Vamos lá:
JL escreveu:Você esta certo, mas veja 2 pontos:
1-) Conhecimento, bem aqui tem um problema no nosso país que é descontinuidade, um engenheiro que adentra num programa passa muito tempo nele e depois ocorre um vácuo, que demora mais tempo aí, então a expertise de certa forma se perde. Caso isto não fosse verdade já teríamos em muito alcançado esta capacidade, pois quantos programas já desenvolvemos, os recente podemos ver na construção das fragatas Niterói e das corvetas Inhaúma e agora iremos recomeçar. Onde estão hoje os engenheiros que trabalharam nas corvetas Inhaúma. Em outra perspectiva: o Brasil já construiu fragatas, corvetas e já teve tantos navios militares, terá tanto ganho assim em projetar mas um casco militar com quase tudo importado e com certeza com assistência estrangeira.
O problema é e foi exatamente a falta de continuidade. Na verdade nunca projetamos fragatas (as Niterói são de projeto inglês, da Vosper), mas projetamos as Inhaúma com assessoria alemã e depois a Barroso, baseado na experiência adquirida com a classe anterior. E estamos há décadas sem desenvolver um novo projeto, o pessoal envolvido naqueles programas ou já se aposentou/faleceu ou está quase. Se não aproveitarmos esta experiência agora para desenvolver mais um projeto juntando o pessoal antigo e o novo toda a experiência já adquirida será perdida. De novo, como sempre acontece neste país. Por isso o desenvolvimento da CV-3 agora é tão crítico.
2-) Navios são construídos sim, mas são formados por componentes e estes sim em muitos casos dependem de escala de produção. Claro pode se montar o navio com tudo importado, mas com uma maior quantidade de navios, itens poderão ser encomendados na indústria nacional.
A produção de componentes e sistemas navais é um outro passo, que poderá ser tomado quando o projeto, desenvolvimento e construção dos conjuntos completos (navios) aqui estiver avançando. Sem isso é que não haverá condições de se desenvolver nenhum componente nacional mesmo. E isso é a regra na engenharia de produtos, quaisquer que sejam. A Embraer mesmo não produz praticamente nenhum dos sistemas que embarca em seus aviões, poderíamos então abandoná-la por não agregar nada à base tecnológica e industrial brasileira?
Fabricantes importantes de navios militares no mundo, muitos apontados inclusive como exemplos para o Brasil e como solução imediata para nossa falta de navios, também não produzem a maior parte dos sistemas e armamentos de suas embarcações, como ocorre com a Alemanha, a Espanha, a Coréia do Sul e a Dinamarca. E nunca vi ninguém criticando os programas navais deles por isso.
Por fim creio que existe mais ganho em termos econômicos como por exemplo empregos, em um programa para construir 10 OPV durante um tempo maior do que produzir 04 corvetas e depois parar por mais dez ou quinze anos? E como o colega forista "vplemes" manifestou as chances de exportação das corvetas não são muitas competindo com outros países e aí vejo ponto de novo para o OPV mais simples mas barato poderia talvez ter um mercado fora.
Aqui você está cometendo o erro maior que o Brasil inteiro comete quando pensa na indústria em geral: O que importa é o número de empregos, e não a sua qualidade. Que o importante é garantir os empregos para operadores de grua e soldadores, os engenheiros podem perfeitamente ser "rifados", são dispensáveis. O mesmo raciocínio que coloca na lei que apertar parafuso é atividade fim e não pode ser terceirizada, ao passo que a engenharia de desenvolvimento do produto não é e engenheiros e projetistas jamais tiveram e ninguém sequer sugere que tenham a mesma proteção
. Pois tenho uma novidade para você: Não é assim que se constrói uma nação desenvolvida.
OPV's, por serem simples, podem e são construídos por uma variedade cada vez maior de países, a concorrência é cada vez mais acirrada. Corvetas ainda são produzidas apenas por uns poucos países desenvolvidos ou em estágio avançado de desenvolvimento. E mais importante, o desenvolvimento e construção das CV-3 agora, incorporando tudo o que navios militares exigem em termos de critérios de resistência, sistemas de combate a danos, comunicações, sensores e armamento complexo nos capacitará a daqui a alguns anos desenvolver e construir as fragatas maiores de que tanto necessitamos. A construção de OPV's, que não possuem nada disso, nos capacitará a construir OPV's.
Já discutimos antes a questão do OPV e sei da sua opinião e novamente escrevo que um OPV não substitui uma corveta mas são navios muito úteis sim. Veja como a classe Amazonas tem sido útil. Veja agora na queda do Skyhawk inicialmente duas fragatas no local, podiam ser OPV.
Não discuto a importância dos OPV's, concordo que são embarcações muito úteis e sempre necessárias para um país com uma costa como a nossa. Mas eles não são navios de guerra, e o aprendizado com eles não seria jamais o mesmo que com a CV-3. Vamos então fazer o oposto, construir as corvetas aqui e encomendar os OPV's (ainda mais urgentes, como este caso do A-4 mostrou) em outro lugar qualquer. Porque deveríamos entregar o filé para os outros e ficar com a carne de segunda para nós, se podemos fazer o contrário?
04 Corvetas, encomenda-se o navio na Coréia do Sul e rapidinho temos quatro corvetas, deixa o pessoal do projeto, técnico, operários, se dedicar aos OPV.
OPV's são navios muito mais simples do que corvetas. Quem, projeta e desenvolve corvetas aprende ao mesmo tempo a projetar e desenvolver OPV's e até fragatas ou contratorpedeiros, que tem as mesmas características, apenas são maiores e embarcam mais sistemas. Mas quem projeta e desenvolve apenas OPV's não aprende sobre navios verdadeiramente militares, que são bem mais complexos.
Sabe não sou vidente, mas aposto que a Marinha irá realizar o programa das corvetas, que irá demorar bastante para começar e mais ainda mais tempo para terminar. E quando construir a última o navio já vai esta superado e talvez depois viveremos outro vácuo e os engenheiros mais velhos se aposentar, os outros irão para outros ramos e assim vai neste ciclo histórico que se repete continuamente.
Talvez aconteça isso mesmo, é até bem provável.
Mas se acontecer não será, como nunca foi, por culpa da MB, e sim de nosso governo e de nossa sociedade civil que não percebem a importância para o país de programas como este (acham que um navio militar é só isso, um navio, e não importa onde foi concebido e produzido). Os almirantes tentam fazer o que é certo, mas não podem sozinhos tomar as decisões que numa democracia devem ser do poder civil. E se este não faz a sua parte, não pode ser a MB a receber a culpa.
Leandro G. Card