agora é hora, ceifeiros.
Agora é hora de estar alerta.
Para quando venha um outro junho
Amolemos bem as ferramentas.

O hino catalão mantém a esperança por “um outro junho”, referência ao chamado Corpo de Sangue, o dia em que as celebrações do Corpo de Cristo ficam marcadas pela rebelião dos segadors catalães contra os representantes da monarquia espanhola. Mais de uma dezena de representantes de Madrid perdem a vida. Estamos a 7 de junho de 1640 e começa assim a guerra dos Segadors.

O ano de 1640 diz muito a Portugal. Afinal, a 1 de dezembro, Lisboa levanta-se contra Espanha e restaura a sua independência após seis décadas de domínio espanhol (1580-1640). O sucesso da luta portuguesa pela restauração da independência – reconhecida por Espanha em 1668 – está também associado à revolta catalã e à grande quantidade de conflitos que o reino enfrenta naquela segunda metade do século XVII.

A Catalunha não tem a mesma sorte de Portugal. O levantamento dos Segadors dá origem a uma república catalã implantada em 1641 sob proteção francesa mas de pouca dura. Em 1652, Barcelona ostenta novamente a bandeira espanhola.

No entanto, não desiste. Na Guerra da Sucessão (1701-1714), a Catalunha vira-se contra França e contra Espanha e decide apoiar as pretensões austríacas ao trono de Madrid, auxiliadas pelo Reino Unido, pelos Países Baixos e por Portugal. O resultado não é positivo para os interesses catalães: os Borbon ficam com Madrid em 1713.

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No entanto, sobressai a resistência da Catalunha, que se transforma em beligerância até 1714. O principado acaba por capitular perante Espanha a 11 de setembro, depois de 14 meses de cerco à capital catalã. A data ainda é hoje o dia nacional da Catalunha: se há quem veja a derrota, a Catalunha presta homenagem à resistência.

A derrota perante a monarquia filipina custa caro à Catalunha. Seguem-se uma forte repressão militar, a abolição das instituições de Barcelona, a perseguição da língua catalã e de qualquer sinal da cultura daquela região do nordeste espanhol.

Reprimida por Madrid, a cultura catalã precisa de renascer das cinzas. Ao longo do século XIX, a região apresenta-se na liderança do processo de industrialização espanhol, à medida que a cultura também se vai autonomizando e crescendo. É um nacionalismo que vai ressuscitando.

A situação de Barcelona segue ao ritmo da complexa história espanhola. Vê-se com alguma autonomia governativa durante o início do século XX, que logo perde na ditadura de Primo de Rivera (1923-1930). Em 1931, a Segunda República Espanhola leva à criação do governo autonómico da Catalunha – a Generalitat - liderada pela Esquerda Republicana da Catalunha (esquerda e independentista, que faz hoje parte da coligação Juntos pelo Sim).

Com o início da guerra civil (1936-1939), Barcelona coloca-se do lado dos republicanos, que acabam por perder. Espanha – e a Catalunha - ficam entregues a Francisco Franco até 1975. Tal como Filipe V, Franco persegue qualquer amostra de catalanismo: repressão cultural, proibição do catalão, fim da autonomia e a execução ou a ida para o exílio dos ativistas catalães.

Depois de Franco

É preciso esperar pelo retorno de democracia a Madrid para ver o movimento independentista recompor-se. No entanto, os últimos anos da ditadura ficam marcados por um reforço da industrialização na Catalunha e pelo desenvolvimento do turismo. Pedras de toque da economia catalã, que é também hoje um dos motivos para o ansiado divórcio com Madrid.

A democracia traz também o regresso das instituições catalãs. A Constituição espanhola de 1978 reconhece desde logo a existência de diferentes nacionalidades em Espanha mas fecha a porta à separação do país.

Artigo 2

“A Constituição baseia-se na unidade indissolúvel da Nação Espanhola, pátria comum e indivisível de todos os espanhóis e reconhece e garante o direito à autonomia das nacionalidades e regiões que a integram e a solidariedade entre eles”


Com a democracia é criado um Estatuto da Autonomia para a Catalunha, reconhecida como uma “nacionalidade”. A língua catalã ganha estatuto de língua oficial daquela região espanhola, a par do castelhano. A Catalunha volta a ter uma Generalitat e um Parlamento próprio.

As primeiras eleições autonómicas para o hemiciclo de Barcelona realizam-se em 1980, com uma vitória da Convergência e União (CiU), o partido de centro-direita nacionalista de Jordi Pujol, Artur Mas e do atual presidente Carles Puigdemont. É Jordi Pujol que vai manter-se à frente do governo catalão até 2003.

Desde o fim da ditadura que a Catalunha é sempre liderada por forças nacionalistas. A exceção é o período entre 2003 e 2010. Apesar de a CiU de Artur Mas ter sido a força mais votada, uma coligação entre socialistas, ecologistas e a Esquerda Republicana de Catalunha assume a governação da Generalitat. São os tempos do novo estatuto da Catalunha, com Madrid a ser governado pelo socialista José Luís Zapatero (2004-2011).

Mais autonomia, menos vontade de independência

O compromisso de reformar o estatuto da Catalunha tinha já sido assumido em 2003, quando os socialistas, a Esquerda Republicana de Catalunha e os ecologistas se uniram para assumir a liderança do governo autonómico. O documento começa a ser preparado em 2004 pelo Parlamento de Barcelona sendo aprovado pelos deputados catalães em 2005 – com o voto contra do PP catalão.

Mais difícil torna-se a aprovação do documento pelo Parlamento espanhol. O estatuto acaba por ser validado mas com alterações, previamente negociadas entre José Luís Zapatero e os políticos catalães.

O acordo prevê que a Catalunha seja apelidada de “nação” mas só no preâmbulo do estatuto, sendo tratada como “nacionalidade” nos restantes artigos. Madrid autoriza ainda a criação de uma máquina fiscal própria a Barcelona, cedendo-lhe 50 por cento dos impostos.

O Estatuto da Catalunha é definitivamente aprovado pelas autoridades espanholas em maio de 2016, mas depurado de algumas das exigências dos nacionalistas catalães. Madrid rejeita a transferência dos portos e dos aeroportos para o governo regional e também não aceita que a Catalunha passe a escolher num círculo próprio os seus deputados ao Parlamento europeu, mantendo um círculo único para toda a Espanha.

As alterações que reduzem a autonomia catalã face ao documento original não satisfazem a Esquerda Republicana de Catalunha que vota contra o documento. Também o PP vota contra, pelos motivos contrários: excesso de autonomia e desigualdade em relação aos restantes cidadãos espanhóis.

O Partido Popular lidera a luta contra o estatuto, como hoje lidera a luta contra independência catalã. O movimento de Mariano Rajoy recolhe mais de quatro milhões de assinaturas para que o estatuto seja votado em referendo por todos os espanhóis e apresenta recursos junto do Tribunal Constitucional. É a semente da luta em que a Catalunha e Espanha se encontram hoje envolvidas.

A realização do referendo em toda a Espanha não é aceite pelo Parlamento e o Estatuto é referendado apenas pelos catalães em junho de 2006. O estatuto acaba por ser aprovado, com o sim a ganhar por 72,9 por cento, num votação onde metade dos catalães se abstém.
O novo Estatuto da Catalunha entra em vigor em agosto de 2006, enquanto o Tribunal Constitucional espanhol continua a analisar os recursos apresentados pelo Partido Popular e por outras regiões de Espanha.
Menos autonomia, mais vontade de independência

Foram precisos mais de três anos para o Tribunal Constitucional apresentar a sua avaliação ao novo Estatuto da Catalunha. Em 2010, a instância decide anular 14 dos mais de 200 artigos do documento, num golpe duro para algumas das principais pretensões catalãs.

O Tribunal Constitucional chumba o desejo de apresentar a língua catalã como “preferencial” naquela região, colocando-a ao mesmo nível que o castelhano. Barcelona também vê chumbada a possibilidade de ter um sistema de justiça autónomo face a Madrid e vê diminuídos os seus poderes fiscais.

O guardião da Constituição espanhola permite que a Catalunha seja referida como uma “nação” no preâmbulo, mas deixa claro que este não tem eficácia jurídica. Apesar de deixar passar a definição, o Constitucional recorda a “unidade indissolúvel” da Nação Espanhola.

A decisão leva pelo menos 1,1 milhões de pessoas às ruas de Barcelona a 10 de julho de 2010. Sob o lema “Somos uma nação, nós decidimos”, as bandeiras independentistas multiplicam-se, bem como as frases que se tornarão constantes nas manifestações dos anos seguintes: “Catalunha, próximo Estado europeu”, “Independência é uma necessidade” e “Adeus Espanha”.

Objetivo: independência

A decisão do Tribunal Constitucional é divulgada a cinco meses das eleições autonómicas de novembro de 2010. A Convergência e União vence e passa a liderar o executivo catalão.

Não fosse a decisão do Tribunal Constitucional suficiente, a crise económica vem dar mais força aos anseios de independência. Perante a crise mundial e a crise europeia das dívidas soberanas, Espanha adota uma cura de austeridade a que a Catalunha não fica alheia, apesar da situação económica mais favorável em que se encontra.

Afinal, a Catalunha produz um quinto do PIB espanhol mas representa apenas seis por cento do território. Em 2012, a sua dívida pública representa 22 por cento do PIB, apesar de ter uma taxa de desemprego elevada. A decisão de ajudar Madrid a sair da crise não foi bem recebida por uma sociedade que não se revê na coletividade espanhola.

Para alterar a situação, o governo de Artur Mas apresenta uma proposta de Pacto Fiscal a Madrid. O projeto catalão prevê que o Governo regional receba a totalidade dos impostos pagos em Catalunha ficando com plena autonomia fiscal. Seria no entanto estipulada uma quota de compensação. Ou seja, um cheque que Barcelona passaria a Madrid em troca pelos serviços prestados pelo Estado na Catalunha e em solidariedade para com os restantes territórios espanhóis.

Um dos objetivos é reduzir o saldo da Catalunha em relação a Espanha, ou seja, a diferença entre o que Barcelona paga e recebe do Estado espanhol. O Pacto Fiscal chega a Madrid quando Mariano Rajoy já é líder do executivo. O primeiro-ministro conservador – que já tinha liderado a luta conta o novo Estatuto da Catalunha - rejeita a proposta.

Artur Mas promete uma resposta dura porque “momentos excecionais precisam de decisões excecionais”. O líder catalão convoca eleições autonómicas antecipadas e um novo objetivo: “que o povo catalão possa decidir livre e democraticamente o seu futuro coletivo”.
“Pacto para a Liberdade”

As eleições realizam-se a 25 de novembro de 2012. A Convergência e União de Artur Mas perde deputados mas mantém-se como partido mais votado. Sem maioria, a CiU assina com a Esquerda Republicana de Catalunha um “Pacto para a Liberdade”. Ou seja, o centro-direita e a esquerda catalã deixam para trás o antagonismo político para se focarem no que os une: a independência da Catalunha.

Os dois partidos associam-se para realizar um referendo à independência da Catalunha em 2014. A realização da consulta popular não passa pelo crivo do Parlamento espanhol nem do Tribunal Constitucional. A alternativa é a realização de um “processo participativo sobre o futuro político da Catalunha”, que se realiza a 9 de novembro de 2014.

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Os catalães são convidados a responder a duas questões: “Quer que a Catalunha seja um Estado” e “Em caso afirmativo, quer que esse Estado seja independente?”.

Menos de 60 por cento dos potenciais votantes participam nesta consulta à população. Entre os participantes, os defensores da independência catalã apresentam-se em grande maioria: mais de 80 por cento responde afirmativamente às duas questões. Depois da consulta simbólica, Barcelona mantém o objetivo: um referendo a sério que abra as portas à independência.

Referendo em forma de eleição

Na busca por maior apoio parlamentar à independência, Artur Mas convoca em janeiro de 2015 eleições autonómicas antecipadas para 27 de setembro. Formalmente, o povo catalão vota na composição do Parlamento mas o sufrágio é transformado numa espécie de referendo entre defensores e opositores da independência catalã.

Por isso mesmo, o centro-direita nacionalista de Artur Mas candidata-se em coligação com a Esquerda Republicana da Catalunha. Estão “Juntos pelo Sim”, unidos na vontade de ver nascer uma Catalunha independente.

O resultado é misto. O Juntos pelo Sim conquista 62 lugares, não conseguindo maioria absoluta. No entanto, os também independentistas da Candidatura de Unidade Popular obtêm dez lugares. Ou seja, os deputados independentistas estão em maioria no Parlamento.

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Apesar de conquistarem menos assentos, os partidos que se opõem à independência catalã conquistaram mais votos – 50,56 por cento dos sufrágios. A leitura é clara: os independentistas ganharam a eleição mas perderam o “referendo”. No número de deputados e no de votos, os números apontam fundamentalmente para uma nação dividida quanto ao seu futuro.

A consulta popular de 2014 e a eleição autonómica de 2015 estabelecem os princípios para os anos seguintes. Em novembro, o Parlamento catalão adota uma resolução de apoio à independência, rapidamente anulada pelo Tribunal Constitucional espanhol. Em dezembro, Artur Mas anuncia que abandonará a chefia da Generalitat.

A saída de Mas é o preço a pagar pelo apoio da Candidatura da Unidade Popular ao projeto independentista. Sai assim de cena a principal cara do independentismo catalão. Em 2017, seria condenado por ter promovido a consulta popular de 2014.

Com a saída de Artur Mas, os destinos da Catalunha e do seu projeto independentista ficam entregues a Carles Puigdemont. Em junho de 2017, Puigdemont anuncia a realização de um referendo à independência no dia 1 de outubro.

2017, ponto sem retorno

Com as portas de Madrid fechadas ao diálogo e Barcelona a exigir um referendo, o conflito radicaliza-se. As últimas semanas mostram que o conflito entre Barcelona e Madrid atingiu já níveis nunca tocados, pelo menos, desde que a força das armas deixou de ser solução no ocidente europeu.

Do lado do Governo espanhol e do lado do Governo catalão, os últimos meses ficaram marcados por passos cada vez maiores, num clima de guerrilha política e jurídica sem precedentes. O dia 6 de setembro apresenta-se como o dos excessos catalães na luta pelo referendo. “Sequestro da democracia para fraturar Espanha”, titula o El Mundo no dia seguinte. O ABC vê um verdadeiro “Golpe de Estado no Parlamento”. Em causa, a validação da lei do referendo no Parlamento catalão.

Para evitar que Madrid impeça a votação no Parlamento, Barcelona decide seguir por atalhos, fazendo valer a maioria absoluta de independentistas no Parlamento e o facto da presidente da assembleia ser Carme Forcadell, ex-líder do movimento independentista Assembleia Nacional da Catalunha.

O voto da lei do referendo não é previamente incluído na ordem de trabalhos da sessão. É depois apresentado numa alteração de última hora, tentando evitar que uma decisão de Madrid impeça a votação. A metodologia pouco ortodoxa motiva inclusivamente críticas de deputados pró-referendo.

Os socialistas catalães e o PP protestam e criticam a falta de tempo para analisar o diploma secreto, apresentado à última hora pelos independentistas. O diploma acaba por ser votado, com recurso a uma procedimento de urgência aprovado numa recente reforma do regulamento parlamentar.

Aprovada a lei no Parlamento, o presidente da Generalitat assina nessa mesma noite a convocatória de referendo. A resposta de Madrid é rápida. O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy ataca o “ato intolerável de desobediência” e o Tribunal Constitucional suspende a lei do referendo.

Também Madrid eleva a retórica e as suas próprias ações. A guerra contra o referendo catalão faz-se através da justiça espanhola e do próprio executivo. A justiça multa os organizadores e lança uma operação policial onde são detidos altos-responsáveis da Generalitat em edifícios do governo autonómico.


As autoridades apreendem milhões de boletins de voto, impedem o envio de convocações para as mesas de voto, fecham sites sobre o referendo e tentam apreender as urnas que tornariam possível a votação. Madrid passa a controlar as contas catalãs para evitar que fundos públicos sejam usados na concretização do referendo. O Governo espanhol anuncia ainda o envio de milhares de polícias para Barcelona e coloca a polícia regional catalã - os Mossos d'Esquadra - sob alçada da Guardia Civil espanhola.

A Generalitat vê na resposta de Madrid uma ressonância da ditadura militar de Franco e garante que a consulta popular vai acontecer. O Governo espanhol promete tudo fazer para a impedir, em nome da “unidade de Espanha”.

As ações das autoridades espanholas demonstram a ambição de impedir esta votação. As respostas da Catalunha comprovam a preparação catalã para o que está a acontecer. O que permanece indefinido é o que vem a seguir. Até onde está Madrid disposto a ir para impedir um referendo que a lei espanhola diz ser ilegal? Que cartas ainda tem Barcelona para responder?

Para além das ações de cada país, o problema catalão transvasa para questões mais complexas, onde jurisdição, política e cidadania entram em confronto. Deve ser permitida uma votação que viola a Constituição? Faz sentido impedir uma população de expressar a sua vontade soberana?

Num Estado de Direito e no século XXI, como se resolvem as questões independentistas? O diálogo parece ser resposta correta mas, entre Madrid e Barcelona, a ponte está há muito fechada.

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/1640- ... _es1028949




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Re: Notícias desde Espanha

#1467 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 9:26 pm

OPINIÃO
A independência da Catalunha numa era de interdependências
Hoje a questão que os catalães têm de colocar é a de assumir todas as consequências económicas, sociais e políticas que resultarão de uma secessão de Espanha.
9 de Outubro de 2017
https://www.publico.pt/2017/10/09/mundo ... as-1788193

1. Entre nós, portugueses, é natural existir simpatia pela Catalunha. A restauração da independência de Portugal, a 1 de Dezembro de 1640, é uma das datas mais importantes do nosso passado colectivo. Liga-nos à história da Catalunha. A revolta dos ceifeiros dos anos 1640 — ocorrida durante a guerra dos Trinta Anos (1618-1648) —, facilitou a recuperação da independência portuguesa, da qual nos devemos orgulhar. Obrigou os exércitos espanhóis, sob o comando do conde-duque de Olivares, a deslocaram-se para a Catalunha. Mostra o que Portugal seria se não tivesse triunfado a rebelião contra a monarquia espanhola. Mas ambição de independência da Catalunha não acabou em 1640. Continuou viva ao longo dos séculos seguintes. Emergiu, novamente, durante a guerra da sucessão de Espanha (1701-1714). Aí foi derrotada e perdeu as suas instituições próprias, ocorrendo um processo de centralização do Estado espanhol no governo de Madrid. A primeira república espanhola (1873-1874) e os trágicos anos 1930, que levaram à guerra civil (1936-1939) foram novos momentos de irrupção do sentimento nacionalista. Em 1934, Lluís Companys, o Presidente da Generalitat, proclamou um Estado catalão no âmbito de uma federação republicana espanhola, num primeiro passo para a independência. A ambição independentista foi esmagada militarmente e a Catalunha perdeu o seu estatuto de autonomia.

2. Neste ano de 2017, a questão da independência da Catalunha voltou a reemergir com grande intensidade. É grande a tentação para a discutirmos de forma emotiva, como se estivéssemos em 1640, em 1714, em 1934, ou ainda na ditadura da Espanha franquista. Não há dúvidas que em todas essas épocas históricas só pela rebelião e pela força das armas era possível um povo formar um Estado independente e ter liberdade. Também não há quaisquer dúvidas que os derrotados foram sujeitos a uma opressão e repressão — demasiado evidente durante toda a Espanha franquista, até 1975. Mas hoje não é essa a realidade da Espanha que, tal como Portugal, está na União Europeia desde 1986. Nela, os princípios do Estado de direito democrático e de protecção das minorias são uma obrigação permanente e efectiva. Ao mesmo tempo, a Catalunha aprovou esmagadoramente a Constituição de 1978, num referendo livre democrático, tal como a restante Espanha. Mas não é só isso que faz a diferença do presente face ao passado. Neste início de século XXI, vivemos num mundo radicalmente diferente de outras épocas históricas, devido à globalização, à integração europeia e ao elevadíssimo grau de interdependência económica que daí decorre. Tudo isto condiciona o poder político e económico do Estado, ou seja, a soberania tal como esta é entendida tradicionalmente. No passado europeu lutar pela independência — entendida, fundamentalmente, como exclusão de poderes estrangeiros da política e economia nacional —, significava, acima de tudo, um povo estar disposto a amplos sacrifícios de vidas humanas na guerra. Hoje a questão coloca-se noutros termos.

3. A história de um povo e a sua identidade são valores inquestionáveis e que devem ser preservados. Um povo sem história é pobre, perde laços que o ligam, perde a memória que o perpetua no tempo. Mas o passado histórico, se mal usado e manipulado, pode tornar o futuro de um povo refém deste. É esse o problema dos nacionalismos. Embora contenham facetas cívicas e comunitárias positivas — que as elites globalizadas menosprezam —, a partir de um certo grau de intensidade, difícil de precisar, podem tornar-se um entrave ao presente e ao futuro. George Orwell foi um admirador da Catalunha. Combateu na guerra civil espanhola de 1936-1939 ao lado dos republicanos. Em “Notas sobre o Nacionalismo”, fez uma análise das suas características publicada na Polemic (1945), uma revista britânica dedicada a assuntos de Filosofia, Psicologia e Estética. Contém reflexões perspicazes sobre o nacionalismo que vale a pena recordar aqui. Uma das características que Orwell lhe apontava era a indiferença à realidade. Notou que todos "os nacionalistas têm o poder de não ver semelhanças entre conjuntos de factos similares […] As acções são consideradas boas ou más, não pelos seus próprios méritos, mas de acordo com quem as faz […]. Todo o nacionalista é perseguido pela crença de que o passado pode ser alterado. Gasta parte de seu tempo num mundo de fantasia onde as coisas acontecem como deveriam […] A indiferença à verdade objectiva é encorajada pelo fechar de uma parte do mundo a partir de outra, o que torna mais difícil descobrir o que realmente está a acontecer.” Reflexões que mantêm uma impressionante actualidade no mundo de hoje e na questão da Catalunha.

4. Carles Puigdemont, o Presidente da Generalitat, Oriol Junqueras, o seu aliado na coligação Juntos pelo Sim e Vice-Presidente da Generalitat, bem como os grupos da sociedade civil que mais impulsionam a independência — a Assembleia Nacional da Catalunha (ANC) e o Òmnium Cultural —, parecem sofrer também da "indiferença à realidade", característica que Orwell encontrava na mente de todos os nacionalistas. Um caso interessante é o do já referido Oriol Junqueras. O seu partido, a Esquerda Republicana da Catalunha, é o partido histórico do independentismo, com raiz nos anos 1930. O peso do passado parece cair sobre o seu líder. (É doutor em História do Pensamento Económico, com uma tese sobre "Economia e Pensamento Económico na Catalunha da Alta Idade Moderna, 1520-1630"). Talvez pela sua própria formação e visão do mundo, Oriol Junqueras tenha subestimado o movimente de saída das empresas da Catalunha que provocaria uma declaração de independência unilateral. Após o referendo de 1 de Outubro — e a anunciada declaração de independência —, continuava a afirmar que não havia risco de as empresas saírem da Catalunha. Ver o mundo por lentes do passado, sem o temperar com uma correcta leitura das circunstâncias presente, pode levar a graves erros políticos. O problema dos que lutaram pela preservação da autonomia ou independência em 1640, 1714 ou até 1934, não foi, certamente, perder o acesso a programas de financiamento e liquidez do Banco Central Europeu (BCE), ou a deslocalização das empresas multinacionais e instituições financeiras para fora do território. Nessas épocas, mesmo em 1934, a questão da interdependência económica, financeira e social não tinha qualquer impacto comparável ao que tem hoje.

5. Num mundo actual globalizado, impregnado de uma ideologia neoliberal que glorifica o homo economicus, a Catalunha é, goste-se ou não, um mercado que compete com outros. Um mercado interessante, pelo seu grau de desenvolvimento, bem-estar e localização próxima de França, mas pequeno: 7,5 milhões de consumidores. O seu sucesso — como de qualquer economia pequena, aberta e dinâmica —, está muito ligado ao acesso ao mercado espanhol, ao mercado da União Europeia e ao mercado global. Uma declaração de independência que quebre ou dificulte significativamente o acesso a ambos provocará, como já é visível, uma saída em massa de empresas. Foi o que aconteceu na Catalunha após 1 de Outubro onde surgiu um movimento de retirada de sedes sociais para outros pontos de Espanha. A saída já foi anunciada pelo CaixaBank e o Sabadell no sector financeiro, a Gas Natural, a Service Point de serviços de impressão digital, a têxtil Dogi, a biotecnológica Oryzon, a Sociedade Geral das Águas de Barcelona (Agbar) entre outras. Podem ainda existir efeitos de bem maior amplitude se, por exemplo, levar à saída de empresas como a SEAT, integrada no grupo alemão Volkswagen. Entre os 7,5 milhões de consumidores da Catalunha e os 38 ou 39 milhões do resto da Espanha, poucas empresas serão nacionalistas ou patrióticas. Mas tudo isto é algo extremamente sério que pode afectar drasticamente o bem-estar de uma população, em termos de rendimento, de emprego e vida futura.

6. No turbulento referendo do passado do 1 de Outubro a questão sobre a qual os eleitores da Catalunha tiveram de se pronunciar foi: “Quer que a Catalunha seja um Estado independente sob a forma de república”? Segundo os dados publicados pela Generalitat, votaram cerca de 2,2 milhões pessoas (43 % dos eleitores inscritos), com mais de 90% dos votos favoráveis ao “sim”. Pelas próprias circunstâncias como decorreu — fora do quadro de legalidade do Estado espanhol e com repressão policial —, é impossível validar os resultados. Ao mesmo tempo, admitindo a veracidade dos dados, verifica-se que houve uma participação inferior a 50% do corpo eleitoral da Catalunha, o que, em qualquer referendo desta importância, retiraria valor aos resultados. Mas há um aspecto crucial que tem sido negligenciado no debate sobre o direito da Catalunha decidir democraticamente o seu futuro. Para além do problema constitucional, terá de ser colocada uma outra questão de importância decisiva: "quer proclamar uma República da Catalunha independente, mesmo que não possa ser membro da União Europeia?" Numa consulta eleitoral séria e democrática impõe-se sufragar um projecto — que terá de ser concreto e exequível —, de um futuro Estado independente. Não se pode reduzir a saber se a população concorda com um ideal abstracto de independência, sob uma vaga fórmula republicana. Caso contrário, a decisão, na prática, fica nas mãos de partidos que não obtiveram a maioria dos votos do eleitorado. Só assim os eleitores tomarão consciência do que está em causa e poderão assumir a plena responsabilidade da sua escolha. Mas não foi o que aconteceu a 1 de Outubro.

7. Se há alguma coisa que parece evidente, num assunto tão complexo como este, é que uma República da Catalunha unilateralmente independente não será, pelo menos nos anos vindouros do futuro discernível, um Estado-membro da União Europeia. Em termos político-jurídicos, não existe, a priori, qualquer solução automática que garanta a sua permanência na União Europeia, nem na Zona Euro. Isto é válido em qualquer cenário de uma independência declarada unilateralmente, mesmo que seguida de uma instauração de facto de um novo poder estadual no território. (Ver “É possível uma Catalunha independente na União Europeia?” in Público, 12/09/2017). Só a Espanha, ainda que reconfigurada territorialmente, continuará a ser membro da União. A alternativa para a Catalunha é passar por um novo processo de adesão, onde é necessário, entre outros requisitos, um consenso de todos os Estados-membros — o qual abrange a própria Espanha — que, no limite, poderá sempre vetar tal adesão. Na realidade, o que está em causa para a Catalunha não é apenas obter uma independência de Espanha (desejada por uma parte da população), mas também uma saída (ainda que indesejada) da União Europeia. O independentismo nunca deixou claro que será essa a consequência.

8. Sejamos claros: não basta afirmar solenemente, como fez o Parlamento da Catalunha na “lei da desconexão”, que uma futura república será membro da União Europeia e continuará a aplicar a sua legislação. Isso não depende, em nenhuma circunstância, apenas a vontade da Catalunha. Assim, a questão da independência levanta, como já fizemos notar, não uma, mas duas questões particularmente complexas e com enormes repercussões no futuro: (i) a questão da formação de um novo Estado soberano com características que, em parte, podem ser comparadas às da formação de outros como, por exemplo, o Kosovo, nomeadamente em matéria de reconhecimento internacional; (ii) uma questão de saída da União Europeia similar, em vários aspectos, ao da saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit). Quanto a este último problema, a situação da Catalunha é ainda mais complicada pois, ao contrário dos britânicos que sempre mantiveram a sua moeda própria — a libra esterlina —, a Catalunha usa o Euro. Daí que um resultado de uma independência unilateral, se esta avançar, será desencadear problemas económicos e financeiros que vão fazer lembrar os da Grécia no auge da crise da sua dívida e da Zona Euro, em 2015. Mas nem aí, numa situação extraordinariamente crítica, o governo do Syriza de Alexis Tsipras quis arriscar abandonar a Zona Euro em nome de uma recuperação da soberania monetária.

9. No passado os catalães — tal como qualquer povo que ambicionava ser independente — tinham de fazer uma pergunta crucial a si próprios: estavam dispostos a lutar, com todos os meios, arriscando a própria sua vida, para conquistar e conservar a independência? Hoje a questão que têm de colocar é outra. Não é a de sacrificar fisicamente as suas vidas num confronto militar, mas a de assumir todas as consequências económicas, sociais e políticas que resultarão de uma secessão de Espanha. Estas implicarão ter de estar preparado para um não reconhecimento internacional generalizado e abandonar a União Europeia. Não é realista pensar que, nas actuais circunstâncias, é possível negociar uma secessão amigável com o Estado espanhol, nem que este vai facilitar a sua reentrada na União Europeia. A Espanha vai defender a sua soberania e integridade territorial com todos os meios legais e políticos — incluindo, possivelmente, o recurso ao artigo 155 da Constituição para suspender a autonomia catalã. Está a Catalunha preparada para isso? São os catalães que têm de dar a resposta a si próprios. Uma independência unilateral implicará que as gerações actuais estejam dispostas a sacrificar o seu bem-estar durante largos anos, ou décadas, num processo de resultado final incerto. No espectro político, só a esquerda radical da Candidatura de Unidade Popular (CUP) parece, de forma clara, disposta a isso. (O Partido Democrático Europeu Catalão e a Esquerda Republicana da Catalunha pretendem ficar na União Europeia). O programa da CUP é soberanista, anti-capitalista e anti-União Europeia. Uma República da Catalunha fora da União Europeia e desligada da economia globalizada enquadra-se no seu projecto político. Mas no actual parlamento a CUP representa apenas 8,2 % dos eleitores. Resta saber o que a grande maioria da Catalunha quer para o seu futuro num mundo de interdependências.




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Re: Notícias desde Espanha

#1468 Mensagem por Penguin » Qua Nov 01, 2017 10:02 pm

Fuga de Puigdemont da Catalunha
Carles, vá para casa!
Com sua fuga para a Bélgica, Carles Puigdemont prejudica o movimento independentista catalão - e ajuda seus adversários em Madri. Ele mesmo serviria a sua causa se ele enfrentasse um julgamento.

http://www.spiegel.de/politik/ausland/p ... 75772.html




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Re: Notícias desde Espanha

#1469 Mensagem por FCarvalho » Qua Nov 01, 2017 10:22 pm

Wingate escreveu:
ps: se um índio, negro ou algum tupiniquim aportuguesado mais esquecido aqui quiser proclamar a independência da maloca dele e do seu respectivo quintal, vai ter que se haver primeiro com as leis do país, e com as suas barras, antes de ir pedir pinico a ONU e outros protetores da natureza. Lá ele também poderá decidir livremente o seu próprio destino. Se ainda estiver vivo, claro..
Com o devido respeito, acho que nesse caso não, nobre colega. Ele vai ter é que se haver com o TRAFICANTE CHEFE DA ÁREA, que na certa vai acabar com essa frescura de quem manda em quem ou decide isso e aquilo. Tá ligado?
Wingate
Aí liguei mano. [089]

abs




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Re: Notícias desde Espanha

#1470 Mensagem por FCarvalho » Qua Nov 01, 2017 10:25 pm

Penguin escreveu:Amazônia..
Vez ou outra algum "maluco" defende a autodeterminação de povos indígenas na Amazonia (no Brasil e em outros países da AL). Mas essa mesma lógica valeria para países com povos nativos como EUA, Rússia, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, Austrália, Nova Zelandia etc etc. Isso tem 0 chance de prosperar.
Aqui um aparte para correção. Na verdade não existem "povos indígenas", existem populações indígenas. Bem diferente do apregoado pela mídia politicamente correta nacional e internacional, e dos bajuladores do protecionismo ambiental também politicamente correto.

Povo no Brasil há só um: o brasileiro.

O resto são chorumelas e pitangas.

abs.




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