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Mensagem
por Túlio » Seg Abr 17, 2017 3:44 pm
Na verdade, a França é sempre o exemplo que se cita quando se quer alegar uma suposta vantagem do 6 x 6 sobre o 8 x 8. Fica nisso, não conheço nenhuma outra potência do Ocidente - ou mesmo Oriente - que faça o mesmo. Ademais, a filosofia Italiana de desenvolvimento de 8 x 8 (o Guarani, de que falamos, é um carro ITALIANO *) - e não é só eles - preconiza carros mais longos (e pesados), com capacidades excessivas para o que o EB necessita (transportar um GC de 9 homens + Atirador e Condutor), lá eles já partem de 2 + 11/12, como o Suíço Piranha IIIC 8 x 8 do CFN ou o SuperAV da própria Iveco e do qual o Guarani é supostamente uma versão menor ou mesmo um descendente.
O que não se pode é fugir dos números, não é só uma questão de custos mas de custo-benefício: 6 x 6 tem maior pressão sobre o solo e menor capacidade de transposição de vala do que 8 x 8. Minha comparação predileta é entre o Guarani e o Stryker, por serem VTRs de tamanho e peso muito semelhantes. Nem precisa de calculadora para ver que duas VTRs com o mesmo peso mas uma delas 6 x 6 e outra 8 x 8, bueno, uma distribui seu peso sobre 8 rodas, outra sobre 6, resultando em maior pressão sobre o solo; como a área de contato é maior, a capacidade de superar vala aumenta com o quarto eixo, sendo a do Striker descrita como de ~2 metros e do Guarani como ~1,5 m. Isso pode representar a diferença entre seguir em frente ou ter que fazer um baita contorno ou mesmo parar a chamar a Engenharia ou desembarcar a Tropa e tentar improvisar algum modo de passar.
Aliás, a tão propalada capacidade anfíbia também está longe de ser o milagre que todo mundo imagina, tipo "chegou na beira do curso d'água, todo mundo vai entrando e logo está do outro lado". Isso é sonho, é raro poder realizar operações assim sem assistência de Especialistas e/ou conhecimentos prévios do local. Se for um rio e tiver correnteza, conforme a época do ano nem dá para passar, imaginem uma VTR capaz de uns 10 km/h na água ter que encarar uma correnteza com mais do que isso, acabaria descendo o rio e tentando achar reentrada a vários km rio abaixo. E mesmo esta reentrada (ponto) tem que ser analisada, é um carro 6 x 6 que sai da água encharcado e pisando forte, logo vira num atoleiro, inutilizável pelos demais. Não é à toa que um dos primeiros objetivos da Guerra Terrestre (ofensiva) é tomar e assegurar as pontes e eventualmente balsas (na defensiva, destruí-las)...
(*) Muito charla rola aqui do tipo "o Guarani é um projeto do EB", que é "o CTEx projetou", que "se a IVECO fechar o EB dá o projeto para outra empresa fazer" & quetales. Tudo blablabla, o que o EB tem é a propriedade INTELECTUAL do projeto, significando que os Italianos não podem fazer nem vender sem a necessária aquiescência (e royalties, claro) do EB, que estabeleceu os ROB e bancou os custos, só isso. Caso semelhante podemos encontrar nos F-16C/60 dos Emirados, estabeleceram os ROB daquela versão e a bancaram, assim a Lockheed-Martin só podia vender - aquela versão, repito - com permissão deles (e pagando). No que cresceram o olho e compraram um lote de SCALP da França e pediram aos EUA para integrá-los aos caças, receberam um sonoro NÃO e fim, tiveram que se virar por outros lados (França). Claro, um caça é muito mais complexo que um APC e, no caso dos EAU, não era feito nem montado lá, pouquíssima influência nos softwares, zero de conhecimentos da aerodinâmica (lembrem do quanto apanhamos tentando integrar o AAM Piranha nos F-5), no fim tiveram que botar nos Mirage 2000 que, ao contrário do F-16, não tinham CFTs, reduzindo a vantagem estratégica do uso do citado míssil...
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)