A inflação caiu devido à depressão econômica que o país atravessa, e o cenário de instabilidade política tende a manter a atividade econômica em níveis baixos no horizonte previsível. Ainda assim, esta mesma instabilidade que travou a economia e consequentemente derrubou a inflação é apresentada como argumento para reduzir a velocidade da queda da taxa básica de juros .BC vê inflação menor em 2017 e 2018, mas deve reduzir corte nos juros
Órgão revisou previsão para o IPCA de 4% para 3,8% ao fim do ano, porém citou 'incerteza elevada' sobre avanço das reformas e do ajuste fiscal
- Fabrício de Castro, Eduardo Rodrigues e Fernando Nakagawa, O Estado de S.Paulo, 22 Junho 2017
BRASÍLIA - O Banco Central reduziu as projeções para a inflação deste e do próximo ano. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira, 22, o cenário de mercado prevê IPCA de 3,8% em 2017. A mais recente ata do Comitê de Política Monetária citava previsão de alta de 4,0%. No relatório de inflação divulgado em março, o BC também esperava alta do índice oficial de inflação de 4,0% pelo cenário de mercado.
Para 2018, o cenário de mercado indica que o IPCA ficará em 4,5%, e não mais em 4,6% como constava na mais recente ata do Copom. No RTI de março, a projeção era justamente de 4,5%, ou seja, no centro da meta.
O cenário de mercado utiliza como parâmetros as previsões dos analistas, contidas no Relatório de Mercado Focus, para a taxa de câmbio e os juros no horizonte da previsão. O BC informou também, no RTI, que a projeção para o IPCA nos 12 meses encerrados no segundo trimestre de 2019 está em 4,3% no cenário de mercado. No relatório, o Banco Central ainda manteve a projeção para o PIB de 2017 em 0,5%.
Taxa de juros. O Banco Central repetiu a avaliação de que "uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado naquela ocasião deveria se mostrar adequada em sua próxima reunião, em julho". Na última reunião do Copom, o Banco Central reduziu a taxa Selic em 1 ponto porcentual.
Apesar de repetir a avaliação, o documento tenta relativizar o quadro com a lembrança de que "o ritmo de flexibilização monetária continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação".
A despeito do aumento das incertezas, o Banco Central reafirmou a avaliação de que estatísticas reforçam o entendimento de "estabilização e perspectiva de retomada gradual da atividade econômica". No Relatório Trimestral de Inflação, os diretores do BC reconhecem, porém, que a manutenção das incertezas sobre reformas pode prejudicar a atividade.
"A trajetória recente dos principais indicadores econômicos corrobora o cenário de estabilização e perspectiva de retomada gradual da atividade econômica. Entretanto, a manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade", citam os diretores do BC no documento divulgado com atraso nesta manhã.
Mesmo com a avaliação relativamente positiva sobre as perspectivas da economia, o BC avalia que a "economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego".
Sobre o cenário externo, o Relatório de Inflação diz que essa influência "tem se mostrado favorável". A avaliação é feita com base na percepção de que "a atividade econômica global mais forte tem mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de possíveis mudanças de política econômica nos países centrais".
PIB. O Banco Central manteve a previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) terá crescimento de 0,5% em 2017. O documento trouxe piora para vários indicadores, como o consumo das famílias, do governo e dos investimentos, mas houve aumento da expectativa de crescimento do setor agropecuário e da indústria - o que anulou o efeito negativo das outras componentes do PIB.
Entre as componentes do PIB para este ano, o BC melhorou expressivamente a expectativa para o setor agropecuário e a estimativa para o PIB do campo melhorou de +6,4% para +9,6%. A expectativa para a indústria também melhorou e passou -0,1% para +0,3%. Para o segmento de serviços, ao contrário, a expectativa passou de +0,1% para -0,1%.
Pela ótica da demanda, o BC pirou a expectativa do consumo das famílias em 2017 de +0,5% para zero. O consumo do governo também foi piorado e a previsão passou de +0,2% para -0,6%. O relatório indica que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - indicador que mede o volume de investimento na economia - deverá ter recuo ainda mais intenso, de -0,6%. No RTI de março, a expectativa era de -0,3%.
Ou seja, agora que a expectativa de inflação está ABAIXO da meta buscam-se outros argumentos para impedir a todo custo uma queda mais acentuada dos juros, já que manter o máximo de remuneração aos rentistas que não produzem nada é só o que importa .
Leandro G. Card