GULAG, o horror do comunismo.
Moderador: Conselho de Moderação
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61389
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6260 vezes
- Agradeceram: 6610 vezes
- Contato:
Re: GULAG, o horror do comunismo.
PUTZ, eu era rico e nem sabia!!!
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- J.Ricardo
- Sênior
- Mensagens: 7550
- Registrado em: Qui Jan 13, 2005 1:44 pm
- Agradeceu: 2496 vezes
- Agradeceram: 1004 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
Então, desse jeito era fácil vender que o Brasil era um país de classe média.
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
- Bourne
- Sênior
- Mensagens: 21087
- Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
- Localização: Campina Grande do Sul
- Agradeceu: 3 vezes
- Agradeceram: 21 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
Esses dados são fantásticos para vender supostos milagres. A mágica desses dados de uma super classe média é classificar os grupos segundo uma renda per capital. No entanto, convenientemente, não pondera que a renda real que é muito baixa em relação aos países desenvolvidos e da América Latina. Assim, a nossa "classe média" tem um nível de consumo pior do que os vizinhos e que em outros países seriam chamados de pobres.
Na real, quando vai desenhar modelo de transferência de renda, estrutura tributária, gasto em bens públicos não se usa esses dados milagrosos. Se não distorce tudo. Aliás, se a classe média é tão grande, qual o motivo delas estarem incluídas em programas de transferência de renda e subsídios? O motivo é simples. Eles não são classe média. Caso contrário, não teria sentido ter programas de transferências de renda e subsídios. Isso não é novidade. Todo mundo mexe com política de governo e programas sociais conhece os dados, as diversas metodologias de classificação de renda e grupos sociais.
O Dieese é mais honesto. Sempre divulgam o salário minimo ideal que hoje deve estar em uns R$ 4 mil para sustentar uma famílias de dois adultos e duas crianças. Isso é o básico para ter um nível de consumo considera mínimo para uma boa qualidade de vida. Não e muito. O problema que o Brasil tem produtividade baixa e é pobre. E muita gente não ganha salário minimo e está no mercado de trabalho informal. A coisa é muito pior do que parece.
Na real, quando vai desenhar modelo de transferência de renda, estrutura tributária, gasto em bens públicos não se usa esses dados milagrosos. Se não distorce tudo. Aliás, se a classe média é tão grande, qual o motivo delas estarem incluídas em programas de transferência de renda e subsídios? O motivo é simples. Eles não são classe média. Caso contrário, não teria sentido ter programas de transferências de renda e subsídios. Isso não é novidade. Todo mundo mexe com política de governo e programas sociais conhece os dados, as diversas metodologias de classificação de renda e grupos sociais.
O Dieese é mais honesto. Sempre divulgam o salário minimo ideal que hoje deve estar em uns R$ 4 mil para sustentar uma famílias de dois adultos e duas crianças. Isso é o básico para ter um nível de consumo considera mínimo para uma boa qualidade de vida. Não e muito. O problema que o Brasil tem produtividade baixa e é pobre. E muita gente não ganha salário minimo e está no mercado de trabalho informal. A coisa é muito pior do que parece.
- prp
- Sênior
- Mensagens: 8800
- Registrado em: Qui Nov 26, 2009 11:23 am
- Localização: Montes Claros
- Agradeceu: 113 vezes
- Agradeceram: 406 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
A crítica seria válida se fosse nova merodologia, mas é a mesma adotada antes da ascensão dos 23 milhões.J.Ricardo escreveu:Tem razão na crítica aos critéiros, veja os valores para se identificar a classe média em 2012:Viktor Reznov escreveu:Até eu consigo tirar 23 milhões da miséria através da mudança de critérios do IBGE pra classificação e com mesada do governo, eu quero é ver quantos desses 23 milhões conseguiram se emanciparem da ajuda Estatal.
Classe média tem renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019, diz governo
http://g1.globo.com/economia/noticia/20 ... verno.html
esse valor pra mim é pobre e fodido!
- ernando
- Intermediário
- Mensagens: 125
- Registrado em: Ter Jul 17, 2007 1:39 pm
- Agradeceu: 17 vezes
- Agradeceram: 19 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
http://midiasemmascara.org/artigos/dest ... ago-gulag/
O Arquipélago Gulag
Carlos Azambuja
17 de maio de 2017 - 16:21:27
Cidadãos de Salekhard comemoram o começo do projeto da estrada de ferro de Salekhard-Igarka, 1949. Na bandeira lê-se: “Glória ao Grande Stalin”
Desde o início da ditadura bolchevique sabia-se da utilização de campos de prisioneiros. Nada de estranhar visto que a Rússia, entre 1918-1920, mergulhara numa violentíssima guerra civil entre vermelhos (os bolcheviques) e os brancos (as forças czaristas), ampliada ainda mais pela intervenção de diversas potências estrangeiras (alemães, ingleses, franceses, americanos, japoneses). Todavia verificou-se que, no pós-guerra, o regime soviético vitorioso resolveu intensificar sua política prisional.
Muitos dos primeiros campos visavam servir de laboratórios ideológicos, voltados a demonstrar a notável capacidade de regeneração desenvolvida pelo novo sistema, capaz de reinserir os criminosos, por meio do trabalho produtivo, na sociedade revolucionada. Stalin, inspirando-se no exemplo de Pedro, o Grande, que, a partir de 1703, lançara mão do trabalho forçado para construir São Petersburgo, não demorou em fazer o mesmo.
Milhares de presos foram então arrebanhados para cavarem o grande Canal do Mar Branco (1928-1932) que ligaria Leningrado ao Oceano Ártico, velho sonho dos mercadores russos, mas que logo se mostrou ultrapassado devido à possibilidade da utilização de caminhões. Todavia, o kamarada Stalin fez questão de usar a colossal obra para fins publicitários, para mostrar ao país como o regime soviético mobilizava o povo para empreender grandes feitos de engenharia.
Assim, toda a antiga política czarista dos trabalhos forçados coletivos foi ressuscitada pelo novo regime. só que reciclada e posta a serviço da Grande Causa. Resultou disso que, a partir de 1928, a Comissão Yanson, que transferira do Comissariado da Justiça para a OGPU (Polícia Secreta) a supervisão sobre o “degredo administrativo”, decidiu batizar os campos como ITL (Ispravitelno trudovye lagerya), simplesmente campos de trabalho corretivo. As instalações existentes na ilha de Solovetsky, no Mar Branco, situado na região semi-polar da URSS, elogiadas por Máximo Gorki e por outros escritores soviéticos da época, foram então apontadas como um campo-modelo, arquétipos dos que, desde então, foram construídos no restante do país. Todo o Arquipélago Gulag surgiu dali, daquela célula prisional boiando num mar glacial.
Para justificar a lotação cada vez maior deles, Stalin apelou para a justificação ideológica de que conforme o socialismo avançava por todo o país, maior era a resistência das forças contrárias a ele. Situação que o obrigava a ser ainda mais duro do que comumente era. Uma curiosa operação matemática então se deu na década dos anos trinta: mais socialismo significava maior população encarcerada.
Uma enorme rede de “campos de reeducação” espalhou-se pela Rússia Soviética, alcançando inclusive as remotas áreas da Ásia Central, como os desertos do Cazaquistão. E, claro, pelas margens da imensa estrada de ferro que cortava a conhecida Sibéria, a velha pátria dos degredados russos, dos antigos condenados a katorgados tempos do czar (os condenados ao trabalho forçado).
Com as prisões em massa desencadeadas na época da Yezovchnina (as perseguições ao encargo de Nikolai Yezhov, comissário-chefe da então NKVD), quando Stalin determinou a prisão e encarceramento de milhares de suspeitos de “sabotagem” e atividades “anti-socialistas”, em geral, ex-membros da elite soviética, e quadros médios do Partido Comunista, estima-se que o GULAG tenha abrigado, entre 1936-1940, dois milhões de prisioneiros.
O martírio de Soljenitsin
Oficial de artilharia durante a Segunda Guerra Mundial, Alexander Soljenitsin, foi condenado, no final do conflito, por um dos artigos do Código Penal soviético que lhe fixou inicialmente uma pena de dez anos. Cumpriu-a inicialmente numa das prisões de elite, situada ao redor de Moscou, antes de ser enviado para os sem-fins da Ásia Central.
A vida nesta primeira instalação é que o inspirou a escrever “O Primeiro Circulo”, romance cujo titulo foi extraído do “Inferno” de Dante, espaço reservado aos sábios caídos em desgraça. Stalin, por sugestão do seu novo chefe da polícia política Laurenti Béria (1938-1953), havia concordado em erguer cárceres especiais para pesquisadores e homens de ciência denunciados como suspeitos para que eles pudessem trabalhar juntos nos projetos mais urgentes do regime. Para piorar mais as coisas para ele, foi atacado por um violento câncer no estomago, o que o levou a internar-se num hospital de presos (tema do “O Pavilhão dos Cancerosos”).
Libertado após a morte de Stalin, miraculosamente vivo, aproveitando-se da moderada desestalinização que se seguiu, dedicou-se, a partir de 1957, a lecionar matemática em Riazan e a publicar suas novelas e contos que escondera com muito cuidado, muitas delas redigidas nas condições abomináveis da vida de um zek, um prisioneiro dos campos.
Soljenitsin dizia rir-se daqueles homens de letras, seus contemporâneos, que inventavam mil e umas manias, que só conseguiam pegar na pena em condições muito próprias, ideais. Ele aprendera a manejar o lápis ou a caneta ainda quando em marcha com os demais encarcerados, na hora do rancho ou nos intervalos do corte de lenha no mato. A paixão pela literatura fazia dele um obcecado registrador de palavras. Viu-se quase como um furioso enchendo um sem-fim de cadernos e resmas de papel, escritos sem margens e com o mínimo de espaço entre uma linha e outra, nas piores circunstâncias possíveis.
O Impacto do Arquipélago Gulag
Não que a opinião pública do Ocidente não soubesse dos campos de trabalho do regime soviético. Longe disso. Ainda após a Segunda Guerra Mundial, um trânsfuga do governo comunista que pedira asilo político no Canadá chamado Victor Kravchenko os denunciara num livro intitulado na sua edição em inglês como I choose Freedom (“Eu preferi a liberdade”, 1947).
Além de afirmar que “a ditadura comunista na URSS não era exclusivamente um problema do povo russo, ou somente das democracias, senão que da humanidade inteira”, ele revelara que os comunistas haviam erigido um Estado-Policial como poder discricionário sobre os cidadãos. Um ataque feroz que ele recebeu da imprensa comunista da França, que tentou desqualificá-lo, acusando-o de mentiroso, rendeu-lhe a vitória em dois processos nos tribunais de Paris, em abril de 1949.
O affair Kravchenko, todavia foi esquecido e muitos intelectuais entenderam que as denúncias dele ligavam-se às posições anticomunistas dos norte-americanos nos começos da Guerra Fria e, como conseqüência, deveriam ser um tanto exageradas, senão descabidas. Além disso, ele aparecera no cenário como um traidor da causa. Na memória de outros, todavia, pesava ainda o fato de que fora o regime stalinista quem impusera uma derrota definitiva ao nazismo. A Europa Ocidental ainda tinha na lembrança o sacrifício dos russos em Stalingrado para querer levar adiante um tema tão espinhoso como o levantado por Kravchenko.
Do livro dele, editado em 1947, ao “Arquipélago Gulag” de Soljenitsin, traduzido no Ocidente 27 anos depois, muita desilusão se dera em relação às grandes bandeiras do socialismo.
Os soviéticos haviam feito uma intervenção, com seus tanques, em Berlim, em 1953, em Budapeste, em 1956, e em Praga, em 1968. Em 1961, Kruschev, provocando um enorme estrago na imagem internacional do socialismo, determinara a construção do Muro de Berlim, com ordens de disparar em quem tentasse ultrapassá-lo para alcançar o Ocidente. De libertadores da Europa, os soviéticos passaram a ser vistos como seus mais recentes opressores. Desse modo criou-se um clima bem mais favorável ao acolhimento do relato sobre o Gulag.
Profeta da Rússia Ortodoxa
O livro em si, concluído em 1973, é caótico. Durante alguns anos, Soljenitsin, como se fora um cuidadoso colecionador, recolheu o mais variado número de relatos e depoimentos de gente que fora condenada aos trabalhos forçados, misturando-os com seus próprios registros. Não se trata, pois, da experiência prisional de um só homem, como, por lembrança, deu-se com “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoiévski, mas sim de uma coletânea de dolorosos e pungentes testemunhos daqueles que penaram por diversos anos dentro do Gulag.
O livro, traduzido para diversos idiomas ocidentais, teve o efeito de um tufão. Não se tratava de um fugitivo que saltara o muro ou um renegado do comunismo, mais sim alguém de dentro, que sabidamente trilhara pelo purgatório do stalinismo , e que sobrevivera, um respeitado escritor que atingira fama internacional e que fora indicado ao Prêmio Nobel, em 1970 (ele temia viajar para Estocolmo com receio que as autoridades soviéticas não o deixassem voltar).
Um homem de letras preso às raízes mais profundas da terra russa, um descendente das estepes da região de Rostov, que se negara a deixar o solo natal e só o fizera por motivo do decreto que o expulsou definitivamente do país, em 1974 (exilado nos Estados Unidos, em Vermont, somente retornou à URSS em 1994, durante o governo de Gorbatchov). Soljenitsin não podia ser difamado como um “agente do imperialismo” ou de estar a serviço dos interesses estadunidenses como costumeiramente ocorria nesses casos, quando os jornais esquerdistas ou pró-comunistas procuravam desqualificar uma testemunha que apontasse seu dedo acusador para a URSS ou o seu regime.
Com o tempo, Soljenitsin, como que desiludido das coisas do mundo, assumiu uma posição cada vez mais pessimista, quase de mensageiro apocalíptico. Alguém que, nos moldes dos Velhos Crentes (seita russa do século 19 que tinha ojeriza à ocidentalização e aos costumes modernos), começou a lançar anátemas ao Ocidente, lamentando a perda da originalidade da cultura russa, provocada pela Revolução de 1917 e pela obstinação dos stalinistas em industrializar o país.
Finalmente, para afirmar ainda mais sua aparência de Santo Inquisidor dostoievsquiano ou de profeta tolstoiano, cada vez mais misântropo, deixou que as barbas lhe tomassem inteiramente o rosto, assemelhando-se aos patriarcas mujiques ou aos monges ortodoxos, a quem ele via como as mais originais e representativas figuras da “verdadeira Rússia”.
Carlos I. S. Azambuja é historiador e autor do livro A Hidra Vermelha.
O Arquipélago Gulag
Carlos Azambuja
17 de maio de 2017 - 16:21:27
Cidadãos de Salekhard comemoram o começo do projeto da estrada de ferro de Salekhard-Igarka, 1949. Na bandeira lê-se: “Glória ao Grande Stalin”
Desde o início da ditadura bolchevique sabia-se da utilização de campos de prisioneiros. Nada de estranhar visto que a Rússia, entre 1918-1920, mergulhara numa violentíssima guerra civil entre vermelhos (os bolcheviques) e os brancos (as forças czaristas), ampliada ainda mais pela intervenção de diversas potências estrangeiras (alemães, ingleses, franceses, americanos, japoneses). Todavia verificou-se que, no pós-guerra, o regime soviético vitorioso resolveu intensificar sua política prisional.
Muitos dos primeiros campos visavam servir de laboratórios ideológicos, voltados a demonstrar a notável capacidade de regeneração desenvolvida pelo novo sistema, capaz de reinserir os criminosos, por meio do trabalho produtivo, na sociedade revolucionada. Stalin, inspirando-se no exemplo de Pedro, o Grande, que, a partir de 1703, lançara mão do trabalho forçado para construir São Petersburgo, não demorou em fazer o mesmo.
Milhares de presos foram então arrebanhados para cavarem o grande Canal do Mar Branco (1928-1932) que ligaria Leningrado ao Oceano Ártico, velho sonho dos mercadores russos, mas que logo se mostrou ultrapassado devido à possibilidade da utilização de caminhões. Todavia, o kamarada Stalin fez questão de usar a colossal obra para fins publicitários, para mostrar ao país como o regime soviético mobilizava o povo para empreender grandes feitos de engenharia.
Assim, toda a antiga política czarista dos trabalhos forçados coletivos foi ressuscitada pelo novo regime. só que reciclada e posta a serviço da Grande Causa. Resultou disso que, a partir de 1928, a Comissão Yanson, que transferira do Comissariado da Justiça para a OGPU (Polícia Secreta) a supervisão sobre o “degredo administrativo”, decidiu batizar os campos como ITL (Ispravitelno trudovye lagerya), simplesmente campos de trabalho corretivo. As instalações existentes na ilha de Solovetsky, no Mar Branco, situado na região semi-polar da URSS, elogiadas por Máximo Gorki e por outros escritores soviéticos da época, foram então apontadas como um campo-modelo, arquétipos dos que, desde então, foram construídos no restante do país. Todo o Arquipélago Gulag surgiu dali, daquela célula prisional boiando num mar glacial.
Para justificar a lotação cada vez maior deles, Stalin apelou para a justificação ideológica de que conforme o socialismo avançava por todo o país, maior era a resistência das forças contrárias a ele. Situação que o obrigava a ser ainda mais duro do que comumente era. Uma curiosa operação matemática então se deu na década dos anos trinta: mais socialismo significava maior população encarcerada.
Uma enorme rede de “campos de reeducação” espalhou-se pela Rússia Soviética, alcançando inclusive as remotas áreas da Ásia Central, como os desertos do Cazaquistão. E, claro, pelas margens da imensa estrada de ferro que cortava a conhecida Sibéria, a velha pátria dos degredados russos, dos antigos condenados a katorgados tempos do czar (os condenados ao trabalho forçado).
Com as prisões em massa desencadeadas na época da Yezovchnina (as perseguições ao encargo de Nikolai Yezhov, comissário-chefe da então NKVD), quando Stalin determinou a prisão e encarceramento de milhares de suspeitos de “sabotagem” e atividades “anti-socialistas”, em geral, ex-membros da elite soviética, e quadros médios do Partido Comunista, estima-se que o GULAG tenha abrigado, entre 1936-1940, dois milhões de prisioneiros.
O martírio de Soljenitsin
Oficial de artilharia durante a Segunda Guerra Mundial, Alexander Soljenitsin, foi condenado, no final do conflito, por um dos artigos do Código Penal soviético que lhe fixou inicialmente uma pena de dez anos. Cumpriu-a inicialmente numa das prisões de elite, situada ao redor de Moscou, antes de ser enviado para os sem-fins da Ásia Central.
A vida nesta primeira instalação é que o inspirou a escrever “O Primeiro Circulo”, romance cujo titulo foi extraído do “Inferno” de Dante, espaço reservado aos sábios caídos em desgraça. Stalin, por sugestão do seu novo chefe da polícia política Laurenti Béria (1938-1953), havia concordado em erguer cárceres especiais para pesquisadores e homens de ciência denunciados como suspeitos para que eles pudessem trabalhar juntos nos projetos mais urgentes do regime. Para piorar mais as coisas para ele, foi atacado por um violento câncer no estomago, o que o levou a internar-se num hospital de presos (tema do “O Pavilhão dos Cancerosos”).
Libertado após a morte de Stalin, miraculosamente vivo, aproveitando-se da moderada desestalinização que se seguiu, dedicou-se, a partir de 1957, a lecionar matemática em Riazan e a publicar suas novelas e contos que escondera com muito cuidado, muitas delas redigidas nas condições abomináveis da vida de um zek, um prisioneiro dos campos.
Soljenitsin dizia rir-se daqueles homens de letras, seus contemporâneos, que inventavam mil e umas manias, que só conseguiam pegar na pena em condições muito próprias, ideais. Ele aprendera a manejar o lápis ou a caneta ainda quando em marcha com os demais encarcerados, na hora do rancho ou nos intervalos do corte de lenha no mato. A paixão pela literatura fazia dele um obcecado registrador de palavras. Viu-se quase como um furioso enchendo um sem-fim de cadernos e resmas de papel, escritos sem margens e com o mínimo de espaço entre uma linha e outra, nas piores circunstâncias possíveis.
O Impacto do Arquipélago Gulag
Não que a opinião pública do Ocidente não soubesse dos campos de trabalho do regime soviético. Longe disso. Ainda após a Segunda Guerra Mundial, um trânsfuga do governo comunista que pedira asilo político no Canadá chamado Victor Kravchenko os denunciara num livro intitulado na sua edição em inglês como I choose Freedom (“Eu preferi a liberdade”, 1947).
Além de afirmar que “a ditadura comunista na URSS não era exclusivamente um problema do povo russo, ou somente das democracias, senão que da humanidade inteira”, ele revelara que os comunistas haviam erigido um Estado-Policial como poder discricionário sobre os cidadãos. Um ataque feroz que ele recebeu da imprensa comunista da França, que tentou desqualificá-lo, acusando-o de mentiroso, rendeu-lhe a vitória em dois processos nos tribunais de Paris, em abril de 1949.
O affair Kravchenko, todavia foi esquecido e muitos intelectuais entenderam que as denúncias dele ligavam-se às posições anticomunistas dos norte-americanos nos começos da Guerra Fria e, como conseqüência, deveriam ser um tanto exageradas, senão descabidas. Além disso, ele aparecera no cenário como um traidor da causa. Na memória de outros, todavia, pesava ainda o fato de que fora o regime stalinista quem impusera uma derrota definitiva ao nazismo. A Europa Ocidental ainda tinha na lembrança o sacrifício dos russos em Stalingrado para querer levar adiante um tema tão espinhoso como o levantado por Kravchenko.
Do livro dele, editado em 1947, ao “Arquipélago Gulag” de Soljenitsin, traduzido no Ocidente 27 anos depois, muita desilusão se dera em relação às grandes bandeiras do socialismo.
Os soviéticos haviam feito uma intervenção, com seus tanques, em Berlim, em 1953, em Budapeste, em 1956, e em Praga, em 1968. Em 1961, Kruschev, provocando um enorme estrago na imagem internacional do socialismo, determinara a construção do Muro de Berlim, com ordens de disparar em quem tentasse ultrapassá-lo para alcançar o Ocidente. De libertadores da Europa, os soviéticos passaram a ser vistos como seus mais recentes opressores. Desse modo criou-se um clima bem mais favorável ao acolhimento do relato sobre o Gulag.
Profeta da Rússia Ortodoxa
O livro em si, concluído em 1973, é caótico. Durante alguns anos, Soljenitsin, como se fora um cuidadoso colecionador, recolheu o mais variado número de relatos e depoimentos de gente que fora condenada aos trabalhos forçados, misturando-os com seus próprios registros. Não se trata, pois, da experiência prisional de um só homem, como, por lembrança, deu-se com “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoiévski, mas sim de uma coletânea de dolorosos e pungentes testemunhos daqueles que penaram por diversos anos dentro do Gulag.
O livro, traduzido para diversos idiomas ocidentais, teve o efeito de um tufão. Não se tratava de um fugitivo que saltara o muro ou um renegado do comunismo, mais sim alguém de dentro, que sabidamente trilhara pelo purgatório do stalinismo , e que sobrevivera, um respeitado escritor que atingira fama internacional e que fora indicado ao Prêmio Nobel, em 1970 (ele temia viajar para Estocolmo com receio que as autoridades soviéticas não o deixassem voltar).
Um homem de letras preso às raízes mais profundas da terra russa, um descendente das estepes da região de Rostov, que se negara a deixar o solo natal e só o fizera por motivo do decreto que o expulsou definitivamente do país, em 1974 (exilado nos Estados Unidos, em Vermont, somente retornou à URSS em 1994, durante o governo de Gorbatchov). Soljenitsin não podia ser difamado como um “agente do imperialismo” ou de estar a serviço dos interesses estadunidenses como costumeiramente ocorria nesses casos, quando os jornais esquerdistas ou pró-comunistas procuravam desqualificar uma testemunha que apontasse seu dedo acusador para a URSS ou o seu regime.
Com o tempo, Soljenitsin, como que desiludido das coisas do mundo, assumiu uma posição cada vez mais pessimista, quase de mensageiro apocalíptico. Alguém que, nos moldes dos Velhos Crentes (seita russa do século 19 que tinha ojeriza à ocidentalização e aos costumes modernos), começou a lançar anátemas ao Ocidente, lamentando a perda da originalidade da cultura russa, provocada pela Revolução de 1917 e pela obstinação dos stalinistas em industrializar o país.
Finalmente, para afirmar ainda mais sua aparência de Santo Inquisidor dostoievsquiano ou de profeta tolstoiano, cada vez mais misântropo, deixou que as barbas lhe tomassem inteiramente o rosto, assemelhando-se aos patriarcas mujiques ou aos monges ortodoxos, a quem ele via como as mais originais e representativas figuras da “verdadeira Rússia”.
Carlos I. S. Azambuja é historiador e autor do livro A Hidra Vermelha.
"A maneira de apreciarmos uma coisa é dizermos a nós próprios que a podemos perder."
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
- EduClau
- Sênior
- Mensagens: 2534
- Registrado em: Sáb Abr 28, 2012 9:04 pm
- Agradeceu: 2518 vezes
- Agradeceram: 746 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
...
En la China de los años 70...el concepto de que alguien podía ser dueño de algo era considerado un pensamiento sedicioso y burgués.
Los funcionarios del partido comunista les decían a los granjeros en granjas colectivas que no eran dueños de nada. Todo le pertenecía al colectivo.
"¿Y qué hay con los dientes que están en mi boca?", preguntó un granjero. "No", le respondió un funcionario. "Incluso tus dientes le pertenecen al colectivo".
Este abordaje funcionó pésimamente: si no eres dueño de nada, ¿por qué molestarte en cuidarlo?
Evitar el dolor de muelas es un incentivo para lavarte los dientes. Pero la posesión colectiva de tierras dejó a los granjeros en una situación de pobreza desesperante.
Fue así que en Xiaogang, en 1978, un grupo de granjeros se reunió en secreto y acordó un atrevido plan: en vez de cultivar de forma colectiva dividirían la tierra de manera informal y cada uno se podría quedar con el excedente de su cosecha, una vez que alcanzaran las cuotas colectivas.
A los ojos comunistas se trataba de un acuerdo traicionero y si los descubrían podrían haber sido ejecutados. Y, efectivamente, fueron descubiertos.
¿Qué los delató? Fueron sospechosamente exitosos: sus granjas produjeron más en un año de lo que habían cosechado en los cinco años anteriores combinados.
Pero tuvieron suerte. Para entonces China tenía un nuevo líder: Deng Xiaoping. Y Deng dejó trascender que apoyaba este tipo de experimento.
1978 fue el año en que China comenzó su veloz transformación de la pobreza absoluta a ser la economía más grande del planeta.
La experiencia china demuestra que incluso los derechos de propiedad informales pueden tener un poder enorme. Si sabes que tus vecinos respetarán tus límites puedes quedarte tranquilo e invertir tu tiempo desmalezando tu plantación o construyendo una casa.
http://www.bbc.com/mundo/noticias-41561090
sds
En la China de los años 70...el concepto de que alguien podía ser dueño de algo era considerado un pensamiento sedicioso y burgués.
Los funcionarios del partido comunista les decían a los granjeros en granjas colectivas que no eran dueños de nada. Todo le pertenecía al colectivo.
"¿Y qué hay con los dientes que están en mi boca?", preguntó un granjero. "No", le respondió un funcionario. "Incluso tus dientes le pertenecen al colectivo".
Este abordaje funcionó pésimamente: si no eres dueño de nada, ¿por qué molestarte en cuidarlo?
Evitar el dolor de muelas es un incentivo para lavarte los dientes. Pero la posesión colectiva de tierras dejó a los granjeros en una situación de pobreza desesperante.
Fue así que en Xiaogang, en 1978, un grupo de granjeros se reunió en secreto y acordó un atrevido plan: en vez de cultivar de forma colectiva dividirían la tierra de manera informal y cada uno se podría quedar con el excedente de su cosecha, una vez que alcanzaran las cuotas colectivas.
A los ojos comunistas se trataba de un acuerdo traicionero y si los descubrían podrían haber sido ejecutados. Y, efectivamente, fueron descubiertos.
¿Qué los delató? Fueron sospechosamente exitosos: sus granjas produjeron más en un año de lo que habían cosechado en los cinco años anteriores combinados.
Pero tuvieron suerte. Para entonces China tenía un nuevo líder: Deng Xiaoping. Y Deng dejó trascender que apoyaba este tipo de experimento.
1978 fue el año en que China comenzó su veloz transformación de la pobreza absoluta a ser la economía más grande del planeta.
La experiencia china demuestra que incluso los derechos de propiedad informales pueden tener un poder enorme. Si sabes que tus vecinos respetarán tus límites puedes quedarte tranquilo e invertir tu tiempo desmalezando tu plantación o construyendo una casa.
http://www.bbc.com/mundo/noticias-41561090
sds
- Wingate
- Sênior
- Mensagens: 5130
- Registrado em: Sex Mai 05, 2006 10:16 am
- Localização: Crato/CE
- Agradeceu: 819 vezes
- Agradeceram: 239 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
ernando escreveu:http://midiasemmascara.org/artigos/dest ... ago-gulag/
O Arquipélago Gulag
Carlos Azambuja
17 de maio de 2017 - 16:21:27
Cidadãos de Salekhard comemoram o começo do projeto da estrada de ferro de Salekhard-Igarka, 1949. Na bandeira lê-se: “Glória ao Grande Stalin”
Desde o início da ditadura bolchevique sabia-se da utilização de campos de prisioneiros. Nada de estranhar visto que a Rússia, entre 1918-1920, mergulhara numa violentíssima guerra civil entre vermelhos (os bolcheviques) e os brancos (as forças czaristas), ampliada ainda mais pela intervenção de diversas potências estrangeiras (alemães, ingleses, franceses, americanos, japoneses). Todavia verificou-se que, no pós-guerra, o regime soviético vitorioso resolveu intensificar sua política prisional.
Muitos dos primeiros campos visavam servir de laboratórios ideológicos, voltados a demonstrar a notável capacidade de regeneração desenvolvida pelo novo sistema, capaz de reinserir os criminosos, por meio do trabalho produtivo, na sociedade revolucionada. Stalin, inspirando-se no exemplo de Pedro, o Grande, que, a partir de 1703, lançara mão do trabalho forçado para construir São Petersburgo, não demorou em fazer o mesmo.
Milhares de presos foram então arrebanhados para cavarem o grande Canal do Mar Branco (1928-1932) que ligaria Leningrado ao Oceano Ártico, velho sonho dos mercadores russos, mas que logo se mostrou ultrapassado devido à possibilidade da utilização de caminhões. Todavia, o kamarada Stalin fez questão de usar a colossal obra para fins publicitários, para mostrar ao país como o regime soviético mobilizava o povo para empreender grandes feitos de engenharia.
Assim, toda a antiga política czarista dos trabalhos forçados coletivos foi ressuscitada pelo novo regime. só que reciclada e posta a serviço da Grande Causa. Resultou disso que, a partir de 1928, a Comissão Yanson, que transferira do Comissariado da Justiça para a OGPU (Polícia Secreta) a supervisão sobre o “degredo administrativo”, decidiu batizar os campos como ITL (Ispravitelno trudovye lagerya), simplesmente campos de trabalho corretivo. As instalações existentes na ilha de Solovetsky, no Mar Branco, situado na região semi-polar da URSS, elogiadas por Máximo Gorki e por outros escritores soviéticos da época, foram então apontadas como um campo-modelo, arquétipos dos que, desde então, foram construídos no restante do país. Todo o Arquipélago Gulag surgiu dali, daquela célula prisional boiando num mar glacial.
Para justificar a lotação cada vez maior deles, Stalin apelou para a justificação ideológica de que conforme o socialismo avançava por todo o país, maior era a resistência das forças contrárias a ele. Situação que o obrigava a ser ainda mais duro do que comumente era. Uma curiosa operação matemática então se deu na década dos anos trinta: mais socialismo significava maior população encarcerada.
Uma enorme rede de “campos de reeducação” espalhou-se pela Rússia Soviética, alcançando inclusive as remotas áreas da Ásia Central, como os desertos do Cazaquistão. E, claro, pelas margens da imensa estrada de ferro que cortava a conhecida Sibéria, a velha pátria dos degredados russos, dos antigos condenados a katorgados tempos do czar (os condenados ao trabalho forçado).
Com as prisões em massa desencadeadas na época da Yezovchnina (as perseguições ao encargo de Nikolai Yezhov, comissário-chefe da então NKVD), quando Stalin determinou a prisão e encarceramento de milhares de suspeitos de “sabotagem” e atividades “anti-socialistas”, em geral, ex-membros da elite soviética, e quadros médios do Partido Comunista, estima-se que o GULAG tenha abrigado, entre 1936-1940, dois milhões de prisioneiros.
O martírio de Soljenitsin
Oficial de artilharia durante a Segunda Guerra Mundial, Alexander Soljenitsin, foi condenado, no final do conflito, por um dos artigos do Código Penal soviético que lhe fixou inicialmente uma pena de dez anos. Cumpriu-a inicialmente numa das prisões de elite, situada ao redor de Moscou, antes de ser enviado para os sem-fins da Ásia Central.
A vida nesta primeira instalação é que o inspirou a escrever “O Primeiro Circulo”, romance cujo titulo foi extraído do “Inferno” de Dante, espaço reservado aos sábios caídos em desgraça. Stalin, por sugestão do seu novo chefe da polícia política Laurenti Béria (1938-1953), havia concordado em erguer cárceres especiais para pesquisadores e homens de ciência denunciados como suspeitos para que eles pudessem trabalhar juntos nos projetos mais urgentes do regime. Para piorar mais as coisas para ele, foi atacado por um violento câncer no estomago, o que o levou a internar-se num hospital de presos (tema do “O Pavilhão dos Cancerosos”).
Libertado após a morte de Stalin, miraculosamente vivo, aproveitando-se da moderada desestalinização que se seguiu, dedicou-se, a partir de 1957, a lecionar matemática em Riazan e a publicar suas novelas e contos que escondera com muito cuidado, muitas delas redigidas nas condições abomináveis da vida de um zek, um prisioneiro dos campos.
Soljenitsin dizia rir-se daqueles homens de letras, seus contemporâneos, que inventavam mil e umas manias, que só conseguiam pegar na pena em condições muito próprias, ideais. Ele aprendera a manejar o lápis ou a caneta ainda quando em marcha com os demais encarcerados, na hora do rancho ou nos intervalos do corte de lenha no mato. A paixão pela literatura fazia dele um obcecado registrador de palavras. Viu-se quase como um furioso enchendo um sem-fim de cadernos e resmas de papel, escritos sem margens e com o mínimo de espaço entre uma linha e outra, nas piores circunstâncias possíveis.
O Impacto do Arquipélago Gulag
Não que a opinião pública do Ocidente não soubesse dos campos de trabalho do regime soviético. Longe disso. Ainda após a Segunda Guerra Mundial, um trânsfuga do governo comunista que pedira asilo político no Canadá chamado Victor Kravchenko os denunciara num livro intitulado na sua edição em inglês como I choose Freedom (“Eu preferi a liberdade”, 1947).
Além de afirmar que “a ditadura comunista na URSS não era exclusivamente um problema do povo russo, ou somente das democracias, senão que da humanidade inteira”, ele revelara que os comunistas haviam erigido um Estado-Policial como poder discricionário sobre os cidadãos. Um ataque feroz que ele recebeu da imprensa comunista da França, que tentou desqualificá-lo, acusando-o de mentiroso, rendeu-lhe a vitória em dois processos nos tribunais de Paris, em abril de 1949.
O affair Kravchenko, todavia foi esquecido e muitos intelectuais entenderam que as denúncias dele ligavam-se às posições anticomunistas dos norte-americanos nos começos da Guerra Fria e, como conseqüência, deveriam ser um tanto exageradas, senão descabidas. Além disso, ele aparecera no cenário como um traidor da causa. Na memória de outros, todavia, pesava ainda o fato de que fora o regime stalinista quem impusera uma derrota definitiva ao nazismo. A Europa Ocidental ainda tinha na lembrança o sacrifício dos russos em Stalingrado para querer levar adiante um tema tão espinhoso como o levantado por Kravchenko.
Do livro dele, editado em 1947, ao “Arquipélago Gulag” de Soljenitsin, traduzido no Ocidente 27 anos depois, muita desilusão se dera em relação às grandes bandeiras do socialismo.
Os soviéticos haviam feito uma intervenção, com seus tanques, em Berlim, em 1953, em Budapeste, em 1956, e em Praga, em 1968. Em 1961, Kruschev, provocando um enorme estrago na imagem internacional do socialismo, determinara a construção do Muro de Berlim, com ordens de disparar em quem tentasse ultrapassá-lo para alcançar o Ocidente. De libertadores da Europa, os soviéticos passaram a ser vistos como seus mais recentes opressores. Desse modo criou-se um clima bem mais favorável ao acolhimento do relato sobre o Gulag.
Profeta da Rússia Ortodoxa
O livro em si, concluído em 1973, é caótico. Durante alguns anos, Soljenitsin, como se fora um cuidadoso colecionador, recolheu o mais variado número de relatos e depoimentos de gente que fora condenada aos trabalhos forçados, misturando-os com seus próprios registros. Não se trata, pois, da experiência prisional de um só homem, como, por lembrança, deu-se com “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoiévski, mas sim de uma coletânea de dolorosos e pungentes testemunhos daqueles que penaram por diversos anos dentro do Gulag.
O livro, traduzido para diversos idiomas ocidentais, teve o efeito de um tufão. Não se tratava de um fugitivo que saltara o muro ou um renegado do comunismo, mais sim alguém de dentro, que sabidamente trilhara pelo purgatório do stalinismo , e que sobrevivera, um respeitado escritor que atingira fama internacional e que fora indicado ao Prêmio Nobel, em 1970 (ele temia viajar para Estocolmo com receio que as autoridades soviéticas não o deixassem voltar).
Um homem de letras preso às raízes mais profundas da terra russa, um descendente das estepes da região de Rostov, que se negara a deixar o solo natal e só o fizera por motivo do decreto que o expulsou definitivamente do país, em 1974 (exilado nos Estados Unidos, em Vermont, somente retornou à URSS em 1994, durante o governo de Gorbatchov). Soljenitsin não podia ser difamado como um “agente do imperialismo” ou de estar a serviço dos interesses estadunidenses como costumeiramente ocorria nesses casos, quando os jornais esquerdistas ou pró-comunistas procuravam desqualificar uma testemunha que apontasse seu dedo acusador para a URSS ou o seu regime.
Com o tempo, Soljenitsin, como que desiludido das coisas do mundo, assumiu uma posição cada vez mais pessimista, quase de mensageiro apocalíptico. Alguém que, nos moldes dos Velhos Crentes (seita russa do século 19 que tinha ojeriza à ocidentalização e aos costumes modernos), começou a lançar anátemas ao Ocidente, lamentando a perda da originalidade da cultura russa, provocada pela Revolução de 1917 e pela obstinação dos stalinistas em industrializar o país.
Finalmente, para afirmar ainda mais sua aparência de Santo Inquisidor dostoievsquiano ou de profeta tolstoiano, cada vez mais misântropo, deixou que as barbas lhe tomassem inteiramente o rosto, assemelhando-se aos patriarcas mujiques ou aos monges ortodoxos, a quem ele via como as mais originais e representativas figuras da “verdadeira Rússia”.
Carlos I. S. Azambuja é historiador e autor do livro A Hidra Vermelha.
Não que a opinião pública do Ocidente não soubesse dos campos de trabalho do regime soviético. Longe disso. Ainda após a Segunda Guerra Mundial, um trânsfuga do governo comunista que pedira asilo político no Canadá chamado Victor Kravchenko os denunciara num livro intitulado na sua edição em inglês como I choose Freedom (“Eu preferi a liberdade”, 1947).
Wingate
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
A brutal impostura.
Editorial do Estadão - 26.10.17
Não há o que celebrar no centenário da chamada Revolução Bolchevique, de 25 de outubro. Em nome da igualdade entre os homens, a população da Rússia se tornou escrava dos desígnios de um partido que se dizia portador da verdade e da história, e essa impostura se espalhou, nas sete décadas seguintes, para vários outros países do mundo. O único legado realmente importante desse movimento, além dos milhões de mortos que causou e da destruição econômica que proporcionou, é a preciosa lição segundo a qual é possível aniquilar a democracia apenas com boas intenções.
A sobrevida que a ideologia bolchevique parece manter mesmo depois de inapelavelmente derrotada em 1989, com a queda do Muro de Berlim e a posterior dissolução da União Soviética, pode ser explicada justamente pelo fato de que toca o coração da juventude a pretensão de acabar com as injustiças do mundo como um ato de vontade. A crescente desigualdade social e econômica e o atraso crônico de muitos países em que vigoram formas degeneradas de capitalismo só ajudam a alimentar esse devaneio, dando ares de alternativa viável ao que não passa de uma utopia violenta.
Essa utopia foi tão bem urdida que, mesmo com a distância de um século, ainda há quem acredite na mistificação, criada pela propaganda do Partido Comunista da União Soviética e reproduzida obedientemente por seus pares mundo afora, segundo a qual o povo, em fervor revolucionário, foi o grande protagonista dos acontecimentos de outubro de 1917. Em primeiro lugar, o que se poderia chamar de revolução ocorrera não em outubro de 1917 (novembro, pelo calendário russo), mas em fevereiro daquele ano, quando o czarismo deu lugar a uma república que se pretendia democrática. Em outubro, os bolcheviques deram um golpe, derrubaram o governo provisório e assumiram o poder. Nem de longe essa facção marginal do movimento socialista poderia dizer que atuava em nome dos proletários russos. Aliás, quando os bolcheviques dissolveram à força a Assembleia Constituinte que os contrariava, o povo saiu às ruas para protestar e acabou esmagado pela repressão que seria a marca do regime que apenas se iniciava.
Antes de ser o condimento de uma época de grandes antagonismos, a brutalidade era a essência mesma do bolchevismo, sob a liderança de Lenin. E assim tinha de ser, se o que se almejava era acelerar a história – pretensão de qualquer movimento totalitário. Se Marx, profeta da revolução, havia dito que o comunismo era a consequência natural das contradições do capitalismo, então cabia à vanguarda revolucionária impedir de toda maneira que esse processo fosse obstado pelos “inimigos do povo” – expressão oficializada em novembro de 1917 pelo novo regime.
Assim, o “motor da História”, conforme Lenin, era a violência das massas. O ambiente era propício. A Rússia saíra economicamente exaurida da 1.ª Guerra Mundial, situação que ampliou as rivalidades, dissolveu a autoridade do Estado e gerou o clima de guerra civil que afinal eclodiria logo após o golpe. O alvo da ira popular, especialmente entre os soldados de origem camponesa, não era mais o alemão, mas o russo rico que explorava os mais pobres.
Lenin entendeu que ali estava a chave para o sucesso do novo regime, ao escrever que “a essência do trabalho bolchevique” era “visar à transformação da guerra imperialista em uma guerra de classes, em uma guerra civil”, de modo a “purificar a terra russa de todos os insetos nocivos”. Estava estabelecida, como política de governo, a cultura da violência política – os gulags, as execuções em massa, as deportações, os julgamentos falsos, tudo isso passou a ser justificado em nome do triunfo da revolução contra o “inimigo”, que está em todo lugar e pode ser qualquer um.
Assim, é importante aproveitar essa efeméride para reiterar o verdadeiro espírito da Revolução Bolchevique, que de nenhuma maneira pode ser confundido com os legítimos ideais da esquerda democrática, cuja contribuição para a construção da cidadania e para a inclusão social é inegável. A propaganda comunista pretendeu consolidar a ideia de que sua revolução era um desdobramento inevitável da história, mas felizmente hoje há cada vez menos gente disposta a defender essa fraude.
Editorial do Estadão - 26.10.17
Não há o que celebrar no centenário da chamada Revolução Bolchevique, de 25 de outubro. Em nome da igualdade entre os homens, a população da Rússia se tornou escrava dos desígnios de um partido que se dizia portador da verdade e da história, e essa impostura se espalhou, nas sete décadas seguintes, para vários outros países do mundo. O único legado realmente importante desse movimento, além dos milhões de mortos que causou e da destruição econômica que proporcionou, é a preciosa lição segundo a qual é possível aniquilar a democracia apenas com boas intenções.
A sobrevida que a ideologia bolchevique parece manter mesmo depois de inapelavelmente derrotada em 1989, com a queda do Muro de Berlim e a posterior dissolução da União Soviética, pode ser explicada justamente pelo fato de que toca o coração da juventude a pretensão de acabar com as injustiças do mundo como um ato de vontade. A crescente desigualdade social e econômica e o atraso crônico de muitos países em que vigoram formas degeneradas de capitalismo só ajudam a alimentar esse devaneio, dando ares de alternativa viável ao que não passa de uma utopia violenta.
Essa utopia foi tão bem urdida que, mesmo com a distância de um século, ainda há quem acredite na mistificação, criada pela propaganda do Partido Comunista da União Soviética e reproduzida obedientemente por seus pares mundo afora, segundo a qual o povo, em fervor revolucionário, foi o grande protagonista dos acontecimentos de outubro de 1917. Em primeiro lugar, o que se poderia chamar de revolução ocorrera não em outubro de 1917 (novembro, pelo calendário russo), mas em fevereiro daquele ano, quando o czarismo deu lugar a uma república que se pretendia democrática. Em outubro, os bolcheviques deram um golpe, derrubaram o governo provisório e assumiram o poder. Nem de longe essa facção marginal do movimento socialista poderia dizer que atuava em nome dos proletários russos. Aliás, quando os bolcheviques dissolveram à força a Assembleia Constituinte que os contrariava, o povo saiu às ruas para protestar e acabou esmagado pela repressão que seria a marca do regime que apenas se iniciava.
Antes de ser o condimento de uma época de grandes antagonismos, a brutalidade era a essência mesma do bolchevismo, sob a liderança de Lenin. E assim tinha de ser, se o que se almejava era acelerar a história – pretensão de qualquer movimento totalitário. Se Marx, profeta da revolução, havia dito que o comunismo era a consequência natural das contradições do capitalismo, então cabia à vanguarda revolucionária impedir de toda maneira que esse processo fosse obstado pelos “inimigos do povo” – expressão oficializada em novembro de 1917 pelo novo regime.
Assim, o “motor da História”, conforme Lenin, era a violência das massas. O ambiente era propício. A Rússia saíra economicamente exaurida da 1.ª Guerra Mundial, situação que ampliou as rivalidades, dissolveu a autoridade do Estado e gerou o clima de guerra civil que afinal eclodiria logo após o golpe. O alvo da ira popular, especialmente entre os soldados de origem camponesa, não era mais o alemão, mas o russo rico que explorava os mais pobres.
Lenin entendeu que ali estava a chave para o sucesso do novo regime, ao escrever que “a essência do trabalho bolchevique” era “visar à transformação da guerra imperialista em uma guerra de classes, em uma guerra civil”, de modo a “purificar a terra russa de todos os insetos nocivos”. Estava estabelecida, como política de governo, a cultura da violência política – os gulags, as execuções em massa, as deportações, os julgamentos falsos, tudo isso passou a ser justificado em nome do triunfo da revolução contra o “inimigo”, que está em todo lugar e pode ser qualquer um.
Assim, é importante aproveitar essa efeméride para reiterar o verdadeiro espírito da Revolução Bolchevique, que de nenhuma maneira pode ser confundido com os legítimos ideais da esquerda democrática, cuja contribuição para a construção da cidadania e para a inclusão social é inegável. A propaganda comunista pretendeu consolidar a ideia de que sua revolução era um desdobramento inevitável da história, mas felizmente hoje há cada vez menos gente disposta a defender essa fraude.
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
Cem anos do massacre da família real russa: mistério continua.
Vilma Gryzinski - VEJA, 17.07.18.
As fronteiras entre verdades e mentiras, história e mitos, invenção inocente ou ficção perversa continuam a ser estonteantes no caso do hediondo massacre de Nicolau II, o último czar; sua mulher, Alexandra; Alexei, o caçula e herdeiro, e as quatro irmãs.
Cem anos depois, entre uma final de Copa do Mundo em Moscou ontem e um encontro hoje em Helsinque entre Vladimir Putin e Donald Trump, poucos russos teriam cabeça para pensar no que aconteceu na madrugada de 17 de julho de 1918 no porão de um casarão sem luxo nenhum em Ecaterimburgo, no coração dividido da Rússia, olhando para a Europa de um lado, além dos Urais, e para a imensidão siberiana do outro.
Mas pensam, sim. Mesmo quando não falam no crime que ainda ecoa através do tempo e da história, não apenas da Rússia, mas de todos os que se encantaram com o que parecia ser o lado bom da revolução bolchevique e do comunismo.
“Aqueles que cometeram este crime são tão culpados como aqueles que o aprovaram durante décadas. Somos todos culpados.”
Assim definiu Boris Ieltsin o peso da culpa coletiva quando o crime completou 80 anos. Não o bufão bêbado da caricatura em que se transformou o primeiro presidente pós-comunismo, mas um homem que participou da dolorosa cumplicidade e foi capaz de entendê-la e criticá-la.
O extermínio de uma família real inteira, único até no precedente brutal da Revolução Francesa, foi conhecido em detalhes porque o que os bolcheviques temiam realmente aconteceu.
A distante Ecaterimburgo realmente foi tomada pela legião de voluntários da Checoslováquia que participava de dois eventos avassaladores ao mesmo tempo: a I Guerra Mundial e a Guerra Civil Russa desfechada a partir da derrubada do regime czarista. O crime foi investigado com riqueza de detalhes.
Mesmo antes disso, fuzilar um czar e sua família não passou exatamente despercebido pela população local. Um diplomata britânico tentou enviar um telegrama ao Foreign Office no dia 18 de julho, informando: “O czar Nicolau II foi fuzilado ontem à noite”.
Interceptado por Filipp Goloshchiokin, o comissário bolchevique que havia acabado de inspecionar o local do massacre, o telegrama mudou para: “O czar carrasco Nicolau foi fuzilado ontem à noite, um destino amplamente merecido”.
(Goloshchiokin, como tantos outros dirigentes comunistas irredutíveis, foi fuzilado por ordem de Stálin em 1941.)
MAUSER E FACÃO.
Outros fatos que parecem ficção aconteceram realmente. O czarevitch Alexei e as irmãs, que tinham o título de grã-duquesas, equivalente ao de princesas imperiais, levavam diamantes e outras pedras preciosas costuradas nas roupas íntimas em tamanha quantidade que os tiros desastrosos de seus algozes ricochetearam.
Precisaram ser mortos com tiros na cabeça, na maioria desfechados por Yakov Yurovsky, o comandante e planejador da execução no porão da Casa Ipatiev, sobradão que levava o nome do dono, um engenheiro militar, em todos os seus desastrosos detalhes.
O corpo sem vida da imperatriz Alexandra, nascida Alix, princesa de Hesse, foi alvo de um odioso ato de vilipêndio, praticado por dois integrantes do pelotão improvisado.
Outros dois se recusaram a atirar nas meninas, que “não haviam feito nada”. Todos os atiradores dispararam contra o czar.
Por causa da confusão, da inépcia e da fumaça da pólvora no ambiente sufocante, o fuzilamento foi suspenso na metade.
Tatiana, a irmã mais carismática, e Olga, a mais velha, estavam abraçadas, sentadas no chão, de costas contra a parede recoberta de papel com listas, gritando pela mãe. Yurovsky deu um jeito nelas, como nos demais sobreviventes. Usava uma Mauser e um facão.
Ao todo, foram assassinados o casal imperial – que tecnicamente não tinha mais a coroa, depois da abdicação feita durante a Revolução de Fevereiro -, o herdeiro, as quatro filhas, o médico que cuidada do menino, o valete do czar, uma criada da imperatriz e o cozinheiro da família.
Os corpos foram removidos do local de caminhão, a cavalo e de carroça. No topo, o buldogue francês Ortino, presente de um oficial russo com quem Tatiana havia flertado quando ela, Olga e a mãe trabalharam como enfermeiras, atendendo feridos da I Guerra.
MÁQUINA DE PROPAGANDA.
Como todos os assassinos, Yurovsky logo descobriu que era mais fácil matar do que se livrar dos corpos.
A mina onde mandou dissolvê-los em ácidos e jogá-los era rasa demais. Foram removidos e e enterrados de novo. Descobertos por iniciativa de um obscuro cineasta em 1979, os restos mortais só foram reconhecidos depois do fim da União Soviética.
Os corpos de Alexei e Maria acabaram em outro local, onde pesquisadores amadores os localizaram em 2007.
A quantidade de lendas sobre sobreviventes, Anastasia em especial, mas também Tatiana, indica o poder da narrativa das princesas lindas e mortas. Ou talvez operações de desinformação para obscurecer o regicídio.
Todos os Romanov foram canonizados em 2000 pela Igreja Ortodoxa Russa, por darem testemunho de fé através da “humildade e cordura” demonstradas em seus últimos anos de vida.
Com os cem anos do massacre, aumentou a quantidade de visitantes à Igreja sobre o Sangue, erguida no terreno da Casa Ipatiev, demolida em 1977 por “falta de interesse histórico” – a culpa mal disfarçada de que falava Ieltsin. A cripta fica onde era o porão. Ao lado, fica uma catedral.
A canonização do czar e de sua infeliz princesa alemã, a portadora do gene da hemofilia transmitido pela avó, a rainha Vitória, contrasta com a imagem de crueldade e devassidão criada e propagandeada nos tempos tormentosos do início do século XX.
Para tentar salvar da hemofilia o único filho homem, herdeiro do trono imperial, Alexandra infamemente se tornou seguidora cega do mais perigosos de todos os gurus, Rasputin.
A figura espantosa do pregador de rua e a máquina de propaganda funcionando em escala industrial abriram caminho a todos os boatos. O mais perverso era o de envolvimento sexual não só da czarina, mas de todas as suas filhas com o monge que precisou ser envenenado, fuzilado (duas vezes) e afogado até morrer, num complô de nobres russos que tentavam salvar a realeza.
A consolidação da ideia de que a imperatriz, religiosa e apaixonada pelo marido e pela família, participasse de atos orgiásticos com o barbudo Rasputin é um dos maiores enigmas em torno da queda da monarquia, da revolução russa e do golpe bolchevique.
Mas a peça que continua a faltar para os historiadores é a ordem de Lênin para eliminar a família Romanov. É completamente impossível que comissários comunistas, por maior poder local que tivessem, tomassem a iniciativa do regicídio.
Como no caso do genocídio dos judeus determinado por Hitler, a ordem para a “solução final” é conhecida em todos os detalhes, menos o documento em si.
MALDIÇÃO DOS ROMANOV.
Na Rússia de 1917, entre a própria cúpula comunista, havia defensores de um julgamento que expusesse ao mundo os erros nefandos de Nicolau.
Mas o “pedido” do Soviete dos Urais, transmitido por Goloshchiokin, foi aprovado pelo Comitê Central Executivo sobre o qual reinava Lênin.
Goloshchiokin depois disse a Trotsky – antes que ambos caíssem em desgraça – que “Ilitch não queria nenhuma bandeira viva” da monarquia para incitar o povo a se rebelar contra o novo regime.
O povo, evidentemente, estava dominado. Nem que quisesse poderia se revoltar contra a nova ordem.
E é claro que existem lendas e mais lendas sobre a maldição dos Romanov. A Igreja Ortodoxa não aceita a autenticidade dos restos mortais de Alexei e Maria. Houve uma investigação religiosa sobre um possível “assassinato ritual” – subproduto barato da participação de muitos comunistas judeus no regicídio.
Uma pequena amostra do mundo de hiperrealidade que muitas vezes envolve a Rússia. O czar virou objeto de uma espécie de culto. Seus seguidores são chamados de tsarebojniki e fazem uma constante peregrinação a Ecaterimburgo.
Já em Moscou, a múmia de Lênin continua em seu caixão de cristal ao pé da muralha do Kremlin. De seis em seis meses, é recolhida para o banho químico de beleza que há 94 anos mantém as aparências – quase inteiramente artificiais, a esta altura.
Nunca ninguém entra duas vezes no oceano da Mãe Rússia, mas muitas coisas sempre são muito parecidas.
Vilma Gryzinski - VEJA, 17.07.18.
As fronteiras entre verdades e mentiras, história e mitos, invenção inocente ou ficção perversa continuam a ser estonteantes no caso do hediondo massacre de Nicolau II, o último czar; sua mulher, Alexandra; Alexei, o caçula e herdeiro, e as quatro irmãs.
Cem anos depois, entre uma final de Copa do Mundo em Moscou ontem e um encontro hoje em Helsinque entre Vladimir Putin e Donald Trump, poucos russos teriam cabeça para pensar no que aconteceu na madrugada de 17 de julho de 1918 no porão de um casarão sem luxo nenhum em Ecaterimburgo, no coração dividido da Rússia, olhando para a Europa de um lado, além dos Urais, e para a imensidão siberiana do outro.
Mas pensam, sim. Mesmo quando não falam no crime que ainda ecoa através do tempo e da história, não apenas da Rússia, mas de todos os que se encantaram com o que parecia ser o lado bom da revolução bolchevique e do comunismo.
“Aqueles que cometeram este crime são tão culpados como aqueles que o aprovaram durante décadas. Somos todos culpados.”
Assim definiu Boris Ieltsin o peso da culpa coletiva quando o crime completou 80 anos. Não o bufão bêbado da caricatura em que se transformou o primeiro presidente pós-comunismo, mas um homem que participou da dolorosa cumplicidade e foi capaz de entendê-la e criticá-la.
O extermínio de uma família real inteira, único até no precedente brutal da Revolução Francesa, foi conhecido em detalhes porque o que os bolcheviques temiam realmente aconteceu.
A distante Ecaterimburgo realmente foi tomada pela legião de voluntários da Checoslováquia que participava de dois eventos avassaladores ao mesmo tempo: a I Guerra Mundial e a Guerra Civil Russa desfechada a partir da derrubada do regime czarista. O crime foi investigado com riqueza de detalhes.
Mesmo antes disso, fuzilar um czar e sua família não passou exatamente despercebido pela população local. Um diplomata britânico tentou enviar um telegrama ao Foreign Office no dia 18 de julho, informando: “O czar Nicolau II foi fuzilado ontem à noite”.
Interceptado por Filipp Goloshchiokin, o comissário bolchevique que havia acabado de inspecionar o local do massacre, o telegrama mudou para: “O czar carrasco Nicolau foi fuzilado ontem à noite, um destino amplamente merecido”.
(Goloshchiokin, como tantos outros dirigentes comunistas irredutíveis, foi fuzilado por ordem de Stálin em 1941.)
MAUSER E FACÃO.
Outros fatos que parecem ficção aconteceram realmente. O czarevitch Alexei e as irmãs, que tinham o título de grã-duquesas, equivalente ao de princesas imperiais, levavam diamantes e outras pedras preciosas costuradas nas roupas íntimas em tamanha quantidade que os tiros desastrosos de seus algozes ricochetearam.
Precisaram ser mortos com tiros na cabeça, na maioria desfechados por Yakov Yurovsky, o comandante e planejador da execução no porão da Casa Ipatiev, sobradão que levava o nome do dono, um engenheiro militar, em todos os seus desastrosos detalhes.
O corpo sem vida da imperatriz Alexandra, nascida Alix, princesa de Hesse, foi alvo de um odioso ato de vilipêndio, praticado por dois integrantes do pelotão improvisado.
Outros dois se recusaram a atirar nas meninas, que “não haviam feito nada”. Todos os atiradores dispararam contra o czar.
Por causa da confusão, da inépcia e da fumaça da pólvora no ambiente sufocante, o fuzilamento foi suspenso na metade.
Tatiana, a irmã mais carismática, e Olga, a mais velha, estavam abraçadas, sentadas no chão, de costas contra a parede recoberta de papel com listas, gritando pela mãe. Yurovsky deu um jeito nelas, como nos demais sobreviventes. Usava uma Mauser e um facão.
Ao todo, foram assassinados o casal imperial – que tecnicamente não tinha mais a coroa, depois da abdicação feita durante a Revolução de Fevereiro -, o herdeiro, as quatro filhas, o médico que cuidada do menino, o valete do czar, uma criada da imperatriz e o cozinheiro da família.
Os corpos foram removidos do local de caminhão, a cavalo e de carroça. No topo, o buldogue francês Ortino, presente de um oficial russo com quem Tatiana havia flertado quando ela, Olga e a mãe trabalharam como enfermeiras, atendendo feridos da I Guerra.
MÁQUINA DE PROPAGANDA.
Como todos os assassinos, Yurovsky logo descobriu que era mais fácil matar do que se livrar dos corpos.
A mina onde mandou dissolvê-los em ácidos e jogá-los era rasa demais. Foram removidos e e enterrados de novo. Descobertos por iniciativa de um obscuro cineasta em 1979, os restos mortais só foram reconhecidos depois do fim da União Soviética.
Os corpos de Alexei e Maria acabaram em outro local, onde pesquisadores amadores os localizaram em 2007.
A quantidade de lendas sobre sobreviventes, Anastasia em especial, mas também Tatiana, indica o poder da narrativa das princesas lindas e mortas. Ou talvez operações de desinformação para obscurecer o regicídio.
Todos os Romanov foram canonizados em 2000 pela Igreja Ortodoxa Russa, por darem testemunho de fé através da “humildade e cordura” demonstradas em seus últimos anos de vida.
Com os cem anos do massacre, aumentou a quantidade de visitantes à Igreja sobre o Sangue, erguida no terreno da Casa Ipatiev, demolida em 1977 por “falta de interesse histórico” – a culpa mal disfarçada de que falava Ieltsin. A cripta fica onde era o porão. Ao lado, fica uma catedral.
A canonização do czar e de sua infeliz princesa alemã, a portadora do gene da hemofilia transmitido pela avó, a rainha Vitória, contrasta com a imagem de crueldade e devassidão criada e propagandeada nos tempos tormentosos do início do século XX.
Para tentar salvar da hemofilia o único filho homem, herdeiro do trono imperial, Alexandra infamemente se tornou seguidora cega do mais perigosos de todos os gurus, Rasputin.
A figura espantosa do pregador de rua e a máquina de propaganda funcionando em escala industrial abriram caminho a todos os boatos. O mais perverso era o de envolvimento sexual não só da czarina, mas de todas as suas filhas com o monge que precisou ser envenenado, fuzilado (duas vezes) e afogado até morrer, num complô de nobres russos que tentavam salvar a realeza.
A consolidação da ideia de que a imperatriz, religiosa e apaixonada pelo marido e pela família, participasse de atos orgiásticos com o barbudo Rasputin é um dos maiores enigmas em torno da queda da monarquia, da revolução russa e do golpe bolchevique.
Mas a peça que continua a faltar para os historiadores é a ordem de Lênin para eliminar a família Romanov. É completamente impossível que comissários comunistas, por maior poder local que tivessem, tomassem a iniciativa do regicídio.
Como no caso do genocídio dos judeus determinado por Hitler, a ordem para a “solução final” é conhecida em todos os detalhes, menos o documento em si.
MALDIÇÃO DOS ROMANOV.
Na Rússia de 1917, entre a própria cúpula comunista, havia defensores de um julgamento que expusesse ao mundo os erros nefandos de Nicolau.
Mas o “pedido” do Soviete dos Urais, transmitido por Goloshchiokin, foi aprovado pelo Comitê Central Executivo sobre o qual reinava Lênin.
Goloshchiokin depois disse a Trotsky – antes que ambos caíssem em desgraça – que “Ilitch não queria nenhuma bandeira viva” da monarquia para incitar o povo a se rebelar contra o novo regime.
O povo, evidentemente, estava dominado. Nem que quisesse poderia se revoltar contra a nova ordem.
E é claro que existem lendas e mais lendas sobre a maldição dos Romanov. A Igreja Ortodoxa não aceita a autenticidade dos restos mortais de Alexei e Maria. Houve uma investigação religiosa sobre um possível “assassinato ritual” – subproduto barato da participação de muitos comunistas judeus no regicídio.
Uma pequena amostra do mundo de hiperrealidade que muitas vezes envolve a Rússia. O czar virou objeto de uma espécie de culto. Seus seguidores são chamados de tsarebojniki e fazem uma constante peregrinação a Ecaterimburgo.
Já em Moscou, a múmia de Lênin continua em seu caixão de cristal ao pé da muralha do Kremlin. De seis em seis meses, é recolhida para o banho químico de beleza que há 94 anos mantém as aparências – quase inteiramente artificiais, a esta altura.
Nunca ninguém entra duas vezes no oceano da Mãe Rússia, mas muitas coisas sempre são muito parecidas.
- Viktor Reznov
- Sênior
- Mensagens: 6821
- Registrado em: Sex Jan 15, 2010 2:02 pm
- Agradeceu: 1959 vezes
- Agradeceram: 791 vezes
Re: GULAG, o horror do comunismo.
Essa história da devassidão e perversidade sexual da Imperatriz Alexandra e suas filhas para com o Monge Louco é tão repetida e adotada com consenso pela história que nunca me ocorreu questionar se isso não era propaganda difamatória comunista, especificamente engendrada pelos Bolsheviks pra angariar a população revoltosa contra uma família real degenerada e opulenta.
I know the weakness, I know the pain. I know the fear you do not name. And the one who comes to find me when my time is through. I know you, yeah I know you.